segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Capitalismo selvagem: Brasil Foods é multada em quase R$ 5 milhões por exploração de trabalhadores

 
 
A BRF Brasil Foods S.A. de Capinzal, em Santa Catarina, que responde por 9% das exportações mundiais de proteína animal e é a única companhia do Brasil com rede de distribuição de produtos em todo o território nacional, foi multada em quase R$ 5 milhões, por descumprir decisão judicial. A Unidade que abate cerca de 450.000 frangos/dia, emprega hoje 4.500 pessoas das quais 20% tem algum tipo de doença ocupacional.
No dia 8 de fevereiro de 2010, a Juíza da Vara do Trabalho de Joaçaba, Lisiane Vieira, concedeu tutela antecipada em ação movida pelo Ministério Público do Trabalho obrigando a empresa a conceder pausas de recuperação de fadiga de 8 minutos a cada 52 minutos em atividades repetitivas e notificar as doenças ocupacionais comprovadas ou objetos de suspeita. 
A mesma tutela proibiu a BRF Brasil Foods S.A de promover jornadas extras para minimizar os efeitos nocivos do trabalho a seus funcionários. Ao julgar mandado de segurança movido pela empresa, o Tribunal Regional do Trabalho cassou a tutela antecipada, mas em recurso interposto pelo MPT o Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, restabeleceu a decisão da Vara do Trabalho de Joaçaba.
O descumprimento das pausas gerou a execução de multa no valor de R$ 10 mil ao dia, desde 28 de junho deste ano. Também foram executadas multas de R$ 20 mil ao dia, desde a mesma data, em razão da BRF Brasil Foods SC não emitir Comunicações de Acidentes de Trabalho. 
As multas somam R$ 4,7 milhões. Da decisão cabe recurso, mas a empresa deverá depositar o valor para poder recorrer. O Frigorífico solicitou à Justiça a nomeação de um bem em garantia ao invés de realizar pagamento em dinheiro, pedido negado em razão da legislação processual estabelecer prioridade de penhora em dinheiro.
Para o Procurador do Trabalho Sandro Eduardo Sardá, Gerente Nacional do Projeto do MPT de Regularização das Condições de Trabalho em Frigoríficos, "é lamentável que mesmo após a concessão de tutela antecipada pela Vara de Joaçaba, mantida pelo TST, determinando a adoção de medidas essenciais à proteção à saúde e dignidade humana, a empresa continuou violando os direitos fundamentais dos trabalhadores. Trata-se de grave desrespeito ao Poder Judiciário Trabalhista, ao Ministério Público, aos trabalhadores e a toda a sociedade".
Nesta segunda-feira (12), o Procurador lembrou que recentemente a BRF Brasil Foods em Capinzal investiu cerca de 50 milhões de reais em automação de seus processos industriais, e "mesmo assim os empregados continuam submetidos a um rito de trabalho intenso e incompatível com a saúde física e mental, com a realização de 70 a 120 movimentos por minuto, quando estudos apontam que o limite de 30 a 35 movimentos por minuto não deve ser excedido", enfatizou.
A BRF Brasil Foods fechou 2010 como a terceira maior exportadora do país. É uma das maiores empresas de alimentos do mundo, e foi criada a partir da associação entre a Perdigão e Sadia. Atua nos segmentos de carnes (aves, suínos e bovinos), alimentos industrializados (margarinas e massas) e lácteos, com marcas consagradas como Perdigão, Sadia, Batavo, Elegê, Qualy, entre outras.
Com faturamento líquido de R$ 23 bilhões registrado em 2010, a BRF exporta para 140 países, opera 61 fábricas no Brasil (distribuídas em 11 Estados) e três no exterior (Argentina, Reino Unido e Holanda). Mantém 24 escritórios comerciais no Exterior e emprega cerca de 115 mil trabalhadores.

DOENÇAS OCUPACIONAIS*


Estudos realizados pela própria BRF Brasil Foods na Unidade de Videira comprovam:
  • 68,1% dos empregados do setor de aves sentem dores causados pelo trabalho;
  • 65,31% dos empregados do setor de suínos sentem dores causados pelo trabalho;
  • 61,79% dos empregados estabelecem relação entre a dor e o trabalho desenvolvido na área de aves
  • 60,34% dos empregados estabelecem relação entre a dor e o trabalho desenvolvido na área de aves;
  • 70,89% dos postos precisam de intervenção ergonômicas no setor de aves;
  • 95,5% dos postos precisam de intervenção ergonômicas no setor de suínos;
  • 30,24% dos empregados manifestaram dormir mal no setor de aves e 33,18% no setor de suínos;
  • 49,64% dos empregados manifestaram se sentir nervosos, tensos ou preocupados no setor de aves e 50,43% no setor de suínos;
  • 12,26% dos empregados manifestaram que alguma vez pensou em acabar com a sua vida no setor de aves
  • 13,46% dos empregados manifestaram que alguma vez pensou em acabar com a sua vida no setor de suínos.
  • Cerca de 20% de toda a mão de obra em frigoríficos vem sendo acometida de doenças ocupacionais.
*Fonte: Programa de Reabilitação Ampliado mantido pela Perdigão em Videira.
Fonte: http://www.bonde.com.br/?

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