Por Jacqueline Farid, da Agência Estado
Área ocupada pelos estabelecimentos de mais de 1.000 hectares concentra mais de 43% do espaço total
RIO - O Censo Agropecuário 2006, divulgado nesta quarta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a concentração de terras persiste no País. A concentração e a desigualdade regional é comprovada pelo Índice de Gini da estrutura agrária do País. Quanto mais perto esse índice está de 1, maior a concentração. Os dados mostram um agravamento da concentração de terras nos últimos 10 anos. O Censo do IBGE mostrou um Gini de 0,872 para a estrutura agrária brasileira, superior aos índices apurados nos anos de 1985 (0,857) e 1995 (0,856).
A evolução do Gini, no entanto, foi muito diferente entre as Unidades da Federação. Em São Paulo, passou de 0,758 no Censo anterior para 0,804. No Maranhão, por outro lado, recuou de 0,903 para 0,864. No Censo 2006, o maior índice de Gini estava em Alagoas (0,871), enquanto o menor foi apurado em Roraima (0,664).
"As diferenças verificadas na área dos estabelecimentos agropecuários continuam a caracterizar a manutenção da desigualdade na distribuição de terra no País nos últimos censos agropecuários", dizem os técnicos do IBGE.
De acordo com o instituto, enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais, a área ocupada pelos estabelecimentos de mais de 1.000 hectares concentra mais de 43% da área total.
O levantamento do Censo Agropecuário 2006, cuja coleta de dados foi realizada em 2007, é o primeiro dessa magnitude feito pelo instituto desde 1996
Área ocupada
O Censo Agropecuário revela que os 5.175.489 estabelecimentos agropecuários ocupam 329.941.393 hectares, ou o equivalente a 36,75% do território brasileiro (851.487.659 hectares). Houve uma redução de 6,69% na área ocupada pelos estabelecimentos em relação ao censo anterior (1995-1996), o que significa uma queda equivalente a 23.659.882 hectares na área total dos estabelecimentos agropecuários no período.
Segundo o coordenador do Censo, Antonio Carlos Simões Florido, essa queda pode ter sido resultado da criação, a partir de 1995, de novas áreas destinadas aos indígenas e unidades de conservação. Segundo a pesquisa, as chamadas unidades de conservação representam 8,47% do território nacional (ou 72.099.864 hectares, com alta de 128% ante o Censo anterior), enquanto as terras indígenas ocupam 14,74% do País (ou 125.545.870 hectares, com aumento de 19% ante o Censo anterior).
O Censo relativo a 2006 mostra também que a atividade principal dos estabelecimentos agropecuários é a criação de bovinos, que ocorre em mais de 30% desses estabelecimentos. Em seguida, estão o cultivo de outras lavouras temporárias (que inclui feijão e mandioca), em cerca de 18% dos estabelecimentos; o cultivo de cereais (12%) e a criação de aves (9%).
Ainda de acordo com o Censo, os estabelecimentos que têm como atividade principal a cana-de-açúcar e a soja ficaram com a maior participação no valor da produção agropecuária (ambos com 14% cada um), seguidos por criação de bovinos (10%), cultivo de cereais (9%) e cultivo de outros produtos da lavoura temporária (8%).
Orientação técnica
Apenas 22% dos estabelecimentos agropecuários do País recebem algum tipo de orientação técnica, segundo mostra o Censo Agropecuário 2006. De acordo com o instituto, a área média dos estabelecimentos que recebeu assistência é 228 hectares; enquanto a dos não assistidos é 42 hectares. A orientação técnica de origem governamental atinge 43% dos estabelecimentos assistidos e está mais voltada para os estabelecimentos menores, com área média de 64 hectares.
Segundo o documento de divulgação do Censo, em toda a Região Norte e Nordeste houve avanço em relação à orientação técnica de origem governamental, o mesmo ocorrendo em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. Em contrapartida, "houve significativa redução" de produtores que declararam receber orientação técnica nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Goiás, "o que pode ser uma sinalização de declínio nos serviços de extensão rural nestes Estados", segundo o IBGE. Os estabelecimentos que têm orientação técnica particular ou do próprio produtor (quando este é um profissional qualificado) têm área média de 435 hectares. As empresas privadas de planejamento atendem a estabelecimentos com maior área média (506 hectares).
O Censo apurou, ainda, que o nível de instrução da pessoa que dirige o estabelecimento tem "uma forte relação" com o recebimento de orientação técnica. Dos produtores com instrução igual ou inferior ao ensino médio incompleto, apenas 16,8% receberam assistência técnica, enquanto para os produtores com ensino fundamental completo este porcentual sobe para 31,7%. Para os produtores com nível superior, com exceção daqueles com formação em ciências agrárias e veterinária, a assistência técnica alcança 44,7% dos estabelecimentos.
Culturas
A soja foi a cultura que mais se expandiu no País na última década, segundo mostra o Censo Agropecuário. No período entre 1995, quando foi realizado o levantamento anterior, e o Censo atual, a soja apresentou um aumento de 88,8% na produção, alcançando 40,7 milhões de toneladas, em 15,6 milhões de hectares, com um aumento de 69,3% na área colhida. Em termos absolutos, segundo o IBGE, houve um aumento de 6,4 milhões de hectares de soja, sendo que grande parte desta área pertence à Região Centro-Oeste.
De acordo com o Censo, a cultura da soja, principal produto agrícola na pauta das exportações brasileiras, é cultivada em 215.977 estabelecimentos, gerando R$ 17,1 bilhões para a economia brasileira. Segundo o Censo Agropecuário 2006, Mato Grosso é o maior produtor nacional de soja, com 10,7 milhões de toneladas, o que representou 26,2% da produção brasileira em 2006.
Ainda de acordo com o Censo, "com o objetivo de reduzir os custos de produção", os produtores optaram pelo cultivo da soja transgênica no Brasil: 46,4% dos estabelecimentos agropecuários que cultivaram soja em 2006 utilizaram sementes geneticamente modificada. Também foi utilizada uma grande quantidade de semente certificada (44,6%) e, em 96,8% da área, a colheita foi realizada de forma totalmente mecanizada. Na maior parte das áreas cultivadas também foram feitos uso de agrotóxicos (95,1%) e adubação química (90,1%).
RIO - O Censo Agropecuário 2006, divulgado nesta quarta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a concentração de terras persiste no País. A concentração e a desigualdade regional é comprovada pelo Índice de Gini da estrutura agrária do País. Quanto mais perto esse índice está de 1, maior a concentração. Os dados mostram um agravamento da concentração de terras nos últimos 10 anos. O Censo do IBGE mostrou um Gini de 0,872 para a estrutura agrária brasileira, superior aos índices apurados nos anos de 1985 (0,857) e 1995 (0,856).
A evolução do Gini, no entanto, foi muito diferente entre as Unidades da Federação. Em São Paulo, passou de 0,758 no Censo anterior para 0,804. No Maranhão, por outro lado, recuou de 0,903 para 0,864. No Censo 2006, o maior índice de Gini estava em Alagoas (0,871), enquanto o menor foi apurado em Roraima (0,664).
"As diferenças verificadas na área dos estabelecimentos agropecuários continuam a caracterizar a manutenção da desigualdade na distribuição de terra no País nos últimos censos agropecuários", dizem os técnicos do IBGE.
De acordo com o instituto, enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais, a área ocupada pelos estabelecimentos de mais de 1.000 hectares concentra mais de 43% da área total.
O levantamento do Censo Agropecuário 2006, cuja coleta de dados foi realizada em 2007, é o primeiro dessa magnitude feito pelo instituto desde 1996
Área ocupada
O Censo Agropecuário revela que os 5.175.489 estabelecimentos agropecuários ocupam 329.941.393 hectares, ou o equivalente a 36,75% do território brasileiro (851.487.659 hectares). Houve uma redução de 6,69% na área ocupada pelos estabelecimentos em relação ao censo anterior (1995-1996), o que significa uma queda equivalente a 23.659.882 hectares na área total dos estabelecimentos agropecuários no período.
Segundo o coordenador do Censo, Antonio Carlos Simões Florido, essa queda pode ter sido resultado da criação, a partir de 1995, de novas áreas destinadas aos indígenas e unidades de conservação. Segundo a pesquisa, as chamadas unidades de conservação representam 8,47% do território nacional (ou 72.099.864 hectares, com alta de 128% ante o Censo anterior), enquanto as terras indígenas ocupam 14,74% do País (ou 125.545.870 hectares, com aumento de 19% ante o Censo anterior).
O Censo relativo a 2006 mostra também que a atividade principal dos estabelecimentos agropecuários é a criação de bovinos, que ocorre em mais de 30% desses estabelecimentos. Em seguida, estão o cultivo de outras lavouras temporárias (que inclui feijão e mandioca), em cerca de 18% dos estabelecimentos; o cultivo de cereais (12%) e a criação de aves (9%).
Ainda de acordo com o Censo, os estabelecimentos que têm como atividade principal a cana-de-açúcar e a soja ficaram com a maior participação no valor da produção agropecuária (ambos com 14% cada um), seguidos por criação de bovinos (10%), cultivo de cereais (9%) e cultivo de outros produtos da lavoura temporária (8%).
Orientação técnica
Apenas 22% dos estabelecimentos agropecuários do País recebem algum tipo de orientação técnica, segundo mostra o Censo Agropecuário 2006. De acordo com o instituto, a área média dos estabelecimentos que recebeu assistência é 228 hectares; enquanto a dos não assistidos é 42 hectares. A orientação técnica de origem governamental atinge 43% dos estabelecimentos assistidos e está mais voltada para os estabelecimentos menores, com área média de 64 hectares.
Segundo o documento de divulgação do Censo, em toda a Região Norte e Nordeste houve avanço em relação à orientação técnica de origem governamental, o mesmo ocorrendo em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. Em contrapartida, "houve significativa redução" de produtores que declararam receber orientação técnica nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Goiás, "o que pode ser uma sinalização de declínio nos serviços de extensão rural nestes Estados", segundo o IBGE. Os estabelecimentos que têm orientação técnica particular ou do próprio produtor (quando este é um profissional qualificado) têm área média de 435 hectares. As empresas privadas de planejamento atendem a estabelecimentos com maior área média (506 hectares).
O Censo apurou, ainda, que o nível de instrução da pessoa que dirige o estabelecimento tem "uma forte relação" com o recebimento de orientação técnica. Dos produtores com instrução igual ou inferior ao ensino médio incompleto, apenas 16,8% receberam assistência técnica, enquanto para os produtores com ensino fundamental completo este porcentual sobe para 31,7%. Para os produtores com nível superior, com exceção daqueles com formação em ciências agrárias e veterinária, a assistência técnica alcança 44,7% dos estabelecimentos.
Culturas
A soja foi a cultura que mais se expandiu no País na última década, segundo mostra o Censo Agropecuário. No período entre 1995, quando foi realizado o levantamento anterior, e o Censo atual, a soja apresentou um aumento de 88,8% na produção, alcançando 40,7 milhões de toneladas, em 15,6 milhões de hectares, com um aumento de 69,3% na área colhida. Em termos absolutos, segundo o IBGE, houve um aumento de 6,4 milhões de hectares de soja, sendo que grande parte desta área pertence à Região Centro-Oeste.
De acordo com o Censo, a cultura da soja, principal produto agrícola na pauta das exportações brasileiras, é cultivada em 215.977 estabelecimentos, gerando R$ 17,1 bilhões para a economia brasileira. Segundo o Censo Agropecuário 2006, Mato Grosso é o maior produtor nacional de soja, com 10,7 milhões de toneladas, o que representou 26,2% da produção brasileira em 2006.
Ainda de acordo com o Censo, "com o objetivo de reduzir os custos de produção", os produtores optaram pelo cultivo da soja transgênica no Brasil: 46,4% dos estabelecimentos agropecuários que cultivaram soja em 2006 utilizaram sementes geneticamente modificada. Também foi utilizada uma grande quantidade de semente certificada (44,6%) e, em 96,8% da área, a colheita foi realizada de forma totalmente mecanizada. Na maior parte das áreas cultivadas também foram feitos uso de agrotóxicos (95,1%) e adubação química (90,1%).
Fonte: Jonal O Estado de São Paulo
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