segunda-feira, 28 de março de 2011

Crise nuclear no Japão: O que sabemos

Justificar
por Union of Concerned Scientists

O grande terramoto ao largo da costa Nordeste do Japão provocou uma situação potencialmente catastrófica numa das centrais nucleares do país. A situação ainda está a evoluir, mas abaixo está uma avaliação preliminar com base nos factos tal como os peritos da Union of Concerned Scientistas presentemente os entendem.


O proprietário da Central, Tokyo Electric Power Company ( TEPCO ), informou que às 14h46 locais "turbinas e reactores das unidades 1, 2 e 3 da Central Nuclear de Fukushima Daiichi cessaram de funcionar automaticamente devido ao Terramoto Miyagiken-oki".

Estes reactores são três dos seis que operam na instalação nuclear de Fukushima I. Todos eles são de água fervente (boiling water reactors). A unidade 1 tem uma potência de 460 megawatts e as unidades 2 e 3 têm uma potência de 784 megawatts.

A TEPCO prosseguiu declarando que os encerramentos foram provocados pela perda de energia fora das suas instalações "devido ao mau funcionamento dos dois sistemas de energia externos". Esta perda de energia disparou geradores diesel de emergência, os quais automaticamente começaram a proporcionar energia substituta (backup) aos reactores.

Contudo, às 15h41 locais, os geradores diesel de emergência encerraram "devido ao mau funcionamento, resultando na perda completa de corrente alternada para todas as três unidades", segundo a TEPCO. A falha dos geradores diesel mais provavelmente foi devida à chegada do tsunami, o qual provocou inundação na área. O terramoto estava centrado a 240 quilómetros do Japão e teria levado aproximadamente uma hora para o tsunami alcançar as ilhas japonesas.

Esta falha de energia resultou numa das mais sérias condições que podem afectar uma central nuclear – um "blackout da central" – durante o qual perde-se tanto a energia produzida externamente à central como a corrente alternada (AC) de emergência da própria central. As centrais nucleares geralmente precisam de energia AC para operar os motores, válvulas e instrumentos que controlam os sistemas que fornecem água de arrefecimento ao núcleo radioactivo. Se toda a energia AC for perdida, as opções para arrefecer o núcleo são limitadas.

Os reactores de água fervente em Fukushima são protegidos por um sistema Reactor Core Isolation Cooling (RCIC), o qual pode operar sem energia AC porque é conduzido por vapor e portanto não exige bombas eléctricas. Contudo, ele exige energia em corrente contínua (DC) de baterias para as suas válvulas e controles funcionarem.

Contudo, se a energia das baterias for esgotada antes de a energia AC ser restaurada, o RCIC cessará de fornecer água para o núcleo e o nível de água no núcleo do reactor poderia descer. Se descesse demasiado, o núcleo super-aqueceria e o combustível ficaria danificado. Finalmente, um "colapso" ("meltdown") poderia acontecer: o núcleo poderia tornar-se tão quente que formasse uma massa pastosa que se fundiria através do recipiente de aço do reactor. Isto libertaria uma grande quantidade de radioactividade do recipiente para dentro do edifício de contenção que encerra o recipiente.

A finalidade principal do edifício de contenção é impedir a radioactividade de ser libertada para o ambiente. Um colapso aumentaria a pressão no edifício de contenção. Neste ponto não sabemos se o terramoto danificou o edifício de contenção suficientemente para minar a sua capacidade de conter a pressão e permitir que a radioactividade escape.

Segundo documentos técnicos traduzidos por Aileen Mioko Smith da Green Action no Japão, se o nível do refrigerante caiu para o topo das varetas de combustível (fuel rods) activas no núcleo, o dano no núcleo começaria cerca de 40 minutos mais tarde e o dano no recipiente do reactor ocorreria 90 minutos depois disso.

A preocupação acerca de um acidente grave é tão alta que enquanto a TEPCO tenta restaurar o refrigerante o governo evacuou uma área com raio de 3 km em torno do reactor.

A Bloomberg News informou que a vida da bateria do sistema RCIC é de oito horas. Isto significa que as baterias teriam sido esgotadas antes das 10h00 EST de hoje. Não está claro se esta informação é exacta, uma vez que sugere que várias horas teriam decorrido sem qualquer arrefecimento do núcleo. A Bloomberg também informa que o Japão assegurou seis baterias de substituição e planeou transportá-las para o sítio, possivelmente em helicóptero militar. Não está claro quanto tempo esta operação demoraria.

Também tem havido informações ulteriores de que a Unidade 2 de Fukushima I perdeu o seu refrigerante do núcleo, o que sugere que o seu RCIC cessou de funcionar, mas que a situação "foi estabilizada", embora não seja publicamente conhecido o que é a situação. A TEPCO confirmadamente planeia libertar vapor do reactor para reduzir a pressão, a qual se elevou 50 por cento acima do normal. Este escape libertará alguma radioactividade.

A UCS emitirá actualizações à medida que se tornar disponível mais informação.

Ver também:
  • Nuclear and Industrial Safety Agency , do Japão
  • The Japanese Disaster: Full Coverage
  • Union of Concerned Scientists
  • Citizen`s Nuclear Information Center

    O original, com novas actualizações, encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2011/ucs110311.html

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • Nenhum comentário:

    Postar um comentário