sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Policial ameaça com arma e agride estudante na USP; Na cracolândia e na USP: aos indesejáveis um só método: o porrete!

Por André Bof


Após todo processo de luta desencadeado na Universidade de São Paulo durante o fim do ano, cujo estopim foi a tentativa de prisão de 3 estudantes no dia 27 de outubro, seguida de diversos exemplos do papel repressivo da Pm no campus, como a invasão por 400 policiais que coroaram o projeto da reitoria de avançar na militarização da USP, a PM mostra, mais uma vez, aos que duvidaram, a que veio.

Neste dia 9 de janeiro, Nicolas, jovem negro, estudante de Ciências da natureza da Usp foi agredido aos tapas e ameaçado com uma pistola por um destes supostos “policiais preparados” para lidar com um ambiente “comunitário”.

Toda a ação foi filmada -Aqui- e, como era de se esperar, tanto a reação do policial - que aos berros dizia que era “Polícia” e não tinha feito nada de errado nem temia a corregedoria- quanto a posterior abordagem da mídia, em caracterizar Nicolas como um “suposto” estudante, já eram esperados por aqueles que se enfretaram com exemplos, truculência e repressão deste tipo por mais de 3 meses.

O que está por detrás da abordagem deste jovem negro, “mal-vestido” e de Dread/Rastafari na Usp?

Nicolas, não coincidentemente foi abordado pelo policial que, naquele momento e em geral, seguiu um procedimento da PM, que não é exceção nas divisões de elite dos 400 que invadiram a USP ou dos 100 que entraram na cracolândia, nem nos tão “preparados policiais comunitários”. Esta é a política do racismo e da discriminação entre “normais” e os “indesejáveis” que norteia a Polícia.

A Pm é uma instituição reacionária, autoritária e violenta, filha direta da Ditadura Militar. Nas estrelas presentes em seu brasão de armas de mais de 181 anos, comemoram a repressão a Canudos - levante Popular organizado em contraposição à ordem vigente-, às greves operárias de 1917 e comemoram até mesmo o Golpe militar de 1964.
Isto porque seu caráter, a despeito do que dizem os defensores desta democracia dos ricos é o caráter de um organismo a serviço de uma classe: a dos patrões.
Isso implica que seu principal objetivo é garantir os interesses, lucros, empresas, locais de estudos e posses destes grandes magnatas e senhores, por quais vias forem necessárias.
Não é preciso procurar demais. Basta observar o papel que cumprem nas periferias de todas as cidades, nos morros cariocas, nos conflitos no campo, nas greves de trabalhadores em que dissolvem piquetes- o que já ocorreu na USP, em Jirau, com professores, etc-, e, não surpreendentemente, nas Universidades e cracolândias por todo o país.

Nicolas, um jovem negro e pobre não poderia ter outro destino que não ser abordado e agredido tanto pela PM, quanto pela reacionária guarda universitária, a serviço da reitoria. Este é o método comum em todas as periferias e, na Usp, uma universidade pensada, organizada e cujo acesso e permanência são somente acessíveis às camadas mais altas da sociedade, com tais “elementos”, só poderia se expressar o racismo corriqueiro da polícia cujas raízes remetem ao escravagismo do império.

O “indesejável” ao se dirigir ao capataz, tal como uma besta que se dirige ao ser civilizado, deve ser neutralizado e eliminado para garantir a manutenção da ordem imposta pela casa grande. Esta é a lógica da ditadura militar escravagista e é a serviço disto que está a repressão na USP que conta, hoje, com 73 presos e processados políticos e 6 expulsões por lutarem contra tal projeto.

A Reitoria da USP, com seus quadros e monumentos em homenagem à ditadura militar visa impor um choque de ordem aos “elementos indesejáveis” na USP, tal como o Governo do estado impõe sua ordem aos “indesejáveis” da Cracolândia!
Há alguns meses a reitoria tentou iniciar a construção de um dito “monumento à REVOLUÇÃO de 64”, comemorando a data memorável do golpe da ditadura... Igualmente foram veiculados imagens de quadros de “presidentes” reitores da ditadura Militar, como Gama e Silva, nas salas da reitoria... Não bastassem estes elementos tão emblemáticos, numerosos são os exemplos de ataques aos estudantes e trabalhadores na USP.
Demissões, agressões, ameaças com armas de fogo, PM's atacando piquetes de greve de trabalhadores, amordaçando estudantes, etc, são imagens que caracterizam a USP no último período, sendo os últimos meses exemplos cabais disto.

Já está mais do que claro que a presença policial no campus da USP tem um sentido político e repressivo. É uma encomenda especial do Governo do estado, aplicada pelo carrasco Reitor Rodas, para calar os setores que questionam um projeto de Universidade racista, elitista - que exclue a maioria da população com seu vestibular, em especial os negros da periferia-, e voltado aos interesses das grandes empresas.
Historicamente, um setor de resistência tem se organizado e combatido este projeto, no sentido de buscar abrir o debate acerca de que Universidade precisamos e a serviço de quem. São calados às balas, bombas e prisões, tal como os capatazes escravagistas tratavam suas propriedades fugitivas.

Paralelamente a isto, Alckmin e o oficialato da Pm prepararam um plano de higienização social maquiado como “revitalização” da região conhecida como cracolância, cujos objetivos obscuros podem muito bem estar a serviço de uma “limpeza social” pré-olímpiadas as custas da opressão e repressão de todos os moradores da região, vítimas desta miséria de vida que nos impõe.

Por lá, os métodos são bem parecidos. Não faltam balas, tiros, tapas na cara, ofensas e ameaças.
A PM tem estabelecido uma presença ostensiva contando até mesmo com o aparato da tropa de choque e da cavalaria - verdadeiros “capitães do mato”, caçadores de escravos modernos- para garantir que as “vias sejam liberadas” e que, pela “dor e sofrimento”, segundo as palavras do próprio “secretário de defesa da cidadania”, possam “superar” sua situação miserável.

As imagens de terror, armas nos rostos, socos e pontapés e denúncias de execuções sumárias por parte da PM também não faltam, assim como em todas as periferias e nas lutas populares. A justificativa do senso comum e das ditas “autoridades” é que são viciados e um setor “descontrolado” da sociedade.

As razões de tal repressão, sabemos, advém de que aos capitalistas é necessário esconder estes pobres miseráveis, os quais são a expressão mais aguda e mais cruel de um princípio do capitalismo: Ou você “vence” na vida e lucra, ou está abandonado a sua própria sorte por ser um perdedor.
Abandonados, não lhes resta nada além das drogas, da miséria, da prostituição e das ruas.
São a expressão concretizada do destino que o capitalismo reserva a toda civilização. O abandono, isolamento e a miséria.
O Estado, num ato de bondade cívica aplaudido por todos os meios reacionários, vem lhes dar um presente de ano novo e um “incentivo à civilização” na forma de lacrimogênio.

Pela Usp, o núcleo de consciência Negra - NCN- cuja resistência perdura há vários anos e tenta ser um contraponto à política segregacionista e elitista da Instituição e seus dirigentes “máximos”, tem sido ameaçado de perder sua sede e não ter para aonde ir, para, assim, dar lugar a um projeto de “revitalização” das estruturas...que não incluem o único núcleo de Negros!!!

Alguma semelhança?


A ditadura Militar, abençoada pelo PSDB e pela Reitoria da USP tem de acabar!
Não é de se estranhar que a Polícia aja desta maneira. Na realidade, a ação repressiva faz parte de um projeto de Universidade- e de estado- que vira as costas para a maioria trabalhadora da sociedade e busca submeter os trabalhadores e estudantes de baixa renda e resistentes a esta elitização.
A terceirização, que estabelece trabalhos exaustivos e salários de miséria, com assédio moral, etc; as demissões que continuam de maneira arbitrária; expulsões de alunos; processos e demissões inconstitucionais; tudo isto é o exemplo de uma estrutura arcairca e retrógrada, cuja manutenção tem a benção de um governo igualmente autoritário e retrógrado como o do PSDB e sua corja, cujas desocupações de sem-teto, repressão a greves de trabalhadores e a movimentos populares são bem conhecidos de toda a população.

A comunidade Universitária, em nenhuma instância, pode se fazer representar de maneira relevante e, sendo assim, cabe a um pequeno grupo de seletos iluminados, todos orbitando a figura do REItor decidir o que, quando, onde e de que maneira se organizar, financiar e estabelecer as prioridades da USP.

De 100 mil membros da USP, 300 tem poder de decisão. Dos 12 milhões de cidadãos de São Paulo, o governo do estado - que transfere Bilhões para grandes empresas e seus negócios-, através de seu vestibular, permite que tenham acesso à USP apenas 9 mil.
Nenhum deles será da Cracolândia, poucos serão negros e da periferia e os que forem, certamente, sofrerão com falta de condições para manter seus estudos, falta de moradia e muita repressão quando lutarem por algo neste sentido...

Recentemente, o movimento estudantil da USP tem se colocado em pé de questionamento, organizando ações e uma greve para garantir a saída da PM do campus tendo avançado no questionamento da estrutura do acesso e de poder na USP.
É necessário avançar na luta por uma Estatuinte que varra da USP estes dejetos ditatoriais, debata e decida sobre os objetivos, problemas e diretrizes da USP, que precisa estar a serviço dos trabalhadores: a maioria da população.

Igualmente, só um governo da Usp, baseado em conselhos dos estudantes, trabalhadores e professores, na proporção de sua presença na universidade, ligados as organizações dos trabalhadores e movimentos populares será capaz de organizar uma Universidade não elitista e que se desprenda da Lógica de benefício ao mercado e exclusão da massa de baixa renda que verdadeiramente financia a universidade pública.

Por enquanto, nas imediações do belo campus Butantã, dentro do circo de operações dos magnatas hipócritas do governo, Nicolas, agredido e ameaçado com tapas e uma pistola, é levado a crer que os policiais agressores serão, supostamente, afastados numa manobra hipócrita que visa maquiar o verdadeiro sentido “agressor” da repressão; há poucos metros da Universidade, na favela da São Remo, Cícera, trabalhadora terceirizada, assassinada pela Pm com um tiro na cabeça, não tem tanta sorte.

Enquando na USP, há a agressão e o suposto “afastamento”, na favela São Remo, há o corpo negro estirado no chão.

Numa, maqueia-se a segregação social que, inusitadamente, é captada pelas câmeras, noutra, as câmeras e imagens não resistem ao massacre cotidiano e, por lá, a "autoridade" não tem nada a esconder. É só o bom e velho "Mocinho e Bandido": De cinza é "mocinho"; qualquer tom de negro, é inimigo. Uma dica da ditadura.

Dois lados da mesma moeda. Duas ações da mesma hipocrisia. Uma ação de classe de costas para a outra. A ação da classe dos que querem eliminar as vozes que distoam, as palavras que discordam e os oprimidos que resistem.
 
NÃO PASSARÃO!
Fonte: http://cephs.blogspot.com/

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