Outras Palavras
- [Johanna Treblin, IPS/Envolverde] Segundo revela novo estudo,
instituição continua financiando políticas que entregam abastecimento a
grandes grupos econômicos — apesar de décadas de fracasso.
Apesar
de ficar demonstrado que a privatização da água é prejudicial para os
pobres, um quarto dos fundos do Banco Mundial vão diretamente para
empresas do setor, afirma um documento divulgado semana passada. O
estudo assegura que o Banco apoia as empresas privadas da água, passando
por cima de governos e de seus próprios padrões de transparência.
As populações de muitos países do Sul em desenvolvimento têm difícil
acesso a água potável, e o enfoque para remediar este problema tem sido
depender cada vez mais de empresas privadas. Entretanto, isto é
pernicioso, segundo o informe da organização não governamental Corporate
Accountability International (CAI), com sede nos Estados Unidos.
A CAI exortou o Banco Mundial a deixar de financiar o setor privado
da água e mudar a direção dos fundos para focá-los em instituições
públicas e democraticamente responsáveis. A divulgação do informe,
intitulado Shutting the Spigot on Private Water: Case for the World Bank
do Divest (Fechando a torneira para a água privada: argumentos para que
o Banco Mundial desinvista), coincide com o início das reuniões que
esse organismo realiza com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A Corporação Financeira Internacional (CFI), ramo do Banco dedicado a
fomentar o desenvolvimento econômico por meio do setor privado,
investiu US$ 1,4 bilhão em empresas de água desde 1993, segundo o
estudo. Até janeiro de 2013, os investimentos crescerão US$ 1 bilhão ao
ano. O informe também assinala que, para cada dólar que a CFI coloca em
um projeto, ela atrai entre US$ 14 e US$ 18 em investimentos privados
complementares.
Isto explica porque o Banco Mundial e a CFI continuam financiando
companhias privadas de água, mesmo quando cerca de um terço de todos os
contratos assinados entre 2000 e 2010 fracassaram ou estão em risco de
fracassar, quatro vezes mais do que no caso de projetos de
infraestrutura nos setores de eletricidade e transporte, segundo a CAI.
"Em lugar de se concentrar em garantir o acesso a água potável
inclusive economicamente, o Banco Mundial promove medidas que deixarão
mais cara a água para os consumidores", diz, por outro lado, um informe
de 2010 da organização não governamental Food and Water Watch. O alto
custo também pode ser definido em termos humanos. O mesmo documento
indica que a má qualidade da água e do saneamento permite a propagação
de parasitas que "são a principal causa de doenças e mortes no mundo em
desenvolvimento".
A CAI também crítica vários conflitos de interesses, como o fato de o
Banco Mundial ser dono de empresas do setor da água enquanto se
apresenta como conselheiro imparcial. No fim das contas, o "Banco
Mundial é o motor por trás desta invasão corporativa nos sistemas e nos
serviços de água", afirmou a CAI em seu site. O Banco Mundial estimula
os países a privatizarem seus sistemas de água ou modificá-los para que
tenham por foco o lucro, acrescentou.
O Banco Mundial também promove o desenvolvimento de infraestruturas
que oferecem vantagens para os "usuários de grandes corporações, acima
dos interesses dos indivíduos ou das comunidades", afirma a
diretora-executiva da CAI, Kelle Louaillier. "Em meio a uma crise
mundial da água, o Banco está desperdiçando os recursos necessários para
salvar milhões de vidas. Seus estatutos estabelecem que deve ajudar os
que têm mais necessidade, mas sua aposta financeira nas corporações da
água está criando perversos incentivos que solapam a própria missão do
Banco", enfatizou.
Segundo a CAI, as privatizações prejudicam os mais pobres, limitando o
acesso ao recurso e afetando os direitos humanos, com ocorreu em
Manila, Filipinas, onde o Banco Mundial ajudou o governo filipino a
desenhar um plano de privatização. "Anos depois, muitos moradores de
Manila ainda carecem de água, e os problemas de acesso se agravaram",
disse Shayda Naficy, especialista da CAI. "A CFI chama isso de êxito, e
foi, para seus investidores. Contudo, é um tremendo fracasso do ponto de
vista dos moradores e seu direito à água", ressaltou.
Por outro lado, um porta-voz do Banco Mundial disse à IPS que o
informe da CAI desvirtua o papel do órgão e carece de profundidade. "Os
serviços de financiamento e assessoria da CFI asseguraram água potável e
saneamento a mais de 20 milhões de pessoas até 2011", afirmou. "Se
mudam as hierarquias, existe a possibilidade de o Banco mudar seu
curso", disse Louaillier hora antes da eleição, ontem, do novo
presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, norte-americano de origem
sul-coreana.
O candidato de Washington prevaleceu sobre outros que receberam
importante apoio político: a ministra das Finanças da Nigéria, Ngozi
Okonjo-Iweala, e o ex-ministro das Finanças colombiano José Antonio
Ocampo. O Banco Mundial sempre teve presidentes de nacionalidade
norte-americana.
Há um ano, seu então presidente, Robert Zoellick, disse que o mundo
necessitava de "nova geopolítica para uma economia multipolar, na qual
todos estejam representados equitativamente em associações a favor das
maiorias, e não em clubes para poucos". Para ele, a crise financeira
global marcou o fim dos velhos modelos de economia e desenvolvimento.
Como consequência, categorizações como "primeiro mundo" ou "terceiro
mundo", "doadores" ou "beneficiários", "líderes" ou "liderados", já "não
encaixam", destacou Zoellick. No entanto, estas ideias não parece se
refletir dentro do próprio banco.
Fonte: http://www.diarioliberdade.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário