O surto de coronavírus já matou cerca de 100 pessoas e já atingiu mais de 15 países. No
entanto, a ameaça não está comprovada no Brasil.
Mesmo assim, uma
combinação de falta de informação com preconceitos enraizados em nossa
sociedade faz com que parte da população veja a comunidade chinesa presente no
País como uma ameaça.
Segundo especialistas ouvidos pelo
Yahoo, esse medo não faz o menor sentido e só mostra que o problema das fake
news e do racismo precisam ser controlados com mais entusiasmo do
que a própria doença.
De acordo com o professor Cláudio
Falcão, diretor do Sistema de Ensino PH, “o verdadeiro vírus é o
preconceito”. “Talvez seja mais fácil de combater a doença do que o
racismo. Para esse problema, não existe uma vacina ou um remédio que ajude
a curar isso a curto prazo. A humanidade luta contra o preconceito racial há
muitos anos”, afirma.
Falcão afirma que, depois da segunda
guerra mundial, as pessoas passaram a prestar mais atenção em questões que
diziam respeito aos direitos humanos. Porém, ele constata que, em situações em
que o medo aparece de forma latente, a humanidade passa a utilizar argumentos
racistas para segregar pessoas.
Um exemplo histórico desse tipo de
comportamento foi quando, nos anos 80, as pessoas diziam que o vírus da Aids
estava diretamente ligado às pessoas homossexuais. Com o tempo, foi comprovado que a
doença atingia as pessoas heterossexuais também. No entanto, algumas
pessoas continuam usando isso como argumento para atitudes homofóbicas até
hoje.
De acordo com o professor Sebastian
Fuentes, do Anglo Vestibulares, o problema vai muito além de uma doença
específica. “A questão é que as pessoas já tinham preconceitos contra os
homossexuais, mas isso não se justificava por absolutamente nada”, diz.
“Então, algumas pessoas enxergaram
nisso uma maneira de justificar o preconceito dizendo que a Aids poderia ser
contagiosa e que, por isso, não se podia nem encostar em um gay. Mas sabemos
que isso é irreal”, afirma.
Falcão concorda com Fuentes e
acrescenta que a homofobia, o machismo e o racismo sempre vão enxergar o outro
como uma ameaça. Portanto, de acordo com o raciocínio dessas pessoas, o mal só
pode vir de alguém que é diferente. “Se eu já não tolero o outro, a doença
vem como uma desculpa para o meu preconceito”, explica.
Fuentes também lembra da crise de
ebola como um outro episódio que gerou pânico entre a população e fez com que
casos de racismo fossem escancarados. “Assim que ele chegou no Brasil, as
pessoas viam nas notícias que ele era trazido pelos africanos. O problema de
você colocar uma localização na origem dessa doença é que você atrai uma
xenofobia”, explica.
“Muitas pessoas pensam que africano é
a mesma coisa que negro e que qualquer negro pode estar contaminado com ebola.
Muitas pessoas pensam que o branco não pode pegar a doença. Eu me lembro de
ouvir falar que ebola era uma coisa de negro, de ex-escravo… eram coisas bem
pesadas, mas que estavam no dia a dia”, afirma.
Agora, com o coronavírus, algumas
pessoas estão usando a doença como uma desculpa para jogar todo tipo de
preconceito contra asiáticos, em especial, contra a comunidade chinesa.
“Eu vi uma reportagem que dizia ‘veja
quais são as doenças originárias da China’. Uma pessoa vê uma reportagem como
essa e ela começa a achar que a China é um lugar que tem muitas doenças. É um
problema de comunicação. Aliado a isso, temos as fake news que
são passadas pelo WhatsApp. Isso gera pânico nas pessoas”, diz.
“Também vi um jornal francês que
publicou uma reportagem chamando o coronavírus de ‘perigo amarelo’, o que é
completamente xenofóbico. Também falaram que o vírus estava em uma sopa de
morcego, o que já foi provado que estava errado. E, com essas matérias, apareciam
fotos de chineses comendo essa sopa”, afirma.
Isso, segundo ele, traz uma impressão
de que essas pessoas são “selvagens”. No entanto, o professor lembra que
no Brasil, por exemplo, comemos coração de galinha e tripa, o que também pode
ser visto por outros países como algo fora do comum.
Segundo Falcão, é preciso que a
população se preocupe mais com as causas desse tipo de doença como o
desmatamento, o consumo de carne e a urbanização desenfreada de áreas que
pertenciam aos animais. “A globalização favorece o contato com esse vírus.
Porém, por outro lado, ela faz com que exista uma maior estratégia de combate e
controle a ele”, diz.
Fonte: Por Giorgia
Cavicchioli - https://br.noticias.yahoo.com/coronavirus-xenofobia-racismo-201706957.html?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004&fbclid=IwAR2Ni1xoMdU14BHBBohNghldWIHy6E-YKbhx-CtD-nFsHwj7ZOlimreZDxU
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