O homem não cria a natureza.
O que os seres humanos fazem, com o seu trabalho, é transformar a natureza,
aproveitando as riquezas da terra e do mar, os minerais do subsolo, a
vegetação, os animais, dando-lhes utilidade ou procurando satisfazer as
necessidades e os desejos de uma parcela da humanidade. O máximo que o homem
consegue fazer é colaborar com a natureza, criando condições mais favoráveis
para que as riquezas naturais se reproduzam.
Se a natureza é apenas
transformada pelo trabalho dos seres humanos, como se justifica que alguns se
comportem como donos da riqueza produzida, especialmente quando foram outros
que trabalharam para produzi-la? E como justificar que alguns utilizem essa
riqueza de modo egoísta, acumulando com exagero e muito acima de suas
necessidades aquilo de que outros têm extrema necessidade para sobreviver ou
para viver com um mínimo de dignidade?
Não existem documentos
ou dados de qualquer espécie que possam esclarecer como foi que uns homens
começaram a agir como donos da riqueza produzida por outros. Mas é fácil
verificar que a distribuição das riquezas, como é feita no mundo de hoje,
contém muitas injustiças. Pessoas que não trabalham e nunca trabalharam têm
patrimônio e renda muito elevados, enquanto outras que sempre trabalharam muito
não têm e não conseguem sequer o essencial para morar, vestir e se alimentar de
acordo com as exigências da dignidade e da natureza humanas.
Ê comum, também, que
alguns vivam ostentando riqueza, gastando muito dinheiro com coisas supérfluas,
desperdiçando bens valiosos para a humanidade, como os alimentos, com absoluto
desprezo pelas necessidades alheias, visando apenas à satisfação de sua vaidade
ou de seus caprichos. Enquanto isso, outros lutam desesperadamente para
conseguir o mínimo indispensável para não morrer de fome, de frio ou de doenças
consequentes da falta de um mínimo de bem-estar material.
Há quem procure
justificar sua satisfação privilegiada, de dono de muitas riquezas, afirmando
que tudo o que possuem é fruto de trabalho honesto. Na realidade, porém,
existem muitos casos em que a riqueza acumulada não é produto de uma atividade
honesta. Muitos enriqueceram enganando outras pessoas, apoderando-se do que não
era seu, usando de modo indevido um cargo público ou uma posição política, valendo-se
de amizades ou corrompendo outras pessoas para obterem proveito ilícito.
Na realidade, no mundo
moderno existe um número muito grande de situações em que não há qualquer
relação entre a riqueza e o trabalho, situações em que os que trabalham são pobres
e os que nunca trabalharam são ricos.
O exemplo mais
acentuado desse desligamento é o direito de herança. Um recém-nascido que,
evidentemente, nunca trabalhou e não se sabe se virá a trabalhar nem como irá
utilizar sua riqueza, já nasce dono de um grande patrimônio e já tem assegurada
uma renda elevada pelo simples fato de ser filho de um homem rico. Outro já
nasce pobre, sofrendo privações antes mesmo de nascer e tendo a perspectiva de
uma vida cheia de novas privações e de sofrimentos, mesmo que trabalhe muito,
pelo simples fato de ser filho de um homem pobre. Nem o rico nem o pobre podem
mostrar virtudes ou falhas morais no momento em que nascem. No entanto, sem
nenhum mérito ou nenhuma culpa, um é premiado pelo acaso de ser filho de um
rico, outro é castigado pela circunstância de ser filho de um pobre.
Mesmo que se suponha
que uma criança esteja nascente na pobreza porque seu pai não é dado ao
trabalho, é evidentemente injusto castigar o recém-nascido e condená-lo a uma
vida de miséria por uma falta que ele não cometeu. Por outro lado, mesmo
admitindo como justo que um pai procure assegurar a seus filhos um padrão de
vida digno, com possibilidade de acesso a todos os bens e serviços que a
sociedade proporciona, isso não deve significar a garantia de uma posição
social privilegiada, com superioridade econômica ilimitada e sem qualquer
responsabilidade social.
A solução justa para o
problema do direito de participação nas riquezas existentes e que foram
produzidas só pode ser obtida pela conjugação de várias medidas. Antes de tudo,
é indispensável assegurar a todos os seres humanos, no momento em que nascem,
igual oportunidade de acesso às riquezas, desde que desenvolvam atividade
socialmente útil. É preciso, também, que não se admita a excessiva acumulação
de riquezas. A possibilidade de enriquecimento sem limites tem estimulado a
ambição por riquezas materiais" contribuindo para acentuar o egoísmo de
muitas pessoas, que, mesmo sendo muito ricas, ignoram as necessidades dos
pobres e chegam até a explorá-los deliberadamente, buscando sempre acumular
mais riqueza.
A par disso, é preciso
que as pessoas aprendam desde a infância a não valorizar demais as riquezas
materiais. Nas sociedades modernas, sobretudo onde prevalecem os valores do
capitalismo, os seres humanos são avaliados pela riqueza que possuem. Não
importa a origem da riqueza nem o modo como ela é usada: basta uma pessoa ser
rica para ter grande prestígio social. Isso é injusto, porque muitas vezes o
que tem menor riqueza é infinitamente mais útil à humanidade e porque o fato de
ser rico não é prova de virtude, como o fato de ser pobre não é prova de culpa.
Atividades:
1 – “Nós, seres humanos, não criamos
a natureza. Através do nosso trabalho buscamos na natureza nossa sobrevivência”.
Explique a frase levando em conta a nossa dependência dos recursos naturais
finitos do planeta Terra.
2 - Há quem procure justificar suas posses, suas riquezas e seu
poder em relação aos bens naturais afirmando que tudo o que possuem é fruto de
trabalho honesto. Segundo o texto isso é uma verdade absoluta? Explique.
3 – O
autor do texto afirma que trabalhar duro não é sinônimo de riqueza. Cite exemplo
de algumas situações em que os que trabalham são pobres e os que nunca
trabalharam são ricos.
4 - O autor
do texto descreve algumas medidas que a humanidade deveria tomar para resolver o
problema da divisão injusta das riquezas. Descreva-as.
5 – Desenhe
ou recorte (jornais, revistas, internet, livros antigos) imagens que mostram
desigualdades na divisão das riquezas
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