sábado, 30 de junho de 2012
quinta-feira, 28 de junho de 2012
"Somos governados pela política de fascismo económico"
1.
Como caracterizar a política económica em curso? Não
temos dúvidas em afirmá-lo: uma versão de "fascismo
económico" conduzindo o País para o desastre total.
De facto, estamos perante uma cruzada em marcha forçada de concentração e centralização de capitais à custa de uma reforçada exploração do trabalho e a espoliação dos pequenos capitais (micro, pequenas e médias empresas) por recurso ao poder e potência do Estado. Pela total promiscuidade do poder económico com o poder político. (Por outros ver caso recente da CIMPOR).
Uma política de salvação dos Grupos Económicos Monopolistas e do capital financeiro. Uma política que faz sr. 1º Ministro pagar aos trabalhadores, às pequenas empresas, às despesas sociais e ao investimento público, a factura dos desmandos, da especulação, dos jogos de casino, o lixo tóxico do capital financeiro nacional (BPN, BPP, BCP, etc) e estrangeiro, o enriquecimento sem limites e despudorado de grandes capitalistas e banqueiros, que tiveram total cobertura política do PSD, CDS e PS!
Políticas que não só ameaçam o futuro como mergulham o presente na agonia económica, pondo em causa qualquer recuperação no curto e médio prazos. E nem as contas públicas, que dizem fundamentar estas políticas, endireitam.
Há quem pense que esta "destruição" que alguns dizem "criadora" é o ponto de partida necessário para uma recuperação económica! Naturalmente, são as respostas dos responsáveis pela crise, que outras respostas não têm para a crise, senão as das políticas que aqui nos conduziram.
2. E para os que podem considerar exagerada a nossa classificação de "fascismo económico" a política económica em curso, faria um breve registo histórico.
No próximo sábado, 1 de Julho, perfazem-se 84 anos sobre a entrada em vigor do Orçamento Geral do Estado para 1929/1930 do ministro das Finanças Oliveira Salazar. Um orçamento com um excedente, com "saldo positivo". Um orçamento que cumpria com antecipação os critérios de convergência de Maastricht e do Pacto de Estabilidade.
Orçamento que foi recordado no ano de 1999, quando fez 70 anos, nas páginas do Diário de Notícias, os comentários económicos elogiosos de ex-ministros e economistas de governos PSD, PS e CDS. Escreviam então (e cito para os que gostam de anacronismos): "Salazar (…) é um ministro das Finanças moderno." (Braga de Macedo). "eu não gostaria de sugerir que os meus amigos do FMI são salazaristas, mas fazem as contas da forma como Salazar refere (…) " (Miguel Beleza). "se dermos números às medidas (…) (de Salazar) acabamos por anunciar em termos teóricos, os critérios de Maastricht." (Ernâni Lopes). "Salazar tinha "toda a razão quando afirmava que a consolidação (orçamental) era absolutamente indispensável para o País ganhar condições de progresso económico"" (Silva Lopes)
Anacrónicos, sr. Deputado Luís Montenegro, srs. deputados, são os que adoptam, passados mais de 80 anos, os critérios de Salazar na gestão orçamental e económica!
E foi pena que os ex-ministros não tirassem conclusões sobre aonde conduziu o País essa política de "equilíbrio orçamental", porque teriam de afirmar: conduziu ao país mais atrasado da Europa e a uma negra ditadura necessária para impor aquela "ditadura financeira" aos trabalhadores e ao povo português!
Regressemos ao presente. A semana passada, deputados do Grupo de Trabalho da Grande Distribuição/Comissão de Economia e Obras Públicas, tiveram a oportunidade, na Audição da CONFAGRI , de ouvir o seu Presidente referir que o poder económico dos Grupos da Grande Distribuição não era já e apenas uma questão de economia, mas que punha a democracia em causa. E puderam ouvir, na mesma Audição, o Presidente da Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores falar de "ditadura económica" desses Grupos.
3. É, assim, risível, ouvir o Governo falar da mudança de paradigma, a propósito das ditas "reformas estruturais" do governo.
Risível, porque faz "reformas" como a da concorrência, em que deixa intacto e sem qualquer alteração significativa o poder de mercado dos grupos monopolistas e oligopolistas, ao não assumir o conceito de "posição económica dominante colectiva", ao não desenvolver e tipificar o conceito de abuso de dependência económica, e o mesmo com o conceito de "dumping".
Risível, porque propagandeando o corte de lucros/rendas excessivas dos, monopólios da energia, com a EDP à cabeça e anuncia um ligeiro aparar desses lucros inaceitáveis (a EDP é afectada em 1% dos seus resultados), não os faz devolver o que cobraram a mais nos últimos anos, em profunda contradição de que faz com os trabalhadores e beneficiários da segurança social a quem, ilegal e retroactivamente, corta e recupera verbas. E em menos de um ano, aumentaram a electricidade 3 vezes!
Risível, porque prossegue uma política de afundamento das micro, pequenas e médias empresas e do sector produtivo, pela sobrecarga fiscal (caso do IVA), encarecimento dos custos dos factores de produção (energia) e secagem total do crédito. Que era também a agenda do Governo PS.
Risível, porque através das privatizações, feitas e anunciadas, completa a espoliação do património do povo português de empresas estratégicas, num grave ataque à soberania nacional, pela sua entrega ao capital estrangeiro, e mesmo a desindustrialização do País, como foi o abrir caminho ao desmembramento da CIMPOR. Que era também a agenda do Governo PS.
Risível, porque é a política de continuidade absoluta de um modelo económico centrado na pseudo produtividade e falsa competitividade, pelos custos salariais, assente na mão-de-obra barata e de baixo valor acrescentado, com toda a focagem na exportação e completa desvalorização do mercado interno. Que era também a agenda do PS.
Não, não há qualquer mudança de paradigma, de modelo económico, de estratégia para as políticas nacionais. É a continuidade absoluta das políticas económicas dos últimos 35 anos de PSD, CDS e PS. Políticas de classe, centradas na exploração dos trabalhadores e do povo, da ruína das pequenas empresas e destruição da produção nacional, de empobrecimento do País.
Disse.
[*]
Intervenção na Assembleia de República em 25/Junho/2012,
dia apresentação da Moção de Censura ao governo.
De facto, estamos perante uma cruzada em marcha forçada de concentração e centralização de capitais à custa de uma reforçada exploração do trabalho e a espoliação dos pequenos capitais (micro, pequenas e médias empresas) por recurso ao poder e potência do Estado. Pela total promiscuidade do poder económico com o poder político. (Por outros ver caso recente da CIMPOR).
Uma política de salvação dos Grupos Económicos Monopolistas e do capital financeiro. Uma política que faz sr. 1º Ministro pagar aos trabalhadores, às pequenas empresas, às despesas sociais e ao investimento público, a factura dos desmandos, da especulação, dos jogos de casino, o lixo tóxico do capital financeiro nacional (BPN, BPP, BCP, etc) e estrangeiro, o enriquecimento sem limites e despudorado de grandes capitalistas e banqueiros, que tiveram total cobertura política do PSD, CDS e PS!
Políticas que não só ameaçam o futuro como mergulham o presente na agonia económica, pondo em causa qualquer recuperação no curto e médio prazos. E nem as contas públicas, que dizem fundamentar estas políticas, endireitam.
Há quem pense que esta "destruição" que alguns dizem "criadora" é o ponto de partida necessário para uma recuperação económica! Naturalmente, são as respostas dos responsáveis pela crise, que outras respostas não têm para a crise, senão as das políticas que aqui nos conduziram.
2. E para os que podem considerar exagerada a nossa classificação de "fascismo económico" a política económica em curso, faria um breve registo histórico.
No próximo sábado, 1 de Julho, perfazem-se 84 anos sobre a entrada em vigor do Orçamento Geral do Estado para 1929/1930 do ministro das Finanças Oliveira Salazar. Um orçamento com um excedente, com "saldo positivo". Um orçamento que cumpria com antecipação os critérios de convergência de Maastricht e do Pacto de Estabilidade.
Orçamento que foi recordado no ano de 1999, quando fez 70 anos, nas páginas do Diário de Notícias, os comentários económicos elogiosos de ex-ministros e economistas de governos PSD, PS e CDS. Escreviam então (e cito para os que gostam de anacronismos): "Salazar (…) é um ministro das Finanças moderno." (Braga de Macedo). "eu não gostaria de sugerir que os meus amigos do FMI são salazaristas, mas fazem as contas da forma como Salazar refere (…) " (Miguel Beleza). "se dermos números às medidas (…) (de Salazar) acabamos por anunciar em termos teóricos, os critérios de Maastricht." (Ernâni Lopes). "Salazar tinha "toda a razão quando afirmava que a consolidação (orçamental) era absolutamente indispensável para o País ganhar condições de progresso económico"" (Silva Lopes)
Anacrónicos, sr. Deputado Luís Montenegro, srs. deputados, são os que adoptam, passados mais de 80 anos, os critérios de Salazar na gestão orçamental e económica!
E foi pena que os ex-ministros não tirassem conclusões sobre aonde conduziu o País essa política de "equilíbrio orçamental", porque teriam de afirmar: conduziu ao país mais atrasado da Europa e a uma negra ditadura necessária para impor aquela "ditadura financeira" aos trabalhadores e ao povo português!
Regressemos ao presente. A semana passada, deputados do Grupo de Trabalho da Grande Distribuição/Comissão de Economia e Obras Públicas, tiveram a oportunidade, na Audição da CONFAGRI , de ouvir o seu Presidente referir que o poder económico dos Grupos da Grande Distribuição não era já e apenas uma questão de economia, mas que punha a democracia em causa. E puderam ouvir, na mesma Audição, o Presidente da Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores falar de "ditadura económica" desses Grupos.
3. É, assim, risível, ouvir o Governo falar da mudança de paradigma, a propósito das ditas "reformas estruturais" do governo.
Risível, porque faz "reformas" como a da concorrência, em que deixa intacto e sem qualquer alteração significativa o poder de mercado dos grupos monopolistas e oligopolistas, ao não assumir o conceito de "posição económica dominante colectiva", ao não desenvolver e tipificar o conceito de abuso de dependência económica, e o mesmo com o conceito de "dumping".
Risível, porque propagandeando o corte de lucros/rendas excessivas dos, monopólios da energia, com a EDP à cabeça e anuncia um ligeiro aparar desses lucros inaceitáveis (a EDP é afectada em 1% dos seus resultados), não os faz devolver o que cobraram a mais nos últimos anos, em profunda contradição de que faz com os trabalhadores e beneficiários da segurança social a quem, ilegal e retroactivamente, corta e recupera verbas. E em menos de um ano, aumentaram a electricidade 3 vezes!
Risível, porque prossegue uma política de afundamento das micro, pequenas e médias empresas e do sector produtivo, pela sobrecarga fiscal (caso do IVA), encarecimento dos custos dos factores de produção (energia) e secagem total do crédito. Que era também a agenda do Governo PS.
Risível, porque através das privatizações, feitas e anunciadas, completa a espoliação do património do povo português de empresas estratégicas, num grave ataque à soberania nacional, pela sua entrega ao capital estrangeiro, e mesmo a desindustrialização do País, como foi o abrir caminho ao desmembramento da CIMPOR. Que era também a agenda do Governo PS.
Risível, porque é a política de continuidade absoluta de um modelo económico centrado na pseudo produtividade e falsa competitividade, pelos custos salariais, assente na mão-de-obra barata e de baixo valor acrescentado, com toda a focagem na exportação e completa desvalorização do mercado interno. Que era também a agenda do PS.
Não, não há qualquer mudança de paradigma, de modelo económico, de estratégia para as políticas nacionais. É a continuidade absoluta das políticas económicas dos últimos 35 anos de PSD, CDS e PS. Políticas de classe, centradas na exploração dos trabalhadores e do povo, da ruína das pequenas empresas e destruição da produção nacional, de empobrecimento do País.
Disse.
O original encontra-se em http://www.pcp.pt/node/257474
Este discurso encontra-se em http://resistir.info/ .
Quando banqueiros se tornam ladrões, a economia desmorona
por Devinder Sharma [*]
O primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, classifica a crise
económica da eurozona como "grave" e foi citado a dizer:
"Na realidade, estamos a falar acerca de uma das maiores
operações de salvamento que o mundo já viu". Ele
respondia a uma pergunta da Rádio Sueca depois de ser conhecido que a
Espanha pode ser o 4º membro dos 17 países da eurozona a pedir
ajuda externa. A expectativa é de que a Espanha pediria US$100 mil
milhões ao FMI para salvar os seus bancos a cambalearem sob
empréstimos imobiliários tóxicos. Para entender melhor, vi
o trabalho de Paul Krugman, o qual pensa que não foram aprendidas
quaisquer lições (The EurpTARP Cometh --
http://nyti.ms/KrjgeN
).
Descobri uma carta interessante entre os comentários no blog de Krugman.
Alguém escreveu, e tendo a concordar, "a Espanha obtém agora
US$100 milhões para bombear para dentro de bancos que não
emprestarão, não criarão empregos, nem mesmo
investirão qualquer quantia em qualquer parte da economia
espanhola". Bem, sendo isto verdade, não entendo porque o governo
espanhol, ou os patrões do FMI, não é capaz de travar o
pretendido salvamento de bancos da Espanha. Como foi escrito por outro
blogueiro: "Uma taxa de desemprego de aproximadamente 25% combinada com
crescimento negativo do PIB deveriam ser tratados como uma emergência
económica. Todo o centro da atenção deveria ser na
correcção do desemprego e promoção do crescimento
económico, não no salvamento de bancos".
(
http://www.disequilibria.com/blog/?p=21
Salvar banco em incumprimento tornou-se a solução padrão
para a crise económica. Aconteceu em 2008, quando cerca de US$20
milhões de milhões foram bombeados para dentro da economia
global. Grande parte dele foi posto ao serviço das dívidas dos
bancos e todos nós lemos relatórios perturbadores de como
milhões de dólares foram dados como bónus para os
banqueiros que cometem erros – pessoas que deveriam estar na cadeia foram
premiados com belos pacotes financeiros. Isto não impulsionou a economia
americana, a qual mais uma vez está nos espasmos de uma crise não
prevista. A economia americana está num ventilador artificial –
utilizando a
"quantitative easing"
para sobreviver antes que ela possa impor a países em desenvolvimento
que se abram a bens e serviços estado-unidenses e também
pressionar países como a Índia a permitirem investimento directo
estrangeiro no comércio a retalho e nos seguros.
O que acontecerá se permitirmos aos bancos espanhóis entrarem em
colapso? Será que a Espanha se tornará um mendigo? Ou será
que o povo espanhol fugirá para outros países? Não penso
que nada disto aconteceria. O pacote do salvamento, ao invés, deveria
ser utilizado para criar mais empregos. E isso por sua vez promoveria a
economia. A mesma receita é válida para outras economias grandes.
A Índia, por exemplo, deveria centrar-se mais em criar empregos e
alimentar os 320 milhões de pessoas que vão para a cama com fome.
A China, que também está em meio a uma recessão, agora a
tornar-se mais óbvia, deveria mudar o foco para a criação
de mais procura interna e criar mais oportunidades de emprego tornando a
agricultura proveitosa. A atracção de população
rural para as áreas urbanas e o impulso para a
industrialização rápida (e muitas vezes ambientalmente
destrutiva) já arruinou o panorama nacional e transformou o país
numa grande fábrica exportadora. Isto é insustentável no
longo prazo e, uma vez explodidas as bolhas, será tudo uma tristeza.
Sempre pensei que copiar fosse prerrogativa apenas daqueles que infringem
direitos de propriedade. Mas agora percebo que governos por todo o mundo
têm estado alegremente a copiar o modelo económico de crescimento
dos EUA/UE. Não é admirar que todo país esteja afundado. O
mundo teria estado economicamente mais seguro, talvez, se os EUA tivessem
utilizado a sua força pondo em aplicações
disposições como a
Super 301
para impedir outros governos de copiarem seu terrivelmente enviesado modelo
económico, o qual agora levou o mundo à beira de um
precipício. Não é demasiado tarde. Mas como reconhecem
muitos outros, o mundo não extraiu quaisquer lições. Eles
continuam a permitir aos bancos que roubem o tesouro nacional. Como disse outro
comentador: "Os banqueiros tornaram-se os maiores ladrões da
história do mundo... a economia global nunca será recuperada
enquanto for sangrada até à morte para resgatar balanços
de fantasia de instituições e indivíduos cujas
pirâmides de papel compram governos e fazem com que o roubo equivalha
à produção económica".
[*]
Economista, indiano.
O original encontra-se em http://devinder-sharma.blogspot.in/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
terça-feira, 26 de junho de 2012
Carta-denúncia dos povos indígenas
Nossos povos são excluídos por um racismo histórico que faz parte
do senso comum desta sociedade que nos deve as raízes de sua formação.
O
Estado brasileiro não mede esforços para mostrar ao mundo um Brasil que
não existe. Na defesa do sistema do grande capital, camuflam índices
desenvolvimentistas que não revelam as desigualdades internas, os
problemas estruturais, muito menos, o estado de genocídio ao qual os
povos indígenas estão submetidos.
Juntos somos a segunda maior
população indígena do país. Representamos mais de 80% da diversidade
étnica e cultural do Estado de Mato Grosso do Sul. Entretanto, nossos
povos são excluídos desta sociedade por um racismo histórico e que faz
parte do senso comum desta sociedade que nos deve as raízes de sua
formação.
Após a guerra do Paraguai fomos sendo confinados em
pequenas reservas integracionistas e com isso todo o nosso território
foi invadido por não índios e hoje possuímos a menor situação de terras e
territórios demarcados do país.
O Estado brasileiro é perverso,
pois conhece a nossas necessidades territoriais, sabe que em tudo
dependemos destes territórios, que neles encontramos o sentido de nossa
existência e o futuro das crianças que nascerão amanhã. No entanto, o
Estado que deveria nos proteger e constitucionalmente demarcar nossas
terras acabou por entregá-las aos fazendeiros/grileiros que hoje se
passam por “bons” proprietários, mas continuam a ameaçar e a assassinar
nossas lideranças, nos fazendo de escravos, derrubando as matas, matando
os animais e poluindo os rios.
Na sua falta de decisão política
de garantir nossos direitos, o Estado brasileiro nos submete à pior
realidade de violência contras os povos indígenas da América. Nos
últimos anos, 60% dos assassinatos de indígenas no Brasil ocorreram
contra nossos povos devido à realidade de confinamento e ao processo de
luta pela reconquista de nossas terras. Mato Grosso do Sul amarga o
maior índice de lideranças indígenas assassinadas na luta pela terra nos
últimos 30 anos. O desespero de nosso povo é tamanho que a cada nove
dias um indígena se suicida em Mato Grosso do Sul.
Não
aceitaremos mais que a opção desenvolvimentista histórica do Estado
brasileiro e de Mato Grosso do Sul com seus governos truculentos e
mentirosos continuem a promover a espoliação de nossas terras e o
genocídio de nossas famílias.
ESTAMOS EM GUERRA!
Não por decisão nossa, mas porque os poderosos a impuseram já há muito tempo.
Por
isso, nós Povos indígenas Kaiowá, Terena, Guarani, Ofaié, Kadiweu,
Kinikinau e Guató, reunidos no Acampamento Terra Livre/Cúpula dos Povos,
vimos através deste documento não apenas denunciar aos povos e nações
do mundo, organizações e comissões nacionais e internacionais de
direitos humanos o genocídio praticado pelo Estado brasileiro contra
nossos povos, mas exigir:
Do Poder executivo, na pessoa da Presidente da República, Sra. Dilma Rousseff:
-
a imediata publicação, pela Funai, dos Relatórios Circunstanciados de
Identificação dos Tekohas (terras tradicionais) Kaiowá e Guarani,
produzidos pelos 6 Grupos de Trabalho no Cone Sul;
- o imediato
avanço nos processos administrativos de demarcação das terras indígenas
Taunai Ipegue, Lalima, Nioaque, Buriti, Pilad de Rebuá, Potrero Guasu,
Sombrerito, Taquara, Água Limpa, Aldeinha, Guyraroka, Jatayvari, Kokuei e
Cachoeirinha;
- que a Polícia Federal prenda os assassinos de
nossas lideranças mortas na luta pela terra, principalmente os
representantes políticos, policiais e ruralistas envolvidos nos
assassinatos;
- que a Funai e a Sesai deem todo o atendimento
necessário aos acampamentos indígenas localizados à beira de estradas,
sitiados em fazendas ou refugiados dentro de áreas urbanas ou aldeias e
não use argumentos inconstitucionais de que “trata-se de área em
litígio”;
- que, no uso de sua atribuição constitucional realize,
com a máxima urgência, através da Força Nacional, a desintrusão dos não
índios das nossas terras já declaradas dos povos Terena, Kaiowá e
Guarani, Kadiweu e Ofaié. Caso haja processo judicial que nossos povos
aguardem a decisão dentro dos territórios, e os não índios fora;
- que seja constituído o GT para identificar as terras do povo Kinikinau;
-
que nenhuma outra PCH (Pequena Central Hidrelétrica) seja construída na
região do Pantanal e/ou Cone Sul do Estado. Nossos rios estão morrendo e
não há mais peixes para nossos povos;
- que se regularize e homologue a Terra Indígena dos Ofaié e promova, através da Força Nacional, a desintrusão dos não índios;
- que se faça a recuperação ambiental e da fauna dos nossos territórios tradicionais destruídos e envenenados pelo agronegócio;
-
que nossas lideranças e comunidades sejam protegidas pela Força
Nacional especializada, uma vez que o Programa de Proteção dos
Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH) da Secretaria de Direitos
Humanos – SDH, não desenvolve nenhuma ação efetiva junto às nossas 3
lideranças e comunidades inclusas mantendo-as em situação de risco;
- que haja igual atendimento por parte da Funai e da Sesai às comunidades e aldeias localizadas nas cidades;
-
queremos também repudiar a forma como vêm sendo implantados os
territórios etnoeducacionais que em nada respeitam a diversidade de
nossos sistemas educacionais próprios, e que criminalizam e desrespeitam
nossos professores;
- que a assessoria da Funai no Congresso
Nacional seja melhor qualificada no monitoramento ao andamento das casas
e nos informes sistemáticos aos nossos povos;
- a promoção de ações afirmativas para a permanência dos acadêmicos indígenas em Mato Grosso do Sul;
Do Poder Judiciário, na pessoa do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Sr. Ayres Britto:
-
que os processos envolvendo a posse de nossas terras tradicionais no
Mato Grosso do Sul tenham prioridade nos seus julgamentos, pois a
morosidade de até 30 anos nestes casos está custando a vida de nossas
lideranças, crianças e jovens;
- que recomende ao CNJ ações de
combate à morosidade judiciária em outras instâncias e a violação de
nossos direitos por parte de magistrados parciais e que tratam destes
como algo secundário.
- que se julgue, com a máxima urgência, as
ações judiciais envolvendo as Terras Indígenas dos Kadiweu, Nhanderu
Marangatu, Cachoeirinha e Arroyo Korá;
Do Poder Legislativo, na pessoa dos Presidentes do Senado e Câmara Federal, Sr. José Sarney e Sr. Marco Maia:
-
que os Projetos de Lei e PECs que violam nossos direitos
constitucionais sejam imediatamente arquivados, como é o caso do PL
1610/96, da PEC 215/00 e PC 38/99;
- que todos os grandes
projetos que incidam sobre nossas terras respeitem a Constituição
Federal e sejam executados somente após consulta prévia, livre,
informada e com poder de veto, além de aprovação do Congresso Nacional;
-
que a bancada indigenista e a comissão de direitos humanos do Congresso
Nacional continuem fazendo diligências em nossas comunidades.
Tudo
o que temos hoje conquistamos através do sangue de nossas lideranças e
da pressão internacional sobre o Estado brasileiro, por isso queremos
conclamar os povos do mundo a promover sanções contra o Brasil para que
este, ao menos, cumpra suas obrigações constitucionais em relação aos
nossos direitos humanos e territoriais.
Na recente UPR (Revisão
Periódica Universal) vários países recomendaram ao Brasil respeito aos
Povos indígenas e demarcação de suas terras, por isso, queremos pedir a
estes, que todo financiamento, empréstimo ou qualquer tipo de apoio
financeiro ao Brasil, que incida sobre nossas terras, seja bloqueado até
que o governo as regularize pela força.
Apesar de toda violência
e morte a que estão submetidas nossas comunidades, confinadas ou
acampadas à beira das estradas, testemunhamos a certeza de que com a
força de Ñandejara, partilharemos nossos projetos de Bem Viver, em paz,
com dignidade, autonomia e liberdade.
Caciques e lideranças indígenas dos povos
Kaiowá, Guarani, Terena, Kadiweu, Kinikinau, Ofaié e Guató
Conselho do Aty Guasu
Conselho de luta pela terra dos povos do Pantanal
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Ex-oficial do exército revela detalhes da Casa da Morte, em Petrópolis
A notícia veiculada no site do jornal O Globo de hoje dá mais uma mostra
da necessidade de haver uma verdadeira comissão da verdade para apurar e
punir os crimes da ditadura. (leia abaixo)
Torturador conta rotina da Casa da Morte em Petrópolis
Torturador conta rotina da Casa da Morte em Petrópolis
RIO — Depois de cinco horas de conversa, o velho oficial estava livre de
um dos mais bem guardados segredos do regime militar: o propósito e a
rotina do aparelho clandestino mantido nos anos 1970 pelo Centro de
Informações do Exército (CIE) em Petrópolis, conhecido na literatura dos
anos de chumbo como “Casa da Morte”, onde podem ter sido executados
pelo menos 22 presos políticos. Passados quase 40 anos, um dos agentes
que atuaram na casa, o tenente-coronel reformado Paulo Malhães, de 74
anos, o “Doutor Pablo” dos porões, quebrou o silêncio sobre o assunto.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/torturador-conta-rotina-da-casa-da-morte-em-petropolis-5300155#ixzz1yjwvDlZM
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/torturador-conta-rotina-da-casa-da-morte-em-petropolis-5300155#ixzz1yjwvDlZM
CONFIRMADO: PM MATOU IDOSO NA DESOCUPAÇÃO DO PINHEIRINHO!!!
É chocante e assustadora a
denúncia dos crimes cometidos na desocupação do Pinheirinho (SP), que o
procurador Márcio Sotelo Felippe e os respeitadíssimos Celso Antonio
Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari e Fabio Konder Comparato, além
de outros juristas, magistrados, políticos e voluntários, encaminharam à
Comissão de Direitos Humanos da OEA (acesse íntegra aqui).
Além de
sistematizar as informações que já circulavam sobre os atos de
truculência e barbárie que lá tiveram lugar, compondo um quadro
simplesmente dantesco, a denúncia confirma que houve mesmo uma vítima
fatal, conforme foi denunciado no momento dos acontecimentos e depois
desmentido: o morador Ivo Teles da Silva.
As "evidências de que a morte ocorreu em decorrência das agressões físicas praticadas por policiais militares durante a desocupação da comunidade" estão assim documentadas:
"O sr. Ivo Teles da Silva contava com 69 anos e residia no Pinheirinho há 7 anos, com uma companheira.
No dia da desocupação Ivo Teles da Silva foi espancado pela polícia
militar, sofrendo lesões em várias partes do corpo. Foi socorrido no
Posto de Saúde do bairro e encaminhado ao pronto socorro do hospital
municipal.
Ficou desaparecido por mais de uma semana, apesar das insistentes tentativas de localização, por advogados, entidades de direitos humanos e amigos. A única resposta do serviço médico era que somente a Prefeitura poderia dar informações. E a prefeitura, por sua vez, negava haver efetuado qualquer atendimento à vítima.
Ele só seria encontrado cerca de dez dias depois no Hospital Municipal, outra unidade de saúde, já em estado de coma, e após ser submetido a procedimentos cirúrgicos.
O boletim de atendimento de urgência, embora solicitado pela Defensoria Pública e pelo CONDEPE, jamais foi apresentado.
O serviço público de saúde deu alta médica ao sr. Ivo Teles da Silva, tendo sido encaminhado para a residência de sua filha, em Ilhéus-BA, de cadeira de rodas, pois ainda não andava ou falava. Ele viria a falecer dias depois, em 10.04.2012.
Embora não haja documentos oficias que atestem o nexo de causalidade entre as agressões praticadas pela polícia e a morte, há inúmeras evidências de que o seu falecimento se deu em decorrência dos fatos. As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas, seguindo a sistemática sonegação de informação pela Prefeitura e demais órgãos da administração pública ".
Trocando em miúdos, o que temos aqui é a descrição de um bestial assassinato e do seu covarde acobertamento. Como a preocupação das autoridades foi unicamente a de negar e maquilar os crimes, descumprindo seu dever de os investigar, não é possível estabelecer com absoluta precisão a responsabilidade de cada criminoso.
A denúncia coloca em primeiro lugar na lista dos "responsáveis pelas violações" o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tendo como cúmplices o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Pedrosa Cury; o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Ricardo Garisio Sartori; a juíza da 6ª Vara Cível da Comarca de São José dos Campos, Márcia Faria Mathey Loureiro; e o comandante da operação policial, coronel PM Manoel Messias, dentre outros.
As "evidências de que a morte ocorreu em decorrência das agressões físicas praticadas por policiais militares durante a desocupação da comunidade" estão assim documentadas:
Ficou desaparecido por mais de uma semana, apesar das insistentes tentativas de localização, por advogados, entidades de direitos humanos e amigos. A única resposta do serviço médico era que somente a Prefeitura poderia dar informações. E a prefeitura, por sua vez, negava haver efetuado qualquer atendimento à vítima.
Ele só seria encontrado cerca de dez dias depois no Hospital Municipal, outra unidade de saúde, já em estado de coma, e após ser submetido a procedimentos cirúrgicos.
O boletim de atendimento de urgência, embora solicitado pela Defensoria Pública e pelo CONDEPE, jamais foi apresentado.
O serviço público de saúde deu alta médica ao sr. Ivo Teles da Silva, tendo sido encaminhado para a residência de sua filha, em Ilhéus-BA, de cadeira de rodas, pois ainda não andava ou falava. Ele viria a falecer dias depois, em 10.04.2012.
Embora não haja documentos oficias que atestem o nexo de causalidade entre as agressões praticadas pela polícia e a morte, há inúmeras evidências de que o seu falecimento se deu em decorrência dos fatos. As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas, seguindo a sistemática sonegação de informação pela Prefeitura e demais órgãos da administração pública ".
Trocando em miúdos, o que temos aqui é a descrição de um bestial assassinato e do seu covarde acobertamento. Como a preocupação das autoridades foi unicamente a de negar e maquilar os crimes, descumprindo seu dever de os investigar, não é possível estabelecer com absoluta precisão a responsabilidade de cada criminoso.
A denúncia coloca em primeiro lugar na lista dos "responsáveis pelas violações" o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tendo como cúmplices o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Pedrosa Cury; o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Ricardo Garisio Sartori; a juíza da 6ª Vara Cível da Comarca de São José dos Campos, Márcia Faria Mathey Loureiro; e o comandante da operação policial, coronel PM Manoel Messias, dentre outros.
"FLAGRANTE, LITERAL E TRAIÇOEIRA VIOLAÇÃO
DO ACORDO DE SUSPENSÃO DA ORDEM JUDICIAL"
Quanto ao que efetivamente aconteceu naquele domingo negro, é sublinhada no texto a existência de semelhanças evidentes com o que ocorria na Alemanha nazista. Concordo plenamente. Vale a pena todos lerem atentamente e refletirem sobre se estes HORRORES ainda podem ser admitidos um quarto de século depois de o Brasil ter despertado do pesadelo totalitário:
"Diante da tragédia social e humana que se avizinhava, com a iminente retirada à força de 1.659 famílias de suas moradias, parlamentares e representantes dos moradores tentaram uma negociação com os interessados e autoridades judiciais.
No dia 18 de janeiro de 2012, quinta-feira, reuniram-se no gabinete do juiz da Falência, dr. Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, o senador da República Eduardo Matarazzo Suplicy, os deputados estaduais Carlos Giannazi e Adriano Diogo, o deputado federal Ivan Valente, o síndico da massa falida Jorge T. Uwada, o advogado da massa falida Julio Shimabukuro e o advogado da empresa falida Selecta, Waldir Helu.
Conseguiu-se então um acordo de suspensão da ordem judicial de reintegração de posse pelo prazo de 15 dias. O juiz da Falência declarou na petição em que formalizado o acordo, por despacho de punho próprio, que havia telefonado para a juíza Márcia Loureiro, responsável pela ordem de reintegração de posse, comunicando o resultado da negociação.
No entanto, de surpresa, sem qualquer notificação, em flagrante, literal e traiçoeira violação do acordo de suspensão da ordem judicial, três dias depois ocorreu a violenta desocupação e remoção das 1.659 famílias.
Na madrugada de domingo, dia 22 de janeiro de 2012, às 5h30 da manhã, o bairro Pinheirinho foi cercado pela polícia estadual e pela guarda municipal de São José dos Campos. Mais de 2 mil policiais entraram na área, lançando bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra uma população que dormia, indefesa. Todos os moradores, incluindo mulheres, recém-nascidos, crianças, idosos e enfermos foram arrancados de suas casas.
Máquinas derrubaram as edificações, destruindo bens pessoais, móveis e utensílios dos moradores. Praticamente não foi concedida oportunidade para a retirada de bens pessoais, documentos e papéis.
Também foram demolidos todos os espaços de uso coletivo e todos os templos religiosos (um católico e seis protestantes).
Aquelas 6 mil pessoas foram tratadas como animais, arrancadas de suas moradias e lançadas em abrigos coletivos improvisados.
Durante a desocupação, dentro dos abrigos, os moradores ainda recebiam pancadas, eram vítimas de policiais armados, de balas de borracha e bombas de gás. Ambulâncias saiam do local carregando feridos, inclusive crianças vítimas dos gases e bombas de efeito moral.
As balas e bombas eram lançadas em todos os bairros contíguos ao terreno, atingindo pessoas e residências.
Mesmo após a desocupação, durante a noite, a Polícia Militar ainda atirava bombas de gás dentro do pátio da Igreja, onde se resguardavam moradores que não quiseram ficar nos abrigos.
Os advogados não puderam acompanhar os atos da desocupação, inobstante sua natureza judicial. Alguns levaram tiros com balas de borracha, como o advogado Antônio Donizete Ferreira, atingido nas costas, joelho e virilha por balas de borracha. Membros da Defensoria Pública, órgão estatal responsável pela assistência jurídica aos necessitados, foram impedidos militarmente de acompanhar o cumprimento da ordem.
A imprensa também não pôde acompanhar o procedimento policial.
A remoção violenta das 6 mil pessoas aqui descrita, além de violadora de diversos dispositivos da Convenção e da Declaração Americanas, (...) também caracteriza crime contra a Humanidade, nos termos do art. 7º , letra “k”, do Estatuto de Roma: ato desumano que provocou intencionalmente grande sofrimento, ferimentos graves e afetou a saúde mental e física de coletividade. Frontal violação do princípio da dignidade humana, com insuperável dano à integridade física e psíquica das vítimas e efeitos traumáticos em crianças, que perdurarão em suas existências.
Pode-se comparar a operação policial, em sua brutalidade e selvageria, a um 'pogrom', ou à Noite dos Cristais na Alemanha nazista, que destruiu milhares de propriedades, casas e templos da comunidade judaica em 1938. Na comunidade do Pinheirinho, no Brasil de 2012, no entanto, o motivo não foi o ódio étnico. Foi o alegado direito de propriedade, reputado absoluto pelo Judiciário e imposto ao custo de indizível sofrimento de toda uma população".
Revoluções de 2011 'me lembram 1848', diz Hobsbawm
Para o historiador, é a classe média e não os operários quem impulsiona as atuais revoltas
Por Andrew Whitehead - Da BBC News
"A esquerda tradicional estava orientada para um tipo de
sociedade que já não existe mais ou está deixando de existir.
Acreditava-se sobretudo no movimento operário como o grande responsável
pelo futuro. Bem, nos desindustrializamos e isso já não é possível" Eric Hobsbawn
O prestigiado historiador britânico Eric Hobsbawm
comparou as revoltas no mundo árabe em 2011 às revoluções que explodiram
na Europa no fatídico ano de 1848.
Em entrevista à BBC, Hobsbawm ressaltou que
desta vez os movimentos de contestação são impulsionados pela classe
média, e não pelo proletariado.
"Foi uma grande alegria redescobrir
que é possível que as pessoas saiam às ruas para se manifestar e
derrubar governos", disse o historiador, que passou toda sua vida ligado
às revoluções.
Hobsbawm nasceu poucos meses antes da Revolução
Russa, de 1917, e foi comunista a maior parte de sua vida, assim com um
influente pensador marxista. Um de seus livros mais conhecidos, a Era
das Revoluções, que retrata justamente as revoltas de 1848, é um
clássico da historiografia.
Além de escrever sobre as revoluções, Hobsbawm
também apoiou algumas revoltas. Com mais de 90 anos, sua longa paixão
pela política aparece no título de seu mais novo livro: How to change the World (Como mudar o mundo) e em seu enorme interesse pela Primavera Árabe.
"A verdade é que eu tenho um sentimento de
excitação e alívio", disse, ao receber a reportagem em sua casa em
Hampstead Heath, bairro no norte de Londres.
Democracias árabes?
Para Hobsbawm, 2011 lembra outro ano de revoluções.
"Me lembra 1848, outra revolução impulsionada de
forma autônoma, que começou em um país e depois se estendeu por todo um
continente em pouco tempo", diz.
Naquele ano, um levante popular em Paris acabou se alastrando pela
área da atual Alemanha e Itália e pelo Império Habsburgo (hoje Áustria).
Para quem ajudou a encher a praça Tahir, no
Cairo, derrubando o regime de Hosni Mubarak, em fevereiro, e agora teme
pelo destino da revolução egípcia Hobsbawm tem uma palavra de alento.
"Dois anos após 1848, tudo parecia como se houvesse fracassado. Mas
no longo prazo não houve fracasso. Conseguiu-se uma boa quantidade de
avanços liberais. De modo que foi um fracasso imediato, mas um êxito
parcial no médio prazo, ainda que não tenha sido na forma de revolução",
diz.
Talvez com exceção da Tunísia, Hobsbawm não vê
grandes possibilidades da democracia liberal ou governos representativos
ao estilo ocidental triunfarem no mundo árabe.
O historiador ressalta ainda as diferenças entre os vários países varridos pela atual onda revolucionária.
"Estamos no meio de uma revolução, mas não de uma única revolução", diz.
"O que une (os árabes) é um descontentamento
comum e forças de mobilização comuns: uma casse média modernizadora,
sobretudo jovem, estudantes e, principalmente, uma tecnologia que
permite que hoje seja muito mais fácil mobilizar os protestos", afirma.
Indignados e 'Occupy'
A importância das redes sociais também ficou
evidente em outro movimento que marcou 2011: os protestos dos indignados
e as ocupações que ocorreram na Europa e na América do Norte.
Segundo Hobsbawm, o movimento remonta à campanha
eleitora de Barack Obama, em 2008. Na ocasião, o então candidato
mobilizou com sucesso uma juventude até então apática à política por
meio da internet.
"As ocupações, em sua maioria, não foram
protestos de massa, não foram os 99% (da população), mas de estudantes e
membros da contracultura. Em momentos, isso encontro eco na opinião
pública. É o caso dos protestos contra Wall Street e as ocupações
anticapitalistas", afirma.
De todo modo, a velha esquerda, da qual Hobsbawm tomou parte, manteve-se às margens das manifestações.
"A esquerda tradicional estava orientada para um
tipo de sociedade que já não existe mais ou está deixando de existir.
Acreditava-se sobretudo no movimento operário como o grande responsável
pelo futuro. Bem, nos desindustrializamos e isso já não é possível",
destaca o historiador.
"As mobilizações de massa mais efetivas hoje são
aquelas que começam em meio a uma classe média moderna e em particular
em um grupo grande de estudantes. São mais efetivos em países onde,
demograficamente, os jovens são mais numerosos", diz.
Compreender o passado
Eric Hobsbawm não espera que as revoluções
árabes tenham maiores ecos no mundo, ao menos não como uma antessala de
uma revolução mais ampla.
Será mais provável, assegura, uma dinâmica que
compreenda reformas graduais do estilo das que "ocorreram na Coreia do
Sul nos anos 1980, quando uma classe média jovem passou a disputar o
poder com os militares".
Sobre o drama político que ainda se desenrola
nos países árabes, o historiador diz que vale a pena recordar o Irã de
1979, cenário da primeira revolução que teve o Islã como elemento
político.
Esse aspecto da revolução iraniana teve reflexos na Primavera Árabe.
"Quem fez concessões ao Islã sem ser religioso
acabou marginalizado. Dentre eles os reformistas, liberais e
comunistas", diz, destacando outros grupos que se somaram aos religiosos
para derrubar a monarquia iraniana alinhada ao Ocidente.
"A ideologia das massas não é a ideologia dos que começaram as manifestações", pontua.
Embora diga que a Primavera Árabe lhe tenha
causado alegria, Hobsbawm diz que o elemento religioso no movimento é
"desnecessário e não necessariamente bem-vindo".
Fonte: http://www.bbc.co.uk
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Derrotar o golpe de estado made in CIA e construir uma alternativa revolucionária operária e camponesa ao governo Lugo
Derrotar o golpe de estado made in CIA e construir uma
alternativa revolucionária
operária e camponesa ao governo Lugo
Exatamente três anos após orquestrar um exitoso golpe de
Estado em Honduras, a administração Obama está por trás de um novo processo
golpista, o atual impeachment relâmpago de Fernando Lugo, executado por uma
frente ampla de partidos oposicionistas com participação ativa do Partido
Colorado e encabeçada pelo vice presidente do Partido Liberal. Assim como em
Honduras, a Casa Branca tratou de reconhecer a legitimidade do golpe ao passo
que trata de maquiar sua posição, reivindicando cretinamente a volta à
estabilidade política do país e o respeito ao devido processo judicial a que
tem direito o presidente.
Apesar de pequeno, o Paraguai é o
campeão da concentração de
propriedade privada do planeta. 2% dos proprietários dominam cerca de
80% do
espaço rural destinado à produção agropecuária. Com o fim dos anos 1980
entra
em crise o modelo econômico vigente durante a ditadura Stroessner e por
fim a
própria ditadura, que se apoiava na condição de ter convertido o país em
um entreposto
de contrabando de mercadorias manufaturadas de segunda linha da grande
indústria mundial, para desenvolver a agricultura de monocultura
extensiva de
commodities (soja) e a pecuária. Boa parte desta “nova economia” é de
propriedade dos brasiguaios. Os barões da soja brasileiros posseiros no
país
vizinho não passam de comissionistas do grande capital fiananceiro
internacional. Os sojeiros ocupam um quarto de todas as terras agrícolas
no
Paraguai e, desde 1995, têm crescido a uma taxa de 320 mil hectares por
ano. Os brasiguaios, sojeiros, pecuaristas e o capital bancário que lhes
financia, atuam como atravessadores, comissionistas associados a grandes
corporações imperialistas como a Cargill, Bunge, Calyx Agro e o Banco
estadunidense JP Morgan. O governo Lugo representa esta correlação de
forças
que torna o grande capital latifundiário do Brasil um sócio de grande
relevância na drenagem dos recursos naturais paraguaios para o
imperialismo.
Todavia, a crise mundial capitalista
acentua as disputas
inter-burguesas e a concentração de capitais. O que está em jogo com a
destituição
de Lugo, e que tanto apavora neste momento o governo brasileiro que
lidera uma missão na UNASUL ao país vizinho para salvar seu pupilo, é a
eliminação dos
capitalistas intermediários brasiguaios. O imperialismo estadunidense
então age
no sentido de buscar eliminar os intermediários brasileiros do processo
de sangria dos recursos naturais paraguaios.
O momento esperado pelo imperialismo e pela oposição
burguesa para desferir o ataque foi o desgaste extremo do governo de frente
popular com suas bases sociais após Lugo cair em uma provocação armada pelo latifúndio,
desferindo a serviço deste último uma violenta repressão aos sem terras
paraguaios na fazenda do milionário Blas Riquelme, ex-senador do Partido
Colorado, onde foram mortos quase duas dezenas de carpeiros (sem terras
paraguaios).
No atual conflito palaciano entre dois
bandos burgueses os
revolucionários não podem ficar neutros porque sabem que o que a
população paraguaia vem chamando de "golpe parlamentario" pavimenta o
aumento do parasitismo imperialista sobre o país.
Os revolucionários também não defendem o governo burguês de Lugo assentado sob os interesses do latifúndio paraguaio e brasiguaio. Convocamos a população trabalhadora do campo e da cidade a combater o golpismo imperialista sem nutrir nenhuma confiança pelo atual governante frente populista que ordenou o assassinato de quase duas dezenas dos nossos irmãos carpeiros. É preciso aproveitar-se da crise inter-burguesa para organizar a ação direta das massas a fim de derrotar o golpismo da CIA e da oposição burguesa de direita! Construir comitês armados de autodefesa das massas para avançar na luta pela reforma agrária (inclusive contra o latifúndio brasiguaio) e por um autêntico governo operário e camponês!
Os revolucionários também não defendem o governo burguês de Lugo assentado sob os interesses do latifúndio paraguaio e brasiguaio. Convocamos a população trabalhadora do campo e da cidade a combater o golpismo imperialista sem nutrir nenhuma confiança pelo atual governante frente populista que ordenou o assassinato de quase duas dezenas dos nossos irmãos carpeiros. É preciso aproveitar-se da crise inter-burguesa para organizar a ação direta das massas a fim de derrotar o golpismo da CIA e da oposição burguesa de direita! Construir comitês armados de autodefesa das massas para avançar na luta pela reforma agrária (inclusive contra o latifúndio brasiguaio) e por um autêntico governo operário e camponês!
Leia também:
Fonte: Liga Comunista
Rio + 20: A cimeira da hipocrisia global
por Fausto Arruda
Na segunda quinzena de junho, chefes de Estado do mundo inteiro estarão
no Rio de Janeiro para um convescote
[1]
que tem tudo para ser mais uma atividade diversionista para encobrir os reais e
mais candentes problemas que a humanidade enfrenta nos dias atuais.
Fome, peste e guerra
As pessoas das gerações mais antigas se criaram ouvindo as
rezadeiras concluírem suas ladainhas com a súplica: livrai-nos da
fome, da peste e da guerra. Hoje, os pseudocientistas, sacerdotes do
ecoterrorismo, disseminam o pensamento único ensinando às massas
uma nova ladainha: livrai-nos do buraco na camada de ozônio, do efeito
estufa e do aquecimento global. Mas, o temor das rezadeiras continua mais que
nunca na ordem do dia.
Segundo as estatísticas dos organismos internacionais, cerca de
oitocentos milhões de pessoas sofrem no mundo de fome crônica. Por
hora, morrem mil crianças todos os dias por variadas moléstias
cuja base é a subnutrição.
Estas mesmas populações, principalmente pela
condição de famélicas, estão expostas a um sem
número de epidemias como AIDS, ebola, malária, dengue,
febre-amarela, cólera, afora as gripes de moda como a suína, a
aviária e outras.
Tão letal quanto a fome e a peste, a guerra tem sido uma constante na
vida dos povos, principalmente os das nações exploradas,
vítimas da ganância das nações imperialistas. O
capitalismo, ao atingir a sua fase superior, o imperialismo, na virada do
século XIX para o século XX lançou mão da guerra de
rapina para açambarcar as fontes de matéria prima e dominar o
mercado consumidor dos quatro cantos do mundo. Durante todo o século XX
e início do século XXI foram dezenas de guerras desencadeadas ou
incentivadas pelas nações exploradoras, tendo a frente o
imperialismo ianque, para se apoderarem do botim de cada uma.
Afora o faz-de-conta dos organismos internacionais ou a demagogia dos
políticos estas questões continuam sem o devido enfrentamento e
seguem clamando por sua superação. Claramente a vida já
demonstrou que não será na vigência do sistema capitalista
que as mesmas serão resolvidas e não é à toa que as
mesmas são a base da situação revolucionária que se
desenvolve no mundo inteiro. Resta, portanto, aos pretensos donos do planeta
aterrorizar as massas com suas ameaças de aquecimento global e outras
sandices que, para ganharem fórum de respeitabilidade, são
ensalsadas a partir de encontros de cúpula como Eco-92, Kioto, Cancun,
Copenhagen, Rio + 20, etc...
O que a ciência nos fala
Nadando contra a corrente do pensamento único imposto pelo centro do
poder mundial, alguns cientistas têm lutado bravamente para desmistificar
todas estas baboseiras difundidas no sentido de tirar a atenção
dos povos dos principais problemas que os afligem e, ainda por cima, manter a
exploração das colônias e impedir o seu desenvolvimento.
No Brasil podemos destacar, entre poucos cientistas que se atrevem a contestar
a hipótese do aquecimento global, o professor e pesquisador da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luiz Carlos Molion, o qual concedeu uma
esclarecedora entrevista ao Programa Canal Livre, postada no
Youtube
juntamente com outras intervenções suas em outros eventos
destruindo todas as teses, segundo as quais o planeta marcha para o aquecimento
global e chega a afirmar exatamente o contrário.
Outro cientista que ganhou notoriedade nos últimos dias por haver
participado do Programa Jô Soares, na Rede Globo, foi o professor e
pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Augusto
Felício. Depois de sua entrevista e até pela proximidade da
Cúpula Rio + 20, Felício passou a receber uma grande quantidade
de convites para proferir palestras em escolas e universidades, tal o espanto
com que as pessoas foram tomadas diante de alguém que ousou desafiar o
pensamento único, afirmando que o que os pseudocientistas asseveram ser
a Teoria do Aquecimento Global, na verdade nem teoria é, e sim,
simplesmente uma hipótese sem nenhuma comprovação
científica. E corroborando as afirmações do professor Luiz
Carlos, afirmou categoricamente que o que se avizinha é um
período de resfriamento do planeta.
Ecoterrorismo e dominação
Roberto Felício denuncia, por exemplo, a indústria
química detentora de patentes sobre gases refrigerantes como uma das
fontes geradoras deste terrorismo, tudo por meros interesses comerciais. Da
mesma forma que os países ricos se utilizam destas inverdades para
manter o domínio sobre as semicolônias, impedindo-as de
lançar mão das fontes de energia fosseis como o petróleo,
o carvão mineral e o gás natural. Os monopólios e os
governantes de países ricos transformaram o ecoterrorismo em um imenso
negócio disseminado através de financiamentos de projetos em
universidades e ONGs gerando emprego e renda para aqueles que se comprometem a
abraçar esta ideologia manipuladora. Parte destes recursos é
carreada para os monopólios de comunicação
responsáveis pela cadeia mundial da desinformação e, mais
que isso, do apavoramento das massas pelo terror ecológico.
Aparência e essência
Ricardo Felício chama a atenção para o fato de que as
pessoas vivem em microclimas. A experiência de vida no microclima, que
pode ser alterado pela ação do homem, pode levá-las a
imaginar a sua transposição para o clima global. Porém, o
clima global, pelas suas dimensões, tem no sol, nos oceanos e nos
vulcões as principais fontes de alterações. Explorando a
ignorância das massas, os pseudocientistas escondem a essência dos
fenômenos e induzem as pessoas a aceitarem como verdade aquilo que
é apenas a aparência.
É claro que a urbanização, a
industrialização e a civilização do
automóvel modificaram e cada vez mais têm a capacidade de causar
tremendos transtornos à vida das pessoas, assim como o desmatamento
desregrado e a falta de proteção das nascentes podem provocar
incalculáveis prejuízos ao meio ambiente numa esfera
microclimática, longe, porém, de interferir de forma global no
clima do planeta.
O desenvolvimento da técnica a serviço do bem estar do povo e
não do capital pode perfeitamente apontar soluções para
controlar os efeitos negativos da intervenção humana no
microclima. Entretanto, a fantástica energia emanada do sol, dos
vulcões e dos oceanos não pode ser controlada. O ser humano tem
que reconhecer a sua insignificância para intervir nesta esfera da
organização da matéria.
(1) Convescote: piquenique
Ver também:
|
Os bancos ocidentais ganham milhões com a cocaína colombiana
Por Ed Vulliamy
– Enquanto a produção de cocaína devasta os países da América Central, os consumidores dos EUA e da Europa ajudam as economias desenvolvidas a enriquecerem-se com os lucros dessa produção.
Os vastos lucros do tráfico e da produção de droga
vão para os países ricos e consumidores – como os da Europa
ou os Estados Unidos da América – numa proporção
muito superior do que ficam nos países devastados por essa
produção, como a Colômbia ou o México, revela um
estudo recente
[1]
. Os seus autores afirmam que as entidades reguladoras
são relutantes em investigar o enorme processo da lavagem de dinheiro
da droga, levada a cabo pelos bancos europeus e norte-americanos.
A mais recente análise da economia da droga – no caso
específico da Colômbia – demonstra que apenas 2,6 % do total
do valor de mercado da cocaína produzida fica nesse país, ao
passo que uns espantosos 97,4% dos lucros são arrecadados pelas
máfias criminosas do chamado primeiro mundo, sendo posteriormente
submetidos a um processo de "lavagem de dinheiro" nos bancos desses
países.
"A história acerca de quem realmente lucra com a cocaína
colombiana é uma metáfora para o fardo desproporcionado colocado
de todas as maneiras sobre países "produtores" como a
Colômbia em consequência da proibição das
drogas" afirma, Alejandro Gaviria, um dos autores do estudo, aquando do
lançamento da edição inglesa do mesmo na semana passada.
"A sociedade colombiana tem sofrido imenso e não tem retirado
nenhuma vantagem económica do tráfico de drogas, os verdadeiros
lucros revertem a favor das redes criminosas de distribuição nos
países consumidores de drogas, que os "reciclam" no sistema
bancário local, sistema esse que opera com muito menos
restrições do que o sistema bancário colombiano."
O seu co-autor, Daniel Mejia, acrescentou: "O sistema aplicado pelas
autoridades dos países consumidores de drogas tem como objectivo a
repressão do pequeno distribuidor, ele é o elo mais fraco da
rede, estas nunca procuram atingir os grandes negociantes de drogas ou os
sistemas financeiros que os suportam e é aí que está
realmente o grosso do dinheiro".
Este trabalho, de dois economistas da Universidade de Los Andes, em
Bogotá, faz parte de uma iniciativa do governo da Colômbia para
reformular a política anti-droga global recentrando-a nos processos de
lavagem de dinheiro levados a cabo pelos grandes bancos norte-americanos e
europeus, assim como na prevenção social e num processo de
descriminalização de algumas ou mesmo de todas as drogas.
Estes economistas tomaram em consideração vários factores
económicos, sociais e políticos, das guerras da droga que
têm devastado a Colômbia. O conflito estendeu-se, com graves
consequências, ao México e receia-se que possa alastrar-se
à América Central. Mas a conclusão mais chocante
está relacionada com aquilo a que os autores chamam "microeconomia
da produção de cocaína" na Colômbia.
Gaviria e Mejía calculam que, ao mais baixo valor que a cocaína
pura produzida na Colômbia pode atingir nas ruas (cerca de 100
dólares/ 80 euros por grama) o lucro foi, no ano de 2008, de 300 mil
milhões de dólares, dos quais apenas 7,8 mil milhões
ficaram no país.
"É uma porção minúscula do PNB", disse
Mejía, "o que pode ter um efeito desastroso na vida política
e social da Colômbia, mas não na economia. A economia da
cocaína colombiana está fora da Colômbia".
Mejía disse ainda a
The Observer:
"Na minha perspectiva a proibição das drogas é um
processo de transferência de custos do problema das drogas, dos
países consumidores para os países produtores".
"Se países como a Colômbia lucrassem economicamente com o
tráfico de droga, ainda faria um pouco de sentido" afirmou
Gaviria". Em vez disso, a Colômbia e o México pagam o maior
preço para que outros tenham lucro".
"Eu gostava de ilustrar a situação para os cidadãos
norte-americanos: imaginem que o consumo de cocaína nos Estados Unidos
desaparecia e se deslocava para o Canadá. Será que os americanos
gostariam de ver a taxa de homicídio de Seattle disparar para que se
evitasse que a cocaína e o dinheiro fossem para o Canadá? Desta
maneira talvez percebessem os custos desta situação para
países como o México e a Colômbia"
Os mecanismos de lavagem de dinheiro foram tratados pelo
The Observer
no ano passado, depois de um raríssimo acordo judicial em Miami entre o
governo federal dos Estados Unidos e o Wanchovia Bank, tendo este último
admitido que fazia entrar 110 milhões de dólares de dinheiro da
droga nos Estados Unidos. No entanto as autoridades não conseguiram
monitorizar os 376 mil milhões de dólares que, ao longo de quatro
anos, entraram nas contas desse banco através de casas de câmbio
no México. O Wachovia Bank foi, já depois deste acordo, adquirido
pelo Wells Fargo que cooperava com a investigação.
No entanto ninguém foi preso, e o banco está hoje fora de
qualquer complicação judicial. "O sentimento geral é
o de uma grande relutância em ir atrás dos lucros reais da
droga" disse Mejía. "Eles não se ocupam daquela parte
do sistema onde está a maior soma. Na Europa e nos EUA o dinheiro
está disperso – quando chega a estes países o dinheiro entra
no sistema, em todas as cidades, em todos os estados. Eles preferem ir
atrás da pequena economia, dos pequenos intermediários e das
plantações de coca na Colômbia, mesmo sabendo que essa
economia é minúscula".
O Dr. Mejía acrescentou: "Na Colômbia eles colocam aos bancos
questões que nunca colocariam aos bancos nos Estados Unidos. Se o
fizessem seria contra as leis do sigilo bancário. Nos Estados Unidos
existem leis muito fortes que protegem o segredo bancário, na
Colômbia tais leis não existem – ainda que a lavagem de
dinheiro se faça mais nos Estados Unidos. É um sistema um pouco
hipócrita, não?"
"É uma extensão da forma como operam no seu próprio
país. Vão atrás das classes baixas, dos elos mais fracos
da cadeia, do pobre tipo – para mais facilmente mostrar resultados. Mais
uma vez: é a vontade de transferir o custo da guerra da droga para os
mais pobres, deixando o sistema financeiro e os grandes negociantes intocados,
que motiva todo este sistema"
Tendo o Reino Unido suplantado os EUA e a Espanha como o maior consumidor
mundial de cocaína
per capita
, a investigação ao Wachovia mostrou também que muito do
dinheiro da droga era lavado através da City de Londres, onde o
principal denunciante do caso, Martin Woods, estava sediado, no departamento
anti-lavagem de dinheiro do banco. Martin Woods foi posteriormente demitido
depois de ter denunciado a situação.
Gaviria disse ainda: "Nós sabemos que as autoridades nos Estados
Unidos e no Reino Unido sabem mais do que aquilo que as suas
acções fazem transparecer. As autoridades apercebem-se de
inúmeros casos de pessoas que tentam movimentar dinheiro para o
tráfico de droga – mas a DEA (Departamento Anti-droga dos EUA) age
apenas num número mínimo de casos"
"É um verdadeiro tabu perseguir os grandes bancos" acrescentou
Mejía, "seria suicidário neste clima económico devido
às elevadas quantias de dinheiro reciclado"
02/Junho/2012
[1] Alejandro Gaviria Uribe e Daniel Mejía Londoño,
Políticas antidroga en Colombia: éxitos, fracasos y extravíos
, Ediciones Uniandes, Bogotá, 2012, 458 pgs., ISBN/ISSN:
978-958-695-602-4
O original encontra-se em
www.guardian.co.uk/world/2012/jun/02/western-banks-colombian-cocaine-trade
Tradução de MQ.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
Assinar:
Postagens (Atom)