sábado, 28 de maio de 2011

A crise do regime político e o medo da burguesia europeia

Mobilizações de trabalhadores e da juventude contra os planos de “austeridade” do Partido Socialista espanhol colocam em xeque o regime político no país

Em meio à onda revolucionária que se espalhou por todo o Norte da África e o Oriente Médio, a Espanha entrou em um processo de mobilizações e intensa luta das massas operárias e da juventude contra o regime político e o governo do Partido Socialista, encabeçado José Luis Zapatero.

Nas últimas semanas, realizam-se protestos em diversos pontos do país reivindicam mudanças políticas e sociais depois que a falência de empresas em diversos ramos da economia e altas taxas de desemprego passaram a assolar a população. O índice de desemprego chegou a 21,3%, o maior da União Europeia, com um recorde de 4,9 milhões de desempregados, a maioria jovens.

O movimento em torno aos acampamentos onde predominam jovens trabalhadores e estudantes, como o da Porta do Sol, em Madri, dirigiu o descontentamento popular com as duas principais alternativas de poder do regime político espanhol, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Partido Popular (PP).

As eleições regionais e municipais realizadas no domingo, dia 22, levaram o governo à sua maior derrota em anos. Com uma participação de 66,23% do eleitorado, o PSOE obteve apenas 27,79% dos votos (6,37 milhões de votos), ficando 10 pontos percentuais atrás do PP (37,54% e 8,46 milhões de votos). A Esquerda Unida, uma coligação formada em 1986 e encabeçada pelo Partido Comunista da Espanha, obteve 6,31% dos votos, mais de 1,42 milhões de votos.

Como resultado, três das quatro maiores cidades do país (Madri, Valencia e Sevilha) ficaram nas mãos do PP.

A delicada situação econômica do país, agravada pela onda recessiva internacional e o fato de que a economia dos principais países capitalistas do mundo não se recuperou desde a crise aberta em 2007-2008, criaram as condições para a derrota do PSOE.

A ala esquerda do regime político burguês foi forçada a assumir as rédeas do Estado em 2004, depois da crise aberta pela entrada da Espanha na guerra do Iraque capitaneada pelo PP de José María Aznar em 2003.

A ascenção do PSOE ao poder tinha como objetivo recompor o equilíbrio econômico e conter o aprofundamento da crise política como ocorre com frequência em regimes que se valem do equilíbrio entre duas alas (“esquerda” e “direita”) comprometidas com os interesses fundamentais da burguesia imperialista (como por exemplo nos EUA e o Reino Unido, onde Democratas e Republicanos em um e Trabalhistas e Conservadores noutro se revezam no governo de modo a dar sustentação ao regime político burguês de conjunto).

A crise “por baixo”, isto é, a tendência a um ascenso das massas operárias e populares do país contra o regime político, no entanto, deixa a Espanha sem alternativa tanto à direita quanto à esquerda.

Pretendendo capitalizar o profundo descontentamento popular com o PSOE, a direita no PP lidera uma campanha pela antecipação das eleições nacionais.

Para a burguesia espanhola e dos demais países imperialistas, o desgaste do PSOE e a possibilidade de colocar novamente o PP em seu lugar no governo representam um grave problema.

Como deixou claro o mais influente jornal econômico europeu, o Financial Times, a tentativa do PP de adiantar as eleições presidenciais é um erro que pode comprometer ainda mais a estabilidade econômica do país. Em termos populares, o recado dado pelos criadores da política de reformas neoliberais conduzida pelo PSOE é: “não assustem o mercado”.

Segundo o Financial Times, o que o PP deveria fazer é “apoiar o governo de José Luis Rodríguez Zapatero” ao invés de “pedir o adiantamento das eleições, o que poderia prejudicar a solvência e estabilidade da Espanha”. O diário econômico britânico assinalou ainda que Zapatero se saiu “bem” na aplicação de seu plano econômico e “merece outros 10 meses” para continuar com suas reformas.

Isto não significa que o principal órgão da burguesia imperialista européia - de sua ala mais reacionária, os bancos - estaria favorável a que a ala esquerda do regime político continue no poder indefinidamente. O “apoio” sugerido ao PP se baseia no fato de que o partido da direita espanhola não possui, segundo cálculos matemáticos e eleitorais, o número de votos suficiente para obter uma vitória na disputa nacional. A maioria de 37,5% de votos obtida nas eleições municipais não se converteria na maioria absoluta necessária no Congresso para que o PP de Aznar governasse à margem do próprio PSOE e de forças minoritárias. A direita europeia quer que a direita espanhola assuma as rédeas do governo, apenas receia não conseguir manter o país sob controle por muito tempo caso o faça por meio de um golpe de mão, como propôs o PP.

Fonte: PCO

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