Apesar do fato de as elites políticas da Espanha, nesta nova era de dominância da direita, estarem mostrando seu uso em massa da força, eles têm encontrado um movimento não-violento bem organizado. Se o movimento mantiver os seus princípios, e outros países europeus juntarem-se na luta, vai ser a União Europeia que será forçada a conter essa brutalidade policial, e acabará por ter de fazer concessões a essa luta democrática e não-violenta dos cidadãos. Se o movimento se espalhar, como já muitos sinais parecem indicar, as elites políticas e econômicas da Europa terão que decidir entre reforma e revolução. O artigo é de Pablo Ouziel.
Por Pablo Ouziel - CommonDreams.org
Na sexta-feira 27 de maio, cinco dias após uma vitória esmagadora dos partiidos de centro-direita nas eleições locais e regionais em toda a Espanha, o país acordou para a amarga realidade de como os movimentos não-violentos que lutam por democracia econômica, justiça política e paz irão se relacionar com as forças policiais do país nesta nova era de dominação política da direita.
Apenas 24 horas após a maior companhia espanhola de telecomunicações, a Telefónica, anunciar uma nova rodada de demissões afetando 8,5 mil pessoas, 25% da força de trabalho, e com o G8 se reunindo em Deauville, França, para discutir entre outras coisas o descontentamento que varre a Europa, a polícia da Catalunha - Mossos d'Esquadra - seguindo ordens da Prefeitura, sob controle do Partido Nacionalista Catalão, cercou os manifestantes não-violentos que acamparam na Plaza Catalunya, no centro da cidade de Barcelona. Armados com equipamento anti-rebelião completo, cassetetes e espingardas com balas de borracha, a polícia encurralou os manifestantes, impossibilitando que pessoas entrassem ou saíssem da praça.
Com a desculpa de limpar a praça, por razões de segurança, em preparação para a final da Liga dos Campeões da Europa entre Barcelona e Manchester United, o governo da cidade pediu a dispersão dos manifestantes, a fim de permitir que as equipes de limpeza entrassem. Embora essa fosse a posição oficial, logo ficou evidente que a limpeza da praça não era a verdadeira intenção, e que o verdadeiro objetivo da operação era apreender computadores, impressoras e documentos das comissões do movimento de direção, e pôr um fim a esta revolta popular que representa uma ameaça para as elites políticas e econômicas do país.
Assim que a polícia cercou a multidão e as emissoras de televisão e rádios locais começaram a noticiar os eventos, os cidadãos começaram a deixar seus locais de trabalho e foram até a praça, a fim de mostrar a sua solidariedade para com aqueles que estavam na mira da polícia. A cena que encontraram parecia um dos lendário atos de desobediência civil de Gandhi - os manifestantes sentados no chão, em silêncio, com as pernas cruzadas e as mãos no ar, simbolizando seu desafio à natureza opressiva e brutal desta ação policial.
Ao contrário do período pré-eleitoral, há onze dias, quando o movimento 15M começou a se reunir nas praças das cidades em todo o país com mensagens de indignação, desta vez a polícia não hesitou. As ordens eram claras. Eles começaram a apontar suas armas para aqueles que estavam fora da praça e gritavam "Esta é a nossa democracia", e um por um, começaram a puxar quem estava sentado no interior da praça - e bater neles com os cassetetes. Acabei de ouvir que o professor de economia Arcadi Oliveras (o Noam Chomsky da Espanha), esteve entre aqueles que sofreram com o uso indiscriminado de cassetetes da polícia.
No momento em que escrevo, milhares de cidadãos estão indo em direção à praça de Barcelona, e na sequência de duas detenções e 99 feridos, cerca de 5 mil manifestantes reocuparam a praça da cidade. Em Madri Esperanza Aguirre, que preside a região autônoma e o Partido Popular de Madrid, pediu ao Ministério do Interior para expulsar os manifestantes de Puerta del Sol. Por sua parte, os manifestantes na praça de Madrid têm enviado mensagens de solidariedade para com aqueles que estão sendo atacados em Barcelona. A polícia na cidade de Lerida também despejou os acampados na praça da cidade usando canhões de água, e dois manifestantes foram presos. Enquanto que na cidade de Granada a prefeitura está em negociações com o governo central sobre como esvaziar a praça da cidade.
O ambiente na praça de Barcelona agora é tranquilo. Uma vez que a cidade mostrou seu apoio aos manifestantes, a polícia foi forçada a sair, e apesar do fato de muitos laptops e panfletos terem sido confiscados, e barracas e equipamentos destruídos, as pessoas pretendem ficar. Uma grande faixa no meio da praça em espanhol diz: "Você limpou o nosso cansaço e agora estamos de volta".
Apesar do fato de as elites políticas da Espanha, nesta nova era de dominância da direita, estarem mostrando seu uso em massa da força, eles têm encontrado um movimento não-violento bem organizado. Se o movimento mantiver os seus princípios, e outros países europeus juntarem-se na luta, vai ser a União Europeia que será forçada a conter essa brutalidade policial, e acabará por ter de fazer concessões a essa luta democrática e não-violenta dos cidadãos. Se o movimento se espalhar, como já muitos sinais parecem indicar, as elites políticas e econômicas da Europa terão que decidir entre reforma e revolução.
(*) Pablo Ouziel é ativista e escritor independente baseado na Espanha. Seus artigos e ensaios estão disponíveis em pabloouziel.com.
Texto originalmente publicado em CommonDreams.org.
Tradução: Wilson Sobrinho
Fonte: Agencia Carta Maior
Apenas 24 horas após a maior companhia espanhola de telecomunicações, a Telefónica, anunciar uma nova rodada de demissões afetando 8,5 mil pessoas, 25% da força de trabalho, e com o G8 se reunindo em Deauville, França, para discutir entre outras coisas o descontentamento que varre a Europa, a polícia da Catalunha - Mossos d'Esquadra - seguindo ordens da Prefeitura, sob controle do Partido Nacionalista Catalão, cercou os manifestantes não-violentos que acamparam na Plaza Catalunya, no centro da cidade de Barcelona. Armados com equipamento anti-rebelião completo, cassetetes e espingardas com balas de borracha, a polícia encurralou os manifestantes, impossibilitando que pessoas entrassem ou saíssem da praça.
Com a desculpa de limpar a praça, por razões de segurança, em preparação para a final da Liga dos Campeões da Europa entre Barcelona e Manchester United, o governo da cidade pediu a dispersão dos manifestantes, a fim de permitir que as equipes de limpeza entrassem. Embora essa fosse a posição oficial, logo ficou evidente que a limpeza da praça não era a verdadeira intenção, e que o verdadeiro objetivo da operação era apreender computadores, impressoras e documentos das comissões do movimento de direção, e pôr um fim a esta revolta popular que representa uma ameaça para as elites políticas e econômicas do país.
Assim que a polícia cercou a multidão e as emissoras de televisão e rádios locais começaram a noticiar os eventos, os cidadãos começaram a deixar seus locais de trabalho e foram até a praça, a fim de mostrar a sua solidariedade para com aqueles que estavam na mira da polícia. A cena que encontraram parecia um dos lendário atos de desobediência civil de Gandhi - os manifestantes sentados no chão, em silêncio, com as pernas cruzadas e as mãos no ar, simbolizando seu desafio à natureza opressiva e brutal desta ação policial.
Ao contrário do período pré-eleitoral, há onze dias, quando o movimento 15M começou a se reunir nas praças das cidades em todo o país com mensagens de indignação, desta vez a polícia não hesitou. As ordens eram claras. Eles começaram a apontar suas armas para aqueles que estavam fora da praça e gritavam "Esta é a nossa democracia", e um por um, começaram a puxar quem estava sentado no interior da praça - e bater neles com os cassetetes. Acabei de ouvir que o professor de economia Arcadi Oliveras (o Noam Chomsky da Espanha), esteve entre aqueles que sofreram com o uso indiscriminado de cassetetes da polícia.
No momento em que escrevo, milhares de cidadãos estão indo em direção à praça de Barcelona, e na sequência de duas detenções e 99 feridos, cerca de 5 mil manifestantes reocuparam a praça da cidade. Em Madri Esperanza Aguirre, que preside a região autônoma e o Partido Popular de Madrid, pediu ao Ministério do Interior para expulsar os manifestantes de Puerta del Sol. Por sua parte, os manifestantes na praça de Madrid têm enviado mensagens de solidariedade para com aqueles que estão sendo atacados em Barcelona. A polícia na cidade de Lerida também despejou os acampados na praça da cidade usando canhões de água, e dois manifestantes foram presos. Enquanto que na cidade de Granada a prefeitura está em negociações com o governo central sobre como esvaziar a praça da cidade.
O ambiente na praça de Barcelona agora é tranquilo. Uma vez que a cidade mostrou seu apoio aos manifestantes, a polícia foi forçada a sair, e apesar do fato de muitos laptops e panfletos terem sido confiscados, e barracas e equipamentos destruídos, as pessoas pretendem ficar. Uma grande faixa no meio da praça em espanhol diz: "Você limpou o nosso cansaço e agora estamos de volta".
Apesar do fato de as elites políticas da Espanha, nesta nova era de dominância da direita, estarem mostrando seu uso em massa da força, eles têm encontrado um movimento não-violento bem organizado. Se o movimento mantiver os seus princípios, e outros países europeus juntarem-se na luta, vai ser a União Europeia que será forçada a conter essa brutalidade policial, e acabará por ter de fazer concessões a essa luta democrática e não-violenta dos cidadãos. Se o movimento se espalhar, como já muitos sinais parecem indicar, as elites políticas e econômicas da Europa terão que decidir entre reforma e revolução.
(*) Pablo Ouziel é ativista e escritor independente baseado na Espanha. Seus artigos e ensaios estão disponíveis em pabloouziel.com.
Texto originalmente publicado em CommonDreams.org.
Tradução: Wilson Sobrinho
Fonte: Agencia Carta Maior
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