Na semana em que um dos representantes da burguesia nacional faleceu, com ampla repercussão na mídia oficial, esqueceram deliberadamente de divulgar que no dia 31 de março de 1964 aconteceu o Golpe Militar, que levou a morte diversos lutadores e lutadoras, estudantes, camponeses, sindicalistas, jornalistas, políticos, religiosos , homens e mulheres que deram suas vidas por uma sociedade justa, que infelizmente não viram e não estamos vendo ser efetivada!
Para que a memória nunca nos falhe, relembremos nossos ainda sempre camaradas.
Abílio Clemente Filho
Aderval Alves Coqueiro
Adriano Fonseca Filho
Afonso Henrique Martins Saldanha
Albertino José de Oliveira
Alberto Aleixo
Alceri Maria Gomes da Silva
Aldo de Sá Brito Souza Neto
Alex de Paula Xavier Pereira
Alexander José Ibsen Voeroes
Alexandre Vannucchi Leme
Alfeu de Alcântara Monteiro
Almir Custódio de Lima
Aluísio Palhano Pedreira Ferreira
Amaro Luíz de Carvalho
Ana Maria Nacinovic Corrêa
Ana Rosa Kucinski Silva
Anatália de Souza Melo Alves
André Grabois
Ângelo Arroyo
Ângelo Cardoso da Silva
Ângelo Pezzuti da Silva
Antogildo Pacoal Vianna
Antônio Alfredo de Lima
Antônio Benetazzo
Antônio Carlos Bicalho Lana
Antônio Carlos Monteiro Teixeira
Antônio Carlos Nogueira Cabral
Antônio Carlos Silveira Alves
Antônio de Pádua Costa
Antônio dos Três Reis Oliveira
Antônio Ferreira Pinto (Alfaiate)
Antônio Guilherme Ribeiro Ribas
Antônio Henrique Pereira Neto (Padre Henrique)
Antônio Joaquim Machado
Antonio Marcos Pinto de Oliveira
Antônio Raymundo Lucena
Antônio Sérgio de Mattos
Antônio Teodoro de Castro
Ari da Rocha Miranda
Ari de Oliveira Mendes Cunha
Arildo Valadão
Armando Teixeira Frutuoso
Arnaldo Cardoso Rocha
Arno Preis
Ary Abreu Lima da Rosa
Augusto Soares da Cunha
Áurea Eliza Pereira Valadão
Aurora Maria Nascimento Furtado
Avelmar Moreira de Barros
Aylton Adalberto Mortati
Benedito Gonçalves
Benedito Pereira Serra
Bergson Gurjão Farias
Bernardino Saraiva
Boanerges de Souza Massa
Caiuby Alves de Castro
Carlos Alberto Soares de Freitas
Carlos Eduardo Pires Fleury
Carlos Lamarca
Carlos Marighella
Carlos Nicolau Danielli
Carlos Roberto Zanirato
Carlos Schirmer
Carmem Jacomini
Cassimiro Luiz de Freitas
Catarina Abi-Eçab
Célio Augusto Guedes
Celso Gilberto de Oliveira
Chael Charles Schreier
Cilon da Cunha Brun
Ciro Flávio Salasar Oliveira
Cloves Dias Amorim
Custódio Saraiva Neto
Daniel José de Carvalho
Daniel Ribeiro Callado
David Capistrano da Costa
David de Souza Meira
Dênis Casemiro
Dermeval da Silva Pereira
Devanir José de Carvalho
Dilermano Melo Nascimento
Dimas Antônio Casemiro
Dinaelza Soares Santana Coqueiro
Dinalva Oliveira Teixeira
Divino Ferreira de Souza
Divo Fernandes de Oliveira
Djalma Carvalho Maranhão
Dorival Ferreira
Durvalino de Souza
Edgard Aquino Duarte
Edmur Péricles Camargo
Edson Luis de Lima Souto
Edson Neves Quaresma
Edu Barreto Leite
Eduardo Antônio da Fonseca
Eduardo Collen Leite (Bacuri)
Eduardo Collier Filho
Eiraldo Palha Freire
Elmo Corrêa
Elson Costa
Elvaristo Alves da Silva
Emanuel Bezerra dos Santos
Enrique Ernesto Ruggia
Epaminondas Gomes de Oliveira
Eremias Delizoicov
Eudaldo Gomes da Silva
Evaldo Luiz Ferreira de Souza
Ezequias Bezerra da Rocha
Félix Escobar Sobrinho
Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira
Fernando Augusto Valente da Fonseca
Fernando Borges de Paula Ferreira
Fernando da Silva Lembo
Flávio Carvalho Molina
Francisco das Chagas Pereira
Francisco Emanoel Penteado
Francisco José de Oliveira
Francisco Manoel Chaves
Francisco Seiko Okama
Francisco Tenório Júnior
Frederico Eduardo Mayr
Gastone Lúcia Carvalho Beltrão
Gelson Reicher
Geraldo Magela Torres Fernandes da Costa
Gerosina Silva Pereira
Gerson Theodoro de Oliveira
Getúlio de Oliveira Cabral
Gilberto Olímpio Maria
Gildo Macedo Lacerda
Grenaldo de Jesus da Silva
Guido Leão
Guilherme Gomes Lund
Hamilton Fernando da Cunha
Helber José Gomes Goulart
Hélcio Pereira Fortes
Helenira Rezende de Souza Nazareth
Heleny Telles Ferreira Guariba
Hélio Luiz Navarro de Magalhães
Henrique Cintra Ferreira de Ornellas
Higino João Pio
Hiran de Lima Pereira
Hiroaki Torigoe
Honestino Monteiro Guimarães
Iara Iavelberg
Idalísio Soares Aranha Filho
Ieda Santos Delgado
Íris Amaral
Ishiro Nagami
Ísis Dias de Oliveira
Ismael Silva de Jesus
Israel Tavares Roque
Issami Nakamura Okano
Itair José Veloso
Iuri Xavier Pereira
Ivan Mota Dias
Ivan Rocha Aguiar
Jaime Petit da Silva
James Allen da Luz
Jana Moroni Barroso
Jane Vanini
Jarbas Pereira Marques
Jayme Amorim Miranda
Jeová Assis Gomes
João Alfredo Dias
João Antônio Abi-Eçab
João Barcellos Martins
João Batista Franco Drummond
João Batista Rita
João Bosco Penido Burnier (Padre)
João Carlos Cavalcanti Reis
João Carlos Haas Sobrinho
João Domingues da Silva
João Gualberto Calatroni
João Leonardo da Silva Rocha
João Lucas Alves
João Massena Melo
João Mendes Araújo
João Roberto Borges de Souza
Joaquim Alencar de Seixas
Joaquim Câmara Ferreira
Joaquim Pires Cerveira
Joaquinzão
Joel José de Carvalho
Joel Vasconcelos Santos
Joelson Crispim
Jonas José Albuquerque Barros
Jorge Alberto Basso
Jorge Aprígio de Paula
Jorge Leal Gonçalves Pereira
Jorge Oscar Adur (Padre)
José Bartolomeu Rodrigues de Souza
José Campos Barreto
José Carlos Novaes da Mata Machado
José de Oliveira
José de Souza
José Ferreira de Almeida
José Gomes Teixeira
José Guimarães
José Huberto Bronca
José Idésio Brianezi
José Inocêncio Pereira
José Júlio de Araújo
José Lavechia
José Lima Piauhy Dourado
José Manoel da Silva
José Maria Ferreira Araújo
José Maurílio Patrício
José Maximino de Andrade Netto
José Mendes de Sá Roriz
José Milton Barbosa
José Montenegro de Lima
José Porfírio de Souza
José Raimundo da Costa
José Roberto Arantes de Almeida
José Roberto Spiegner
José Roman
José Sabino
José Silton Pinheiro
José Soares dos Santos
José Toledo de Oliveira
José Wilson Lessa Sabag
Juarez Guimarães de Brito
Juarez Rodrigues Coelho
Kleber Lemos da Silva
Labib Elias Abduch
Lauriberto José Reyes
Líbero Giancarlo Castiglia
Lígia Maria Salgado Nóbrega
Lincoln Bicalho Roque
Lincoln Cordeiro Oest
Lourdes Maria Wanderley Pontes
Lourenço Camelo de Mesquita
Lourival de Moura Paulino
Lúcia Maria de Souza
Lucimar Brandão
Lúcio Petit da Silva
Luís Alberto Andrade de Sá e Benevides
Luís Almeida Araújo
Luís Antônio Santa Bárbara
Luís Inácio Maranhão Filho
Luis Paulo da Cruz Nunes
Luiz Affonso Miranda da Costa Rodrigues
Luiz Carlos Almeida
Luiz Eduardo da Rocha Merlino
Luiz Eurico Tejera Lisbôa
Luiz Fogaça Balboni
Luiz Gonzaga dos Santos
Luíz Guilhardini
Luiz Hirata
Luiz José da Cunha
Luiz Renato do Lago Faria
Luiz Renato Pires de Almeida
Luiz Renê Silveira e Silva
Luiz Vieira
Luíza Augusta Garlippe
Lyda Monteiro da Silva
Manoel Aleixo da Silva
Manoel Fiel Filho
Manoel José Mendes Nunes de Abreu
Manoel Lisboa de Moura
Manoel Raimundo Soares
Manoel Rodrigues Ferreira
Manuel Alves de Oliveira
Manuel José Nurchis
Márcio Beck Machado
Marco Antônio Brás de Carvalho
Marco Antônio da Silva Lima
Marco Antônio Dias Batista
Marcos José de Lima
Marcos Nonato Fonseca
Margarida Maria Alves
Maria Ângela Ribeiro
Maria Augusta Thomaz
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Maria Célia Corrêa
Maria Lúcia Petit da Silva
Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo
Maria Regina Marcondes Pinto
Mariano Joaquim da Silva
Marilena Villas Boas
Mário Alves de Souza Vieira
Mário de Souza Prata
Maurício Grabois
Maurício Guilherme da Silveira
Merival Araújo
Miguel Pereira dos Santos
Milton Soares de Castro
Míriam Lopes Verbena
Neide Alves dos Santos
Nelson de Souza Kohl
Nelson José de Almeida
Nelson Lima Piauhy Dourado
Nestor Veras
Newton Eduardo de Oliveira
Nilda Carvalho Cunha
Nilton Rosa da Silva (Bonito)
Norberto Armando Habeger
Norberto Nehring
Odijas Carvalho de Souza
Olavo Hansen
Onofre Pinto
Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior
Orlando Momente
Ornalino Cândido da Silva
Orocílio Martins Gonçalves
Osvaldo Orlando da Costa
Otávio Soares da Cunha
Otoniel Campo Barreto
Pauline Reichstul
Paulo César Botelho Massa
Paulo Costa Ribeiro Bastos
Paulo de Tarso Celestino da Silva
Paulo Mendes Rodrigues
Paulo Roberto Pereira Marques
Paulo Stuart Wright
Pedro Alexandrino de Oliveira Filho
Pedro Carretel
Pedro Domiense de Oliveira
Pedro Inácio de Araújo
Pedro Jerônimo de Souza
Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar
Péricles Gusmão Régis
Raimundo Eduardo da Silva
Raimundo Ferreira Lima
Raimundo Gonçalves Figueiredo
Raimundo Nonato Paz
Ramires Maranhão do Vale
Ranúsia Alves Rodrigues
Raul Amaro Nin Ferreira
Reinaldo Silveira Pimenta
Roberto Cieto
Roberto Macarini
Roberto Rascardo Rodrigues
Rodolfo de Carvalho Troiano
Ronaldo Mouth Queiroz
Rosalindo Souza
Rui Osvaldo Aguiar Pftzenreuter
Ruy Carlos Vieira Berbert
Ruy Frazão Soares
Santo Dias da Silva
Sebastião Gomes da Silva
Sérgio Correia
Sérgio Landulfo Furtado
Severino Elias de Melo
Severino Viana Colon
Sidney Fix Marques dos Santos
Silvano Soares dos Santos
Soledad Barret Viedma
Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones
Stuart Edgar Angel Jones
Suely Yumiko Kanayama
Telma Regina Cordeiro Corrêa
Therezinha Viana de Assis
Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto
Tito de Alencar Lima (Frei Tito)
Tobias Pereira Júnior
Túlio Roberto Cardoso Quintiliano
Uirassu de Assis Batista
Umberto Albuquerque Câmara Neto
Valdir Sales Saboya
Vandick Reidner Pereira Coqueiro
Victor Carlos Ramos
Virgílio Gomes da Silva
Vítor Luíz Papandreu
Vitorino Alves Moitinho
Vladimir Herzog
Walkíria Afonso Costa
Walter de Souza Ribeiro
Walter Kenneth Nelson Fleury
Walter Ribeiro Novaes
Wânio José de Mattos
Wilson Silva
Wilson Souza Pinheiro
Wilton Ferreira
Yoshitane Fujimori
Zuleika Angel Jones
Todos os nossos lutadores e lutadoras! Presente!
Saudações,
Givanildo Manoel e Leon Cunha, militantes pelos direitos humanos.
Um pouco dessa história...
Policiais chegaram ao coveiro Milton Gomes com um corpo embrulhado em uma lona de plástico preta. Gomes era o responsável pelos sepultamentos no cemitério da pequena Paraíso do Norte, interior de Goiás. "Enterra de qualquer jeito. Isto é um porco", disseram os policiais ao coveiro, que retrucou: "isto não é um porco. É um homem. Alguém um dia virá procurar por ele". O coveiro tomou então um cuidado: junto ao local da cova, ergueu uma pequena pirâmide de concreto, sobre a qual fincou uma cruz de madeira. Dez dias depois, um aparato policial cercou o cemitério, enquanto alguns policiais retiravam um braço do corpo enterrado. O "porco" era o advogado Arno Preis, catarinense de Forquilhinha, integrante do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Só foi enterrado como "gente" em 15 de outubro de 1993, depois de seus restos mortais serem encontrados a partir da cruz de madeira idealizada pelo coveiro Gomes.
Arno Preis nasceu em Forquilhinha em 8 de julho de 1934. Filho de descendentes de alemães, teve uma educação rígida. Estudou durante boa parte da infância e adolescência em seminários católicos. Desistiu da batina meses antes da ordenação. Além de ter facilidade nos estudos, aprendia rapidamente a falar outros idiomas. Ainda na faculdade em São Paulo - para onde se transferiu depois de sair do seminário - dominava fluentemente as línguas inglesa, grega, italiana, espanhola, francesa, romena, alemã, russa, latina e até a japonesa. Traduziu três livros do japonês para o português: Kamikaze, Cruz Vermelha e Iwo Jima.
Arno era o oitavo filho de Edmundo e Paulina Preis e desde os sete anos estava no seminário, primeiro no Franciscano de Luzerna e depois no Seminário de Agudo, em São Paulo. Antes de ser ordenado, decidiu seguir outro caminho e matriculou-se no curso de direito da Universidade de São Paulo, na faculdade de São Francisco. Profundo conhecedor da cultura popular brasileira, Arno dominava a capacidade de dialogar para solucionar impasses. Seu sonho: prestar concurso para o Itamaraty e ser diplomata. Também dominava instrumentos musicais, em especial a flauta.
Foi em São Paulo que Arno conheceu os movimentos populares contrários ao regime militar pós-64. Inicialmente pertencente à Ação Libertadora Nacional (ALN), viajou até Cuba para treinamento em guerrilha e, voltando ao Brasil, integrou o Molipo. "Não fosse o fechamento de todos os canais de comunicação entre a nação e o Estado, o Brasil não teria amargado a perda de muitos de seus mais dignos e generosos filhos", diz o amigo advogado Ivo Sooma, o primeiro a chegar até o local do sepultamento do corpo, no interior de Goiás.
A versão da morte de Arno ainda é contraditória. Oficialmente ele teria sido morto após troca de tiros com policiais em Paraíso do Norte. Depoimentos colhidos a partir da década de 80 pela Comissão Externa de Desaparecidos Políticos da Câmara dos Deputados comprovaram que os policiais teriam se precipitado ao ver Arno com uma pasta debaixo do braço. No momento do crime ele carregava uma maleta com dinheiro que seria utilizada para as operação do Molipo na região. A pasta de dinheiro foi encontrada vazia perto do local onde Arno foi morto. Até hoje a família luta pelo reconhecimento da culpabilidade do Estado e pelo direito à indenização a mortos políticos.
Nome
Arno Preis
Nascimento
1934, em Forquilhinha, Santa Catarina
Profissão
Advogado
Militância
Movimento de Libertação Popular (Molipo)
Morto em fevereiro de 72. Enterrado em Forquilhinha.
perseguida por abrigar "terrorista"
Forquilhinha - De tempos em tempos dona Elza Preis Backes visita o cemitério da cidade. Faz questão de manter limpa a capelinha da família, onde se encontra com destaque a foto do irmão Arno. Mas nem sempre foi assim. Por longos anos a família Preis foi discriminada na região. O pai Edmundo e a mãe Paulina se calaram. Recusaram-se a falar do filho com medo de perseguições e represálias dos policiais. Chegaram a ser intimidados por conta das visitas clandestinas de Arno aos familiares. "Eram tempos difíceis", reconhece dona Elza.
Descendentes de alemães, Arno e os 12 irmãos tiveram uma educação rígida. O único divertimento eram as festas ao som de sanfona que o pai costumava organizar de tempos em tempos. Arno sempre se destacou. "Era muito inteligente e se movimentava muito. Não parava quieto", relembra a irmã. A mãe morreu aos 94 anos e por muito tempo nutriu a esperança de ver o filho de volta para casa, são e salvo. Na época da morte de Arno, os jornais destacavam que "mais um terrorista" morria nas mãos da polícia. "Foi muito doído tudo. Sabíamos que o Arno era decente", diz ela. "Nossa família sofreu com isso. Quando algum militante sumia, havia certeza de que seria morto", conta João Preis, 67 anos, irmão de Arno e ex-deputado estadual pelo Paraná.
"Isso marcou nossa família para a vida inteira. Todos nós sofremos com tudo", garante Preis. Forquilhinha ficou conhecida por ser a terra natal da família Arns, em especial o ex-cardeal dom Paulo Evaristo Arns. Ele foi um dos religiosos que mais deu guarida aos perseguidos políticos e isso a cidade nunca esqueceu. No começo dos anos 80, Arns organizou uma missa e um churrasco para os moradores locais. Na missa, muitas famílias compareceram, mas o churrasco pouca gente teve a coragem de prestigiar.
O irmão João e o amigo Ivo Sooma foram incansáveis na busca pelo corpo de Arno. Mas a procura era dificultada pela repressão da época. "Todas as vezes que ia para São Paulo, por causa da semelhança com meu irmão, tinha dificuldades. O rosto dele estava em cartazes de procurado por toda a parte. Ele foi caçado como um animal", recorda. "Meu irmão estava certo. O que ele previa está acontecendo. As dificuldades por que passa o País são heranças daquele regime", finaliza Preis. (LFA)
o mesmo tipo de morte
A morte do militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Hamilton Fernando da Cunha parece ser uma repetição de todas as outras durante o regime militar. De acordo com relatórios oficiais da época, agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) faziam uma "vistoria" de rotina na Gráfica Urupês, em São Paulo, quando Hamilton teria reagido. Ainda segundo esses relatórios, Hamilton estaria sendo procurado "por atentados a bomba, roubo de armas e assaltos a bancos". No "tiroteio" na frente da gráfica, Hamilton teria sido ferido mortalmente por um dos companheiros. Essa é a versão oficial, levantada pelo grupo de familiares de desaparecidos junto aos arquivos do Dops.
A versão dos familiares é outra. Os policiais teriam chegado à gráfica já com a intenção de prender Hamilton. Segundo sua irmã Nilsa, em requerimento encaminhado para a Comissão Especial da Lei 9.140 - que reconheceu a responsabilidade do Estado em mortes ocorridas durante o regime militar -, ao receber voz de prisão Hamilton teria levantado os braços para o alto, assustado, perguntando o que estava acontecendo. Em seguida, teria recebido uma rajada de metralhadora.
Depois da morte, Nilsa foi impedida de tomar as providências para o enterro. Só seis dias depois ela foi chamada para reconhecimento do corpo. O caixão, lacrado, foi levado ao cemitério por quatro policiais. A perseguição policial a Nilsa continuou. Seu apartamento em São Paulo foi vasculhado e ela submetida a diversos interrogatórios e ameaças. Passou dois anos com o prédio onde morava vigiado pelos policiais. Em parecer da Comissão Especial em 18 de março de 1996, o nome de Hamilton foi incluído na relação dos crimes políticos e sua família indenizada. A única irmã, Nilsa, reside hoje em São Paulo.
Hamilton nasceu em Florianópolis, em 1941. Foi cedo com a família para São Paulo onde passou, já na adolescência, a participar dos movimentos operários. Pouco antes de morrer, atuava no grupo Centro Popular de Arte, que se reunia na sede do Partido Socialista Brasileiro, em São Paulo. Funcionário da Gráfica Urupês, auxiliava na promoção de espetáculos em favelas, portas de fábricas, vilas operárias, praças públicas e auditórios de faculdades. Negro e forte, Hamilton também era atuante militante da VPR, e participou de diversas ações do grupo em São Paulo junto com Yoshitame Fujimori, Carlos Marighela e Diógenes José Carvalho de Oliveira. (LFA)
Nome
Hamilton Fernando Cunha
Nascimento
1941, em Florianópolis/Santa Catarina
Profissão
Gráfico
Militância
Vanguarda Popular Revolucionária(VPR)
Morto em fevereiro de 1969 por policiais do Dops.
inocente da cadeira do dragão
"Segundo de meus três filhos, Frederico foi educado com muito amor dentro dos preceitos que recebi de meu pai. Desde cedo aprendeu que os homens são iguais e têm o seu valor próprio independente de seu trabalho. Era namorador, queria ser arquiteto. Frederico não foi o filho que eu perdi, mas o filho que todos nós perdemos. O que se passou conosco foi uma afronta à dignidade humana. Frederico, julgado e absolvido, inocência reafirmada no Superior Tribunal Militar em 1974, já não era mais vivo. Baleado, foi preso e torturado até morrer, três dias depois".
(Depoimento da mãe de Frederico, Gertrud Mayr)
A cadeira do dragão contabilizava mais uma vítima. O jovem sobre o assento agonizava com o buraco de tiro na barriga, recebido horas antes. A equipe "C" estava a postos. Oberdan, Carioca, Mangabeira e Caio, todos policiais civis paulistanos formados na arte da tortura pela cartilha do hoje general da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, insistiam em protagonizar o sofrimento com choques elétricos e batidas com uma madeira dura nas debilitadas pernas do rapaz. A cadeira era um instrumento de tortura pesado, com zinco em sua base. Na parte posterior havia terminais de choque, aplicados em todas as partes do corpo. Tinha também uma travessa de madeira que empurrava as pernas para trás. A cada espasmo do choque, as pernas batiam na travessa, causando ferimentos. Frederico Eduardo Mayr, 24 anos, pedia clemência a seus sarcásticos algozes. Em vão. Torturado por mais 72 horas ininterruptas, não resistiu e morreu.
Frederico Eduardo Mayr era o do meio de uma família com três filhos. Alegre, comunicativo, tinha inclinação para as artes, principalmente as plásticas. Seus quadros continham cores vivas, mostrando o cotidiano de sua vida. Seu sonho era ser arquiteto. Filho de descendentes alemães e suíços, nasceu em Timbó em 1948 e enfrentou desde cedo uma educação rígida do pai. "Nada do que os filhos faziam era bom", recorda a mãe, Gertrud.
A mãe sempre se preocupou com a educação dos filhos. Sempre que podia, levava as crianças a exposição de artes, concertos musicais e museus. Isso ficou mais freqüente quando a família se mudou para o Rio de Janeiro, onde o patriarca, Carlos Henrique, médico, iria clinicar. Frederico não tinha intimidade com a música; preferiu a pintura. Ao contrário de sua mãe, que sempre dedilhava canções clássicas no piano recostado na sala de estar da residência da família. Como não tinha muito dinheiro para comprar material, Frederico improvisava. Construía suas próprias telas, o que dava ainda mais originalidade a seu trabalho.
Convivendo com a agitação cultural do Rio de Janeiro da década de 60, Frederico aos poucos construiu um círculo de amizades onde pôde debater política e sociedade sem constrangimentos. O grupo se reunia de tempos em tempos para discutir a situação do País, ações que pudessem ser feitas para melhorar as condições sociais da maioria da população. Daí para a militância foi um passo. Depois de 1968, integrou-se ao Movimento de Libertação Popular (Molipo) e passou a efetuar ações coordenadas com o grupo. Passou a viver na clandestinidade.
Na versão oficial, teria sido preso em 23 de fevereiro de 1972, na avenida Paulista, quando fazia contatos com companheiros estabelecidos em São Paulo. O inquérito policial militar aponta para um tiroteio entre Frederico e policiais, quando ele foi ferido na barriga. Um documento encontrado posteriormente pela família no Dops dá detalhes do inacreditável tiroteio, em um texto recheado de contradições. Diz o documento "que os guerrilheiros, a bordo de um Fusca, começaram a atirar contra os policiais sem serem provocados". No combate que teria acontecido, só Frederico foi baleado e os demais ocupantes do veículo não foram mais citados, nem como presos, nem como foragidos. Frederico foi enterrado como indigente no cemitério de Perus e seus restos mortais só foram identificados oficialmente em 1992.
Blumenau - Demorou longos anos para que Gertrud Mayr convivesse com mais naturalidade com a perda trágica do filho Frederico. O ópio para a dor veio das artes. Foi só depois que começou a pincelar telas que ela conseguiu alento para continuar vivendo. "A arte amenizou minha dor da perda", reconhece Gertrud, enquanto passeia com as mãos pelas obras que faz questão de mostrar num ateliê improvisado na casa de idosos onde vive, em Blumenau. "Agora consigo falar sobre isso e entendo que o sacrifício dele está servindo. Um pouco, mas está servindo".
Gertrud lembra da perseguição que a família teve de suportar enquanto Frederico não era detido. "É quase como morrer aos poucos", relembra, ao contar a revista de policiais na casa da família no Rio de Janeiro. "Um deles chegou a pegar o menino, o Luiz Roberto (outro filho) para interrogar", diz. Outro alívio para dona Gertrud foi encontrar os restos mortais do filho, na vala de Perus, em São Paulo. Foi um peso retirado dos ombros. "Se não tivesse recebido a identidade do meu filho não estaria assim, vivendo. Estaria um caco, talvez até em cadeira de rodas", acredita. No pequeno apartamento do lar onde vive, guarda fotos e quadros pintados por Frederico.
Os irmãos Carlos Henrique, médico, 56 anos, e Luiz Roberto, arquiteto, 46, continuam sofrendo com a morte de Frederico. "À medida que o tempo vai passando fica ainda mais difícil lidar com tudo isso", reconhece Luiz Roberto. "Essas pessoas foram à luta, atrás de seus ideais. É um exemplo que fica", diz ele. Quando passou a viver na clandestinidade, Frederico perdeu um pouco do contato com a família. Ele foi julgado por participação em assalto a banco e condenado à revelia. O pai se recusou a pagar advogado, deixando o caso para a defensoria pública. "Quando Frederico pediu ajuda ao pai, ele não levou a sério", recorda Gertrud. Foi a partir da condenação que ele passou a viver na clandestinidade, depois de trancar a matrícula na faculdade de arquitetura. (LFA)
Nome
Frederico Eduardo Mayr
Nascimento
1948, em Timbó/SC
Profissão
Estudante
Militância
Movimento de Libertação Popular (Molipo)
Morto em 1972. Corpo localizado na vala de Perus e identificado em 1992. Enterrado no jazigo da família, no Rio de Janeiro.
Fonte: http://www1.an.com.br/2003/jul/04/0ger.htm
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