Revolutas - [Socialist Worker] Em 25 de janeiro, a cabeça do regime caiu, mas deixou o corpo corrupto. O povo jurou que não iria parar antes da queda do regime: se não for hoje, será amanhã. Muito pouco tempo atrás, o porta-voz do Conselho Militar, major General Fangari, saudou os mártires da revolução e comoveu os corações egípcios lembrando os dias que dizia aos quatro ventos que o exército e o povo eram "um só braço". Hoje, ele acena com outro tipo de mensagem aos revolucionários: ameaça "tomar todas as medidas necessárias para enfrentar o perigo que cerca a pátria, a menos que cesse o processo de contestação que está em curso (...), assim como os rumores e mal-entendidos que levam à discórdia, à rebelião e à promoção dos interesses de uma pequena minoria em prejuízo do país como um todo". O major chama os cidadãos honestos a trabalhar pelo retorno da vida normal para "nosso grande povo", e, apontando o dedo na cara de pessoas como Mubarak, insiste em que "as Forças Armadas não permitirão que ninguém tome o poder ou substitua a autoridades, exceto no quadro de legitimidade legal e constitucional”. Assim terminou o discurso, feito menos de 24 horas após o anúncio da curta gestão do primeiro-ministro Essam Sharaf, e que confirmou que o ministério Sharaf nada mais é do que uma máscara que esconde a cara feia do regime militar. Mas nos últimos seis meses, as pessoas começaram a perceber o joguinho combinado entre o Primeiro-Ministro fazendo o papel de "tira bom", enquanto o "tira mau" é representado pelo Conselho Militar. A posição dos revolucionários é a de que, desta vez, não haverá como voltar atrás. Vamos ocupar as ruas até as exigências da revolução serem atendidas. Isto significa, inevitavelmente, justiça para os mártires que derramaram o seu sangue nas praças do Egito, lutando por liberdade. Não vamos aceitar menos do que um julgamento justo e público dos criminosos do regime de Mubarak e dos assassinos dos que tombaram lutando. Não vamos deixar de exigir justiça social e dignidade através da implementação de um salário mínimo decente, condições dignas de trabalho e o fim da escravidão do contrato temporário de trabalho. Vamos defender o nosso direito à greve e ocupações. Esses direitos não foram concedidos. Foram conquistados pelo povo através de anos de luta nas ruas. Anos com o gosto amargo de prisões, tortura e perseguição. Não aceitaremos nenhuma lei do Conselho Militar que criminalize as greves e ocupações, nem punições que tentem tirar esses direitos do povo. Os tribunais militares, que roubaram anos da vida de nossos jovens lutadores, deveriam ter sido acionados para processar o presidente deposto em sua qualidade de ex-chefe das forças armadas, em vez de dar-lhe o luxo de um julgamento civil. O fato é que o ex-ditador vem sendo protegido pelo Conselho Militar, que, ora adia a data do julgamento sob o pretexto de que ele está doente, ora espalha rumores sobre sua morte iminente. Não estamos questionando “o processo em curso". Estamos denunciando que o processo é lento e suspeito, pois pretende impedir que seja feita justiça aos policiais assassinos. Estamos dizendo ao mundo que 10 mil filhos deste país estão trancados em prisões militares, depois de sofrer as piores torturas. Sabemos que o sistema está fazendo todo o esforço para impedir que o povo recupere a riqueza que lhe foi saqueada ao longo de décadas. Sabemos que somente os revolucionários estão sendo levado aos tribunais militares, enquanto os assassinos desfrutam de julgamentos em tribunais civis, com direito a liberação sob fiança. Não espalhamos “falsos rumores". Dizemos a verdade que estão tentando esconder. A verdade é que a pobreza e a repressão, tortura e detenções ainda estão ocorrendo em toda parte, desde 25 de janeiro, do mesmo modo que vinham acontecendo antes. A diferença é que as prisões comuns foram trocadas pelas prisões militares. Promotores militares estão no lugar dos promotores públicos. Tribunais militares tornaram-se tribunais de exceção. As leis de emergência não satisfizeram os governantes militares: eles criaram novas leis que criminalizam greves e ocupações em uma tentativa de tirar a liberdade dos egípcios. O orçamento que o governo nos prometeu que seria justo acabou promovendo cortes nos gastos com saúde, educação e aposentadorias, a fim de financiar o Ministério do Interior e do Exército. Os interesses do povo não são "minoritários". Suas demandas são por pão, saúde, educação, habitação digna, liberdade de expressão. O direito ao trabalho e à realização da justiça está no centro das exigências da Revolução. Eles não se comparam com os estreitos interesses de empresários e seus colaboradores, que não cessam de saquear a riqueza do povo. Essas pessoas estão aterrorizadas pelas bolsas em queda, mas não se comovem pelo sangue derramado por 1.200 mártires ou pelo fato de que metade da população vive abaixo da linha da pobreza ... ou que os jovens estejam perdendo anos de suas vidas na prisão. Tudo o que lhes interessa são suas gordas contas bancárias e continuar a sugar sangue e suor dos trabalhadores. Finalmente, os revolucionários não querem "tomam o poder": este é deles por direito. Este país deve ser governado por quem derramou seu sangue por ele. Se alguém "tomou o poder" sem legitimidade, foi o Conselho Militar e os seus aliados, que não foram convidados por ninguém para governar o país. Na verdade, roubaram - ou tentam roubar - a revolução pela força, aproveitando a euforia do povo pela derrubada do ditador. Aqueles que apontam seus dedos e ameaçam os revolucionários não entendem o que significa perder seus filhos. Não no campo de batalha contra um inimigo estrangeiro, mas no solo de sua terra natal, nas mãos de policiais cujos salários eram pagos por suas vítimas. Eles não entendem o que aconteceu no dia 25 de janeiro. Naquele dia, o povo do Egito levantou-se, determinado a nunca mais ser escravizado, humilhado ou explorado. Em 25 de janeiro, o povo egípcio recuperou seu senso de dignidade e confiança e conseguiram derrubar os símbolos da ditadura. A cabeça caiu, mas deixou o corpo corrupto. O povo jurou que não iria parar antes da queda do regime: se não for hoje, será amanhã. Glória aos mártires! |
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Declaração dos revolucionários socialistas no Egito: a máscara caiu
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