segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

As Cuestas de Botucatu

As Cuestas de Botucatu 

Relevo de Cuesta - À esquesda depressão periférica e à direita o Fronte da Cuesta com inicio da bacia sedimentar do Rio Paraná

Mapa do relevo do Estado de São Paulo 

Mapa da  APA  Botucatu com front de Cuesta

Fronte da Cuesta - Rodovia Marechal Cândido Rondon 

   A região de Botucatu faz parte da província geomorfológica das Cuestas Arenítico-Basálticas, que se estende de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul. É uma região muito cobiçada pelos adoradores da geografia, da geologia, da paleontologia  e da geomorfologia. É possível observar belíssimos paredões de de arenito e basalto, imponentes morros testemunhos e belas cachoeiras.  




Morro Testemunho: Três Pedras, localizadas entre os municípios de Bofete, Botucatu e Pardinho

Morro Testemunho: Torre de Pedra /Torre de Pedra


Morro Testemunho: Torre de Pedra /Torre de Pedra

Cachoeira da Marta - Botucatu

Cachoeira Pavuna - Botucatu

Cachoeira da Indiana

Cachoeira da Indiana

Cachoeira Véu da Noiva


     A Cuesta Arenítico-basáltica pode ser percebida quando você viaja de carro em direção ao interior. Pela Rodovia Castelo Branco ou pela Rodovia Marechal Cândido Rondon, na região de Botucatu você observa um enorme paredão rochoso. Depois de subir este relevo íngreme, ao invés da esperada descida, lá do topo você encontra uma quase planície que vai descendo suavemente.
     A palavra tem origem no idioma espanhol e significa encosta de uma colina ou monte. Em geologia e geomorfologia, cuesta refere-se especificamente a um cume assimétrico com inclinação longa e suave. As mais comuns são as cuestas arenítico-basálticas, intercalando sequências de camadas sedimentares de inclinação suave com níveis mais resistentes à erosão.

     Identificação dos elementos que identificam uma Cuesta

    A origem deste relevo se deu no Mesozoico, mas sua história começa no Paleozóico, com a formação da bacia sedimentar do Paraná.

Escala do Tempo Geológico
     Trezentos milhões de anos atrás, os continentes estavam agrupados em uma grande massa continental, chamada Pangea (do grego Pangaea = toda a Terra). 
 O Supercontinente Pangea

 O Supercontinente Pangea


Separação do Supercontinente Pangea

     Nesse período, a região de Botucatu estava coberta por um mar raso, ligado ao grande Pantalassa (do grego “todos os mares”).


A região de Botucatu estava inundada por um mar raso ligado ao Oceano Pantalassa 

Oceano Pantalassa 

          Os avanços e as regressões desse mar, por milhões de anos, deram origem a uma imensa bacia sedimentar, conhecida hoje como Bacia do Paraná. 

Bacia Sedimentar do Paraná

Bacia Sedimentar do Paraná

Mapa geológico da Bacia do Paraná e área de distribuição da Formação Botucatu



     A região de Botucatu localiza-se sobre a borda oeste  da bacia do Paraná. Há 200 milhões de anos, nessa região existia uma paisagem de dunas formadas pelo vento. Havia também dunas úmidas, depositadas por meandros e lagoas.

 Dunas 

      A deposição dessas dunas durou 40 a 50 milhões de anos, dando origem às rochas areníticas conhecidas como Formação Piramboia.

Arenito Piramboia, visto nas proximidades do Km 160 da Rodovia Castello Branco.

Arenito Piramboia, visto na Rodovia Marechal Cândido Rondon 


     Depois, o clima foi ficando mais seco, e os riachos e lagoas desapareceram, mas os depósitos eólicos continuaram formando um enorme deserto, de 1 milhão de km2 , em toda a extensão da Bacia do Paraná. Era o Deserto Botucatu, presente entre 160 e 130 milhões de anos atrás, no período que corresponde ao Jurássico. Os depósitos dessa espessa camada de areia deram origem às rochas areníticas conhecidas como Formação Botucatu. 

Indicação da área aproximada ocupada pelo paleodeserto Botucatu. 1 – Rochas mais antigas (embasamento); 2 – Cobertura sedimentar de diversas idades; 3 – Cadeia Andina; 4 – Camadas sedimentares do paleodeserto



 Arenitos da formação Botucatu  em leito de rio em Botucatu

 Arenitos da formação Botucatu - Botucatu

Arenitos da formação Botucatu -Botucatu

     Enquanto isso, ainda no período Jurássico, iniciou-se uma grande mudança nas forças do interior do planeta, exercida pelas correntes de convecção do Manto e do Núcleo da terra. Isso provocou o lento e gradativo deslizamento das placas tectônicas, iniciando o processo chamado deriva continental, que separou a América e a África. Esses continentes estavam ainda juntos, formando o grande Gondwana, e até hoje se afastam um do outro.
   No período Jurássico (há 130 milhões de anos), o deserto de areia, com suas dunas, foi coberto por colossais derrames de lavas incandescentes. Durante esse processo, através de violentos movimentos sísmicos, a crosta terrestre rompeu-se, lançando, pelas fendas abertas, das profundezas do Planeta, minérios derretidos. Já era um prenúncio das imensas fraturas que iriam dividir o megacontinente Gondwana, separando a América do Sul, da África.
    
Derrames de lavas

    Não sendo um processo de vulcanismo explosivo, mas de inundação, as lavas, muito fluidas, a 1200 graus centígrados, espalharam-se sobre as dunas de areia, preservando suas formas. Em suma, cobriam as dunas e, no longo tempo em que todo o processo perdurou, passaram a constituir as elevações sobre as quais hoje está construída a cidade. Ao se resfriarem, as lavas acrescentaram às formações arenosas, outros tipos de rocha, chamadas de basalto e diabásio. Essa lava, pastosa e incandescente, cobrindo os depósitos de arenito já existentes, ajudou a dar forma à elevação conhecida por Cuesta.

 Lavas incandescentes encobrem as dunas 

 Lavas incandescentes encobrem as dunas 
    
    Neste momento, com as várias falhas e fraturas ocasionadas pelo evento da deriva continental, a bacia do Paraná passa a sofrer um processo de “compensação isostática” ou seja, o peso do interior da bacia, influenciado sobretudo pelos basaltos, faz que as bordas se ergam, formando então o relevo ora escarpado ora suave da Cuesta.



Todo o movimento das placas tectônicas provocou o soerguimento de grande parte da Bacia do Paraná, a quebra dos blocos de rochas e o dobramento da borda do continente. Esse processo, que se iniciou em meados da Era Mesozoica e se estendeu até o final do Terciário da Era Cenozoica, provocou a formação da Cordilheira dos Andes, da Serra do Mar e da Mantiqueira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário