sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Liberdade de expressão: já aconteceu com você?


Liberdade de expressão começa em casa, ou melhor dizendo, na própria redação. Como pedir o bom exemplo se nós não temos um comportamento exemplar? OK, ser contraditório faz parte da natureza humana ou da empresarial. Afinal de contas um veículo de comunicação é, em última instância, um negócio, com todas as relações humanas e as pressões de poder que existem dentro da sociedade. É preciso, por isso, aprender a conviver com limites, reconhecer as imperfeições e consertar o que não está bom. Como também é fundamental ir, sempre, atrás da velha e boa coerência – que teima em fugir de nós, do berço à sepultura. Apontar os problemas dos outros sim, mas reconhecer em nós as mesmas falhas é importante.
Cada uma das linhas abaixo brotou de uma história que ocorreu, nos últimos tempos, em alguma redação espalhada pelo país, da progressista à conservadora, da grande à pequena. Nomes? Ah, pra quê? Já perguntava Shakespeare: “O que há num simples nome? O que chamamos rosa com outro nome não teria igual perfume?”
Não, não aconteceu nada comigo e não estou fazendo isso em resposta à nada específico. Ocorreu-me apenas lembrar aos colegas da imprensa que ninguém está sozinho. Afinal, se alguma dessas situações já aconteceu com você, primeiro relaxe, depois vá à luta. E seja bem vindo à condição de jornalista.
Liberdade de expressão é:

- Não ligar para redação xingando jornalista por matéria sobre o chabú no metrô

- Não demitir por telefone o pobre repórter que discordou educadamente da linha editorial do veículo

- Não usar nunca a frase “coloca isso na capa porque quem manda aqui sou eu”

- Ter a certeza de que a denúncia contra aquele anunciante amigo do patrão vai sair mesmo

- Saber que a apuração virá da reportagem e não da sala da chefia

- Não ser demitido porque o usineiro amigo do dono do jornal se sentiu ofendido com a verdade

- Não sofrer preconceito dos colegas da imprensa por trabalhar em um veículo de esquerda ou de direita

- Ter reunião de pauta em que participe mais gente do que apenas o diretor de redação

- Não ser delicadamente removido para setorista de rodoviária porque reclamou de censura prévia

- Não ver seu texto tão alterado a ponto de ter que pedir para tirar seu nome dele

- Não se sentir oprimido ou com pavor de dar uma opinião contrária na reunião de pauta

- Não te entregarem o título pronto da matéria antes de você sair para a apuração

- Não ser proibido um homem usar brinco ou uma mulher ter tatuagem na redação

- Não ter que criar conta falsa de e-mail para dizer ao chefe o que pensa daquela matéria bisonha

- Não ter que fazer hora extra só para salvar o péssimo texto do amigo do chefe que deve entrar amanhã

- Não ser monitorado no twitter pela empresa jornalística em que trabalha

- Ficar no fechamento até tarde sem medo de que o editor tente levar você para cama

- Não perder uma promoção por conta de posicionamento ideológico

- Ao trabalhar em TV e agência públicas, não ter que prestar serviço de assessoria a político

- Fazer uma entrevista sem ter medo do editor mudar as idéias da fonte depois

- Não ser obrigado a defender igreja caça-níquel e a chamar umbanda de coisa do capeta
Fonte: Blog do Sakamoto

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