Por Gilson Dantas |
Albamonte caracteriza a época da Comuna de Paris – e o próprio tempo histórico de Marx e Engels – como a época onde “as premissas materiais, objetivas, para a revolução proletária ainda são imaturas” e que tratava-se de um momento histórico de “transição, caracterizado pelo ´não mais’ da revolução burguesa e o ‘ainda não´ da revolução proletária”.
Analisando a época dos acontecimentos históricos da Comuna, E. Albamonte, situa com precisa concisão o seu momento histórico, no qual “anarquistas e marxistas disputam a direção do movimento operário nos seus primórdios, sendo que os primeiros refletem os setores mais artesanais do proletariado, sob influência liberal e os marxistas representam suas alas mais avançadas.
Sob a direção dos anarquistas proudhonianos e os blanquistas, em 1871, os operários de Paris se levantam. A França encontrava-se em guerra com a Prússia, estando Paris sob o assédio do exército inimigo. Depois de quatro meses, o governo francês busca um armistício que é desafiado pela Guarda Nacional dos trabalhadores e povo de Paris. O governo então ordena a evacuação imediata da cidade. As forças leais e os funcionários fogem para Versalhes, a vinte quilômetros de Paris, onde tradicionalmente residiam os reis e, neste momento, o imperador Luis Bonaparte, sobrinho de Napoleão.
Em Versalhes se organiza a reação que negocia com os alemães; mas os operários de Paris negam-se a participar dessas negociações e, quando o exército tenta apoderar-se dos canhões que o povo tinha comprado para a defesa da cidade, protagonizam uma insurreição e organizam o que se chamou a Comuna de Paris.
Organizam-se por bairros, permitem que todos votem (exceto os que tinham fugido e que eram agentes da burguesia); organizam milícias populares e se dispõem à defesa de Paris. Marx diz que ali o proletariado tinha encontrado a forma de exercer sua ditadura de classe ”.
A experiência da Comuna foi um elo muito importante na história das lutas do movimento operário e, ao mesmo tempo, uma rica fonte de ensinamentos para o partido bolchevique e para a vitória da Revolução Russa.
O momento em que são comemorados os 140 anos da Comuna de Paris é, portanto, especial para se retomar o debate sobre elementos e lições da Comuna de Paris. Neste caso, lições necessariamente atualizadas e mediadas pela experiência da Revolução Russa, dos bolcheviques, dos sovietes e da tradição revolucionária do século XX.
É de conhecimento mais ou menos geral que a insurreição operária de 1871 (Comuna de Paris) não apenas foi a primeira tentativa de intervenção independente da classe trabalhadora como também de instauração de um governo e um Estado de transição que marcava ou dava indicações do potencial programático e de emancipação desta classe revolucionária.
Além disso, marcava sua resolução e audácia de ir até o fim uma vez desencadeada sua luta.
Entre os decretos imediatamente aprovados pela Comuna se encontram abolição do trabalho noturno, da guilhotina, controle operário de toda empresa abandonada pelo capitalista, substituição do exército convencional pelo povo em armas (Guarda Nacional), separação da Igreja do Estado, proclamação de igualdade para as mulheres e que os delegados (deputados) da Comuna recebessem salário igual ao de um trabalhador além de terem seu mandato revogável a qualquer momento.
Cento e quarenta anos depois estas e outras questões do programa da classe trabalhadora são atualíssimas e continuam dependendo da hegemonia proletária sobre a sociedade para serem implantadas, atualizadas e aprofundadas.
As obras de Marx e Engels sobre a Comuna de Paris são marcos histórico-teóricos da análise daquela insurreição operária.
Lenine, como se sabe, irá examinar profundamente e atualizar para a era da revolução proletária, estes textos de Marx e Engels – debruçando-se também sobre a Comuna – para elaborar seu memorável O Estado e a revolução onde discute as formas que toma o Estado em seu processo de extinção, de tomada do poder pelo proletariado para iniciar sua abolição.
Trotski, que polemizou com o reformista Kautski em defesa de uma concepção marxista da Comuna, no seu balanço de 90 anos do Manifesto Comunista também irá continuar a reflexão, argumentando que a Comuna de Paris demonstrou que para arrebatar o poder à burguesia o proletariado necessita estar à cabeça do partido revolucionário temperado, preparado para a tomada do poder.
Cento e quarenta anos depois da Comuna e 94 anos após a Revolução Russa, em um século marcado pela experiência da degeneração burocrática das revoluções e a restauração conservadora dos últimos trinta anos, o proletariado mundial se depara com seu mais grave desafio estratégico: retomar o fio do combate heróico dos communards e dos bolcheviques e levantar partidos revolucionários de classe que, aliados às massas pobres, se conformem como a resposta para a nova primavera dos povos que pode estar em seus passos iniciais nesta etapa.
As mobilizações das massas árabes, francesas, gregas, portuguesas e de outros países, clamam pela unidade das fileiras operárias, encabeçando todos os explorados em torno do partido revolucionário para por fim, à força, à agonia de um sistema que jamais cairá por si só.
E cuja sociedade de transição deve se apoiar na ditadura democrática dos trabalhadores, a exemplo dos communards e, sobretudo do proletariado bolchevique de 1917. Só assim superaremos as derrotas do século passado e a amarga tentativa de tentar edificar sociedades de transição sem o proletariado no poder.
Fonte: http://www.ler-qi.org/spip.php?article2849
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