quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O caminho do povo brasileiro não é o mesmo das elites políticas

Definitivamente o caminho do povo brasileiro não é o mesmo das elites políticas. A agenda das prioridades do povo é completamente diferente da agenda do Congresso Nacional e dos governos estaduais e federal. Enquanto os deputados e senadores afundam em maracutaias e manobras para defender seus interesses imediatos e mesquinhos, na perspectiva de cargos e eleições, o povo tenta encontrar saídas para as crises econômica e social que sufocam o País. Essa é a realidade. Uma realidade que a mídia hegemônica procura encobrir, por omissão ou por inverter o que deveria ser abordado por jornais, revistas, emissoras de rádio e TV.
Veja bem, está na agenda dos trabalhadores brasileiros a redução da jornada legal de trabalho, de 44 para 40 horas semanais, um Projeto de Emenda Constitucional que está em tramitação na Câmara dos Deputados há 14 anos. Estudos do DIEESE comprovam que a redução da jornada, já praticada por vários setores econômicos, proporciona inúmeros benefícios para aumentar o emprego, elevar a produção, melhorar a vida das pessoas num custo baixíssimo para as empresas. Ou seja, é algo da maior relevância para o enfrentamento da crise econômica e para colocar o Brasil em outro patamar de civilização nas relações do trabalho.
Da mesma forma, está na agenda do professorado brasileiro e de todos aqueles que estão interessados na melhoria da educação escolar a adoção de um piso nacional para todos os profissionais do ensino médio. Acontece que os governos estaduais, os empresários da educação e os reacionários em geral que sempre apostam na ignorância e na baixa escolaridade do povo resistem duramente ao projeto federal, o qual comprovadamente pode dar uma boa contribuição para tirar a escola brasileira dos últimos lugares em todos os rankings internacionais.
Está na agenda dos trabalhadores petroleiros e de todos aqueles que apostam no desenvolvimento soberano do País, a campanha de mobilização em defesa da exploração do pré-sal pela Petrobras ou outra empresa estatal nacional, de forma a assegurar que a riqueza natural do Brasil seja revertida para o conjunto do povo brasileiro. Não faz o menor sentido que esse recurso valioso seja entregue para a exploração e o lucro de empresas estrangeiras; não faz o menor sentido aumentar a evasão de divisas e deixar de investir aqui em educação, saúde, moradia o que o petróleo do pré-sal pode render aos brasileiros.
Também está na ordem do dia dos movimentos sociais do campo a jornada mundial em defesa da soberania alimentar, que é hoje a grande preocupação de todos aqueles que se empenham em combater a fome de milhões de pessoas em todo o mundo. A defesa da soberania alimentar significa uma mudança corajosa no modelo agrícola, de maneira a fortalecer os pequenos produtores rurais, a agricultura familiar, a produção de alimentos sem agrotóxicos, a garantia de preços e de distribuição de alimentos baratos nas regiões com população de baixa renda enfim, fazer com que a capacidade de produção, que é mais do que suficiente para abastecer o mundo, esteja realmente voltada para alimentar o mundo, com alimentos de boa qualidade, sem os venenos utilizados pela agricultura transgênica e predatória.
Enfim, existe uma agenda positiva na perspectiva dos trabalhadores e do povo. Uma agenda que caminha na direção de uma vida melhor que é possível e viável. As elites políticas do Brasil não estão sensíveis a essa agenda popular, os seus interesses são outros, são os interesses dos negócios pessoais e dos grupos econômicos que elas representam. Infelizmente.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista, editor da revista Caros Amigos, colunista do jornal Brasil de Fato e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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