terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Três redes de supermercados controlam metade dos alimentos

Artigo 1 - Três redes de supermercados controlam metade dos alimentos
Artigo 2 - A cara oculta dos supermercados


Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), juntas as redes de supermercados Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar controlam 50% dos alimentos comercializados no Brasil. Considerados os três maiores grupos do segmento em atuação no país, eles são responsáveis pela maior parte dos 20 mil produtos com marcas próprias lançados anualmente. O integrante da Via Campesina Luiz Zarref, acredita que essa concentração do mercado de alimentos desestabiliza as economias locais e prejudica tanto o agricultor, como os pequenos e médios empresários. Além disso, reduz a presença de produtos orgânicos nas prateleiras. Atualmente, 10 empresas dominam o mercado mundial de sementes, chegando a operar 70% do fornecimento aos produtores rurais. Para Zarref, os agricultores perderam a autonomia sobre a produção quando as grandes empresas romperam o sistema de adubação, que antes era de origem animal e foi substituído por adubos químicos. Zarref ainda lembra que a demanda por produtos como milho e soja em países com problemas de segurança alimentar está reduzindo as áreas cultivadas com outras variedades de alimentos, o que determina os altos preços repassados ao consumidor. (pulsar/anp) Fonte: http://www.brasil.agenciapulsar.org/nota.php?id=7397

A cara oculta dos supermercados
Por Esther Vivas

[EcoDebate] A grande distribuição comercial (supermercados, hipermercados, cadeias de desconto…) têm experimentado nos últimos anos um forte processo de expansão, crescimento e concentração industrial. As principais companhias de venda a varejo passaram a formar parte do ranking das maiores multinacionais do planeta e se converteram em um dos atores mais significativos do processo de globalização capitalista.

Seu aparecimento e desenvolvimento mudaram radicalmente nossa maneira de nos alimentar e de consumir, submetendo essas necessidades básicas a uma lógica mercantil e aos interesses econômicos das grandes corporações do setor. Produz-se, distribui-se e se come aquilo que se considera mias rentável, obviando a qualidade de nossa alimentação. Aditivos, corantes e conservantes têm se convertido em algo cotidiano na elaboração do que comemos. Nos Estados Unidos, por exemplo, devido á generalização da comida rápida, calcula-se que cada cidadão ingere anualmente 52 quilos de aditivos, fato que gera crescentes doses de intolerância e alergias. O publicitado como “natural” não tem nada de ecológico e é resultado de processos de transformação química. Nossa alimentação, longe do que produzem os ciclos de cultivo tradicionais no campo, acaba desembocando em uma alimentação “desnaturalizada” e de laboratório. Suas consequências? Obesidade, desequilíbrios alimentares, colesterol, hipertensão…; e os custos acabam sendo socializados e assumidos pela saúde pública.

Os alimentos “viajantes” são outra cara do atual modelo de alimentação. A maior parte do que comemos viaje entre 2.500 a 4.000 quilômetros antes de chegar a nossa mesa, com o conseguinte impacto ambiental, quando, paradoxalmente, esses mesmos produtos são elaborados em âmbito local. A energia utilizada para enviar alfaces de Almería para a Holanda, por exemplo, acaba sendo três vezes superior à utilizada para cultivá-las. Nos encontramos diante de um modelo produtivo que induz à uniformização e à estandardização alimentar, abandonando o cultivo de variedades autóctones em favor daquelas que têm uma maior demanda por parte da grande distribuição, por suas características de cor, tamanho, etc. Trata-se de baratear os custos de produção, aumentar o preço final do produto e conseguir o máximo benefício econômico.

Segundo o sindicato agrário COAG, os preços na origem dos alimentos chegaram a multiplicar-se até por 11 no destino, existindo uma diferença média de 390% entre o preço na origem e no final. Calcula-se que mais de 60% do lucro do preço do produto vai parar na grande distribuição. A situação de monopólio no setor é total: cinco grandes cadeias de supermercados controlam a distribuição de mais da metade dos alimentos que são comprados no Estado Espanhol, embolsando um total de 55% da quota de mercado. Se a isso somamos a distribuição realizada pelas duas principais centrais de compra maioristas, chegamos à conclusão de que somente sete empresas controlam 75% da distribuição de alimentos. Essa mesma dinâmica se observa em muitos outros países da Europa. Na Suécia, três cadeias de supermercados têm 95,1% da quota de mercado; na Dinamarca, três companhias controlam 63,8%; e na Bélgica, na Áustria e na França umas poucas empresas dominam mais de 50%.

Uma tendência que se prevê ainda maior nos próximos anos e que se visualiza muito claramente a partir do que se passou a chamar “teoria da trapaça”: milhões de consumidores por um lado e milhares de camponeses pelo outro e somente umas poucas empresas controlam a cadeia de distribuição de alimentos. Na Europa, são contabilizados uns 160 milhões de consumidores em um extremo da cadeia e uns três milhões de produtores no outro; no meio, umas 110 centrais e grupos que compram e controlam o setor. Esse monopólio tem graves consequências não só para o agricultor e para o consumidor, mas também para o emprego, para o meio ambiente, para o comércio local e para o modelo de consumo.

Porém, existem alternativas. Em um planeta com recursos naturais finitos, é imprescindível estabelecer um modelo de consumo responsável e consumir em função do que realmente necessitamos, combatendo um consumismo excessivo, antiecológico e supérfluo. Na prática, podemos abastecer-nos através de circuitos curtos e de proximidade, nos mercados locais, e participar na medida das possibilidades em cooperativas de consumidores de produtos agroecológicos, cada vez mais numerosas em todo o Estado, que funcionam no âmbito barrial e que, a partir de um trabalho autogestionado, estabelecem relações de compra direta com os camponeses e produtores de seu entorno.

Da mesma forma, é necessário atuar coletivamente para estabelecer alianças entre distintos setores sociais atingidos por esse modelo de distribuição comercial e pelo impacto da globalização capitalista: camponeses, trabalhadores, consumidores, mulheres, migrantes, jovens… Uma mudança de paradigma na produção, na distribuição e no consumo de alimentos somente será possível em um marco mais amplo de transformação política, econômica e social e para consegui-lo é fundamental o impulso de espaços de resistência, de transformação e de mobilização social.

Esther Vivas em Madri, abril de 2008. Foto da Wikipedia

* Esther Vivas é co-autora de “Supermecados, no gracias” (Icaria editorial, 2007) e membro do Centro de Estudios sobre Movimientos Sociales (CEMS) – Universitat Pompeu Fabra, colaboradora internacional do EcoDebate

** Artigo enviado pela Autora e originalmente publicado no Público, 25/02/09. Tradução: ADITAL

Fonte: http://www.ecodebate.com.br


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