por Luiz Carlos Azenha
Para quem ainda leva o Jornal Nacional a sério, os distúrbios em Heliópolis, a maior favela paulistana, foram causados por protestos... convocados por um bilhete, que prometia a distribuição de cestas básicas.
Um bilhete assinado por Tiras.
Que eu poderia ter escrito. Você. O Zé das Couves.
A Globo não só apresentou como real essa teoria, como fez uma afirmação cômica, de tão acintosa: "Até agora as cestas básicas não foram distribuídas".
Vai ver que foram. Taí algo que eu, se organizador de um protesto, não faria diante da polícia, nem das câmeras de TV, nem de repórteres.
É uma versão tão fantasiosa quanto a idéia de que uma pessoa colocaria a própria vida em risco em troca de uma cesta básica...
Como se a morte de uma adolescente de 17 anos, mãe de uma criança, não valesse absolutamente nada. Como se as manifestações não acontecessem dentro de um contexto social. Houve outros episódios recentes de violência envolvendo a polícia em Heliópolis? A polícia pressionava traficantes da região? Além do bilhete, há mais indícios de que se tratou de um protesto organizado? Já aconteceu no passado?
Nesse caso, o JN não quis testar hipóteses. Cravou: a culpa é do bilhete.
E, assim, parece que tudo caiu do céu. Um infortúnio -- a morte da adolescente -- seguido de uma manifestação em que pessoas forjaram sua revolta em troca de comida.
Esse jornalismo da Globo não é resultado apenas das ordens superiores, que mandam proteger José Serra descaradamente, seja qual for a situação.
É resultado da distância crescente entre os jornalistas e o mundo real. As novas gerações de jornalistas, crescidas nos shopping centers da vida, encaram a profissão unicamente como o caminho para a fama e a fortuna. Compromisso com a verdade factual? Com a contextualização das notícias? Com o serviço público? Coisa de dinossauros.
Infelizmente, esse é um processo que se retroalimenta. Quanto mais os jornalistas se distanciam do grande público [isto é, dos milhões de brasileiros que vivem em favelas], mais nos tornamos incompreendidos e incompreensíveis.
Aqui, para ver a reportagem
Um bilhete assinado por Tiras.
Que eu poderia ter escrito. Você. O Zé das Couves.
A Globo não só apresentou como real essa teoria, como fez uma afirmação cômica, de tão acintosa: "Até agora as cestas básicas não foram distribuídas".
Vai ver que foram. Taí algo que eu, se organizador de um protesto, não faria diante da polícia, nem das câmeras de TV, nem de repórteres.
É uma versão tão fantasiosa quanto a idéia de que uma pessoa colocaria a própria vida em risco em troca de uma cesta básica...
Como se a morte de uma adolescente de 17 anos, mãe de uma criança, não valesse absolutamente nada. Como se as manifestações não acontecessem dentro de um contexto social. Houve outros episódios recentes de violência envolvendo a polícia em Heliópolis? A polícia pressionava traficantes da região? Além do bilhete, há mais indícios de que se tratou de um protesto organizado? Já aconteceu no passado?
Nesse caso, o JN não quis testar hipóteses. Cravou: a culpa é do bilhete.
E, assim, parece que tudo caiu do céu. Um infortúnio -- a morte da adolescente -- seguido de uma manifestação em que pessoas forjaram sua revolta em troca de comida.
Esse jornalismo da Globo não é resultado apenas das ordens superiores, que mandam proteger José Serra descaradamente, seja qual for a situação.
É resultado da distância crescente entre os jornalistas e o mundo real. As novas gerações de jornalistas, crescidas nos shopping centers da vida, encaram a profissão unicamente como o caminho para a fama e a fortuna. Compromisso com a verdade factual? Com a contextualização das notícias? Com o serviço público? Coisa de dinossauros.
Infelizmente, esse é um processo que se retroalimenta. Quanto mais os jornalistas se distanciam do grande público [isto é, dos milhões de brasileiros que vivem em favelas], mais nos tornamos incompreendidos e incompreensíveis.
Aqui, para ver a reportagem
Fonte: Blog do Azenha
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