Nos idos de 1500 chegaram uns bandidos por esta terra brasilis trazendo a boa nova religiosa e capitalista, modernosa e modernista. Os que estavam aqui, ditos povos primitivos, atrasados, aborígenes, preguiçosos e indolentes, trataram bem aqueles. Afinal, os invasores, embora feios, barbudos e exalassem uma fedentina medieval, pareciam seres humanos feito eles.
O preço da amistosidade saiu-lhes caro. Os índios foram presos, torturados, massacrados. Quase foram exterminados. Eram 5 milhões quando esses bandidos chegaram aqui. Pois, resistiram, e hoje devem ser uns 300 mil. Sobreviveram à modernidade.
Passou o tempo, e o arado da modernidade rasgou terras, sujou os rios, destruiu as matas, poluiu o ar e a alma, fez guerras, ampliou a miséria, e então, dois pontos, revelou o caráter sujo da civilização. O que sobrou da Segunda Guerra foi uma divisão do mundo – o de lá e o de cá. Por azar ficamos do lado de cá, onde ficam os servos do império da norte-amerciano.
Nos idos de 60 foi imposto ao mundo, e ao Brasil em particular, uma modernidade especial: a agricultura tecnológica, também chamada de “agricultura moderna”. Essa modernidade, com o apoio da FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), foi imposta ao planeta, obrigando-o a descartar todo seu conhecimento agrícola e ambiental – sua história - e substituí-lo por este. Ora, aqui havia pelo menos 10 mil anos de convívio dos índios com a terra e outros 400 anos de experiência negra e do europeu miscigenado. Foi tudo pro lixo em nome da modernidade nos campos.
E o que é essa modernidade? Primeiro ela é industrial (seu caminho é o interesse da indústria); segundo, ela é radical, fora dela nada presta. O bloco industrial capitalista, fortalecido no pós-guerra com a vitória no conflito mundial, criou produtos para o mercado. Pior para nós, o pacote de insumos para agricultura é todo ele casado: o agricultor compra sementes; as sementes são frágeis e precisam de adubação ou não crescem; por serem frágeis, também são facilmente atacadas pelos insetos, e daí o agricultor tem que usar agrotóxicos; os inseticidas fazem surgir tribos de insetos mais resistentes (são 400 espécies imunes hoje no mundo) e, por isso o agricultor tem que usar cada vez mais quantidade de veneno ou partir para um novo produto (moderno!) que a indústria oferece; como o agrotóxico é veneno, o trabalhador tem que tratar da saúde com remédios (produzidos pelos mesmos fabricantes, como Rhodia, Hoescht, Novartis...); as sementes são “selecionadas”, só produzem uma vez, o agricultor tem que ir ao mercado todo ano; como tudo isto custa caro, o agricultor tem que plantar em larga escala para que haja o lucro – usando o trator que eles vendem, claro. Eles vendem tudo. O agricultor não
vive sem ele. Quem tem mercado tem tudo.
No cerne desse balaio tecnológico, a indústria é a única entidade que não corre riscos. Se chover, se a terra tremer, se der geada, se cair granizo, se o Diabo vomitar na terra, mesmo assim, o lucro estará garantido para a indústria.
A agricultura moderna é isso aí. Uma das consequências óbvias deste modelo é a concentração de terras a expansão do latifúndio. Aliás, não há como produzir nenhuma das culturas tradicionais se não se pensar em larga escala, em monocultura.
Outras efeitos da introdução da agricultura moderna: poluição generalizada do meio ambiente, contaminação e morte de agricultores, produção de alimentos poluídos, dependência total do agricultor,... Este é o modelo adotado para se fazer a “revolução verde”. Qualquer alternativa dentro dele não é revolucionária, não é socialista. Verticalizar a produção, por exemplo, é um viés de lucro dentro do modelo. Tanto que o discurso ruralista inclui a verticalização. O ícone maior – dependência da indústria – se mantém gordo e bonito. Agora, considere fazer reforma agrária dentro deste modelo? Imagine um assentamento depender de insumos e dos preços determinados pelos financista de Wall Street?
O discurso modernista é o discurso ruralista. E ele pega, gruda na cultura porque vem embalado como ciência. As universidades deram o embasamento a este modelo negocista-colonialista e anti-ecológico. O Governo, através da Embrapa, colocou seus melhores pesquisadores a serviço da indústria, deste modelo, e, através da extensão rural, impôs este arrumado tecnológico aos agricultores do país. Disse para esta gente: “eis a modernidade, fora disto é o primitivismo”. Repare direitinho, que é a mesma conversa de Cabral e sua gangue quando chegaram aqui. O debate ecológico sobre o uso moderado, controlado, adequado, racional, ou integrado, de agrotóxico, portanto, é papo de aranha carangueijeira. Todas essas “alternativas” não são alternativas. É banda de pagode – é tudo igual, a diferença é só a grife do terno, não muda nada.
O problema é o modelo tecnológico. A pressão dos ambientalistas obriga os governos a buscarem solução para os problemas. Mas, veja bem, os problemas são gerados pelo próprio governo e pela indústria. E a solução que propõem não é para mudar o modelo. Pelo contrário. Por exemplo, se é grande o nível de contaminação por agrotóxicos no meio rural, o Estado procura os fabricantes que propõem uma saída; uma saída que não reduz o consumo de venenos.
Ela pode ser uma proposta moderna como o "manejo integrado de pragas", ou outra moderna, como "o controle biológico", mas, principalmente, os cursos de "uso adequado de defensivos agrícolas". Tudo isso para mostrar que: 1) se o agricultor morre ao manipular venenos, a culpa é sua, que não adotou as normas recomendadas pelos fabricantes; 2) o modelo não pode ser modificado; 3) o modelo é moderno e tem o aval acadêmico.. Enfim, o modelo se mantém. Nada se altera. Agora é a vez dos transgênicos, a biotecnologia. Todo mundo já sabe que isto é moderno. Exatamente como antes, quando impuseram os agrotóxicos, também dizem que se o Brasil não adotar os transgênicos, vai perder o metrô da história. Enfim, a gente que receber bem Cabral e sua gangue, mais uma vez. Quem diz isto? Ora, o Governo, a indústria e – como sempre – um bom número de cientistas.
O curioso na categoria dos cientistas (se é que é categoria) é que muitos se comportam como se a sociedade devesse ouvi-los e acata-los como se fossem enviados de Deus para nos trazer a verdade. Veja bem, olhe nos olhos de alguns deles, não parece que integram uma seita radical, absolutista, com seus dogmas suas imposições?...
Quando a indústria trouxe a "revolução verde" não faltaram (e não faltam ainda) cientistas para avalizar o grande crime ecológico, social e econômico contra a humanidade. Citam números, estatísticas, pesquisas, para mostrar que, apesar de algumas falhas (morte e devastação) a agricultura moderna produziu alimentos. Alguns consideram normal tem um quinto da população passando fome no planeta, outros acham até razoável que crianças se contaminem e morram ao manipular agrotóxicos nas lavouras, e há aqueles que acham lógico que a pequena propriedade rural tenha se tornado inviável economicamente. Há cientistas assinando a propaganda da indústria; algumas até mentirosas, como a barganha em cima da miséria humana, ao declararem que é preciso aumentar a produção de alimentos porque cresce a população mundial. Ora, a produção mundial de alimentos já daria para abastecer todo mundo. Se tem gente morrendo de fome não é por ter ou não alimento, o problema é que a comida está no mercado, e falta dinheiro para comprar.
A expansão da engenharia genética realça este debate. Antes de tudo, porém, é preciso compor a mesa: quem deve participar deste debate? Quem for à página eletrônica da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o órgão que aprovou a entrada e comércio da soja transgênica, sem avaliar seus riscos sobre a saúde humana e ao meio ambiente, vai encontrar textos científicos favoráveis aos transgênicos. Tudo que está lá é prótransgênico. Não há uma linha citando as experiências (científicas) que mostram que os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) são perigosos à saúde, ou representam riscos à flora. Enfim, a CTNBio tomou posição radical em defesa dos interesses da indústria. É a mais abjeta expressão de servidão de um órgão público ao império do momento; ainda mais que se instala no altar da ciência para impor seus argumentos. Usa desta prerrogativa cultural (a ciência como dona da verdade) para determinar o que a sociedade deve consumir.
No início, portanto, é o verbo. Ao invés de permitir que a verborragia burocrática, eivada de interesses ex-pátrios determine seu futuro, cabe a sociedade falar, e estabelecer seu norte. Nenhuma categoria tem o dom da verdade, e, por isso, deve a sociedade lhe entregar a última palavra sobre as coisas e as coisas. Cientistas, economistas, políticos, engenheiros, médicos, faxineiras, jogadores de futebol, ambientalista, é tudo gente, é tudo ser humano. Uns prestam e outros não prestam, uns são decentes e outros indecentes, mas todos são parte da sociedade e têm o mesmo peso de opinião neste debate. Todo mundo tem que entrar nele. Nas vezes em que se deixou para o Estado ou a classe empresarial, ou uma outra classe aí, decidir sobre a introdução de nova tecnologia, a sociedade se ferrou.
Também tem uma coisa: a discussão não é nem científica. A discussão é sobre se a sociedade deve aceitar ou não os transgênicos no mercado. Os fabricantes estão pensando em negócios, em monopolizar a produçãode alimentos; o Governo FHC pensa nos negócios desta gente; mas, e a sociedade? Deve engolir este tipo de comida só porque, dizem, é moderno?
No caso específico dos OGMs, o que está em jogo é uma revolução. Se alimentos engenheirados, ou com produtos engenheirados forem colocados no mercado, o que acontecerá com que os consumir? Quais os efeitos sobre o organismo? O corpo humano se adaptará facilmente ou algumas pessoas terão que morrer até que surjam os capazes de suportar a introdução da nova tecnologia? O pulmão aumentará de tamanho? Que novas doenças surgirão?
Ora, ora, ora, é tempo de se fazer um grande debate sobre o assunto. O que vem exatamente por aí não se sabe. Talvez a cura do câncer, talvez a cura da AIDS, novas armas letais, talvez novos vírus e novos fungos, novos seres,... Lá, naquele sorvete de maracujá com sabor de girimun, aonde foi instalada uma bactéria que lhe dá a cor vermelha... De uma coisa, porém, a gente tem certeza, trata-se da introdução no meio ambiente de novo tipo de poluição, a biotecnológica. Esta é muito pior e de efeitos menos conhecido que a nuclear ou a química. Se uma coisinha transgênica, uma quimera aí, escapar pro meio ambiente, pode fazer um estrago no planeta que o transformará em sucata.
O jeito será substituí-lo. Será que os seres humanos comuns, os que não têm ações da Monsanto ou da Novartis, estão preparados para esta possibilidade? Devem participar do debate ou comprar uma passagem para Júpiter em 345 prestações?
O preço da amistosidade saiu-lhes caro. Os índios foram presos, torturados, massacrados. Quase foram exterminados. Eram 5 milhões quando esses bandidos chegaram aqui. Pois, resistiram, e hoje devem ser uns 300 mil. Sobreviveram à modernidade.
Passou o tempo, e o arado da modernidade rasgou terras, sujou os rios, destruiu as matas, poluiu o ar e a alma, fez guerras, ampliou a miséria, e então, dois pontos, revelou o caráter sujo da civilização. O que sobrou da Segunda Guerra foi uma divisão do mundo – o de lá e o de cá. Por azar ficamos do lado de cá, onde ficam os servos do império da norte-amerciano.
Nos idos de 60 foi imposto ao mundo, e ao Brasil em particular, uma modernidade especial: a agricultura tecnológica, também chamada de “agricultura moderna”. Essa modernidade, com o apoio da FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), foi imposta ao planeta, obrigando-o a descartar todo seu conhecimento agrícola e ambiental – sua história - e substituí-lo por este. Ora, aqui havia pelo menos 10 mil anos de convívio dos índios com a terra e outros 400 anos de experiência negra e do europeu miscigenado. Foi tudo pro lixo em nome da modernidade nos campos.
E o que é essa modernidade? Primeiro ela é industrial (seu caminho é o interesse da indústria); segundo, ela é radical, fora dela nada presta. O bloco industrial capitalista, fortalecido no pós-guerra com a vitória no conflito mundial, criou produtos para o mercado. Pior para nós, o pacote de insumos para agricultura é todo ele casado: o agricultor compra sementes; as sementes são frágeis e precisam de adubação ou não crescem; por serem frágeis, também são facilmente atacadas pelos insetos, e daí o agricultor tem que usar agrotóxicos; os inseticidas fazem surgir tribos de insetos mais resistentes (são 400 espécies imunes hoje no mundo) e, por isso o agricultor tem que usar cada vez mais quantidade de veneno ou partir para um novo produto (moderno!) que a indústria oferece; como o agrotóxico é veneno, o trabalhador tem que tratar da saúde com remédios (produzidos pelos mesmos fabricantes, como Rhodia, Hoescht, Novartis...); as sementes são “selecionadas”, só produzem uma vez, o agricultor tem que ir ao mercado todo ano; como tudo isto custa caro, o agricultor tem que plantar em larga escala para que haja o lucro – usando o trator que eles vendem, claro. Eles vendem tudo. O agricultor não
vive sem ele. Quem tem mercado tem tudo.
No cerne desse balaio tecnológico, a indústria é a única entidade que não corre riscos. Se chover, se a terra tremer, se der geada, se cair granizo, se o Diabo vomitar na terra, mesmo assim, o lucro estará garantido para a indústria.
A agricultura moderna é isso aí. Uma das consequências óbvias deste modelo é a concentração de terras a expansão do latifúndio. Aliás, não há como produzir nenhuma das culturas tradicionais se não se pensar em larga escala, em monocultura.
Outras efeitos da introdução da agricultura moderna: poluição generalizada do meio ambiente, contaminação e morte de agricultores, produção de alimentos poluídos, dependência total do agricultor,... Este é o modelo adotado para se fazer a “revolução verde”. Qualquer alternativa dentro dele não é revolucionária, não é socialista. Verticalizar a produção, por exemplo, é um viés de lucro dentro do modelo. Tanto que o discurso ruralista inclui a verticalização. O ícone maior – dependência da indústria – se mantém gordo e bonito. Agora, considere fazer reforma agrária dentro deste modelo? Imagine um assentamento depender de insumos e dos preços determinados pelos financista de Wall Street?
O discurso modernista é o discurso ruralista. E ele pega, gruda na cultura porque vem embalado como ciência. As universidades deram o embasamento a este modelo negocista-colonialista e anti-ecológico. O Governo, através da Embrapa, colocou seus melhores pesquisadores a serviço da indústria, deste modelo, e, através da extensão rural, impôs este arrumado tecnológico aos agricultores do país. Disse para esta gente: “eis a modernidade, fora disto é o primitivismo”. Repare direitinho, que é a mesma conversa de Cabral e sua gangue quando chegaram aqui. O debate ecológico sobre o uso moderado, controlado, adequado, racional, ou integrado, de agrotóxico, portanto, é papo de aranha carangueijeira. Todas essas “alternativas” não são alternativas. É banda de pagode – é tudo igual, a diferença é só a grife do terno, não muda nada.
O problema é o modelo tecnológico. A pressão dos ambientalistas obriga os governos a buscarem solução para os problemas. Mas, veja bem, os problemas são gerados pelo próprio governo e pela indústria. E a solução que propõem não é para mudar o modelo. Pelo contrário. Por exemplo, se é grande o nível de contaminação por agrotóxicos no meio rural, o Estado procura os fabricantes que propõem uma saída; uma saída que não reduz o consumo de venenos.
Ela pode ser uma proposta moderna como o "manejo integrado de pragas", ou outra moderna, como "o controle biológico", mas, principalmente, os cursos de "uso adequado de defensivos agrícolas". Tudo isso para mostrar que: 1) se o agricultor morre ao manipular venenos, a culpa é sua, que não adotou as normas recomendadas pelos fabricantes; 2) o modelo não pode ser modificado; 3) o modelo é moderno e tem o aval acadêmico.. Enfim, o modelo se mantém. Nada se altera. Agora é a vez dos transgênicos, a biotecnologia. Todo mundo já sabe que isto é moderno. Exatamente como antes, quando impuseram os agrotóxicos, também dizem que se o Brasil não adotar os transgênicos, vai perder o metrô da história. Enfim, a gente que receber bem Cabral e sua gangue, mais uma vez. Quem diz isto? Ora, o Governo, a indústria e – como sempre – um bom número de cientistas.
O curioso na categoria dos cientistas (se é que é categoria) é que muitos se comportam como se a sociedade devesse ouvi-los e acata-los como se fossem enviados de Deus para nos trazer a verdade. Veja bem, olhe nos olhos de alguns deles, não parece que integram uma seita radical, absolutista, com seus dogmas suas imposições?...
Quando a indústria trouxe a "revolução verde" não faltaram (e não faltam ainda) cientistas para avalizar o grande crime ecológico, social e econômico contra a humanidade. Citam números, estatísticas, pesquisas, para mostrar que, apesar de algumas falhas (morte e devastação) a agricultura moderna produziu alimentos. Alguns consideram normal tem um quinto da população passando fome no planeta, outros acham até razoável que crianças se contaminem e morram ao manipular agrotóxicos nas lavouras, e há aqueles que acham lógico que a pequena propriedade rural tenha se tornado inviável economicamente. Há cientistas assinando a propaganda da indústria; algumas até mentirosas, como a barganha em cima da miséria humana, ao declararem que é preciso aumentar a produção de alimentos porque cresce a população mundial. Ora, a produção mundial de alimentos já daria para abastecer todo mundo. Se tem gente morrendo de fome não é por ter ou não alimento, o problema é que a comida está no mercado, e falta dinheiro para comprar.
A expansão da engenharia genética realça este debate. Antes de tudo, porém, é preciso compor a mesa: quem deve participar deste debate? Quem for à página eletrônica da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o órgão que aprovou a entrada e comércio da soja transgênica, sem avaliar seus riscos sobre a saúde humana e ao meio ambiente, vai encontrar textos científicos favoráveis aos transgênicos. Tudo que está lá é prótransgênico. Não há uma linha citando as experiências (científicas) que mostram que os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) são perigosos à saúde, ou representam riscos à flora. Enfim, a CTNBio tomou posição radical em defesa dos interesses da indústria. É a mais abjeta expressão de servidão de um órgão público ao império do momento; ainda mais que se instala no altar da ciência para impor seus argumentos. Usa desta prerrogativa cultural (a ciência como dona da verdade) para determinar o que a sociedade deve consumir.
No início, portanto, é o verbo. Ao invés de permitir que a verborragia burocrática, eivada de interesses ex-pátrios determine seu futuro, cabe a sociedade falar, e estabelecer seu norte. Nenhuma categoria tem o dom da verdade, e, por isso, deve a sociedade lhe entregar a última palavra sobre as coisas e as coisas. Cientistas, economistas, políticos, engenheiros, médicos, faxineiras, jogadores de futebol, ambientalista, é tudo gente, é tudo ser humano. Uns prestam e outros não prestam, uns são decentes e outros indecentes, mas todos são parte da sociedade e têm o mesmo peso de opinião neste debate. Todo mundo tem que entrar nele. Nas vezes em que se deixou para o Estado ou a classe empresarial, ou uma outra classe aí, decidir sobre a introdução de nova tecnologia, a sociedade se ferrou.
Também tem uma coisa: a discussão não é nem científica. A discussão é sobre se a sociedade deve aceitar ou não os transgênicos no mercado. Os fabricantes estão pensando em negócios, em monopolizar a produçãode alimentos; o Governo FHC pensa nos negócios desta gente; mas, e a sociedade? Deve engolir este tipo de comida só porque, dizem, é moderno?
No caso específico dos OGMs, o que está em jogo é uma revolução. Se alimentos engenheirados, ou com produtos engenheirados forem colocados no mercado, o que acontecerá com que os consumir? Quais os efeitos sobre o organismo? O corpo humano se adaptará facilmente ou algumas pessoas terão que morrer até que surjam os capazes de suportar a introdução da nova tecnologia? O pulmão aumentará de tamanho? Que novas doenças surgirão?
Ora, ora, ora, é tempo de se fazer um grande debate sobre o assunto. O que vem exatamente por aí não se sabe. Talvez a cura do câncer, talvez a cura da AIDS, novas armas letais, talvez novos vírus e novos fungos, novos seres,... Lá, naquele sorvete de maracujá com sabor de girimun, aonde foi instalada uma bactéria que lhe dá a cor vermelha... De uma coisa, porém, a gente tem certeza, trata-se da introdução no meio ambiente de novo tipo de poluição, a biotecnológica. Esta é muito pior e de efeitos menos conhecido que a nuclear ou a química. Se uma coisinha transgênica, uma quimera aí, escapar pro meio ambiente, pode fazer um estrago no planeta que o transformará em sucata.
O jeito será substituí-lo. Será que os seres humanos comuns, os que não têm ações da Monsanto ou da Novartis, estão preparados para esta possibilidade? Devem participar do debate ou comprar uma passagem para Júpiter em 345 prestações?
Nenhum comentário:
Postar um comentário