quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um convite ao PCB, PSOL e PSTU: uma jogada ousadaEsperava, nesta edição, iniciar um depoimento sobre a luta armada dos anos 1960-1970. Porém, apareceu

Por Wladimir Pomar
Esperava, nesta edição, iniciar um depoimento sobre a luta armada dos anos 1960-1970.
Porém, apareceu um convite interessante ao PCB, PSOL e PSTU, para examinarem "uma aliança eleitoral, em torno da senadora Marina Silva", já que todos compartilham "uma posição de independência e de crítica diante do governo Lula".
Segundo o convite, uma frente eleitoral que tenha por base uma plataforma de "reformas democratizadoras" poderia contemplar objetivos comuns "dos partidos de centro e de esquerda" e "ganhar o apoio do MST e de setores de base das igrejas cristãs".
Acreditam que tal frente seria uma "iniciativa política ousada", que mexeria na "disposição atual das forças políticas e sociais", ventilaria "as propostas econômicas e sociais das forças populares", e aproximaria "a oposição de esquerda ao governo Lula de setores de centro".
Alertam que, sem tal iniciativa, a "oposição popular e de esquerda" não aglutinará "forças majoritárias" capazes de "arrebatar vitórias". E concluem que, para constituir uma "alternativa política real nas atuais condições", a "oposição popular e de esquerda" terá que combinar "o programa socialista com uma tática democratizadora".
O convite não explicita em que consiste essa combinação entre o programa socialista e a tática democratizadora. Mas não deixa de fazer uma crítica ao PCB, PSOL e PSTU, por seu emparedamento "entre o economicismo corporativista e o doutrinarismo socialista". Com razão, reclama que eles não podem "atacar mais as forças de centro do que as forças de direita". E lembra, também com razão, que "aliança implica diferença", "unidade de ação em torno de objetivos imediatos e comuns". Desde que, é lógico, subordinem "seu discurso e sua atuação à convergência tática".
A proposta, porém, esquece que o conteúdo principal da "posição de crítica" do PCB, PSOL e PSTU ao governo Lula reside justamente no fato de o PT ter adotado a tática democratizadora de aliança com o centro. Esses partidos podem, então, se perguntar: se é para unir-se ao centro, formar uma frente de centro-esquerda e aplicar reformas democratizadoras, por que não se unirem em torno de Lula e de Dilma? Qual a diferença entre a frente eleitoral, que o PT chama de "centro-esquerda", e a frente de "centro-esquerda" da proposta de unificação em torno da senadora Marina Silva?
Talvez prevendo isso, o convite tenha tido o cuidado de colocar o PT e o PSDB como principais "líderes dos blocos de centro-direita". Com isso, tentou responder, de antemão, àquela inevitável pergunta. No entanto, como não são ignorantes, os militantes e dirigentes daqueles partidos também poderão perguntar: quem são os partidos de "centro"?
Ora, se os partidos de centro forem o PMDB, PDT, PSB etc. etc., a questão retorna. Qual a diferença entre a frente eleitoral que está sendo montada pelo PT, contra a qual PCB, PSOL e PSTU se batem há tempos, e a frente eleitoral proposta pelos que pretendem "aglutinar as forças majoritárias"? A não ser, podem concluir, que esta proposta de apoio à senadora Marina Silva esconda uma jogada mais "ousada".
Isto é, embora o convite parta do pressuposto de que o PT e o PSDB são líderes da centro-direita, a mexida na "disposição atual das forças políticas e sociais" na prática só faria uma vítima: a candidatura Dilma. Isto ficando claro, talvez PCB, PSOL e PSTU se animem a participar da frente proposta, mesmo sabendo que PSDB e DEM levarão vantagem.
O convite, porém, não pode ser claro a esse respeito. Deixaria boa parte das "forças majoritárias", que pretende conquistar, numa situação desconfortável. Por isso, do mesmo modo que Sun Zi teria feito há 2500 anos atrás, finge atacar o amigo Serra, para destruir a inimiga Dilma.
Seu problema, com o qual Sun Zi também se confrontou várias vezes: nem todos foram ignorantes, a ponto de deixarem que a disposição das forças fosse mexida e permitisse a vitória a seu verdadeiro inimigo.
Wladimir Pomar e analista político e escritor.

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