sexta-feira, 16 de julho de 2010

Debate sobre impactos da Copa no Brasil contextualiza relação entre mega-eventos e políticas de ocupação urbana

Plateia 01

[De] bate bola foi ponta-pé inicial para encontros que acontecerão até a Copa de 2014

Na quinta-feira (1º), representantes da sociedade civil, do governo e de espaços acadêmicos participaram, no Anfiteatro 100 da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do [De]bate-bola. O evento trouxe a discussão sobre os Impactos Metropolitanos da Copa de 2014 em Curitiba e Região Metropolitana (RMC). Cerca de 70 pessoas acompanharam e questionaram as apresentações dos projetos, que serão executados na capital paranaense para esta ser uma das sedes dos jogos em 2014.

Compuseram a mesa de debatedores a professora da Universidade Federal do Paraná Olga Firkowski, o secretário de Estado Especial para Assuntos da Copa de 2014, Algaci Tulio, a assessora de comunicação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Zelinda Rosário, e a representante do Observatório de Políticas Públicas do Paraná Andrea Braga. O evento foi promovido pela Universidade Federal do Paraná, Observatório de Políticas Públicas do Paraná e pelo Observatório das Metrópoles.

O debate

Durante o evento houve a contextualização histórica dos mega-eventos nas cidades, a apresentação de plantas e mapas de representação das modificações pelas quais a cidade deve passar antes da Copa e em seguida foram feitas duas rodadas de intervenções da plateia. A professora Olga mediou as intervenções, e na fala inicial ilustrou a situação urbana de hoje dizendo que “entre nós e nossos objetivos há sempre um congestionamento”.

Contextualização

Segundo Olga, pelo menos desde o século XIX se tem grandes interferências em decorrência de grandes eventos nas cidades. Ela citou exemplos como a Exposição Universal em Londres, em 1851, e a exposição da França, em 1988 – da qual o símbolo é a Torre Eifel. Mas o destaque feito pela professora foi a mudança no perfil desses eventos pela interferência da globalização. “Se os primeiros eventos tinham a indústria como atividade motivadora, recentemente, é a requalificação de áreas degradadas que assume a centralidade entre os objetivos de tais eventos. Volta-se a criar novos lugares de encontro e a vender a imagem da cidade”.

O público

Foi nesse aspecto que a maior parte da plateia teceu seus questionamentos. As falas do público tiveram o sentido de colocar que a imagem da cidade e do país não reflete necessariamente uma visão completa do que acontece, sobretudo com a população mais pobre. Além disso, a crítica dos participantes às obras que serão feitas para a Copa é que elas cumprirão exigências técnicas, que não levam em consideração de fato o desenvolvimento igualitário. Isso faz com que as diferentes classes sociais não tenham o mesmo acesso aos benefícios, que terão investimento quase integral do Estado.

A defesa do Estado

Os representantes do governo fizeram uma apresentação essencialmente técnica, e apresentaram os impasses que se tem para cumprir as exigências necessárias para que o evento de fato aconteça na cidade, como o problema da captação de recursos. Zelinda falou sobre a burocracia enfrentada pela Prefeitura de Curitiba para conseguir a inclusão da cidade na lista das 12 cidades que devem receber os jogos da Copa no Brasil. Segundo ela, não fosse por esse trabalho, não se teria ao menos a possibilidade de se ter o evento e os investimentos na cidade.

Já o secretário Algaci Túlio, do governo do estado, falou sobre o problema da reforma da Arena da Baixada, que receberá os jogos, listou as principais obras do trânsito da cidade, mas garantiu que a Copa estará em Curitiba. Ele se definiu como otimista, e contestou o fato de o público questionar a falta de consulta à população para fazer com que o mega-evento aconteça na cidade. “Vocês preferem ver o jogo pela televisão acontecendo lá em Florianópolis ou preferem vê-lo aqui”, questionou.

O ponta-pé inicial

O [de]bate-bola teve seu apito final com o encaminhamento de algumas perguntas a serem discutidas nos próximos encontros,que acontecerão periodicamente até a Copa. Andreia deu o tom daquela que deve ser a principal questão de debate, em sua opinião. “As consequências dos investimentos para a Copa em Curitiba não serão apenas positivas, como salientaram os dois apresentadores anteriores [representantes do Estado], mas em grande parte negativas, como já se constatou em outros lugares, em situações de grandes eventos. É preciso fazer vários questionamentos, mas, principalmente, é fundamental que sejam respeitados os direitos humanos e a cidadania na região metropolitana”.

Fonte: Terra de Direitos

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