quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Projetos públicos em São Paulo "expulsam" 165 mil pessoas de casa

50 mil famílias serão desalojadas em São Paulo por conta de projetos desenvolvidos pelo poder público

“Projetos em execução pelo poder público em São Paulo vão desalojar compulsoriamente de suas casas cerca de 50 mil famílias em dez anos (2006-2015), no maior deslocamento populacional forçado já registrado no Estado.” A informação é de matéria publicada ontem na Folha de São Paulo e Folha Online.

Esta informação é muito significativa quando pensamos na concretização do direito à moradia em nosso Estado. O Brasil é signatário de tratados internacionais que asseguram o direito à moradia adequada à população. Portanto, remoções só devem ser feitas em casos extremos e, ainda assim, com oferta às famílias de alternativas de moradia no mesmo nível ou melhores que a anterior.

No ano passado, produzimos na Relatoria da ONU para o Direito à Moradia Adequada a cartilha “Como atuar em projetos que envolvem despejos e remoções?”, com orientações aos envolvidos em projetos de desenvolvimento sobre como integrar o direito à moradia adequada na implementação dos empreendimentos.

Segue abaixo a matéria da Folha:

Projetos em execução pelo poder público em São Paulo vão desalojar compulsoriamente de suas casas cerca de 50 mil famílias em dez anos (2006-2015), no maior deslocamento populacional forçado já registrado no Estado. A informação é da reportagem de José Benedito da Silva publicada na edição desta segunda-feira da Folha (íntegra da coluna está disponível para assinantes do jornal e do UOL).

De acordo com o texto, considerando 3,3 moradores por casa --média da prévia do Censo 2010--, o número de desalojados chega a 165 mil, mais que a população de São Caetano do Sul (153 mil). A maioria das casas é irregular, está em áreas de risco ou preservação ambiental. Quase a metade das famílias desalojadas será atingida por ações de cunho ambiental.

Joel Silva/Folhapress
Dona de casa Betania Bonfim sentada nos escombros de sua casa derrubada para obras das margens da represa Billings
Dona de casa Betania Bonfim sentada nos escombros de sua casa derrubada para obras das margens da represa Billings

A maior delas é o Várzeas do Tietê, um megaparque linear de 107 km de extensão que vai do extremo leste de São Paulo até Salesópolis, onde nasce o rio Tietê. O projeto prevê desalojar 10 mil famílias em seis cidades, sendo a maior parte na região do Jardim Pantanal, onde remoções começaram após enchentes em 2009.

A maioria dos projetos é executada pelo governo do Estado ou prefeitura, mas parte tem recursos do PAC (federal) ou financiamento de órgãos como BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Banco Mundial.

OUTRO LADO

A Prefeitura de São Paulo diz que há 800 mil famílias à espera de moradia adequada, que age diante de situações emergenciais e que uma solução definitiva deverá vir até 2024, como prevê o Plano Municipal de Habitação. Segundo ela, estão sendo urbanizadas 110 favelas na cidade, com verbas estadual, municipal e federal e que o processo é complexo pois envolve uma "negociação ininterrupta com a população".

Um dos problemas é o imediato adensamento populacional de uma favela sempre que sua reurbanização é anunciada, como diz ter acontecido na favela do Sapo (região da Água Branca), onde o número inicial de famílias saltou de 87 para 455.

Joel Silva/Folhapress
Pedreiro Jesuino Ferreira observa máquina derrubar casas ao lado da sua, que também será derrubada, para obras em SP
Pedreiro Jesuino Ferreira observa máquina derrubar casas ao lado da sua, que também será derrubada, para obras em SP

De acordo com a pasta, o objetivo é atender com casas e apartamentos todas as famílias removidas, mas que, emergencialmente, paga o chamado aluguel social --R$ 300 por mês-- para que elas fiquem em moradias provisórias até que sejam concluídas as unidades habitacionais.

Já a CDHU (companhia habitacional do Estado) afirmou que atua em favelas em duas frentes --urbanização e erradicação-- e que "em hipótese nenhuma deixa famílias sem atendimento definitivo nos locais de intervenção". Segundo ela, o Programa de Atuação em Favelas atendeu 18.375 famílias com novas moradias entre 2007 e 2010 e 22.645 foram beneficiadas com urbanização.

No Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar, a companhia afirma que as 5.350 famílias retiradas de áreas de risco ou de preservação irão para conjuntos habitacionais.

Fonte: http://raquelrolnik.wordpress.com e http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano

2 comentários:

  1. Vou por outro lado. Nao adianta a populaçao ter casa e esta ser sem qualidade, na margem de rios como em Sao Paulo, um local que por causa do solo existente e da sua ocupaçao desordenada sofre com enchentes corriqueiras e de fato traz grandes prejuizos. A cidade de Sao Paulo ao construir um Parque Linear estara fazendo sua parte contra o problema recorrente das enchentes e ainda ajudando ao meio ambiente. Moradias sim, mas que sejam dignas e humanas.

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  2. Com certeza caro Hamilton, habitação de qualidade para todos!Mas, ai que mora o Problema. Vamos revitalizar o Tietê, replantar as matas ciliares e acabar com as enchentes! Todos queremos isso!
    Mas e as pessoas que residem nas suas margens?
    Será correto simplesmente despeja-las como está ocorrendo já en toda borda da Represa Guarapiranga e Billings?
    Será que a ocupação histórica não foi planejada pelos próprios desgraçados (gestores públicos e empreiteiras e grileiros da região)?
    Porque o Estado deixou isso ocorrer?
    Por que o estado não propriciou moradia digna para essa população no início da ocupação?
    A cidade de São Paulo está fazendo sua parte mas sob os cadáveres de seus moradores!
    Isso é um Absurdo!

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