quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um símbolo grotesco da fome na África


O Marxista-Leninista - Mulheres desesperadas apertam seus estômagos com cordas para diminuir dor da fome, comendo praticamente nada para que seus filhos possam se alimentar.

É cada vez maior o número de crianças caindo mortas durante a longa e difícil jornada rumo aos campos de refugiados. Aqueles que conseguem chegar ficam mais desnutridos que antes. E, de acordo com as Nações Unidas, o número de pessoas sob ameaça chegou agora a 11 milhões - como se cada homem, mulher e criança na Bélgica estivessem passando fome. Assim, a crise crônica de alimentos no Chifre da África se agudiza em direção a uma fome generalizada.

Uma imagem captura bem a atrocidade degradante enfrentada por milhões. Não é aquela de uma criança de olhos esbugalhados, barriga inchada chorando por comida - apesar de haver inúmeras dessas. É a visão de mães usando cordas para amarrar seus estômagos de forma a amenizar as dores da fome enquanto podem dar o que encontram de comida aos seus filhos - uma paródia grotesca das bandas gástricas usadas para emagrecimento no Ocidente.

Esta perigosa prática já foi destacada pela ActionAid. Zippora Mbungo, uma avó de 86 anos de idade de Makima, Quênia, disse aos funcionários da agência: "Eu amarro esta corda na minha cintura para segurar meu estômago e evitar sentir dor. Na maior parte do tempo temos pouca comida, então eu dou aos meus netos primeiro, sobrando pouco ou quase nada para mim." E acrescenta: "Essa é uma das piores secas que já vi em minha vida." Philip Kilonzo, da ActionAid do Quênia, disse: "Esta prática mostra o quão desesperadas essas mulheres estão. Mas isso pode ser mortal - mulheres morreram depois de subitamente desamarrarem seus estômagos quando a comida apareceu."

O desastre, classificado pela Unicef como "a pior crise humanitária no mundo", é o resultado de uma das mais terríveis secas em 60 anos, a qual levou a repetidas más colheitas e à morte de um grande número de animais de granjas. Cerca de 2,9 milhões de pessoas na Somália - um terço da população - precisa de ajuda humanitária, enquanto em torno de 4,5 milhões, de uma população de 80 milhões, são afetados na Etiópia. No Quênia - a fonte de influência e potência econômica da região -, em torno de 3,5 milhões correm risco de fome, dizem as Nações Unidas. Duncan Harvey, o diretor da Save the Children na Etiópia, diz: "Em termos de números absolutos de pessoas afetadas, esta é uma das piores secas que o mundo já viu por um longo período."

Fome e falta de esperança em suas próprias regiões levaram centenas de milhares a viajar por terras áridas durante dias rumo a campos na Etiópia e no Quênia. No final da última semana, por exemplo, oficiais estadunidenses conversaram com uma mãe que tinha chegado a um campo com seis crianças, incluindo uma com sete anos de idade sofrendo de poliomielite, a qual ela teve que carregar nas costas.

A gravidade dessa provação de longa distância pode ser medida por aqueles que não a fazem. Fora do vasto complexo de refugiados de Dadaab, no Quênia, corpos jovens e já sem vida são abandonados pelos pais sobre o terreno arenoso que leva ao campo. Ninguém sabe quantos morreram antes de chegarem àquele ponto, e, em outros casos, os pais pereceram na jornada, deixando crianças caminhando sozinhas pelo sertão. Andrew Wander, um porta-voz do Save the Children, diz que a agência tem prestado cuidados a mais de 300 crianças desacompanhadas encontradas à beira da estrada depois que os pais morreram ou foram abandonadas.

A agência de refugiados das Nações Unidas diz que cerca de 40% das crianças somalis que chegam a Dadaab estão desnutridas. Mais crianças morreram aqui nos primeiros meses do ano do que em todo o ano passado. A cada dia, mais de 1.400 chegam a este vasto complexo lotado com casas improvisadas de paus e lonas, onde mais de 440 mil pessoas estão abarrotadas dentro e em volta de um campo construído para 90 mil. Alexandra Lapoukhine, da Care International, disse: "Isso tem feito com que o processo de registro demore muito mais. Ao contrário de antes, quando durava poucas horas ou no máximo um dia, agora precisa-se de três ou quatro semanas no mínimo." Ela disse que as Nações Unidas e o governo do Quênia estão no momento tendo reuniões e tentando permissão para expandir o campo.

Casos de estupro e outros ataques violentos contra mulheres dobraram entre os refugiados de conflitos e fome no leste da África, de acordo com membros do Comitê de Emergência de Desastres. O plantel da Care International em dois centros de triagem no campo afirma que casos relatados subiram a 136 nos primeiros seis meses do ano, comparados com 66 no mesmo período em 2010. Lopoukhine disse: "O período mais perigoso para refugiados é quando eles estão no caminho. Mulheres e crianças são especialmente vulneráveis a estupros, sequestros, doenças e mesmo à morte durante a jornada. Muitas mulheres partem sozinhas com seus filhos, deixando os maridos para trás, e elas andam por semanas em busca de comida e segurança."

Na Etiópia, somalis fugindo da seca e da violência intensificada tem chegado ao número de mais de 1.700 por dia. A taxa média de mortalidade nos campos da Etiópia é de sete pessoas a cada 10 mil por dia, quando a taxa normal em crises é de 2 ao dia, disse um oficial do governo estadunidense. A razão das mortes estarem tão altas aqui e por todas a região não é apenas devido à fome mas também devido a doenças que tem se aproveitado de pessoas enfraquecidas pela desnutrição. A Organização Mundial de Saúde disse que há um alto risco de propagação de doenças infecciosas, especialmente poliomielite, cólera e sarampo.

Cinco milhões de pessoas correm risco de cólera na Etiópia, onde a diarréia aguda se espalhou em condições insalubres, disse a OMS nesta sexta-feira. A cólera, uma infecção intestinal, causa diarréia aguda que pode rapidamente levar à desidratação e à morte se não é tratada rapidamente. Há também sarampo, com dois milhões de crianças etíopes em risco: a doença pode ser fatal para crianças. Oficiais etíopes registraram 17.584 casos de sarampo e 114 mortes durante a primeira metade do ano. A doença também se espalhou pelos campos do Quênia, com 462 casos confirmados, incluindo 11 mortes, diz a OMS.

Em resposta à crise de alimentos e de saúde, uma grande operação de ajuda está rapidamente ganhando força. Durante oito dias, os britânicos doaram 18 milhões de libras para o Comitê de Emergência de Desastres. O governo britânico anunciou ontem mais uma ajuda de 52 milhões de libras, a qual irá, entre outras coisas, prover tratamento para quase 70 mil crianças criticamente desnutridas na Somália, oferecer cuidados médicos e água limpa para 130 mil nos campos de Dadaab, ajuda similar a 100 mil nos campos etíopes e prover auxílio extra para 300 mil quenianos, incluindo rações especiais para crianças desnutridas.

Reuben E Brigety, um oficial do Departamento de Estado dos EUA, responsável pela assistência aos refugiados e às vítimas do conflito na África afirmou: "Há muitos profissionais experientes que podem confirmar que não se via uma crise tão grave quanto essa por pelo menos uma geração." E acrescentou: "E ainda vai ficar pior antes de melhorar."

Fonte: http://www.diarioliberdade.org/

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