Na quinta-feira, 2 de outubro, estudantes de todo o país foram surpreendidos com o cancelamento do Enem, porque a prova tinha vazado; episódio traz à tona a necessidade de debater este projeto excludente
Por Renan Morais, do Rio de Janeiro (RJ)
Na última quinta-feira, milhões de estudantes brasileiros souberam que o novo Enem seria adiado. É natural que o fato tenha causado uma insatisfação em parte dos alunos, pois haviam se preparado durante meses para a prova.
Por Renan Morais, do Rio de Janeiro (RJ)
Na última quinta-feira, milhões de estudantes brasileiros souberam que o novo Enem seria adiado. É natural que o fato tenha causado uma insatisfação em parte dos alunos, pois haviam se preparado durante meses para a prova.
No mesmo dia, o Ministério da Educação teve de explicar os motivos do cancelamento do exame, que aconteceria nos dias 3 e 4 de outubro. O ministro Fernando Hadadd informou que, através de uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo, o governo ficou ciente do vazamento da prova e, por isso, era necessário seu adiamento.
No entanto, o governo não informou o verdadeiro caráter de sua política de acesso ao ensino superior, fazendo coro com os reitores de que o novo Enem é o fim do vestibular no Brasil.
Não se engane, não é o fm do vestibular
A proposta do governo é que todas as universidades federais aceitem o exame como forma de acesso ao ensino superior, por ser multidisciplinar e permitir nacionalizar a avaliação. Por isso, neste vestibular, as principais instituições do país vão utilizá-lo como prova única ou na primeira fase como pontuação extra.No entanto, o formato excludente não desaparece. O novo exame procura avaliar o desenvolvimento do estudante durante toda sua formação em apenas uma prova. Esse critério sempre foi muito criticado por educadores, pois não realiza um acompanhamento permanente do aluno e das escolas, desconsiderando as diferenças e desigualdades regionais existentes em nosso país.
Em outras palavras, a lógica do mercado presente no vestibular permanece na política atual do governo, pois os alunos que conseguirem pagar por um ensino melhor ou um curso preparatório continuarão em condições mais favoráveis para ingressar na universidade.
A farsa da mobilidade acadêmica
O governo também afirma que a nova prova permite a mobilidade acadêmica do aluno, sendo uma grande revolução no ensino superior brasileiro. Essa mobilidade estaria no fato de o estudante ter de escolher cinco cursos ou universidades na hora de realizar a inscrição para o novo Enem.
Assim, o acesso estaria relacionado ao número de pontos obtidos no exame e a quantidade de vagas que o curso de sua preferência possui. Ou seja, não muito diferente do que é atualmente. Porém, pelo caráter nacional da prova, a concorrência é ainda mais agressiva e desigual. Os melhores alunos de todos os estados irão para as melhores universidades do país, restando para os demais cursos distantes de casa, fora de sua preferência ou nem irão para a universidade. Além disso, cria centros de excelência, onde os mais ricos estarão nas melhores instituições do país em termos de ensino e pesquisa.
Na prática, o estudante que fizer um curso preparatório poderá escolher para onde ir. Mas aquele que não conseguir a vaga na sua cidade, terá de optar por estudar a quilômetros de distância de casa.Para piorar o cenário, o governo não garantirá para esse estudante bolsa de estudo, alojamento, bandejão ou qualquer forma de assistência estudantil. O mais provável é que a grande maioria dos 4 milhões de inscritos no exame não consiga entrar no ensino superior.
Por uma educação gratuita e de qualidade e para todos
Uma política eficaz deveria garantir 10% do PIB para a educação, investindo em todos os níveis do ensino brasileiro, na escola e na universidade. Ao mesmo tempo, é necessário estatizar as instituições privadas garantindo a todos o acesso ao ensino público, acabado de vez com o vestibular.
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