
  Escrito e enviado  por Pedro Porfírio
“Depois de estudar 23 países, Raymond  Baker, diretor de um think tank  de Washington, elevou (as perdas com as fraudes)  a US$ 2 trilhões, e  conclui que 3% do total podem ser atribuídos à corrupção  política, um  terço ao crime organizado e entre 60% e 65% a manobras ilícitas de   pessoas físicas e grandes empresas. 
Traduzindo: os ricos evadem o dobro do  dinheiro que os políticos e o crime organizado juntos”. 
Marcos Oliveira e  Sérgio Souto, colunistas do MONITOR MERCANTIL
   | No  gráfico acima, para onde vai o dinheiro roubado ou sonegado
 | 
 
 
É   curioso, mas a gente raramente vê na grande mídia falatório sobre as  fraudes dos  empresários grandalhões, assim como não se exibe os  corruptores ao lado dos  corrompidos – e, como qualquer rapazote sabe,  no ritual da corrupção um não  existe sem outro.
Está  claro que a  corrupção é um cancro que se espalha sob formas variadas.  Mas a amplitude de sua  genealogia é restrita a alguns especialistas  cujas revelações são confinadas no  âmbito de alguns círculos  intelectuais.
Raymond Baker talvez  tenha sido quem mais se aprofundou na devassa dos crimes de dilapidação do  dinheiro público. Autor de  “Capitalism’s  Achilles  Heel: Dirty Money and How to Renew the Free-Market System” (O   Calcanhar-de-Aquiles do Capitalismo: O Dinheiro Sujo e Como Reavivar o  Sistema  de Livre Mercado), ele  hoje está á frente da Força-Tarefa sobre Integridade Financeira e  Desenvolvimento Econômico,  que  reúne entidades da sociedade e cerca de 50 governos, ligados na   investigação e análise do uso criminoso do dinheiro público e da  sonegação  institucionalizada.
Radiografia da  grande corrupção
Em outubro de 2005,  Baker escreveu: 
“Ao  longo das últimas quatro décadas,  foi sendo aperfeiçoada uma estrutura  que facilita as transações financeiras  internacionais ilegais. Essa  estrutura de “dinheiro sujo” consiste em paraísos  fiscais, jurisdições  sigilosas, cobrança de preços por transferências, empresas  de fachada,  fundações anônimas, contas secretas, solicitação de lucros obtidos  de  fontes ilegítimas, propinas e brechas remanescentes nas leis dos países   ocidentais que encorajam a entrada de dinheiro criminoso e decorrente  da  sonegação de impostos.
Apenas  o esboço dessa estrutura já  existia em 1960, por exemplo. Hoje,  aproximadamente metade do comércio entre  países envolve partes deste  sistema, que frequentemente é usado para gerar,  transferir e ocultar  dinheiro ilegal. 
Muitas  multinacionais e bancos  internacionais fazem uso rotineiro dessa  estrutura, que funciona ignorando ou  desviando-se das tarifas, dos  impostos, das leis financeiras e da legislação  contra a lavagem de  dinheiro. O resultado é pura e simplesmente a legitimação da   ilegalidade”.
Trabalhando  com base  nos estudos de Raymond Aron, John Christensen, do  Secretariado internacional da  Rede pela Justiça Fiscal, observou:  
“A  sonegação de  impostos corrompe os sistemas fiscais do Estado moderno e  solapa a capacidade de  prover serviços exigidos por sua cidadania.  Isso representa a forma mais alta de  corrupção, pois priva diretamente a  sociedade de recursos públicos legítimos.  Entre os sonegadores estão  instituições e indivíduos que desfrutam de posições  sociais  privilegiadas, porém se consideram uma elite separada da sociedade e   rejeitam “quaisquer obrigações intrínsecas à cidadania numa sociedade  normal”  (Reich, 1992)
Esse  grupo inclui indivíduos ricos e  pessoas de renda alta, além de uma  infra-estrutura de colarinho branco de  banqueiros profissionais,  advogados e contadores, acompanhados de uma  infra-estrutura  extraterritorial de paraísos fiscais com sistemas de governo,   judiciários e autoridades regulatórias quase independentes. 
Portanto,  esse tipo de corrupção  envolve um conluio entre atores do setor  privado e público que exploram seu  status privilegiado para solapar os  regimes fiscais nacionais.”
No  caso da  sonegação, esses estudiosos não se referem às empresas e às  pessoas que são  massacradas por um fisco insaciável, mas a quem mexe  como muita grana, como os  banqueiros, e pagam percentualmente muito  menos do que pequenos e médios  contribuintes pelas razões detectadas  por eles.
Os grandes vilões do  dinheiro sujo
É o que demonstrou  Carlos Drummond, jornalista e professor da FACAMP:
“Longe  de ser atributo apenas de  algumas pequenas corretoras, de  distribuidoras de valores obscuras, de  escritórios de doleiros e de  comerciantes e industriais isolados que se envolvem  com sonegação,  falsificações contábeis, contrabando, roubo de cargas, mercado  negro e  adulteração de produtos, a transgressão disseminou-se no mundo dos   negócios a ponto de estar presente hoje em grande parte das transações  entre  empresas”. 
E deu exemplo: 
“O  quadro geral dos negócios denota  um fenômeno profundo, como indicou um  banqueiro paquistanês entrevistado por  Baker: "Nós perdemos a  distinção entre o que é legal e o que é ilegal. Ninguém  odeia as  pessoas que obtêm dinheiro através de meios ilegais. A sociedade não   está agindo como uma coibidora”. 
E disse mais:  
“As  evidências do problema são abundantes. Fraudes,  roubos, práticas  corruptas, irregularidades contábeis, reduções fictícias de  valores de  ativos, crimes tributários, conflitos de interesses e outras   transgressões cometidas por ícones como Citigroup, J.P. Morgan Chase,  Enron,  WorldCom, Bank of America, Bankers Trust, Bank of New York,  Bankers Trust,  Halliburton, Global Crossing, Arthur Andersen e mais de  uma centena de outras  grandes empresas de renome mundial no passado  recente provocaram perdas para  milhões de contribuintes, consumidores,  aposentados e pequenos acionistas, tudo  noticiado amplamente pela  imprensa. O restante da América coleciona exemplos  semelhantes, tanto  na área financeira como na indústria, no comércio e nos  serviços”.  
Onde o dinheiro  roubado faz falta
Quando  se fala no  Brasil em corrupção, os cálculos de seus danos se limitam  às patifarias dos  políticos, o que por si já causa enormes estragos,  apesar de representaram  apenas 3% do banquete das fraudes.
Em  maio de 2010, O  Decomtec (Departamento de Competitividade e  Tecnologia) da FIESP divulgou um  estudo que deu uma dimensão dos  prejuízos econômicos e sociais que a corrupção  causa ao País.
Segundo  dados de  2008, o custo médio anual da corrupção no Brasil gira em  torno de R$ 41,5  bilhões a R$ 69,1 bilhões, o que representa de 1,38% a  2,3% do PIB (Produto  Interno Bruto).
O estudo também  mostrou que, se o Brasil estivesse entre os países menos corruptos do mundo,  a renda per capita do  País entre 1990 e 2008 - que foi US$ 7.954 -  subiria para US$ 9.184,  aumento de 15,5% na média do período, ou o equivalente a  1,36% ao ano.
O  levantamento ainda  traz simulações de quanto a União poderia investir,  em diversas áreas econômicas  e sociais, caso a corrupção fosse menos  elevada.
Educação - O  número de matriculados na rede  pública do ensino fundamental saltaria  de 34,5 milhões para 51 milhões de  alunos. Um aumento de 47,%, que  incluiria mais de 16 milhões de jovens e  crianças.
Saúde -  Nos hospitais públicos do SUS  (Sistema Único de Saúde), a quantidade  de leitos para internação, que hoje é de  367.397, poderia crescer 89%,  que significariam 327.012 leitos a mais para os  pacientes.
Habitação -  O número de moradias populares  cresceria consideravelmente. A  perspectiva do PAC (Programa de Aceleração do  Crescimento) é atender  3.960.000 de famílias; sem a corrupção, outras 2.940.371  poderiam  entrar nessa meta, ou seja, aumentaria  74,3%.
Saneamento -  A quantidade de domicílios  atendidos, segundo a estimativa atual do  PAC, é de 22.500.00. O serviço poderia  crescer em 103,8%, somando mais  23.347.547 casas com esgotos. Isso diminuiria os  riscos de saúde na  população e a mortalidade  infantil.
Infraestrutura - Os 2.518 km de ferrovias, conforme as  metas do PAC, seriam acrescidos de 13.230 km,  aumento de 525% para  escoamento de produção. Os portos também  sentiriam a diferença, os 12 que o  Brasil possui poderiam saltar para  184, um incremento de 1537%. Além disso, o  montante absorvido pela  corrupção poderia ser utilizado para a construção de 277  novos  aeroportos, um crescimento de 1383%
Esses  cálculos, repito, só tratam das  perdas no uso do dinheiro público.  Imagine se tais estudos contabilizassem o  ralo da sonegação apontado  nas investigações de Raymond  Baker.
Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com/