Por Luiz Carlos Azenha
Entrevista do ministro Fernando Haddad, conforme reproduzida pelo Estadão:
Seguramente eram quase 10 horas da noite. Na verdade, às 9h30 da noite. O que ela relatou? Ela me disse: ministro eu gostaria de passar um e-mail pra o senhor, dando algumas informações porque nós fomos procurados por duas pessoas por meio de um celular oferecendo ao jornal um exemplar impresso da prova do Enem.
Entrevista do ministro Fernando Haddad, conforme reproduzida pelo Estadão:
Seguramente eram quase 10 horas da noite. Na verdade, às 9h30 da noite. O que ela relatou? Ela me disse: ministro eu gostaria de passar um e-mail pra o senhor, dando algumas informações porque nós fomos procurados por duas pessoas por meio de um celular oferecendo ao jornal um exemplar impresso da prova do Enem.
Evidentemente o jornal rejeitou a oferta, é óbvio. Mas a jornalista teve a habilidade de manusear o material antes de devolvê-lo a quem pretendia vendê-lo. Ao manusear o material, ela fixou alguns componentes da prova, sobretudo gráficos, que são as partes fáceis de serem memorizadas. No e-mail que ela nos passou, ela fazia referência a esses aspectos: a figura da Mafalda, a bandeira do Brasil com o verde desmatado, como se fosse Amazônia desmatada, dentre outros elementos. Não lembro quantos, mas seguramente, três ou quatro elementos que poderiam nos dar segurança de que aquele material era autêntico. Porque evidentemente alguém poderia forjar uma prova alegando autenticidade com finalidade específica de angariar recursos. Vender uma prova falsa. E a jornalista, com muita responsabilidade procurou o Ministério da Educação para que nós pudéssemos checar a autenticidade do material.
Foi preciso ser feito uma mobilização, porque no Inep não existe prova impressa. O que existe é prova digitalizada em cofre e envelope lacrado; e para entrar no cofre no Inep ninguém consegue fazer isso sozinho. Tem um procedimento de segurança, câmaras filmando na sala de segurança do Inep quem entra e o que sai. E ninguém conseguia a prova impressa. O arquivo vai para a gráfica com segurança para ser impresso lá, com segurança para evitar o que acabou ocorrendo. Por volta de uma da manhã, a equipe designada pelo presidente do Inep confirmou que os componentes descritos pela jornalista estavam presentes na prova. Como nem nós nem a jornalista tínhamos a prova escrita, precisávamos fazer um cotejamento da descrição do que ela viu nas mãos da pessoa que furtou a prova e os itens escolhidos do banco de itens para compor a prova.Diante dessa constatação, o presidente do Inep, Reinaldo Fernando, ligou para a jornalista dizendo que as evidências eram muito grandes, que o material era autêntico e que não cabia outra medida a não ser anular a prova impedindo sua realização com o material que pode ter sido violado. Não sabíamos quantos quites tinham sido furtados, se eles tinham sido fotocopiados, digitalizados. Não havia a menor segurança para garantir que a prova poderia estar sendo disseminada por qualquer meio, eletrônico ou material. Em virtude de colocar em risco a credibilidade e a segurança do exame, os indícios eram fortes para legitimar a decisão de cancelar o exame. Evidentemente que os itens dessa prova estão eliminados do banco e não serão usados.
Não sabemos se a pessoa tinha uma ou duas provas, de sábado ou domingo. Na prova de linguagem, o que a jornalista conseguiu detectar visualmente correspondia ao que de fato a prova continha. Mesmo sem saber o que dispunha aquele que tentou vender o material, decidimos pelo adiamento. Em parte agradecemos ao jornal Estado de S. Paulo, que impediu que a prova se realizasse. Se nós anulássemos a prova, ao invés de adiá-la, os prejuízos e transtornos seriam muito maiores. Todo mundo teria feito a prova e os resultados não poderiam ser utilizados.
Quero registrar aqui um agradecimento ao jornal que teve uma postura de enorme responsabilidade com assunto de interesse público, que afeta milhões de pessoas, e que soube fazer chegar ao Ministério da Educação informações que permitiram uma decisão que não podia ser outra. Evitando que as pessoas se desloquem par aos locais de prova, eventualmente façam a prova, com todo o gasto de energia, emocional e intelectual e não venham a utilizar o resultado pela prova ter sido cancelada.
O que ocorre em muitos casos de concursos públicos, de ter que ser cancelado depois da sua realização. Nós devemos isso á postura que a direção do jornal teve, que foi muito correta, de interagir conosco em prol do interesse público. Agora fizemos no MEC uma divisão do trabalho. O Inep tem que cuidar do Enem e vai passar em revista todos os procedimentos junto ao consórcio vencedor da licitação para garantir a realização de uma nova prova com novos índices e o gabinete vai interagir tanto com o jornal quanto com a polícia federal para apurar as responsabilidades.O inquérito na PF já está aberto a nosso pedido e vai ser capitaneado pele superintendência de São Paulo, onde ocorreu o encontro da jornalista com os vendedores da prova e a partir daí as investigações vão ocorrer.
Fizemos um apelo para que todas as pessoas que tiveram contato com os fraudadores possam trazer informações relevantes para que a polícia possa fazer investigação mais rápida possível e responsabilizarmos os Que cometeram o delito de tornar essa prova pública antes de sua realização. Então é esse o procedimento: O Inep tem que cuidar da realização da prova. Evidentemente, se colocando à disposição das autoridades, mas nós pessoalmente vamos, junto ao superintendente da PF acompanhar as investigações. Até porque eu entendo que o modus operandi dessas pessoas é bastante anômalo, eles estão se expondo anômalos, de uma maneira que eu entendo que possamos chegar aos autores do delito com alguma rapidez.
E evidentemente essas pessoas, se puderem ser localizadas com o apoio da sociedade, daqueles que mantiveram contato com eles, evidentemente nós poderemos saber em que momento, em que etapa do processo houve a corrupção dos dados, que eram sigilosos até sábado, dia da aplicação da prova. Então, são essas as providências.
O consórcio foi chamado à Brasília. É um consórcio que foi o único participante da licitação. Nenhuma outra empresa participou da licitação".
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