sexta-feira, 25 de junho de 2010

As "safadezas globais" e a "pátria de chuteiras"


Por Cesar Mangolin de Barros
Não sou um adepto da "pátria de chuteiras", não torço para time algum, gosto de muito pouca coisa e muito pouca gente nesse mundo maldito. Pessimista? Não: apenas tento manter os pés no chão, pensar a realidade, atuar por sua transformação e, cada vez que se avança mais nesse caminho, é razoável gostar menos disso tudo.

Porém, a pedenga envolvendo o treinador da seleção e a rede Globo parece interessante. Não vejo nenhum posicionamento politicamente razoável do Dunga, e não é o caso de torná-lo um herói de quem pensa um pouco para além do umbigo, mas não se submeter ao que o império da família marinho ordena não deixa de ser uma novidade.

Li, num artigo do Quartim, um diálogo entre o Roberto Marinho e um oficial do exército, que não me lembro o nome, e se não me equivoco aqui, tratava-se do episódio da bomba do Rio Centro. O chefão da Globo, em certo momento, teria dito ao oficial se ele questionava os seus 30 anos de jornalismo, ao que o milico teria respondido: "Não questiono trinta anos de jornalismo. Questiono trinta anos de safadeza!"

Trata-se apenas disso: safadeza, rastejar-se e servir fielmente aos que detêm o poder, inclusive ajudando a eleger e a derrubar presidentes ao mando dos interesses deles.

Nascida sob as botas dos generais e da ditadura, a tal emissora prestou um sem número de serviços "patrióticos" aos que, associados ao capital monopolista, faziam do Brasil a "nação do futuro". Assim prosseguiu: destruindo vidas, elevando gente duvidosa, divulgando mentiras, manipulando a população ignorante, alimentando os preconceitos nojentos dos egocêntricos setores médios, servindo à burguesia de forma vil e desavergonhada.

Décadas de safadeza! Vindo de quem veio, do meio que pertencia, não haveria melhor síntese!

Tamanho poder conquistado por esses meios espúrios é que exige que, sempre que alguém a contradiz, tenhamos que fazer pelo menos alguma referência, ainda que seja uma louvação para um sujeito como o Dunga, que como pensador é apenas um bom quebra-canelas.

A Copa do Mundo não me desperta nenhuma empolgação. Aliás, sou daqueles convictos de que existe ali uma armação, um acordo, sobre a vez de cada um ser campeão. Várias evidências permitem pensar isso: desde 1962 são alternados um latinoaericano e um europeu; em momentos cruciais da história de alguns países o título do mundial serviu para gerar determinada coesão social, como o caso de fases obscuras e violentíssimas de ditaduras militares (Brasil, em 1970; Argentina, em 1978), ou ainda a grande "coincidência" da Alemanha, em 1990, um ano depois da queda do Muro de Berlim. Quem sabe esta não seja a vez dos EUA?

Em 1998 cheguei a ganhar alguns reais numa aposta feita com alguns companheiros por pura casualidade. Li, na Gazeta Mercantil, que uma grande empresa francesa de artigos esportivos, que tem Platini, ex-jogador francês, como acionista , havia anunciado a triplicação da produção de artigos diversos, todos fazendo alusão à vitória da França na Copa do Mundo. O jornal anunciava isso como se fosse uma ação de torcedores fanáticos, que tinham tanta confiança na sua seleção, ao ponto de fazer uma loucura dessas.

Ora, qualquer um que tenha o juízo no lugar e pense um pouco, vai concluir que torcer por seu time desesperadamente e até fazer algumas loucuras por isso (como o torcedor que, num salto mal calculado, acabou por se lançar da janela do apartamento onde morava e morreu) são coisas da vida, ainda que estúpidas. Mas pensar que capitalistas vão colocar os negócios em risco por causa da vitória num campeonato desses seria também bastante estúpido.

Capitalista nenhum seria imbecil a esse ponto e não tomaria a decisão de triplicar a produção da fábrica e colocá-la toda ligada à vitória na Copa se não tivesse certeza absoluta desse final feliz.

Naquele ano, fui o único da empresa a votar na França e ganhei o bolão sozinho. Por vezes (raríssimas vezes), estudar essas coisas traz alguns lucros, que estão longe de compensar os prejuízos todos... Mas, melhor viver assim e não ser mais um rastejante seguidor das safadezas globais!

Enfim, gostei da repercussão do fato, que logo será esquecido por todos. Quanto a Copa do Mundo e a seleção brasileira, não estou nem aí. Aliás, as classes não têm pátria e a luta de classes é internacional.

Que tudo isso se exploda.

Fonte: Diário da LIberdade

Nenhum comentário:

Postar um comentário