Nesse
Blog, não nos calamos perante as opressões, as explorações, os atrasos e
os obscurantismos da humanidade. Hoje, vimos aqui problematizar um caso
concreto de opressão, como muitos outros que acontecem no Brasil, e que
muitas vezes não costumam aparecer em nossa sociedade capitalista
hipócrita, pois os oprimidos, ideologicamente, sentem medo e até
vergonha de denunciar, até porque sentem que as leis não os protegerão e
serão ainda mais prejudicados caso denunciem.
Uma amiga minha, empregada doméstica, negra, mulher, toda cheia de vergonha, contou-me hoje a cruel e lamentável história: “fui
agarrada por detrás pelo marido da minha patroa, enquanto lavava as
louças do almoço e, no momento, dei um grito assustada e, nesse mesmo
instante, a minha patroa chegou em casa e perguntou: ´o que está
acontecendo aqui?`. Senti muita vergonha, fui para o quartinho da
empregada, e fiquei lá tremendo de vergonha diante do que aconteceu. A
patroa veio conversar comigo depois e me disse que o seu marido já tinha
feito isso antes com outras empregadas domésticas e que iria me despedir
para não acontecer de novo comigo. Eu era obrigada a usar jaleco por
cima de minha roupa e só agora estou pensando, devia ser para esconder o
meu corpo...”, ou seja, a patroa já sabia dos assédios sexuais de seu marido. Fiquei triste, ao ver o sofrimento da minha amiga, e ao pensar na situação trabalhista das empregadas domésticas.
Perguntei
se ela tinha carteira assinada e ela me disse que não. Senti a
crueldade do mundo capitalista burguês e opressor. Uma mulher
trabalhadora, vítima do machismo, vítima do racismo, vítima do
analfabetismo cultural, vítima do assédio sexual, vítima da falta de
direitos trabalhistas, vítima da falta de moradia, estava ali, em minha
frente, envergonhada, relatando práticas opressoras desse mundo
capitalista. Aos que tem sensibilidade, o cruel se revelou: empregada doméstica, oprimida, humanamente trabalhadora e socialmente desamparada. Alguém se importa?
E pior, ficou com a autoestima profundamente abalada com evento e,
obviamente, como muitas outras empregadas domésticas desse país e do
mundo, com um profundo medo de denunciar, porque tem medo de piorar a
situação para elas e não conseguirem arrumar mais emprego.
Consequências da crueldade: minha amiga, agora, está simplesmente desempregada.
Vai mais uma vez para a fila das domésticas que procuram emprego nas
agências das domésticas da cidade. O empresário que a assediou segue
livre em sua hipocrisia burguesa opressora. A patroa segue ocultando os
assédios sexuais do marido. E a minha amiga, vítima da covardia do
burguês opressor, não sabe como pagar o aluguel do próximo mês.
Contei
a minha amiga que iria discutir essa opressão aqui no Blog pelo menos
para trazer à tona a necessidade de se lutar contra tais práticas
opressoras silenciosas. Ela ficou desesperada. Tem medo, tem vergonha, e
principalmente tem pavor de ficar marcada e não arrumar mais emprego
depois. Ela disse, apavorada, o seguinte enunciado: “sabe como é essa gente rica, me marcam e daí eu não arrumo mais emprego nas agências da cidade!”
Enfim, é cruel ou não é, saber que isso acontece nos bastidores de uma
casa em que se contrata uma empregada doméstica? E pior: quanta pressão
econômico-psicológica ainda pesa sobre o ombro dessas trabalhadoras?
Fiquei me perguntando: quantas dores, dessas trabalhadoras domésticas,
que já se perderam e que ainda se perderão no silêncio dessa sociedade
capitalista hipócrita e opressora?
Sabemos
que as práticas opressoras não são eternas, não são inevitáveis, não
são naturais, nem tampouco necessárias. Mas para não sê-lo, para mudar
tal situação, sabemos também que as opressões não podem se perder no
silêncio e no esquecimento. Às companheiras trabalhadoras domésticas,
vítimas da opressão machista, vítimas do assédio sexual, vítimas da
opressão racista, faço aqui saber minha indignação política e exigência
aos que fazem leis nesse país: é preciso haver proteção trabalhista
e, sobretudo, segurança física para que as trabalhadoras domésticas
possam ter coragem de denunciar. Do contrário, minha amiga e muitas
outras empregadas domésticas, por falta de proteção trabalhista e por
falta de segurança, não tem e não terão coragem de denunciar as
opressões. No capitalismo, individualmente, a corda sempre arrebentou do
lado mais fraco. É isso que elas temem.
Ah,
argumentaria o preconceito quanto às profissões: mas são “só”
trabalhadoras domésticas. Alguém se importa? Os Socialistas Livres se
importam.
Fonte: http://socialistalivre.wordpress.com
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