O assentamento da reforma agrária João Gomes, que fica na Grande Mucatu, em Alhandra, no Litoral Norte, está cercado para a Polícia Militar para o despejo de índios e trabalhadores rurais que ocuparam a área desde o início deste mês. O deputado Frei Anastácio, que tenta intermediar o conflito, denunciou que foi agredido por policiais (veja abaixo).
Os lotes foram comprados pela fábrica Elizabeth para instalação de uma fábrica de cimento. Segundo a irmã Tania Maria, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o clima no local é muito tenso. Os índios ameaçam resistir ao despejo e pode haver confronto.
Os advogados da Comissão Pastoral da Terra, o Ouvidor Agrário do INCRA e o deputado estadual Frei Anastácio estão na área tentando negociar uma solução pacífica, para evitar confronto. A tropa da PM que se encontra na área está comandada pelo coronel Castro.
O coordenador de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar, tenente coronel Josman Lacerda,também está na área tentando uma forma pacifica.
O cacique dos Tabajaras, Ednaldo dos Santos (Araquém) afirmou que os índios estão prontos para o confronto, se forem abordados pelas polícias militares. "Estamos prontos para dar nosso sangue pela terra que é nossa", afirmou Araquém, que está com pintura de guerra.
Agressão
O deputado estadual Frei Anastácio denunciou que foi agredido por três policiais militares, quando tentava entrar no assentamento no início da manhã desta quarta-feira.
Segundo o deputado, três policiais de moto tentaram impedir que ele tivesse acesso a área.
“Eles torceram meus braços para traz, com força, e só não me espancaram porque os índios que estão na área correram para me acudir”, disse Frei Anastácio.
O parlamentar já comunicou o fato ao presidente da Assembléia Legislativa e irá fazer exame de corpo de delito, no Instituto de Polícia Científica.
“Além de agredirem um parlamentar, os policiais também cometeram agressão contra um idoso, já que tenho 66 anos idade. Em toda minha luta, de quase 40 anos, nunca fui tão maltratado com força física pela PM, nem durante a ditadura militar eu passei por isso. Até mesmo quando fui preso, não passei por tanta humilhação”, desabafou o deputado.
Frei Anastácio foi ao local para dar apoio aos índios e trabalhadores, já que mais de 200 homens da PM estavam na área para realizar o despejo.
O deputado reafirma que é contra a instalação da fábrica dentro do assentamento.
“Essa fábrica irá explorar quase três mil hectares de terras.Outras três fábricas estão programadas para a área.Se isso acontecer,mais de 10 mil famílias irão ser atingidas”,disse o deputado.
Frei Anastácio explicou que os índios ocuparam os três lotes comprados pela cerâmica Elizabeth, numa ação de retomada de suas terras na região do litoral sul do estado da Paraíba.
Os indígenas reivindicam a demarcação de aproximadamente 10.000 hectares.
“Essas terras hoje estão ocupadas, em sua maioria, pelo Grupo João Santos, pelo monocultivo de cana-de-açúcar da destilaria Tabú e por assentamentos, além de ser uma área que sofre intenso assédio de empresas privadas. Mas, as terras que estão nas mãos dos assentados não são reclamadas pelos índios, já que cumprem sua função social”,explicou Frei Anastácio.
O deputado relata que, no entanto, no momento em que as terras são vendidas para o capital privado, os índios entram em ação e querem a posse.
“É isso que está acontecendo na grande Mucatu.Essa área está incluída na luta pela demarcação que os Tabajaras querem.Eles reivindicam as terras que vão do Rio Gramame até o Rio Pipoca, uma extensa área que fica entre os municípios de Conde, Alhandra e parte de Pitimbu.
“Dessa forma, as terras que forem vendidas em assentamentos e as que estão sendo exploradas pelo capital privado, são alvo dos índios e eu estou ao lado deles e dos trabalhadores que querem viver de duas terras”,concluiu Frei Anastácio.
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