quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Latifúndio Assassino: Freira Marcada Para Morrer


Por Lúcia Rodrigues

Geralda Magela da Fonseca, a irmã Geraldinha, pode ser a próxima vítima do terror imposto pelos latifundiários que querem impedir o avanço da reforma agrária no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país. A única plantação de alimentos que existe em Salto da Divisa é a do acampamento do MST.
No restante das terras, só capim e poucos bois. A luta pela terra no Brasil ainda representa risco de morte para quem defende sua divisão. Reforma agrária são duas palavras que quando conjugadas se tornam malditas nos rincões controlados pelo latifúndio. O poder dos coronéis é lei nesses lugares. Domina tudo: desde a política local à rádio que veicula as notícias. Tudo, absolutamente tudo, é subjugado à lógica de uma oligarquia rural que atravessou séculos intacta e permanece com praticamente a mesma força discricionária do passado.
A pequena Salto da Divisa, município localizado no nordeste mineiro do Vale do Jequitinhonha, é o exemplo gritante dessa realidade. Latifúndio e terror se conjugam contra aqueles que ousam se levantar em defesa da reforma agrária. O pavor de retaliações fez com que vários entrevistados pedissem para não ter os nomes revelados. A reportagem acatou a solicitação e decidiu atribuir nomes fictícios a todos os entrevistados ligados ao MST, menos a Geralda Magela da Fonseca, a irmã Geraldinha, ameaçada de morte pelo latifúndio.
A freira dominicana que vive há mais de três anos no acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Dom Luciano, onde residem 75 famílias, se transformou no alvo preferencial dos latifundiários. É dela a principal voz que se ergue para denunciar as arbitrariedades dos donos da terra na região. A atitude corajosa rendeu a ira dos que teimam em perpetuar a situação de injustiça. Irmã Geraldinha convive há meses com o medo de ser assassinada a qualquer momento. No princípio, as ameaças chegavam pelo celular. Em um único dia, recebeu três ligações no aparelho. Do outro lado da linha, a pessoa não identificada transmitia sempre a mensagem de morte. O terrorismo psicológico fez com que a freira quebrasse o chip do celular. Agora poucos possuem seu novo número, e as ameaças deixaram de ser feitas por via telefônica. Chegam por companheiros que moram no acampamento e que ouvem dizer na cidade que ela está marcada para morrer.
No latifúndio brasileiro, ameaça de morte é quase a certeza de concretização. Foi assim com Chico Mendes, irmã Dorothy Stang, Margarida Maria Alves e tantos outros que tombaram na luta por justiça social no campo.
Como nos outros casos, o medo não afugentou a freira da resistência aos poderosos. Apenas a fez mudar seus hábitos Irmã Geraldinha não repete, por exemplo, o pernoite no mesmo barraco. Alterna o sono em vários locais dentro do acampamento, para impedir que o inimigo invada sua casa e a torne presa fácil da morte. A reportagem de Caros Amigos acompanhou a via crucis da freira durante quatro dias. Dividiu com ela, inclusive, os mesmos barracos.
Estado de tensão
Um acontecimento em particular deixou a freira temerosa de que um eventual atentado pudesse ocorrer. Era noite, e a informação de uma companheira do acampamento, que havia visto um feixe de luz vindo do mato próximo do local onde foram erguidos os barracos, deixou a irmã Geraldinha apreensiva. Olhares mais atentos não identificaram o alerta, mas também não conseguiram tranqüilizar a irmã. Qualquer barulho do lado de fora do barraco era motivo para um sobressalto sobre o colchão.
A ausência de iluminação, o único ponto de energia elétrica no acampamento é o do centro comunitário que também é a única construção em alvenaria, joga contra a segurança dela. A noite sem luar torna o ambiente sombrio.
Nos barracos, com paredes feitas de folhas de coqueiro ou de taipa (barro prensado entre canas de bambu) e cobertura com a tradicional lona preta, apenas a luz das velas, que se acendem e se apagam rapidamente para neutralizar o alvo de possíveis ataques.O esquema de segurança do MST no acampamento foi reforçado desde que a freira passou a sofrer ameaças. Na entrada do acampamento da Fazenda Manga do Gustavo, localizada a aproximadamente 6 km da cidade, uma corrente de ferro impede a passagem dos carros que se aproximam.
Ali, há sentinelas 24 horas por dia. Mas os únicos instrumentos de proteção de que os vigilantes dispõem para combater uma eventual invasão de agressores são alguns foguetes, que serão prontamente disparados para mobilizar os companheiros que vivem no acampamento e atrair a atenção da polícia na cidade. As mulheres participam do turno das 6h às 18h, os homens assumem a partir das 18h e vão até a manhã do dia seguinte. De uma em uma hora, o turno é trocado. Ninguém passa pela portaria sem a autorização da segurança, mas as condições geográficas da área não ajudam no trabalho. Por se tratar de uma fazenda, há inúmeros pontos vulneráveis dos quais os possíveis assassinos podem se valer, para chegar a pé ao local.
À noite, a segurança é reforçada por uma equipe de 24 homens que cuidam da vigilância da área. Além da portaria, uma ronda percorre o acampamento com lanternas para verifi car se não há invasores que coloquem em risco a vida da freira. A segurança dos companheiros que dividem o acampamento com ela é a única proteção que irmã Geraldinha tem durante a noite. De dia, além da segurança dos sem-terra, a Polícia Militar também vai ao acampamento, de duas a três vezes, conversa com a religiosa e retorna à cidade.“A nossa proteção é de 24 horas”, frisa Daniel Monteiro, chefe da segurança do acampamento, para destacar a importância do trabalho desempenhado pelos acampados na proteção à freira. O comando do policiamento militar da cidade foi trocado recentemente.
O sargento Clóvis Bonfim de Morais é o novo responsável pela área. Veio do município de Teófilo Otoni e traz no braço o brevê de direitos humanos. “Só quem tem muita formação na área (de direitos humanos) usa o brevê”, comenta. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República interveio para mudança no policiamento em Salto da Divisa, segundo o coordenador do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Fernando Matos.
Antes, o poder fardado não falava em direitos humanos e era caudatário dos interesses do latifúndio. Nem mesmo o ataque de um grupo que tentou incendiar o acampamento do MST demoveu os policiais de uma ação contrária aos acampados.
Rotina de ameaças
“Hoje vou comer bolo na sua casa”, dizia a voz de um homem que se identificou como Ilton Guimarães, ex-vereador e muito próximo aos latifundiários da cidade. Ele ligou para o celular da acampada Cristina Soares, no dia 27 de julho, um dia após a eleição para a Prefeitura de Salto da Divisa e que deu a vitória a Ronaldo Athayde da Cunha Peixoto (DEM). A eleição aconteceu fora de época devido à cassação pelo TRE do prefeito anterior.
Ronaldo faz parte de uma das duas famílias que dominam as terras da região. O número oculto registrado no identificador de chamadas impediu que Cristina soubesse de onde partira a ligação. A frase, aparentemente sem sentido, ganharia lógica no dia seguinte, 28 julho. Um grupo de quatro homens, em um carro, atearia fogo no acampamento do MST.
O incêndio foi detectado a tempo pelos acampados e não se propagou. Dentro do automóvel, estavam Ilton Ferreira Guimarães, Paulo Roberto Inácio da Silva, seu filho Daniel Salomão Silva e Genilton Menezes Santos, cunhado de José Alziton da Cunha Peixoto, primo do prefeito eleito e presidente da Fundação Tinô da Cunha, a quem pertencem as terras da Fazenda Manga do Gustavo, onde estão acampados os sem-terra, além da Fazenda Monte Cristo, que os trabalhadores rurais haviam ocupado inicialmente e onde pretendem ser assentados pelo Incra.Paulo Roberto é o locutor da Rádio Aracuã, controlada pela família Cunha Peixoto. A rádio é uma das trincheiras de ataque da família contra a freira e o MST.
Irmã Geraldinha é chamada de bruxa por Paulo Roberto. Ele também xinga as mulheres sem-terra de vagabundas, além de afirmar que o acampamento é local de prostituição. A conivência do antigo policiamento com a prática truculenta dos latifundiários se evidenciou na condução do caso. Os policiais demoraram horas para atender ao pedido de socorro, segundo relato dos acampados. Além disso, quando chegaram, inverteram a situação contra os sem-terra, que de vítimas, passaram a réus.
O boletim de ocorrência registrado pelos policiais militares coloca a freira, que nem estava no local no momento do incidente, como sendo responsável por seqüestro e cárcere privado dos quatro homens. Para desfazer a mentira, irmã Geraldinha teve de viajar 50 km até Jacinto, cidade mais próxima a Salto da Divisa, com delegacia de polícia, para registrar um boletim de ocorrência relatando o que de fato havia ocorrido. Mas o município de Jacinto não está imune ao poder da família Cunha Peixoto. O Fórum da cidade carrega o nome do pai de José Alziton da Cunha Peixoto.
A pressão contra a freira se intensificou a partir de 28 de outubro, logo após a realização de uma audiência contra o falso boletim de ocorrência da PM, que a transformava em sequestradora. No dia 30, um automóvel marca Corsa aparece próximo à entrada do acampamento. Nesse dia, a freira estava na cidade e voltaria sozinha de ônibus para o acampamento. Desceria na estrada e enfrentaria uma longa caminhada até os barracos. Certamente cruzaria com o carro que estava na tocaia.
Mas o frei capuchinho Emílio Santi Piro, padre da cidade, achou perigoso ela voltar de ônibus e emprestou o seu carro. A solidariedade cristã permitiu que ela cruzasse o ponto de encontro, antes que o veículo que esperava por ela chegasse. Quando irmã Geraldinha recebeu um telefonema informando que um carro estava na tocaia à sua espera, ela já estava no acampamento.
O mesmo veículo foi visto posteriormente na cidade: o motorista queria saber se a irmã estava no município. Na sequência, em 1º de novembro, a freira recebeu os três telefonemas a ameaçando de morte e resolveu quebrar o chip para atenuar a tormenta.Pelo menos dois homens que já ameaçaram a freira várias vezes são conhecidos: são dois ex sem-terra que foram expulsos do movimento pelos acampados porque eram violentos. Admilson e Caboclo passaram a trabalhar na administração do prefeito Ronaldo. Um é fiscal da varrição de ruas, o outro vigia em uma escola.
Coronelismo
José Alziton é outro que persegue os sem-terra desde o primeiro dia em que o acampamento foi formado. Irmã Geraldinha conta que logo após os sem-terra terem realizado a ocupação, Alziton apareceu na fazenda com duas armas na cintura, fazendo questão de mostrá-las e gritando que aquela fazenda era sua. “Quem mandou vocês entrarem, isso aqui é meu!”, afirmava, furioso. Ao que os sem-terra respondiam em coro: “MST, a luta é pra valer”.
Alziton não é o dono da fazenda ocupada. Ele presidia, até maio deste ano, o conselho da Fundação Tinô da Cunha, proprietária da Fazenda Manga do Gustavo e Monte Cristo, mas foi afastado do cargo por má administração. Em seu lugar, o Ministério Público nomeou um interventor. Além de Alziton, o prefeito Ronaldo também fazia parte do conselho da Fundação.Os recursos gerados pelas duas fazendas, e por mais três propriedades que pertencem à Fundação deveriam custear os gastos do único hospital da cidade que atendia à população. Os recursos desapareceram e aproximadamente 2 mil cabeças de gado sumiram do pasto. As dívidas com o INSS atingem a cifra de quase 2 milhões de reais, segundo o promotor de Justiça da Comarca de Jacinto, Bruno César Medeiros Jardini. “O hospital era utilizado para fazer política, angariar votos, mas o atendimento era precário”, critica o promotor.
O hospital praticamente fechou as portas, só atende casos de urgência. O prefeito não revela para a reportagem que fazia parte do conselho da Fundação Tinô da Cunha, responsável pela administração do hospital. Antes da eleição que o levou ao cargo de prefeito, o primo José Alziton chegou a encaminhar petição ao juiz da Comarca de Jacinto para se manter à frente da Fundação, argumentando que a posse de Ronaldo reduziria o problema financeiro do hospital. O prefeito Ronaldo nega à Caros Amigos que pretenda destinar recursos da prefeitura para o hospital.No entanto, ele tentou confundir a reportagem ao afirmar que a prefeitura pagava o salário de três médicos que atendiam no hospital. “O hospital está funcionando porque a prefeitura está pagando três médicos.” Na verdade, os médicos pagos pela prefeitura não atendem no hospital, mas na unidade básica de saúde. “Ficam de plantão no celular”, reconhece o prefeito. Ele não sabe explicar como ocorre a convocação dos médicos pelo celular, quando alguém passa mal. O hospital só atende casos de urgência. O prefeito nem ao menos sabe quantos enfermeiros trabalham no local. “Saúde é uma coisa muito cara”, afirma o prefeito, que tem um salário mensal de 8 mil reais.
Na região, a diferença de renda entre pobres e ricos é abissal. O próprio prefeito reconhece isso. Ninguém nega que o municipio de Salto da Divi­sa tem uma distribuição de renda muito maldosa, muito maléfica". O poder econômico dos latifun­diários é que permite, por exemplo, que se con­trate o elemento-chave e decisivo no meio agrário para que o terror persista no campo: os pistolei­ros ou jagunços, como são conhecidos os mata­dores de aluguel.
Essa tradição do coronelismo também permeou a família Cunha Peixoto, segundo apurou a repor­tagem. O avô do prefeito Democrata, Ronaldo, ti­nha vários jagunços para eliminar desafetos. A companheira de um desses pistoleiros que mata­va a mando de Orozimbo da Cunha Peixoto, o co­ronel Zimbu, concordou em conversar com a Ca­ros Amigos. Seu verdadeiro nome, por motivos de segurança, também será alterado e o de seu mari­do; omitido.
Os chefes da matança eram o coro­nel Zimbu, avô desse demônio que está na Prefei­tura, dona Inhá, Maria da Conceição Pimenta da Cunha e seu Tinô, Manoel Soares da Cunha Pei­xoto", conta Alzira Borges. Os dois últimos eram tios-avôs do prefeito.
Alzira sente segurança para contar essa histó­ria porque o marido já morreu, mas tem um pou­co de receio de que sua identidade seja revelada. Ele falava que se eu contasse alguma coisa, me matava", recorda. Ela também revela a estratégia utilizada pelos coronéis de Salto da Divisa, que torna compreensível o processo de enorme con­centração de terras nas mãos dessas famílias.
Essas fazendas foram tomadas na marra. Eles man­davam os pistoleiros para matar os posseiros. Se algum deles vacilasse e não matasse, morria tam­bém". conta. Alzira afirma que seu marido foi ma­tador do coronel Zimbu por mais de 20 anos. Ela conhece de perto essa história, mora em Salto da Divisa há mais de 50 anos.
O império conquistado pelos Cunha Peixoto ao longo de gerações é vastíssimo e invade tam­bém o Estado da Bahia. Segundo os sem terra. só em Salto da Divisa esses latifundiários do­
minam mais de 90% das terras. O prefeito Ro­naldo nega a versão. "Sei lá. mas deve girar em tomo de 20%. 25 %. no máximo 300/0 das terras. A minha família tem 23 mil hectares. juntando irmão, irmãs, primos, tios, todo mundo jun­to. não passa de 30%. Você pode levantar, pode passar no cartório para olhar", afIrma para mi­nimizar a indagação.
A reportagem entrou em contato com o lncra para obter detalhes sobre as propriedades, mas alterações no sistema de con­sulta aos dados impediram qualquer tipo de deta­lhamento sobre as propriedades.
"Não sei quantas fazendas a minha família tem. Acho que são 25, 30 fazendas, são fazen­das grandes", desconversa o prefeito. Ele afIrma ser proprietário de duas fazendas. que totalizam aproximadamente 900 hectares: Chácara Baiana e Atalaia. Em toda essa terra, nenhuma plantação. Só capim e aproximadamente 1.500 cabeças de gado de corte espalhadas pelo pasto


DOM TOMÁS BALDUíNO SE SOLIDARIZA COM A FREIRA

O bispo emérito de Goiás, Dom Tomás Bal­duíno, afirma que as ameaças contra a vida de Geralda Magela da Fonseca, a irmã Geraldinha, acontecem devido à sua destacada atuação para a efetivação da reforma agrária na região.
Ele fez questão de ir a Salto da Divisa para prestar solidariedade à freira. "A Geraldinha dá apoio aos trabalhadores e se toma um obstáculo ao latifúndio." O bispo, de 86 anos de idade, res­salta que a freira tem seu apoio. "Ela não está so­zinha, conta, inclusive, com apoio internacional importante. Vão pensar mais de uma vez antes de praticarem alguma repressão", conclui, ao se refe­rir a um eventual atentado contra a irmã.
Além de bispo, Dom Tomás também é conse­lheiro da CPT, a Comissão Pastoral da Terra. A participação do clero progressista na luta pela di­visão da terra dá calafrios nos latifundiários da re­gião. As petições encaminhadas por José Alziton da Cunha Peixoto ao juiz da Comarca de Jacinto revelam a ira dos latifundiários contra os religio­sos que defendem a reforma agrária.
"Esses simpatizantes, aliados e defensores da ditadura do proletariado, transvestidos de grupos religiosos ou de pretensos defensores dos direi­tos do cidadão ou de defesa do meio ambiente, infelizmente têm influenciado o digno promo­tor", afirma uma das passagens. Em outro tre­cho, a ideologização avança. "Alicerçados na Teo­ria da Libertação e amparados pelas Comunidades Eclesiais de Base, estes segmentos pífios, embo­ra barulhentos da Igreja Católica - desprezados e condenados pelo Papa Bento XVI e a maioria do clero contemporâneo, considerados os responsá­veis pelo êxodo dos fiéis - tem de forma irrespon­sável, sob o discurso da proteção aos excluídos, causado a cizânia em diversas regiões do país. No caso em pauta, trabalharam decisivamente para a invasão das terras da Fundação pelo Sr, enfa­tiza o texto.
Em uma outra passagem, cita expli­citamente a freira. "Como confessado pela irmã Geralda Magela da Fonseca e seus seguidores... demonstram à sociedade seu caráter ideológico de viés e iminentemente político. toda esta discussão a respeito da Fundação tem como objetivo único manchar a imagem da família Cunha Peixoto.
O primo de José Alziton e irmão do prefeito Ronaldo, Paulo da Cunha Peixoto, também tem verdadeiro pavor da irmã Geraldinha. MEssa freira não presta, só fica ensinando o que não deve para os acampados", conta um dos entrevistados que prefere não ter o nome revelado por medo de pos­síveis retaliações em função do que ouviu.
Os ataques contra o clero progressista não intimi­dam Dom Tomás. Ele argumenta que a luta pela re­forma agrária deve ser ainda mais ampla do que a mera conquista de um assentamento. "Deve ter o ob­jetivo de mudar a estrutura fundiária deste pais", sa­lienta. O sacerdote destaca que o Brasil é o recordista em concentração de terras. "Já superou Serra Leoa (na África). É preciso levar democracia ao campo."
Democracia é tudo o que os coronéis não que­rem que chegue à zona rural. Eles querem conti­nuar mandando. Por isso, perseguem todos aque­les que representam entraves a esse objetivo.
Além dos sem-terra, os latifundiários também perseguem os posseiros. José Alziton chegou a le­var a polícia para sequestrar os animais dos pos­seiros que moram na Fazenda Monte Cristo, da Fundação Tinô da Cunha, que ele presídía até ser destituído do cargo pelo Ministério Público por má administração.
"Pegaram os animais sem a nossa ordem e le­varam. Trouxeram soldados para nos intimidar", conta um dos posseiros que teve os animais rou­bados na presença da PM. O nível das arbitrarie­dades que são cometidas nos rincões mais distan­tes do país impressiona.
A Fazenda Monte Cristo de 1.400 hectares é um latifúndio improdutivo, conforme atesta o laudo do Incra de julho de 2005. O presidente Lula che­gou a assinar o decreto declarando a área de inte­resse social para fins de reforma agrária. A assina­tura do decreto presidencial é o último passo para que a área seja desapropriada pela Justiça.
Mesmo assim, a fazenda está sendo vendida com o consentimento do Ministério Público Es­tadual. O ex-presidente da fundação, José Alzi­ton, estaria, portanto, descumprindo uma deter­minação presidencial ao vender a propriedade. No entanto, os representantes da Fundação Tinô da Cunha deram uma cartada de mestre contra os sem-terra. Valendo-se das brechas da legislação, os advogados entraram com uma ação cautelar, para se prevenir da desapropriação. Eles sabiam que o laudo do Incra só poderia dar no que deu: a terra foi considerada improdutiva.
Mesmo assim o juiz acolheu a ação. "Normal­mente não se suspende um processo governa­mental por qualquer coisa", frisa o procurador do- Incra, Luzio Horta de Oliveira. Ele conta que a ar­gumentação que sustenta a peça afirma que a ren­da do imóvel sustenta um hospital, "e o juiz se sensibilizou com o argumento."
o Incra recorreu da decisão, mas o tribunal manteve. A baixa celeridade da justiça fez com que o decreto assinado pelo presidente Lula cadu­casse. A ação cautelar deverá ser julgada na 12°Vara Federal de Belo Horizonte. A reportagem da Caros Amigos entrou em contato com o juiz titu­lar da Vara', mas não obteve retomo até o fecha­mento desta edição.
São injustiças como essa que motivam irmã Geraldinha a continuar na luta contra o latifún­dio. A vocação para estar do lado dos oprimidos veio desde cedo. "Com dez, onze anos eu ouvia no rádio notícias sobre as irmãs missionárias que iam pelo mundo evangelizar, e gostava." Mas os pais pobres acreditavam que para formar uma fi­lha freira era preciso dinheiro. Geraldinha é mi­neira de São Domingos e tinha 14 irmãos. Deixou o sonho adormecido por algum tempo e teve dois namorados antes de se tomar a irmã Geraldinha.
Cresceu no ambiente rural e apesar de ter mui­tas afinidades com a vida religiosa só fez a pri­meira comunhão aos 16 anos. Com 22, foi crisma­da. Foi durante o curso preparatório para o crisma que ela percebeu que poderia se tomar freira. Foi para Salto da Divisa em 1993. Primeiro para mo­rar na cidade, e nestes últimos três anos vivendo sob uma lona preta no acampamento do MST.
"Não quero um pedaço de terra. Meu objetivo é acompanhar essas pessoas", revela: Ela também milita na"área de direitos humanos. É vice-presi­dente do GADDH (Grupo de Apoio e Defesa dos Direitos Humanos).
Lúcia Rodrigues é jornalista

Fonte: Caros Amigos

5 comentários:

  1. Olá b tarde, tava pesquisando as origens do meu pai que é natural de salto da divisa MG,um lugar interessante desde sua fundação,hoje ele mora na BA,segundo ele trabalhou e morou na chácara baina na fazenda dos Coronés orozimbu, Tino da Cunha Peixoto,ele lembra da dona Inhá Pimenta,Jose Alzito. meu pai sr. Adenar filho do sr. Teodomiro Gonçalves(meu avô) fazia canoas pra utilizar no rio jequitionha e sr.a Maximiana (minha vó) tds moravam na fazenda chácara baiana .meu pai lembra talvez uns 11 anos idade escapou de tomar bolo na delegacia como correção por tomar banho pelado no vale do jequi, uns meninos saíram correndo meu pai foi um deles, ficou sem sair de casa por um mês. At.Adroaldo. SP Email: (aldovoyage@hotmail.com) filho de Adenar Gonçalves natural de salto da divisa MG

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  2. Está claro q estória(com E mesmo)é advinda de interesses particulares,sem nenhuma responsabilidade,ética ou moral!Deveria tomar vergonha na cara o imbecil q escreveu isso.Seria trágico,se não fosse cômico!Bando de ociosos,preguiçosos,baderneiros.È isto a porcaria de Mst de Salto da Divisa.A maioria q está no acampamento não sabe nem o significado do termo reforma agrária!Só sabem q recebem a feira do mes no barraco,fazem farra pra ver o caco naqueles barracos.Essa irmanzinha nao é essa santidade q diz acima nao.É o capeta em figura de gente.Pode até haver resistencia,mas violencia para com eles(mst),jamais!Ao escrever uma reportagem,o melhor é embasar em fatos reais,com imparcialidade,pesquisando os dois lados!Mentirosos!Vão trabalhar com honestidade na utopia de vcs!

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  3. Companheiro anônimo leia um pouco sobre: a questão agrária brasileira, a concentração fundiária, violência no campo.
    alguns autores: Ariovaldo Umbelino Oliveira, Antonio Thomaz Jr. Bernardo Mançano Fernandes, Alberto Passos Guimarães, João Pedro Stedile entre outros.
    De uma pesquisada aqui no meu blog que encontrará varios textos desses pensadores discutindo os problemas agrários brasileiros. Certamente verá que seu posicionamento está totalmente equivocado.
    Companheiro, Bando de ociosos,preguiçosos,baderneiros são os latifundiários desse país, que a 500 anos assassinam indígenas, negros e camponeses. Exigimos prisão para todos essa camarilha de bandidos e corruptos!
    REFORMA AGRÁRIA JÁ!

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  4. Sou filha do Salto me orgulho sim, mas orgulho só não basta!!! Quem me dera ter a tamanha coragem da Irmã Rosa e Irmã Geraldinha gostaria muito de poder fazer um pouco por aquela cidade esquecida por seus governantes, uma cidade onde infelizmente o poder maior esta dividido em apenas dois partidos onde os mesmo são da mesma família. A população do Salto da Divisa-MG a maioria são idosa e estes não sabem onde e como buscar os seus direitos, alem disso tem todos tememos, e sofremos ameaças. O Salto da Divisa esta morrendo, nossos jovens estão no mundo das drogas. EU CLAMO SOCORRO POR TODOS OS HABITANTES QUE RESIDEM E OS QUE SAÍRAM EM BUSCA DE UMA TRABALHO E OU ESTUDO.

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  5. Sou filha do Salto me orgulho sim, mas orgulho só não basta!!! Quem me dera ter a tamanha coragem da Irmã Rosa e Irmã Geraldinha gostaria muito de poder fazer um pouco por aquela cidade esquecida por seus governantes, uma cidade onde infelizmente o poder maior esta dividido em apenas dois partidos onde os mesmo são da mesma família. A população do Salto da Divisa-MG a maioria são idosa e estes não sabem onde e como buscar os seus direitos, alem disso tem todos tememos, e sofremos ameaças. O Salto da Divisa esta morrendo, nossos jovens estão no mundo das drogas. EU CLAMO SOCORRO POR TODOS OS HABITANTES QUE RESIDEM E OS QUE SAÍRAM EM BUSCA DE UMA TRABALHO E OU ESTUDO.

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