sexta-feira, 14 de maio de 2010

Negros ainda são vítimas de escravidão

De cada 4 trabalhadores libertados no país, 3 são pretos ou pardos, diz estudo de economista da UFRJ

Por ANTÔNIO GOIS - DA SUCURSAL DO RIO

Passados 122 anos desde a Lei Áurea, 3 em cada 4 trabalhadores libertados de situações análogas à escravidão hoje são pretos ou pardos.
É o que mostra um estudo do economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, feito a partir do cadastro de beneficiados pelo Bolsa Família incluídos no programa após ações de fiscalização que flagraram trabalhadores em situações que, para a ONU, são consideradas formas contemporâneas de escravidão.
São pessoas trabalhando em situações degradantes, com jornada exaustiva, dívidas com o empregador -que o impedem de largar o posto- e correndo riscos de serem mortas.
Paixão, que publica anualmente um Relatório de Desigualdades Raciais (ed. Garamond), diz que foi a primeira vez em que conseguiu investigar a cor ou raça desses trabalhadores, graças à inclusão do grupo no Bolsa Família.
Os autodeclarados pretos e pardos -que Paixão soma em seu estudo, classificando como negros- representavam 73% desse grupo, apesar de serem 51% da população total do Brasil. Tal como nas pesquisas do IBGE, é o próprio entrevistado que, a partir de cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo ou indígena) define sua cor.
Para o economista, "a cor do escravo de ontem se reproduz nos dias de hoje. Os negros e índios, escravos do passado, continuam sendo alvo de situações em que são obrigados a trabalhar sem direito ao próprio salário. É como se a escravidão se mantivesse como memória".
Pretos e pardos são maioria entre a população mais pobre. Segundo o IBGE, entre os brasileiros que se encontravam entre os 10% mais pobres, 74% se diziam pretos ou pardos.
Para Paixão, ainda que hoje a cor não seja o único fator a determinar que um trabalhador esteja numa condição análoga à escravidão, o dado sugere que ser preto ou pardo eleva consideravalmente a probabilidade.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo (13.05.2010)

2 comentários:

  1. Claudemir

    Os índices de exclusão social _ e a exploração pelo capitalismo primitivo em voga no Brasil _ a que estão submetidos grandes contingentes da população negra são de fato estarrecedores.

    Os dados apresentados por você neste artigo mostram que decorridos 122 anos da Abolição da escravatura ainda temos um longo caminho a trilhar rumo a tão igualdade racial.

    Abraço!

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  2. Depois dizem que vivemos uma democracia racial!

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