Por Leonardo Sakamoto Sobre a disputa entre a Prefeitura de São Paulo e os moradores da  favela do Moinho, que pegou fogo nesta quinta (22), trouxe uma  informação que ajuda entender porque a Paulicéia é desvairada.
Sobre a disputa entre a Prefeitura de São Paulo e os moradores da  favela do Moinho, que pegou fogo nesta quinta (22), trouxe uma  informação que ajuda entender porque a Paulicéia é desvairada.
Há cinco anos, a empresa proprietária do terreno onde fica essa  comunidade demonstrou interesse em doá-lo aos moradores. Mas a  administração municipal não aceitou sob argumento de que não era  possível alojar famílias no local. No mesmo ano, Gilberto Kassab emitiu  decreto para desapropriar a área. Como a própria Prefeitura disse que a  região não serve para residência, então tem outros usos para ela, como  finalidades comerciais ou de lazer. 
Fascinante. Não é possível alojar moradores, mas provavelmente deve  ser plausível receber bancos, salas de concertos e de exposições,  teatros, sedes de multinacionais, escritórios da administração pública,  restaurantes. Ah, e é claro, apartamentos – desde que de pessoas que  tenham dinheiro para pagar para morar em uma região com toda a  infra-estrutura de transportes, saneamento, energia. 
E a gente de lá, com todas as suas redes de amizades e relações  profissionais, que se estabeleceram ao longo de 30 anos? Ao invés de  urbanizar o local, garantindo a manutenção de pelo menos parte das mais  de 500 famílias que hoje vivem na favela, dando mais vida ao Centro de  São Paulo, o governo quer sacá-los. Talvez porque não se encaixem no  plano de desenvolvimento para o Centro da cidade, que está ganhando  investimentos públicos e privados. Sabe como é, né? Aquele bando de  gente pobre só ia jogar o preço do metro quadrado para embaixo e afastar  os “homens de bem” de perto. 
A área central de São Paulo é alvo prioritário dos movimentos por  moradia porque já tem tudo – transporte, cultura, lazer, proximidade com  o trabalho. Ao longo do tempo, fomos expulsando os mais pobres para  regiões cada vez mais periféricas. Eles, que têm menos recursos  financeiros, gastam mais tempo e mais de sua renda com transporte do que  os mais ricos que ficaram nas áreas centrais – com exceção das  Alphabolhas da vida.
Cortiços e pequenas favelas em regiões retratadas no passado por  Alcântara Machado no livro “Brás, Bexiga e Barra Funda” e também nos  antes requintados Campos Elísios abrigam dezenas de famílias. Sem o  mínimo de saneamento básico, às vezes sem água e sem luz. A maioria dos  moradores desses locais prefere continuar assim, pois transporte é o que  não falta e a casa fica próxima ao trabalho – ao contrário do que  acontece em bairros da periferia, onde o trajeto até o centro chega a  levar três horas, dentro de ônibus superlotados.
Tem sido função da Prefeitura tornar a vida desse pessoal um inferno  até que eles saiam. E a desse pessoal, resistir. Feito o Cerco a Viena,  de 1529, pelo Império Otomano. Naquela ocasião, o exército inimigo era  numericamente superior, enquanto a elite paulistana é um mísero grão de  areia frente ao restante da população pobre. Que aqui existe para  servir. 
Torço para que o fim seja o mesmo, com o Moinho resistindo a líderes que não sabem planejar. 
 
 
 
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