Editorial da edição 492 do Brasil de Fato
A política de segurança pública de São Paulo está
falida. Uma política que se resume em aumentar o número de presídios e o
número de policiais militares
Diante
da repercussão do assassinato do empresário Ricardo Prudente de Aquino,
pela PM paulista, o governador tucano exigiu uma apuração rigorosíssima
e prometeu acelerar a indenização do Estado à família do morto.
Sendo
condescendente com o governador, é impossível não enxergar em suas
palavras um primado de cinismo. Passa a impressão de que a desastrada
ação policial, que custou mais uma vida humana, é um caso isolado e
deveu-se apenas aos erros de procedimento dos envolvidos na operação
militar, os que dispararam as balas assassinas.
Somente
um olhar obtuso, ou mal-intencionado, pode ignorar que esse caso é
apenas mais um de centenas de outros. É possível desassociar a
desastrada ação policial, que lamentavelmente custou a vida de Aquino,
das chacinas e execuções sumárias que se espalham pela periferia da
cidade? Ou ignorar que a morte de 26 PMs, em dias de folga dos
trabalhos, ocorridas de janeiro a maio, elevam o stress dos policiais e
seus familiares a níveis insuportáveis? Atirar primeiro e perguntar
depois - se sobreviver alguém a quem perguntar - virou a prática
cotidiana das forças públicas encarregadas da segurança da população.
Esse script só é questionado quando a vítima não é pobre, ocupa espaço
na mídia e sensibiliza o governador.
O emprego da
força e a letalidade policial em São Paulo são assustadores. No estado
de São Paulo, de janeiro a maio, 1 de cada 5 homicídios foi cometido
pela PM. Nos Estados Unidos esse índice é de 1 para cada 35 homicídios.
De 2006 a 2010, 2.262 pessoas foram mortas pela PM paulista. No mesmo
período, em todo o território estadunidense, a polícia matou 1.963
pessoas. São Paulo tem 41 milhões de habitantes, o que lhe confere uma
taxa de 5,5 mortes para cada 100 mil habitantes. EUA tem 313 milhões de
habitantes e a taxa cai para 0,63.
E há, junto à
classe média, setores do comando da PM e do governo, quem defende o uso
de mais repressão policial como única saída para combater a violência e a
criminalidade existente. São incapazes de perceber que a política de
segurança pública de São Paulo está falida. Uma política que se resume
em aumentar o número de presídios e o número de policiais militares.
Evidencia sua falência aos mostrar-se incapaz de combater o crime
organizado, quem comanda suas atividades criminosas de dentro dos
presídios, tem atuação permanente nas periferias – incluindo regiões
centrais da capital – e apresenta-se à sociedade como um verdadeiro
poder paralelo ao do Estado.
Falência
evidenciada, também, no tratamento dado as questões sociais. A polícia
do governo tucano não sabe enfrentar uma simples passeata de estudantes
em defesa do passe escolar, ou uma manifestação de grevistas, sem usar
cassetetes, bombas de gás, cães e balas de borracha. A síntese dessa
truculência e desumanidade contra a população pobre se materializou na
ação policial contra os usuários de crack, na região central da capital,
e no despejo das famílias do bairro do Pinheirinho, em São José dos
Campos (SP). Não é por outra razão que os governos tucanos, tanto do
José Serra quanto o do Geraldo Alckmin, sofreram denúncias na Comissão
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Ou
seja, essa violência policial é coerente com a direitização do PSDB. A
jornalista Maria Inês Nassif já havia alertado, em janeiro/ 12: “O
governador é conservador; o PSDB tornou-se organicamente conservador,
depois de oito anos de governo FHC e oito anos de posição neoudenista. A
polícia é truculenta (...) e foi mais do que estimulada nos últimos
governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do
tapete.” Assim, o comandante-geral interino da PM, coronel Hudson
Camilli, está sendo coerente com a linha política dos últimos governos
tucanos quando afirma que o número de mortos em confronto com a PM está
dentro da normalidade. Como foi coerente o governador José Serra ao
escolher o Reitor da Universidade de São Paulo (USP) que abriu o campus
para a PM.
A dissertação de mestrado do
tenente-coronel Adilson Paes de Souza, defendida na Faculdade de Direito
da USP, sobre a Educação em Direitos Humanos na Policia Militar, traz
elementos reflexivos para a reestruturação da força policial encarregada
da segurança da população. Para o tenente-coronel, hoje na reserva, a
educação de baixa qualidade em direitos humanos é uma das causas da
violência policial.
Mas é necessário, também,
promover mudanças mais amplas e profundas na economia e nas políticas
públicas, que extrapolam o âmbito do estado de São Paulo. Políticas de
combate à pobreza e a desigualdade social, que promovam a democratização
da riqueza e da renda produzida na 6ª economia mundial, com índices
sociais vergonhosos.
Fonte: Jornal Brasil de Fato
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