Por Gabriel Perissé
Do Observetório da Imprensa (28/7/2009)
Algo semelhante aconteceu por ocasião do surto/susto da febre amarela, sobre o qual escrevi um artigo neste Observatório da Imprensa. Um ano e meio se passou e nos encontramos novamente envolvidos em clima apocalíptico, apavorados agora com tosses e espirros, embalados por notícias e informações que podem confundir e apavorar mais do que esclarecer.
Virou motivo de piada a explicação que o governador José Serra deu sobre a origem e transmissão da iminente "tragédia", no YouTube. Mas não fizeram melhor papel outras instâncias. Há dois meses, vários meios de comunicação divulgaram que "pandemia de gripe suína poderia infectar 2 bilhões", em que o uso do futuro do pretérito ("poderia"), indicando que tudo depende de certas condições, não consegue (nem conseguiria...) aplacar-nos o medo de estar entre esses 2 bilhões de infelizes!
No dia 19 de julho, outra chamada alarmista – "Gripe pode afetar até 67 milhões no Brasil em até oito semanas" –, na Folha de S.Paulo e na Folha Online, o que provocou a reação do ombudsman da Folha no domingo seguinte, criticando a irresponsabilidade dessa reportagem assinada por Hélio Schwartsman.
Mortes no trânsito e por automedicação
Já no dia 25 de julho, a própria Folha lembrou que "gripe comum mata 17 por dia em São Paulo", baseando-se em dados segundo os quais, só na cidade de São Paulo, morreram 6.324 pessoas ao longo de 2008 em decorrência de males provocados pela gripe nossa de cada ano. Na revista Época desta semana (nº 584), o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, explica (seria seu papel fazê-lo com mais contundência e mais rapidez) que esta gripe não é pior do que a sazonal.
Pandemias outras são esquecidas. Forçando o sentido da palavra, mas em sintonia com a sua origem etimológica, toda a desgraça que atinge o "povo inteiro" é pandêmica.
Só o trânsito no Brasil matou cerca de 7 mil pessoas em 2007 e, graças à Lei Seca, um pouco menos em 2008: algo em torno de 5 mil e quinhentas pessoas. Fazendo as contas, podemos admitir que a cada mês morrem muito mais brasileiros em acidentes automobilísticos do que morreram até agora com a famosa gripe suína.
A Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma) divulgou recentemente que, no Brasil, 50 pessoas morrem por dia por complicações causadas pela automedicação!
Outras pandemias: a das drogas, a do ensino deficiente, e a do pânico induzido pela mídia...
Texto Original publicado em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=548FDS001
Do Observetório da Imprensa (28/7/2009)
Algo semelhante aconteceu por ocasião do surto/susto da febre amarela, sobre o qual escrevi um artigo neste Observatório da Imprensa. Um ano e meio se passou e nos encontramos novamente envolvidos em clima apocalíptico, apavorados agora com tosses e espirros, embalados por notícias e informações que podem confundir e apavorar mais do que esclarecer.
Virou motivo de piada a explicação que o governador José Serra deu sobre a origem e transmissão da iminente "tragédia", no YouTube. Mas não fizeram melhor papel outras instâncias. Há dois meses, vários meios de comunicação divulgaram que "pandemia de gripe suína poderia infectar 2 bilhões", em que o uso do futuro do pretérito ("poderia"), indicando que tudo depende de certas condições, não consegue (nem conseguiria...) aplacar-nos o medo de estar entre esses 2 bilhões de infelizes!
No dia 19 de julho, outra chamada alarmista – "Gripe pode afetar até 67 milhões no Brasil em até oito semanas" –, na Folha de S.Paulo e na Folha Online, o que provocou a reação do ombudsman da Folha no domingo seguinte, criticando a irresponsabilidade dessa reportagem assinada por Hélio Schwartsman.
Mortes no trânsito e por automedicação
Já no dia 25 de julho, a própria Folha lembrou que "gripe comum mata 17 por dia em São Paulo", baseando-se em dados segundo os quais, só na cidade de São Paulo, morreram 6.324 pessoas ao longo de 2008 em decorrência de males provocados pela gripe nossa de cada ano. Na revista Época desta semana (nº 584), o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, explica (seria seu papel fazê-lo com mais contundência e mais rapidez) que esta gripe não é pior do que a sazonal.
Pandemias outras são esquecidas. Forçando o sentido da palavra, mas em sintonia com a sua origem etimológica, toda a desgraça que atinge o "povo inteiro" é pandêmica.
Só o trânsito no Brasil matou cerca de 7 mil pessoas em 2007 e, graças à Lei Seca, um pouco menos em 2008: algo em torno de 5 mil e quinhentas pessoas. Fazendo as contas, podemos admitir que a cada mês morrem muito mais brasileiros em acidentes automobilísticos do que morreram até agora com a famosa gripe suína.
A Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma) divulgou recentemente que, no Brasil, 50 pessoas morrem por dia por complicações causadas pela automedicação!
Outras pandemias: a das drogas, a do ensino deficiente, e a do pânico induzido pela mídia...
Texto Original publicado em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=548FDS001
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