Mauro Zanatta, de Brasília
O novo retrato da agropecuária brasileira, consolidado ontem pelo Censo Agropecuário 2006 do IBGE, mostra um setor rentável, dinâmico, usuário de tecnologia intensiva, de alta produtividade e com menos oportunidades de emprego. Também evidencia um setor composto por 5,17 milhões de propriedades, onde a terra, ainda de posse bastante concentrada em grandes áreas, tem o principal papel na formação do patrimônio dos produtores.
O novo censo, que atualiza o último levantamento feito em 1996, incorporou o inédito conceito de agricultura familiar, o que gerou críticas de dirigentes ruralistas em razão de uma eventual distorção sobre qual ramo do agronegócio (familiar ou empresarial) geraria mais benefícios ao país. Mas rendeu comemorações no Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A posse da terra, contudo, continua concentrada nas mãos de poucos proprietários. O índice de Gini, que mede a concentração da estrutura fundiária, piorou. Passou de 0,856 para 0,872 no país - quanto mais próximo de 1, mais desigual é a distribuição da posse.
O estudo mostra que estabelecimento menores de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total nos três últimos censos, enquanto propriedades acima de 1 mil hectares concentram mais de 43% da área total. Embora essas grandes extensões representassem 1% dos 5,17 milhões de estabelecimentos rurais, a concentração da terra caiu em 2.360 municípios do país. O setor rural ocupa 36,75% da área territorial do Brasil.
O valor total dos bens em mãos do setor rural atingiu R$ 1,24 trilhão em 2006, mostra o IBGE. Quase 71% desse patrimônio estava imobilizado em terras. Instalações e benfeitorias (9,3%), animais (8%), máquinas (6,4%) e matas (2%) completavam os ativos dos produtores rurais. "A terra ainda é importantíssima para a formação do patrimônio rural", afirma o coordenador-geral de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques.
Na ponta do investimento, o IBGE identificou um total de R$ 21 bilhões em aplicações do setor, a maior parcela dedicada à aquisição de bens imóveis, terras, animais, máquinas e tratores, veículos novos e ampliação das áreas de pastagem.
O estudo de 775 páginas assinado pelo IBGE aponta, ainda, que as lavouras de soja e cana têm avançado sobre pastagens naturais, o que concentrou o valor total da produção no ramo vegetal (77%). Mas, nesses últimos dez anos, houve também um forte crescimento na criação do gado bovino, sobretudo em Estados da Amazônia, onde os preços da terra são mais baratos.
O rebanho chegou a 171,6 milhões de cabeças. Ao mesmo tempo, a agropecuária reduziu em 23 milhões a área ocupada, em boa medida cedida a novas unidades de conservação e terras indígenas. Em 2006, foram 330 milhões de hectares. Há dez anos, eram 353,6 milhões.
Esse novo instantâneo do IBGE evidencia, ainda, um nível de endividamento superior a 18% do valor da produção, sobretudo com instituições financeiras. No total, 1 milhão de estabelecimentos rurais deviam R$ 26,8 bilhões em 2006. Os mais endividados estavam no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná e São Paulo.
No front do crédito, o levantamento oficial aponta que somente 18% dos produtores tiveram acesso a empréstimos bancários no período. E, para surpresa dos especialistas, 43% dos entrevistados - ou 2,2 milhões de propriedades - declararam "não precisar" de financiamentos para tocar suas atividades. Os motivos são falta de garantia pessoal, desconhecimento do processo, burocracia excessiva ou dificuldades em pagar financiamentos anteriores.
O retrato do IBGE, aguardado desde o ano passado pelo setor, mostra que 34% das despesas totais de R$ 111,3 bilhões dos produtores estavam concentradas na aquisição de insumos (adubos, corretivos, sementes e agrotóxicos). Além disso, a pesquisa mostra que 9,5% das receitas totais das propriedades vêm de salários obtidos fora das fazendas ou de aposentadorias e pensões.
Em 2006, a rentabilidade da agropecuária brasileira foi, de acordo com analistas, de 18% do valor da produção. A renda líquida, resultado da subtração de despesas sobre o valor total da produção, atingiu R$ 32,5 bilhões no ano da pesquisa.
O IBGE revela um crescimento de 88% na produção de soja, cultura de maior expansão na última década. Em 46,4% dos estabelecimentos os produtores optaram pelo plantio de sementes transgênicas. Na outra ponta, só 1,8% praticavam a agricultura orgânica - 42,5% desse total eram vinculados a associações, sindicatos ou a cooperativas. Na pesquisa, 6,3% dos estabelecimentos declararam usar a irrigação. Mais da metade dos estabelecimentos onde houve utilização de agrotóxicos não recebeu orientação técnica - 785 mil propriedades, ou 56,3% do total.
O minucioso levantamento do IBGE mostra algumas mazelas do setor. A grande maioria dos produtores entrevistados em 2006 eram analfabetos ou sabiam ler e escrever, mas não tinham frequentado a escola (39%) - 43% deles não possuíam o ensino fundamental completo, totalizando mais de 80% de produtores rurais com baixa escolaridade.
Os dados revelam que 18,9% da população ocupada no país trabalhavam em estabelecimentos agropecuários - 77% dos ocupados tinham laços de parentesco com o produtor e 35,7% não sabiam ler e escrever. Em 2006, havia mais de 1 milhão de crianças com menos de 14 anos de idade trabalhando na agropecuária.
O novo retrato da agropecuária brasileira, consolidado ontem pelo Censo Agropecuário 2006 do IBGE, mostra um setor rentável, dinâmico, usuário de tecnologia intensiva, de alta produtividade e com menos oportunidades de emprego. Também evidencia um setor composto por 5,17 milhões de propriedades, onde a terra, ainda de posse bastante concentrada em grandes áreas, tem o principal papel na formação do patrimônio dos produtores.
O novo censo, que atualiza o último levantamento feito em 1996, incorporou o inédito conceito de agricultura familiar, o que gerou críticas de dirigentes ruralistas em razão de uma eventual distorção sobre qual ramo do agronegócio (familiar ou empresarial) geraria mais benefícios ao país. Mas rendeu comemorações no Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A posse da terra, contudo, continua concentrada nas mãos de poucos proprietários. O índice de Gini, que mede a concentração da estrutura fundiária, piorou. Passou de 0,856 para 0,872 no país - quanto mais próximo de 1, mais desigual é a distribuição da posse.
O estudo mostra que estabelecimento menores de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total nos três últimos censos, enquanto propriedades acima de 1 mil hectares concentram mais de 43% da área total. Embora essas grandes extensões representassem 1% dos 5,17 milhões de estabelecimentos rurais, a concentração da terra caiu em 2.360 municípios do país. O setor rural ocupa 36,75% da área territorial do Brasil.
O valor total dos bens em mãos do setor rural atingiu R$ 1,24 trilhão em 2006, mostra o IBGE. Quase 71% desse patrimônio estava imobilizado em terras. Instalações e benfeitorias (9,3%), animais (8%), máquinas (6,4%) e matas (2%) completavam os ativos dos produtores rurais. "A terra ainda é importantíssima para a formação do patrimônio rural", afirma o coordenador-geral de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques.
Na ponta do investimento, o IBGE identificou um total de R$ 21 bilhões em aplicações do setor, a maior parcela dedicada à aquisição de bens imóveis, terras, animais, máquinas e tratores, veículos novos e ampliação das áreas de pastagem.
O estudo de 775 páginas assinado pelo IBGE aponta, ainda, que as lavouras de soja e cana têm avançado sobre pastagens naturais, o que concentrou o valor total da produção no ramo vegetal (77%). Mas, nesses últimos dez anos, houve também um forte crescimento na criação do gado bovino, sobretudo em Estados da Amazônia, onde os preços da terra são mais baratos.
O rebanho chegou a 171,6 milhões de cabeças. Ao mesmo tempo, a agropecuária reduziu em 23 milhões a área ocupada, em boa medida cedida a novas unidades de conservação e terras indígenas. Em 2006, foram 330 milhões de hectares. Há dez anos, eram 353,6 milhões.
Esse novo instantâneo do IBGE evidencia, ainda, um nível de endividamento superior a 18% do valor da produção, sobretudo com instituições financeiras. No total, 1 milhão de estabelecimentos rurais deviam R$ 26,8 bilhões em 2006. Os mais endividados estavam no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná e São Paulo.
No front do crédito, o levantamento oficial aponta que somente 18% dos produtores tiveram acesso a empréstimos bancários no período. E, para surpresa dos especialistas, 43% dos entrevistados - ou 2,2 milhões de propriedades - declararam "não precisar" de financiamentos para tocar suas atividades. Os motivos são falta de garantia pessoal, desconhecimento do processo, burocracia excessiva ou dificuldades em pagar financiamentos anteriores.
O retrato do IBGE, aguardado desde o ano passado pelo setor, mostra que 34% das despesas totais de R$ 111,3 bilhões dos produtores estavam concentradas na aquisição de insumos (adubos, corretivos, sementes e agrotóxicos). Além disso, a pesquisa mostra que 9,5% das receitas totais das propriedades vêm de salários obtidos fora das fazendas ou de aposentadorias e pensões.
Em 2006, a rentabilidade da agropecuária brasileira foi, de acordo com analistas, de 18% do valor da produção. A renda líquida, resultado da subtração de despesas sobre o valor total da produção, atingiu R$ 32,5 bilhões no ano da pesquisa.
O IBGE revela um crescimento de 88% na produção de soja, cultura de maior expansão na última década. Em 46,4% dos estabelecimentos os produtores optaram pelo plantio de sementes transgênicas. Na outra ponta, só 1,8% praticavam a agricultura orgânica - 42,5% desse total eram vinculados a associações, sindicatos ou a cooperativas. Na pesquisa, 6,3% dos estabelecimentos declararam usar a irrigação. Mais da metade dos estabelecimentos onde houve utilização de agrotóxicos não recebeu orientação técnica - 785 mil propriedades, ou 56,3% do total.
O minucioso levantamento do IBGE mostra algumas mazelas do setor. A grande maioria dos produtores entrevistados em 2006 eram analfabetos ou sabiam ler e escrever, mas não tinham frequentado a escola (39%) - 43% deles não possuíam o ensino fundamental completo, totalizando mais de 80% de produtores rurais com baixa escolaridade.
Os dados revelam que 18,9% da população ocupada no país trabalhavam em estabelecimentos agropecuários - 77% dos ocupados tinham laços de parentesco com o produtor e 35,7% não sabiam ler e escrever. Em 2006, havia mais de 1 milhão de crianças com menos de 14 anos de idade trabalhando na agropecuária.
Fonte: Jornal Valor Econômico , 01.10.2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário