terça-feira, 28 de junho de 2011

A receita patronal para sair da crise: sacrifícios sem fim (mas somente para os trabalhadores)

Por Alberto Madoglio

Tempos duros para os trabalhadores, sejam italianos ou de um modo geral europeus. As garantias de quem procura convencê-los de que o pior já passou e de que o sistema econômico mundial caminha para uma recuperação sólida não tiveram muito sucesso.

Na verdade, as notícias que nestes dias chegam dos ministérios do governo induzem a pensar que o pior, longe de estar nas nossas costas, está na verdade diante de nós.

A lei do mercado segue seu curso e apresenta a conta. Os débitos que no início da crise atingiram os bancos e as indústrias, não desapareceram, foram simplesmente transferidos, em boa parte, dos orçamentos das empresas para aqueles dos Estados nacionais. A esperança da burguesia era que esta obra de “socialização das perdas”, permitisse que a economia global pudesse ganhar impulso. Um crescimento sustentado que permitisse dispor de um estoque de débito acumulado, e de resolver tudo da melhor forma. As coisas de fato não ocorreram segundo estas previsões otimistas.

Enquanto a crise de 2007 distruído um percentual enorme de “capital” (entendemos aqui não somente ações e investimentos, mas também fábricas, e o que mais conta, capital humano, isto é trabalhadores), a economia mundial continua estagnada.

Certos que alguns países estão em melhores condições, ou talvez, mais precisamente, estão em condições menos negativas que outros, mas o quadro global é substancialmente negativo. As tão citadas locomotivas da retomada econômica como China, Alemanha, mais do que puxar os outros países, descarregam sobre estes últimos os custos das suas econômicas: em outras palavras, ao invés de serem atingidos também pela crise, conseguem (até o momento) jogar a crise para os outros.

Se se pensa que uma situação pior do que aquela que estamos vivendo foi evitada por diversos anos com recursos e medidas políticas e econômicas extraordinárias (baixas taxas de juros, empréstimos a empresas em crise, criação sem freios de papel moeda) se pode imaginar qual é a situação em que nos encontramos. Além disso, se as medidas citadas, de extraordinária se transformem em medidas “normais”, o perigo que o remédio possa matar, ao invés de sarar o doente, torna-se sempre mais real. Os sinais já são perceptíveis. A política do “dinheiro fácil” fez com que viesse à tona a enorme especulação financeira sobre o mercado de bens alimentares. Os preços atingiram, e em alguns casos superaram, o recorde histórico alcançado em 2008. Milhões de pessoas são novamente, literalmente condenadas à fome. As consequências disso foram rebeliões, revoluções, agitações das massas que não aceitam os planos dos patrões para resolver os problemas.

Os países com as economias e finanças mais fracas, são os primeiros a entrarem em dificuldades e a imporem políticas de “lagrimas e sangue” àqueles setores da sociedade que já foram duramente atingidos durante quatro anos de recessão global.
Dois elos fracos na corrente do euro: Roma e Atenas

Citamos dois casos entre outros, o da Itália e o da Grécia.

Bastou que nos dias anteriores uma sociedade de rating baixasse o Outlook (previsão) do nosso país de estável a negativa, para que o governo fosse obrigado a anunciar uma operação no orçamento de 40 bilhões para 2014, com o objetivo de chegar naquele ano ao equilíbrio do orçamento. Naquela mesma hora o Tribunal de Contas afirmou que para respeitar as novas e mais rigorosas medidas européias relativas ao débito público, deveria ser feito já nos próximos anos uma série operações econômicas de 40/50 bilhões de euros ao ano. As autoridades contábeis, assim como muitos comentadores burgueses, lembraram os planos de Amato, Ciampi e Prodi para permitir a entrada da Itália na zona do euro. Erram, pois se a quantidade da cifra fosse exata e nós duvidamos (explicaremos o porquê), isso que nos espera no futuro fará parecer o que aconteceu nos anos 90, como uma sóbria e moderada política de sacrifício.
Os planos financeiros do governo: quem sacrifica o que?

Em poucas horas, do rebaixamento emitido pela Standard and Poor’s ao anúncio feito pelo Ministério das Finanças, foram desmascaradas as mentiras que o governo tem dito nos últimos meses. Segundo Berlusconi, a crise para nós não foi particularmente dura, o país aguentou melhor que outros o impacto da recessão e os trabalhadores continuavam a viverem felizes e contentes. Nunca foi assim: tivemos em 2007 milhares de trabalhadores demitidos, uma queda do poder aquisitivo dos salários, um empobrecimento geral de quem já não vivia no luxo. Tudo isso tem produzido uma série de explosões sociais (movimento estudantil no mês de dezembro do ano passado, greves e manifestações em todas as partes do país etc.), sufocado somente graças ao papel das burocracias sindicais e políticas do movimento operário.

A produção industrial é ainda inferior em 17% ao nível que tinha em agosto de 2008, data em que convencionalmente se inicia a grande recessão. Agora porém, a ilusão terminou. Os detalhes das operações não são conhecidos, serão talvez em julho, mas já podemos dizer quem pagará: trabalhadores, estudantes, desempregados. Sabemos também onde serão os golpes: aposentadorias (o diretor do instituto nacional da previdência disse que o orçamento está adequado, mas deve-se trabalhar ainda mais), escola pública (foi apresentada uma proposta de lei que obriga a família de crianças com necessidades especiais que são beneficiadas a pagarem do próprio bolso os professores, e isto é somente o aperitivo, o resto serão outras milhares de demissões de professores e pessoal administrativo), impostos (querem aumentar o IVA, uma taxa regressiva, que atinge majoritariamente os rendimentos mais baixos sobre os bens de consumo) destruição do resto do Estado de bem estar social etc.

A magnitude da manobra, e daqueles previstos no Tribunal de contas, é baseada em um crescimento do PIB que embora moderado, corre o risco de ser, no final, mais baixo do que aquele estimado (como já vem ocorrendo por mais de uma década), por isso, os cortes do orçamento serão maiores do que o anunciado.

E como as experiências de outros países demonstram, intervenções de “lagrimas e sangue” em um quadro de recessão econômica, tem como resultado piorar o estado da economia, caindo em um espiral que no fim das contas só permite a solução Argentina, isto é, a falência do Estado.
A Grécia na beira do abismo

Sobre este último ponto, o país que faz escola é a Grécia.

Desde o ano passado, sem interrupção ocorreram intervenções nos orçamentos que impuseram cortes draconianos, um constante deteriorização das contas públicas, uma contínua explosão de conflitos entre as massas trabalhadoras que se opõem as políticas sociais que procuram lhes lançar os custos da crise.

Agora chegou a hora da prestação de contas.

Embora o governo grego dirigido pelos “socialistas” do Pasok tenha aceito as imposições do FMI e do BCE (Banco Central Europeu), lançando um plano de privatizações de 50 bilhões de euros (para ter um termo de comparação para Itália a cifra deveria ser de 300 bilhões), os mercados parecem apostar na bancarrota de Atenas. As emissões de títulos públicos em alguns casos chegaram a 22%, o que, numa economia que verá o PIB cair pelo quarto ano consecutivo, significa que quanto mais dinheiro para sair da crise o país receber, mais seus débitos aumentarão exponencialmente, através de um mecanismo que é exagerado definir como usurário.

As instituições internacionais colocam em questão a concessão de ajudas adicionais e, com um toque final a comissária européia, do mesmo partido do primeiro ministro Papandreu, afirmou pela primeira vez que o retorno a dracma como moeda nacional é uma opção colocada na mesa. É difícil fazer previsões sobre uma hipótese que no momento parece improvável, mas se isso ocorresse às repercussões para toda construção européia de Maastrich [Nome de um dos tratados fundamentais da União Européia] seria inimaginável: para as finanças públicas seria um efeito Leman Brothers, mas multiplicado por cem. Itália e Grécia como dissemos são somente dois casos símbolos de um continente em crise: Espanha, Portugal, Irlanda, Leste Europeu, amanhã talvez a Grão Bretanha estão em uma situação semelhantes.
Uma moeda que não tem apenas um lado

No entanto nunca nos cansaremos de repetir que este é somente um lado da moeda. Do outro lado aparecem as lutas que nestes meses abalaram o mundo. As revoluções no mundo árabe, as mobilizações na Espanha e Grécia, as embrionárias explosões sociais que continuam a se verificar na Itália, como a mais recente dos operários da Fincantieri de Genova e Castellammare.

Se o capital se prepara para lançar um duro golpe, talvez decisivo, contra os trabalhadores, estes não devem ficar despreparados. Os jovens da Tunísia, Egito, Síria, Líbia e Yemen nos mostraram que nada é impossível. Que mesmo o regime mais sólido se desmancha diante da potência das mobilizações das massas proletárias.

É por este objetivo que devemos nos empenhar: garantir que depois dos países do Magreb chegue finalmente à vez dos operários, jovens, mulheres, imigrantes que vivem na Itália. Somente os trabalhadores e jovens – e não Pisapia, De Magistris, Bersani, Vendola, Ferrero – que podem colocar a palavra “fim” sobre o sistema baseado na exploração mais brutal, que condena a pobreza a ampla maioria da população, enquanto algumas centenas de famílias burguesas ficam sempre mais ricas.

Tradução: Rogério Freitas
Fonte: http://www.litci.org

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