sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A SEGUNDA MORTE DO PT

Um dos melhores livros que li na vida foi A Segunda Morte de Ramon Mercader, de Jorge Semprún, ele também um desencantado com a esquerda que perdeu o rumo - no caso, o Partido Comunista Espanhol, satelizado por Stalin.
Quanto ao nosso Partido dos Trabalhadores, ele teve mais do que duas mortes. Podemos lembrar de muitos momentos traumáticos, como o expurgo das tendências de esquerda e a expulsão de Paulo de Tarso Venceslau por denunciar os primeiros desvios éticos mais sérios do partido nos anos 80, a opção pelo agronegócio face à greve de fome do bispo do São Francisco ou mesmo os compromissos firmados com o grande capital e a Rede Globo para que o sistema admitisse a chegada de Lula à Presidência da República e dos quais resultaram a adoção da política econômica neoliberal até hoje mantida.

Os mais emblemáticos foram, entretanto, os do mensalão e o do socorro ao Sarney, daí os dois registros que alinhavo abaixo:
"O PT, como força transformadora, foi engolido pelo atraso... [suas políticas não] são políticas de ajustamento, não são políticas sociais transformadoras - elas se ajustam à realidade. O Bolsa Família é uma política de ajuste, uma política conformista. E isso reflete essa situação um tanto ambígua de uma classe que não é classe, desse enorme exército informal que representa mais de 50% da força de trabalho.
Então, o PT foi engolido pelo atraso. A modernização das políticas sociais é uma regressão da classe para a pobreza, enquanto o movimento histórico vai da pobreza para a classe." (Francisco de Oliveira, sociólogo e professor aposentado da USP, um dos grandes teóricos do PT de melhores dias, expressando seu desencanto pelo mensalão e, em termos mais amplos, a completa descaracterização que o partido sofreu ao conquistar o poder)"O fato mais significativo da política brasileira no último período foi a absorção do PT pelo establishment político.
(...) O que nós percebemos nesses últimos anos é que o PT e o Lula não lutavam para mudar o Brasil, lutavam para entrar no condomínio de poder.
(...) Os militares fecharam o Congresso fisicamente. Lula fechou o Congresso de outra maneira, de um lado, inundando o Congresso com medidas provisórias que trancam a pauta e, de outro lado, generalizando o fisiologismo de uma forma que o Congresso deixou de existir como tal.
(...) Minha maior crítica ao presidente Lula não é nem à política econômica, mas é seu papel profundamente deseducativo e desmobilizador. É equívoco dizer que Lula é obrigado a fazer concessões. Quando ele entrega o sistema elétrico a Sarney - hoje uma capitania de Sarney-, ele não se sente fazendo concessão, ele se sente fazendo política". (Cesar Benjamin, editor da revista Contraponto, que participou da luta armada e foi um dos fundadores do PT, expressando seu desencanto com a vitória de Lula-Sarney-Calheiros-Collor e consequente manutenção de Sarney como presidente do Senado)
Postado por Celso Lungaretti

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