Plateia participa da discussão sobre os agrotóxicos na tenda da Fiocruz na Cúpula dos Povos
A Tenda 1 do Espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, montado na
Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, pela
Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro
Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) ficou lotada no sábado (16/6) à
tarde, quando foi realizado o debate Impactos dos agrotóxicos na saúde e no ambiente,
seguido do lançamento da segunda parte do dossiê da Abrasco sobre a
questão. A mesa-redonda foi coordenada por Fernando Carneiro, da
Abrasco, que ressaltou a necessidade de o Brasil – hoje maior consumidor
de agrotóxicos do mundo – articular agendas políticas para combater o
uso desses produtos danosos à saúde a ao ambiente e de incentivo à
agroecologia. O evento foi organizado por Abrasco, ANA, Via Campesina,
Contag, Conaq, Fetraf, AS-PTA e Campanha Permanente Contra os
Agrotóxicos e pela Vida.
A pesquisadora Lia Giraldo, do Departamento de Saúde Coletiva do
Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambuco),
lembrou que estamos comemorando 20 anos da Rio 92, 40 anos da primeira
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em
Estocolmo, quando pela primeira vez o tema ganhou destaque no cenário
político mundial, e, principalmente, 50 anos do lançamento do livro Primavera silenciosa,
de Rachel Carson, considerado um marco de luta e denúncia sobre a
questão dos agrotóxicos nos Estados Unidos, país que cedeu a liderança
deste consumo para o Brasil. “Já naquela época, Rachel Carson abordava
os agrotóxicos como um modelo casado com a superexploração da terra e
das pessoas. O discurso econômico era de que seria uma forma de produzir
em quantidade para acabar com a fome, mas, assim como ocorre hoje com
os transgênicos, sabemos que não é. Transgênicos e agrotóxicos estão
juntos. Cinco ou seis grandes multinacionais dominam mercado de
agrotóxicos e sementes transgênicas, e as vendas são casadas. As
empresas transitam com apoio do governo. A bancada ruralista tem uma
força imensa e faz lobbies. Os agrotóxicos têm subsídios de 60% e, em
alguns estados, como o Ceará, 100% de isenção fiscal. Como os últimos
três governos deixaram chegar nesse ponto?”, criticou.
Lia, que colaborou na elaboração do dossiê de 150 páginas da Abrasco,
celebrou a existência de “pesquisadores engajados, interessados em
produzir um conhecimento que não seja só para expropriar o meio ambiente
e a saúde humana”. “Nossa ciência não é neutra, nós tomamos posição”,
enfatizou. A pesquisadora ressaltou a importância de se debater o que a
área da saúde está fazendo sobre a questão, que não é só um problema da
área rural. Segundo Lia, todo o controle de pragas é feito à base de
inseticidas que contêm as mesmas substâncias que muitos agrotóxicos, mas
são vendidos como algo “limpo” para a população.
“Crianças respiram veneno e a gente come veneno comprado no mercado. É
uma inversão muitas vezes sustentada pela própria saúde pública, como
no caso da dengue, em que os mosquitos se tornam resistentes ao veneno e
é preciso aplicar cada vez mais e diferentes venenos, assim como nas
pragas das lavouras. Mas somos uma espécie muito mais frágil que os
mosquitos”, comparou. De acordo com Lia, os impactos não são bem
dimensionados pela saúde pública, porque se avaliam alguns casos agudos
que chegam aos postos de saúde, mas não os crônicos.
“A saúde da família tem que levar uma ação de saúde pública àqueles
que estão vulnerabilizados”, defendeu. Entre os maiores problemas
causados pelos agrotóxicos ela citou a contaminação de mananciais e de
territórios como o Pantanal, acidentes que causam mortandades de peixes e
outros impactos sobre a biodiversidade e a bioacumulação dos venenos em
diversas espécies. Para Lia, a questão dos agrotóxicos é um indicador
transversal da crise civilizatória que vivemos. “O dossiê é uma fresta
frente à hegemonia que se construiu sobre o agronegócio e os agrotóxicos
no Brasil”, concluiu.
A agrônoma Claudia Gerônimo, da ONG Amigos da Terra, da Guatemala,
contou que uma pesquisa feita no seu país concluiu que menos de 14% das
pessoas que usavam agroquímicos sabiam o que estavam usando, seus riscos
e a importância do uso da roupa de proteção. Assim como no Brasil, os
produtores são incentivados a utilizar agrotóxicos sem instruções claras
de uso. Ela lembrou que muitos camponeses não conseguem ler os rótulos.
“Os danos ambientais são reais e se percebem nas nossas comunidades”,
afirmou. Ela defendeu como alternativa ao modelo atual de agronegócio a
agroecologia, com o resgate de conhecimentos ancestrais de produção.
O coordenador da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela
Vida, Cleber Folgado, revelou que segundo a OMS, para cada caso
notificado de reação a agrotóxico, existem 50 não registrados e
enfatizou que não existe uso seguro. Segundo ele, a campanha tem como
objetivos denunciar para a sociedade inteira, do campo e das cidades, os
problemas causados pelos agrotóxicos e defender a proposta da
agoecologia como agricultura alternativa. De acordo com Folgado, mais do
que um conjunto de técnicas com custos menores de produção, a
agroecologia é um projeto político. Uma conquista do movimento foi
conseguir pautar o governo, mas agora é preciso cobrar: “A Dilma
assumiu o compromisso de construir um grupo de trabalho interministerial
para construir uma Política Nacional de Enfrentamento aos Agrotóxicos.
Falta cumprir”, disse.
As três bandeiras do movimento são o fim da pulverização aérea, a
forma mais irresponsável de uso de agrotóxicos; o fim das isenções
fiscais e a destinação dos recursos angariados para o SUS, para tratar
das vítimas; e mais investimentos na Anvisa, que tem só 46 técnicos
(para efeito de comparação, o órgão similar dos EUA tem 852). Folgado
conclamou a todos a assinarem o abaixo-assinado disponível aqui, para fazer pressão política sobre o governo.
A engenheira agrônoma Flavia Londres também garantiu ser possível
alimentar a população com alimentos saudáveis e em boa quantidade com o
modelo da agroecologia. “A Política Nacional de Agroecologia seria
lançada por decreto na Rio + 20. A sociedade civil se mobilizou, estava
previsto o estabelecimento de zonas livres de agrotóxicos e
transgênicos. Não é mais possível a sociedade ignorar a situação e não
fazer nada”, disse. Segundo ela, o modelo de agronegócio predominante há
mais de 50 anos não deu certo, o que se prova pela exclusão e pobreza
que gera, pelo esgotamento dos recursos e a contaminação do ambiente e
pelo fato de haver hoje no mundo quase 1 bilhão de pessoas passando
fome. Na ocasião, ela relançou o seu livro livro Agrotóxicos – um guia para ação em defesa da vida, editado pela Articulação Nacional de Agroecologia
Saiba mais
Matéria de Marina Lemle, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 21/06/2012
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao
Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail
de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por
terceiros.
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário