segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Crônica da incompetência anunciada

Este artigo foi publicado em Janeiro de 2009, mas ainda continua atual. È só subistituirmos as cidades afetadas pelas enchentes em 2010 pois as origens dos problema são as mesmas.
Foto: São José do Paraitinga (janeiro de 2010)

Por Jornal Nova Democracia
O episódio das intensas chuvas que caíram em Santa Catarina entre os dias 22 e 24 de novembro, com cerca de 80 mil vítimas humanas (entre mortos, desaparecidos, desalojados e desabrigados) e mais de R$ 1 bilhão de prejuízos materiais só em infraestrutura, foi qualificado de o maior desastre ambiental já ocorrido no país. Porém apenas lamentar o "azar" do estado de ter recebido, em poucas horas, as águas previstas para alguns meses, como fizeram as autoridades e o monopólio da imprensa, é escamotear a realidade
As consequências das enchentes já eram sabidas e resabidas pelos gerentes municipais, estaduais e federais desde os terríveis algamentos dos anos 1983 e 1984. Ou. melhor, desde as chuvas do século 19, quando já se registravam eventos desse tipo. O que aconteceu agora foi a crônica de uma incompetência e de um desrespeito anunciados.
Além de não terem realizado obras suficientes contra as cheias, as gerências também devem ser responsabilizadas pela ocupação .de áreas de risco, como os muitos morros que vieram abaixo, soterrando pessoas e casas.
Foi o que disse o professor Júlio César Wasserman, do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense, em entrevista à Rádio Nacional, no dia 27 de novembro: “Acho que existe uma grande responsabilidade do Estado em ter legalizado esse terreno. Mesmo as situações de invasão. Acho irresponsabilidade o fato do Estado não ter controlado a ocupação nessas áreas de risco”.
Wasserman disse que, além de perder as casas, muitas famílias catarinenses deverão perder também os terrenos onde as moradias estavam construídas, já que as áreas desapareceram na enxurrada.



Tratados como crimiosos


Enquanto o povo catarinense se debatia em meio ao barro, o sistema esfregava as mãos, já saboreando ganhos futuros. Pois, como se sabe, uma das características do capital é propiciar as destruições para depois lucrar com elas.
Claro que contratos milionários serão feitos com urgência para reconstruir alguma coisa da infra-estrutura danificada ou destruída pelas enchentes, e as empreiteiras sairão no lucro.
Aliás, é bem ilustrativo que, em meio a uma das mais profundas crises do capitalismo, a gerência semicolonial seja tão célere em socorrer com bilhões os bancos em quebradeira, enquanto as vítimas da enchente em Santa Catarina tenham que depender da boa vontade e caridade alheias. E a alimentação de toda população atingida vem sendo garantida por doações do Brasil todo, principalmente dos mais pobres, que, como sempre, se solidarizaram mais com a tragédia de seus irmãos de classe.
A iniciativa do Estado foi anunciar, por exemplo, recursos de R$ 1,5 bilhão da Caixa Econômica Federal (CEF) para Santa Catarina. O que ele não contou é que os flagelados terão que pagar juros de 2% ao mês, como informou um dos telejornais, no dia 28 de novembro (24% ao ano, uma carga pesada até para quem não se molhou no aguaceiro, imagine-se então para os que perderam casas, mobílias, galinheiros, micros e pequenas empresas, quitandas, etc).
Mas enquanto a ajuda não chegava, os desabrigados famintos que se lançaram sobre a única fonte de alimentos disponível foram tratados como ladrões, porque simplesmente se serviram do estoque alagado de alguns supermercados, mercadorias que se estragariam em poucas horas pela ação da água.
Aquelas pessoas foram chamadas de saqueadores pelo simples fato de terem lutado pela sobrevivência. Logo as forças repressoras estavam a postos também para defender a sacrossanta propriedade privada, independente de haver gente morrendo de fome em volta.
Tal comportamento das classes dominantes, mesmo em meio a desastres, lembra a passagem do Furacão Katrina, em Nova Orleans, em 2007, quando a grande população desabrigada foi confinada num ginásio onde proliferavam as violências, enquanto as forças da ordem protegiam as propriedades de que tinham conseguido escapar da tragédia.
Fonte: Nova Democracia – Ano 7 – nº 49 – Janeiro de 2009.
Agencia Estado.

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