Por Stratfor Intelligence
Seria preciso existir atividade visível o bastante nas bases aéreas do Cáucaso, contra o Irã, o que dificultaria manter esses preparativos em segredo, e um ataque desses não é provavelmente uma prioridade no topo da lista das atuais prioridades estratégicas dos EUA. Circulam rumores de que a bases aéreas nos estados do Cáucaso da Georgia e do Azerbaijão podem estar sendo usadas pelos EUA ou porIsrael para levar a cabo um ataque contra o Irã.
Até onde o Stratfor conseguiu apurar, esses rumores podem ser rastreados na fonte da Bahraini news source Akhbar al Khaleej, que disse na semana passada(citando apenas "fontes") que informes recentes de aviões de guerra israelenses operando a partir de uma base aérea na Arábia Saudita não passaram de uma mera operação de desinformação designada para distraira atenção dos EUA ou dos esforços israelenses no Cáucaso. Essa atual avalanche de informações foi originada em 18 de junho, num artigo do escritor sensacionalista estadunidense Gordon Duff.
Contudo, rumores de que Israel está usando a Georgia como uma base para um ataque ao Irã remontam ao menos a 2008. Nunca se provou que esses rumores eram acurados e Stratfor não tem evidência crível de que os rumores atuais sejam de alguma maneira diferentes. Em teoria, o Cáucaso não seria uma má localidade para usar uma base aérea para atacar o Irã. No cenário dos EUA, operações de combate aéreo a partir dessas bases suplementariam as atividades em operação em outras bases na região, bem como por meio de uma série de porta-aviões (ao menos o dobro do número atual da 5 Frota, que é de dois).
A maior parte do sistema iraniano de defesa do seu espaço aéreo está orientada para o Iraque, o Golfo Pérsico e o Golfo de Oman, visto que um ataque aéreo viria provavelmente das bases aéreas dos EUA em operação no Iraque, de bases nos estados do Golfo Árabe e de porta-aviões no mar. Além disso, bases no Cáucaso estariam muito mais próximas de alguns alvos-chave, como Teerã e seus arredores. Conseguir se aproximar do mar Cáspio faria com que as aeronaves estadunidenses gastassem muito menos tempo sobre o território iraniano e menos tempo em trânsito, permitindo mais incursões. E com as bases aéreas no Cáucaso, os Estados Unidos estariam essencialmente prontos para atacar o Irã de todos os lados, complicando ainda mais os desafios já significativos da força de defesa aérea de Teerã.
Há na Geórgia e no Azerbaijão aproximadamente uma dúzia de bases aéreas (em cada um). Algumas delas (incluindo os grandes aeroportos) parecem ser campos ativos que poderiam ser de qualidade suficiente para os aviões de combate americanos. Mas nenhuma das melhores destas bases está absolutamente isolada, com muitas das suas pistas à vista a partir ao menos de uma comunidade agrícola, senão de uma cidade inteira. Isso tornaria extremamente difícil, senão impossível esconder os preparativos de um ataque, menos ainda a chegada de esquadrões aéreos de combate. As pistas de pouso mais isoladas são geralmente as da era soviética e provavelmente requereriam melhorias consideráveis, envolvendo equipamentos pesados e montanhas de materiais de construção antes que pudessem ser usados pelas aeronaves de combate americanas.
E mesmo ativos os campos de pouso utilizáveis da era soviética, desenhados para as aeronaves russas com trens de pouso mais resistentes, são ásperos demais para os jatos de combate de alto-padrão dos americanos. Do mesmo modo, a restauração – senão a fabricação desde o começo – de instalações de filtros de combustível e de estoque seriam necessárias. E, em muitos casos, mais espaço asfaltado seria extremamente desejável para a movimentação e apoio de aeronaves de combate. O fato principal é que todo esse trabalho demandaria um considerável intervalo de tempo, e se um ataque estivesse programado para breve, o trabalho teria de ter começado meses atrás. E teria sido extremamente difícil desviar a atenção dos esforços de guerra em andamento dos habitantes locais, que teriam não apenas notado o aumento do tráfico de caminhões e de outras atividades como provavelmente teriam sentido algum impacto na economia local, dados os esforços militares massivos.
Seja como for, esquadrões de guerra e a infraestrutura e suporte que eles demandam são muito difíceis de esconder. Do mesmo modo, mover combatentes e transportar aeronaves até mesmo em aeroportos em atividade ou em bases aéreas é algo que provavelmente é noticiado ao redor de uma vasta área geográfica – tão vasta que estabelecer controles sobre a informação provar-se-ia difícil. Isso seria especialmente verdade no caso de uma base aérea isolada e fora de uso há muito tempo, já que um grande aumento no barulho, com obras e vôos seriam imediatamente óbvios até mesmo para um observador desatento.
Enquanto isso, também haveria transporte de cargas e material por via terrestre. Tudo isso seria difícil, senão impossível esconder de Moscou, visto que a FSB [a agência de inteligência] russa tem uma forte presença e um conhecimento da situação em ambos os países, e essas atividades não poderiam ser escondidas dos satélites espiões russos. Essas realidades logísticas levaram os EUA a cuidadosamente telegrafarem suas intenções anteriormente, tanto na Operação Escudo do Deserto e Tempestade no Deserto, em 1990-91, como na Operação Liberdade para o Iraque em 2003. A incapacidade de esconder um empreendimento desse porte não invalida uma grande campanha aérea, mas torna difícil ocultar os seus preparativos. E isso é mais do que apenas um desafio técnico. As razões para osEstados Unidos não atacarem o Irã – e fazer o que for necessário para dissuadir Israel disso – são evidentes.
De acordo com as estimativas da inteligência americana, o Irã não decidiu se continua buscando o desenvolvimento de um dispositivo nuclear, e se decidir ir em frente levaria ao menos dois anos ainda para chegar ao ponto de uma limitada e rude capacidade nuclear. E há os desafios de saber onde atacar, visto que a inteligência é extremamente limitada quanto à localização das instalações nucleares iranianas. Nesse ínterim, a dinâmica política e de segurança no Iraque permanecem extremamente frágeis, e a economia global está marchando lentamente – a última coisa de que precisa é uma crise no Estreito de Hormuz.
A retirada norte-americana do Iraque, a missão no Afeganistão e a recuperação da economia são simplesmente prioridades mais elevadas para a Casa Branca, e há pouca indicação de uma mudança significativa nessas prioridades. Até onde se vê, a possibilidade real de os EUA atacarem o Irã é pouco mais do que uma ferramenta de negociação.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Diário da Liberdade
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