domingo, 21 de março de 2010

GRÉCIA: A GRANDE MANIFESTAÇÃO DO PAME EM 11/MARÇO



Grécia: isto é só o começo!
por Christakis Georgiou
As medidas de austeridade impostas aos trabalhadores gregos para reduzir os défices não são senão um prelúdio do que poderia acontecer em outros países europeus. A crise grega demonstra os desacordos da classe dirigente sobre as estratégias a adoptar. Pela segunda vez desde Dezembro de 2008, a Grécia está no centro da situação política na Europa. Desde a chegada ao poder do Pasok, o partido social-democrata grego, e das revelações referentes às aldrabices com os números do défice orçamental (o governo de direita havia falsificado os números para anunciar um défice menos elevado que o seu nível real, o que lhe permitiu continuar a tomar emprestado a baixas taxas de juro nos mercados), uma espécie de tragédia grega desenrola-se sob os nossos olhos.

Os sociais-democratas abandonaram muito rapidamente as suas promessas eleitorais e anunciaram a inevitabilidade das medidas de rigor. A imprensa alemã conduz uma campanha de difamação da população grega. O primeiro-ministro grego, Papandreu, faz o giro das principais capitais da Europa para implorar um salvamento europeu. Na imprensa burguesa, o debate sobre a oportunidade de salvar ou não o Estado grego é tempestuoso. Nos mercados financeiros, a especulação ligada aos défices gregos faz deslizar o euro e inquieta os seus arquitectos. Na própria Grécia, os planos de austeridade seguem-se com uma rapidez impressionante (o do mês de Janeiro não foi suficiente para acalmar os grandes investidores financeiros e foram precisas medidas suplementares, anunciadas em Fevereiro, de âmbito bem mais vasto), as greves multiplicam-se e o medo de um novo Dezembro grego assombra a Europa.

A crise grega é representativa da situação de vários países europeus. Primeiro, ela reflecte as divisões daqueles que dirigem as nossas sociedades. É o que revela o debate em torno da ajuda que a Europa poderia dar à Grécia. Alguns não querem ouvir falar do mínimo cêntimo de ajuda à Grécia. "A Alemanha não dará um centavo à Grécia", declarou Rainer Brüderle, ministro da Economia e membro do FDP, o partido liberal-democrata alemão, parceiro da CDU de Merkel no governo.

Os liberais do FDP e os bávaros da CSU opõem-se ferozmente a um salvamento da Grécia. Ele fazem campanha para que o Estado grego faça o serviço em sua casa e imponha aos trabalhadores a totalidade da factura através de medidas de rigor. Mas face a isso, outros querem a todo preço evitar uma falência do Estado e dentre eles bom número de banqueiros que emprestaram maciçamente à Grécia e ficariam novamente numa situação muito difícil se o país não reembolsasse as suas dívidas. É o que explica a visita a Atenas do patrão do Deutsche Bank no fim de Fevereiro, a fim de negociar com o governo grego um eventual apoio alemão.

Nesta situação, Papandreou tenta jogar todas as suas cartas para fazer pressão sobre o governo alemão. Após a sua visita a Berlim a 5 de Março e a Paris no dia 7, ele encontrou-se segunda-feira com Barack Obama em Washington para evocar a possibilidade de um apoio do FMI. Os dirigentes europeus nem querem ouvir falar. Uma tal solução mostraria a incapacidade da UE em resolver sozinha os seus problemas. E antes de ver o FMI intervir, estão prontos a fazê-lo por si próprios.

O contexto de todas estas escaramuças é saber como se vai distribuir o fardo dos défices gregos. É um braço de ferro entre as classes dirigentes europeias. Mas a sua fonte principal é a incapacidade do governo grego para fazer com que sejam os trabalhadores do seu país a pagar a louça partida da crise. Pois se Papandreu estivesse em condições de impor o rigor necessário para reduzir rapidamente os défices e acalmar os investidores financeiros, não haveria necessidade de um apoio europeu. É isto que reclamam os "falcões" na Alemanha. Crise europeia Atrás da Grécia, um conjunto de outros países aguardam a sua vez.

Os défices gregos não são muito mais elevados do que os da Espanha, de Portugal, da Irlanda, da Itália ou ainda da Grã-Bretanha. À parte este últimos, os outros fazem parte do euro. Se a Grécia receber apoio, isto seria um sinal de que os grandes países europeus – nomeadamente a Alemanha, principal potência económica europeia – fariam a mesma coisa para os outros. Isto enfraqueceria a pressão que se exerce sobre eles para imporem medidas de austeridade. De certa forma, portanto, a luta actual dos trabalhadores gregos tem um âmbito europeu. Quanto mais eles conseguirem resistir às medidas de austeridade, mais isto criará condições mais favoráveis aos trabalhadores dos outros países europeus para lutarem contra os planos de austeridade que dentro em breve cairão sobre eles.

E da mesma forma, já em vários países os trabalhadores do sector público passam à acção. Dias 8 e 9 de Março, os funcionários britânicos fizeram greve contra a redução dos seus bónus de despedimento. Em Portugal, em trabalhadores do sector público fizeram greve quinta-feira 5 de Março contra o congelamento dos seus salários, medida tomada para reduzir os défices portugueses. Na Espanha, a terça-feira 2 de Março foi uma jornada contra a elevação da idade de reforma de 65 para 67 anos.

Em França, o dia 23 de Março será uma jornada inter-profissional. A crise grega tornar-se-á certamente uma crise europeia quando os outros governos adoptarem medidas semelhantes. A resistência dos trabalhadores gregos deverá seguir o mesmo caminho.
O original encontra-se em
http://www.npa2009.org/content/grece-ce-n'est-qu'un-debut%E2%80%89

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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