Mostrando postagens com marcador Terras Griladas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Terras Griladas. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de outubro de 2009

Acorda Brasil: tão levando a Amazônia!


Por Cândido Cunha
Quem minimamente conhece a história recente da “ocupação” da Amazônia sabe que com o lema de “uma terra sem povo para um povo sem terra” o regime militar assegurou a formação dos maiores latifúndios que a história da humanidade já viu. Essa ação foi acompanhada de um discurso ideológico convincente: a realização da Reforma Agrária, pauta efervescente no período.Não por caso, a ditadura planejou uma faixa de colonização destinada a pequenos agricultores migrantes ao longo de 10 quilômetros de cada lado de rodovias como a Transamazônica e a BR-163 (Cuiabá-Santarém). A massa camponesa que demandava terra no Sul, Sudeste e Nordeste não viriam a Reforma Agrária prometida ocorrer nos intocáveis latifúndios locais. Ao mesmo tempo, os camponeses da Amazônia foram desconsiderados como seres humanos e quando muito, teriam que se “enquadrar” em lotes de 100 hectares da colonização ou ainda em áreas menores, de uma dita “regularização fundiária”, moldando-se a um modelo produtivo que não era o seu.A função de toda essa gente nesse processo era servir de mão-de-obra barata para projetos agropecuários, em áreas licitadas atrás das faixas de colonização, em lotes de até 3.000hectares, limite imposto pela Constituição de 1967. Em uma dessas áreas, no lote de número 55, na Gleba Bacajá em Anapú, seria assassinada a freira e missionária Dorothy Stang em 2005. O trabalho também era necessário em áreas maiores griladas e nos projetos de abertura de rodovias, construção de hidrelétricas e outras obras de infra-estrutura.Percorrendo a Transamazônica e a BR-163, em municípios como Pacajá, Brasil Novo, Uruará, Novo Progresso, Medicilândia, Ruropólis, Castelo dos Sonhos e tantos outros, qualquer brasileiro que se disponha a conversar com os moradores destas cidades perceberá um misto de dor e ilegalidade que formaram essas localidades. São histórias terríveis como de trabalhadores de um projeto sucro-alcooleiro que tiveram as línguas cortadas durante uma greve contra a precariedade do trabalho; mulheres que foram espancadas por milicianos de grileiros até o aborto; índios que em poucas semanas tiveram toda a sua população reduzida por doenças trazidas pela “frente pioneira”.Hoje, ao se falar do desmatamento, poucos associam esses fatos. Vê-se as conseqüências da penetração do grande capital na região como um simples “problema das árvores” e não do mosaico humano que hoje forma a Amazônia.Mas, ignorar o passado e não vê-lo no presente não é um simples problema de desconhecimento da história ou da memória do Brasil sobre a região Norte. Se o passado não existe, ele também não serve de lição ao futuro. Parece ser essa a lógica que prevalece na definição das políticas para a Amazônia na atualidade.Essa ignorância é na verdade a cumplicidade com o maior saque que as florestas e os povos da Amazônia estão passando. Somente no Pará, há em curso dezenas de grandes projetos como hidrelétricas, rodovias, mineração, concessão florestal e privatização de terras.Os governos petistas de Lula e Ana Júlia Carepa põem em curso as engrenagens para um cenário tenebroso num futuro bem próximo. Com discursos, documentos e propaganda de “ordenamento territorial”, “sustentabilidade” e “governança” promovem a maior entrega das águas, subsolo, terras e florestas que o Brasil já viu.No que se refere à questão agrária, poucos sabem, mas quase toda a Amazônia brasileira é formada por terras públicas. São áreas ainda devolutas e uma maior parte já arrecadada pelo Incra ou pelos Institutos estaduais de terras. Algumas dessas áreas estão destinadas para Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Projetos de Assentamentos, situação que não impede a apropriação privada por grileiros, madeireiros e agropecuaristas.Não raro, Unidades de Conservação foram criadas para instalação de grandes empreendimentos de mineradoras ou para exploração florestal, desconsiderando as populações que moram nessas áreas. Hoje, outras unidades de conservação que beneficiariam essas populações (caso das Reservas Extrativistas) são engavetadas na mesa da Ministra Dilma Russef para não “atrapalhar” a construção de hidroelétricas e a instalação do grande capital.A avalanche de assentamentos sem assentados no Oeste do Pará, longe de representar uma distribuição massiva de terras e a destinação do território aos povos das florestas, foi apenas o preâmbulo de uma afinada orquestra. Área destinada é área passível de instalação legal de grandes empreendimentos, mesmo que essa legalidade seja apenas de verniz.Põe-se em curso no momento a “regularização fundiária” de grandes áreas no Pará. O Incra poderá regularizar ocupações em suas terras em até 1.500 hectares. Em detrimento disto, o reconhecimento de comunidades quilomboloas, o reassentamento de não-indígenas e o reconhecimento de populações tradicionais de Unidades de Conservação já criadas ficarão em segundo plano. Por outro lado, o Iterpa promete em documento público “regularizar” até o limite constitucional de 2.500 hectares.Escritórios de grilagem auto-denominados “corretoras” correm contra o tempo para ajustar em campo novos limites de áreas griladas. Áreas de 500hectares são travestidas para 1.125 ou 1.124,90, para não deixar margem para outras interpretações.Quem olhar para o que ocorreu na região nos setenta e hoje vê o que ocorre poderia pensar que a história se repete. Se a repetição histórica é uma fraude, o que ocorre na região nada mais é do que isso. Com uma diferença: os militares mentiam na suas intenções, mas não faziam delas nenhum discurso bonito como “plantar um bilhão de árvores”.Os indígenas em Roraima e da região do Xingu parecem que acordaram e estão numa luta ferrenha de defesa de seus territórios. A grande mídia, parte desse processo de entrega, só aborda essas lutas para criminalizá-las.Está passando da hora dos brasileiros não-amazônidas acordarem para o quem vem acontecendo na região. Há pouco menos de dois anos por aqui, estou impressionado com o profundo silêncio nacional com fatos tão graves que a cada dia se sucedem.Cândido Cunha, Eng. Agrônomo, Santarém, Pará - com especial agradecimento aos autores do livro Amazônia Revelada - Os descaminhos ao longo da BR-163.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A CPI do MST e as terras roubadas



Por: Mauro Santayana
A terra é o mais grave problema de nossa história social, desde que os reis de Portugal retalharam a geografia do país, com a concessão de sesmarias aos fidalgos. Os pobres não tiveram acesso pleno e legal à terra, a não ser nos 28 anos entre a independência – quando foi abolido o regime das sesmarias – e 1850, quando os grandes proprietários impuseram a Lei de Terras, pela qual as glebas devolutas só podiam ser adquiridas do Estado a dinheiro.
A legislação atual vem sendo sabotada desde que foi aprovado o Estatuto da Terra. É fácil condenar a violência cometida, em episódios isolados, e alguns muito suspeitos, pelos militantes do MST. Difícil tem sido a punição dos que matam seus pequenos líderes e os que os defendem. Nos últimos anos, segundo o MST, mais de 1.600 trabalhadores rurais foram assassinados e apenas 80 mandantes e executores chegaram aos tribunais. Em lugar de uma CPI para investigar as atividades daquele movimento, seria melhor para a sociedade nacional que se discutisse, a fundo, a questão agrária no Brasil.
O Censo de 2006, citado pelo MST, revela que 15 mil proprietários detêm 98 milhões de hectares, e 1% deles controla 46% das terras cultiváveis. Muitas dessas glebas foram griladas. Temos um caso atualíssimo, o do Pontal do Paranapanema, onde terras da União estão ocupadas ilegalmente por uma das maiores empresas cultivadoras de cítricos do Brasil. O Incra está em luta, na Justiça, a fim de recuperar a sua posse. O que ocorre ali, ocorre em todo o país, com a cumplicidade, remunerada pelo suborno, de tabeliães e de políticos.
Cinco séculos antes de Cristo, os legisladores já se preocupavam com a questão social e sua relação com a posse da terra. É conhecida a reforma empreendida por Sólon, o grande legislador, na Grécia, que, com firmeza, mandou quebrar os horoi, ou marcas delimitadoras das glebas dos oligarcas. Mais ou menos na mesma época, em 486, a.C., Spurio Cássio, um nobre romano, fez aprovar sua lei agrária, que mandava medir as glebas de domínio público e separar parte para o Tesouro do Estado e parte para ser distribuída aos pobres. Imediatamente os nobres se sublevaram como um só homem, e até mesmo os plebeus enriquecidos (ou seja a alienada classe média daquele tempo) a eles se somaram. Spurio Cássio, como conta Theodor Mommsen em sua História de Roma, foi levado à morte. “A sua lei foi sepultada com ele, mas o seu espectro, a partir de então, arrostava incessantemente a memória dos ricos, e, sem descanso, surgia contra eles, até que, pela continuada luta, a República se desfez” – conclui Mommsen. E com razão: a última e mais completa lei agrária romana foi a dos irmãos Graco, Tibério e Caio, ambos mortos pelos aristocratas descontentes com sua ação em favor dos pobres. Assim, a República se foi dissolvendo nas guerras sociais, até que Augusto a liquidou, ao se fazer imperador, e seus sucessores conduziram a decadência da grande experiência histórica.Não há democracia sem que haja reforma agrária. A posse familiar da terra – e da casa, na situação urbana – é o primeiro ato de cidadania, ou seja, de soberania. Essa posse vincula o homem e sua família à terra, à natureza e à vida. Sem lar, sem uma parcela de terra na qual seja relativamente senhor, o homem é desgarrado, nômade sem lugar nas sociedades sedentárias.
É impossível ao MST estabelecer critérios rígidos de ação, tendo em vista a diversidade regional e a situação de luta, caso a caso. Outro ponto fraco é a natural permeabilidade aos agentes provocadores e infiltrados da repressão particular, ou da polícia submetida ao poder econômico local. No caso do Pontal do Paranapanema são muitas as suspeitas de que tenham agido provocadores. É improvável que os invasores tenham chamado a imprensa a fim de documentar a derrubada das laranjeiras – sabendo-se que isso colocaria a opinião pública contra o movimento. Repete-se, de certa forma, o que houve, há meses, no Pará, em uma propriedade do banqueiro Daniel Dantas.
É necessária a criação de força-tarefa, composta de membros do Ministério Público e agentes da Polícia Federal que promova, em todo o país, devassa nos cartórios e anule escrituras fraudulentas. No Maranhão, quiseram vender à Vale do Rio Doce (então estatal), extensas glebas. A escritura estava registrada em 1890, em livro redigido e assinado com caneta esferográfica – inventada depois de 1940.

sábado, 10 de outubro de 2009

INCRA confirma: Fazenda "roubada" pela CUTRALE pertence à UNIÂO

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) tem certeza de que são propriedade da União os cerca de 2 mil hectares utilizados pela empresa Cutrale para produção de laranja em Borebi (SP). A afirmação foi feita pelo superintendente do órgão em São Paulo, Raimundo Pires Silva, em entrevista à Agência Brasil.
A fazenda foi ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no último dia 28. Os manifestantes permaneceram até a última quarta-feira (7) e, durante o tempo em que estiveram no local, destruíram parte da lavoura de laranja.
O MST afirmou que o ato pretendia denunciar a suposta grilagem de terras.
Segundo o superintendente do Incra, estudos garantem que as terras fazem parte de uma área de 40 mil hectares adquirida pela União em 1909 com a intenção de fazer assentamentos. Pires Silva contou que “não se sabe como” parte das terras foi registrada em cartório em nome de particulares. Desse modo, os terrenos passaram a ser negociados legalmente.
Por isso, empresas e pessoas que adquiriram essas áreas após a grilagem são consideradas, de acordo com Pires Silva, “ocupantes de boa-fé”, porque acreditavam estar fazendo um negócio lícito quando compraram as terras.
No
entanto, o superintendente ressaltou que é função do Incra “resguardar o patrimônio público”. Com esse intuito, o órgão já ingressou com 50 ações na Justiça reivindicando propriedade sobre terras do chamado Núcleo Colonial Monção. A fazenda utilizada pela Cutrale é tratada em duas delas, uma na Vara Federal de Ourinhos e a outra na Vara Federal de Bauru.
A ação do MST nas terras disputadas não causou problemas para o trâmite judicial ou para as negociações que o Incra mantém com a empresa ocupante, segundo Pires Silva. Porém, ele repudiou o ato realizado pelo movimento.
MST nega Furtos
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) negou hoje (9), por meio de nota, que tenham ocorrido furto ou depredações durante invasão à Fazenda Santo Henrique, de propriedade da empresa Cutrale, em Borebi (SP).
O MST, diz na nota, que é contra a violência e que recorreu à ação de destruição do laranjal com “última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que uma das maiores empresas da agricultura – que controla 30% de todo o suco de laranja do mundo – se dedique a grilar terras”.
A organização afirma ainda que só ocupa fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como no caso da fazenda da Cutrale. “São áreas que pertencem à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terra”.
A fazenda foi tomada por integrantes do MST no dia 27 de setembro e desocupada na última quarta-feira (07), pacificamente, após determinação da Justiça. No mesmo dia, a Polícia Civil de Borebi abriu um inquérito para apurar se os integrantes do MST teriam cometido crimes de furto, dano, esbulho possessório e formação de quadrilha.
A denúncia é de que cerca de 12 mil pés de laranja tenham sido destruídos por integrantes do movimento. A polícia também investiga se houve furto de móveis e eletrodomésticos das casas de cinco colonos que moravam no local.
Fonte:http://www.agenciabrasil.gov.br

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cutrale usa terras griladas em São Paulo

(Márcio Santos, da coordenação estadual do MST)
Cerca de 250 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) permanecem acampadas desde a semana passada (28/09), na fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do Estado de São Paulo. A área possui mais de 2,7 mil hectares, utilizadas ilegalmente pela Sucocítrico Cutrale para a monocultura de laranja - o que demonstra o aumento da concentração de terras no país, como apontou recentemente o censo agropecuário do IBGE.
A área da fazenda Capim faz parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares divididos em várias fazendas e de posse legal da União. É nessa região que está localizada a fazenda da Cutrale, e onde estão localizadas cerca de 10 mil hectares de terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas, além de 15 mil hectares de terras improdutivas.
A ocupação tem como objetivo denunciar que a empresa está sediada em terras do governo federal, ou seja, são terras da União utilizadas de forma irregular pela produtora de sucos. Além disso, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já teria se manifestado em relação ao conhecimento de que as terras são realmente da União, deacordo com representantes dos Sem Terra em Iaras.
Como forma de legitimar a grilagem, a Cutrale realizou irregularmente o plantio de laranja em terras da União. A produtividade da área não pode esconder que a Cutrale grilou terras públicas, que estão sendo utilizadas de forma ilegal, sendo que, neste caso, a laranja é o símbolo da irregularidade. A derrubada dos pés de laranja pretende questionar agrilagem de terras públicas, uma prática comum feita por grandes empresas monocultoras em terras brasileiras como a Aracruz (ES), Stora Enzo (RS), entre outras.
O local já foi ocupado diversas vezes, no intuito de denunciar a ação ilegal de grilagem da Cutrale. Além da utilização indevida das terras, a empresa está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo pela formação de cartel no ramo da produção de sucos, prejudicando assim os pequenos produtores. A empresa também já foi autuada inúmeras vezes por causar impactos ao ecossistema, poluindo o meio ambiente ao despejar esgoto sem tratamento em diversos rios. No entanto, nenhuma atitude foi tomada em relação a esta questão.
Há um pedido de reintegração de posse, no entanto as famílias deverão permanecer na fazenda até que seja marcada uma reunião com o superintendente do Incra, assim exigindo que as terras griladas sejam destinadas para a Reforma Agrária. Com isso, cerca de 400 famílias acampadas seriam assentadas na região. Há hoje, em todo o estado de SãoPaulo, 1,6 mil famílias acampadas lutando pela terra. No Brasil, são 90 mil famílias vivendo embaixo de lonas pretas.
Direção Estadual do MST-SP
Fonte: http://ow.ly/t25Y