quarta-feira, 19 de junho de 2013

Explosão jovem cheira mais primavera que pólvora e gasolina

por Artur Scavone, especial para o Viomundo

Vamos aos fatos: não há no país uma força política que represente o descontentamento enorme contra corrupção, desmando, precariedade dos serviços sociais, tarifas etc. Não surgiu um outro PT, tal como foi no seu início, no lugar do PT, em grande medida institucionalizado e cooptado ideológica e materialmente pelo poder.
Esse vácuo de representação vai acumulando forças que não têm por onde se expressar. Os meios de comunicação (o PIG, em particular) não se cansam de falar de roubalheira, políticos desonestos, etc. Fazem questão de desmoralizar a política porque querem apresentar o Aécio como sério e honesto. Ainda que o problema exista, o caminho não é a desmoralização, mas a participação, todos sabemos.
A juventude, que tem mais capacidade operacional para se manifestar, que sofre com tarifas, caos urbano, busca saídas em várias formas de protesto. Alguns vão para os partidos de pouca expressão institucional e mais radicalizados, outros para grupos ecológicos ou para outras formas de organização.
Essa mesma juventude vê pela mídia a vitalidade das manifestações pelo mundo. Nós víamos maio de 68 na França, Che Guevara na Bolívia, Ho Chi Min no Vietnã. Isso contamina e vitamina, como já nos contaminou e nos vitaminou.
Um estopim detona a explosão: o Movimento Passe Livre (MPL), que tem história, já se fez presente nas reuniões do Fórum Social Mundial e se diz apartidário, chama as manifestações. A repressão violenta é gasolina pura.
Os partidos de esquerda com posições políticas doutrinárias – e daí sectárias – articulam sua participação já visualizando a insurreição das massas à frente. São eles que buscam a radicalização: tomar os palácios – no RJ, em SP, em BH e em POA. O PT fica atônito. O PSOL tenta se inserir no movimento. O movimento sente-se em sintonia com a primavera árabe. Ou das revoltas na Síria.
O MPL – por uma posição ideológica – se recusa dar direção ao m
ovimento. Ontem, no Largo da Batata, eles se recusaram usar carro de som, “porque cada um sabe o que faz e políticos querem se apropriar do movimento”.
O que acontece? Quem tem capacidade de mobilização e de dar direção conduz parte da manifestação. Se o MPL é despolitizado, a direção dada a esta outra parte da manifestação caminha para outro tipo de despolitização: o distanciamento do movimento real em razão da radicalização sectarizada.
A essa altura do campeonato os articuladores do PIG, Jorge Bornhausen, Merval Pereira e outros, estão com as barbas de molho, preocupados porque a manifestação, que deveria pedir a prisão dos condenados do mensalão, ser contra a Dilma, contra Haddad, foi contra os símbolos maiores do poder, as casas legislativas. Ou seja, o tiro do PIG está saindo pela culatra.
É óbvio, afinal, que ninguém está com as barbas de molho mais que o PT. O discurso da Bolsa Família, do Fim da Miséria, da Copa, do desenvolvimento, está se esgotando.
Essa explosão jovem tem mais cheiro de primavera que de pólvora (das balas de borracha) e gasolina (dos coquetéis molotov). É preciso que a juventude mostre a cara e sonhe mais alto. Aliás, mostre a cara, e não tenha que cobri-la para quebrar e detonar, porque esse é o caminho, nas atuais circunstâncias, da despolitização.
 Artur Scavone é jornalista e estudante de filosofia na USP.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O capitalismo não pode gerar liberdade para todos, igualdade nem para poucos e fraternidade de jeito nenhum

*Por Habanero
José Paulo Netto é um dos maiores intelectuais marxistas do país. Isso, as pessoas minimamente bem informadas sobre este campo, já sabem. Pensador decisivo da formulação teórica no campo do Serviço Social, o alcance de seu trabalho e de sua influência já extrapolou as fronteiras daquela área. Zé Paulo, como gostamos de chamá-lo, tem sido ao longo das últimas décadas um dos pontos de referência da esquerda que quer pensar e tem acolhido com extraordinária generosidade o amplo leque de matizes e subcolorações que ela comporta. Em suas muito concorridas aulas de pós-graduação – trata-se de um professor emérito em franca atividade – encontram-se olhares atentos de bons representantes de uma diversidade de siglas políticas e de movimentos da busca da mudança do mundo. A energia que empresta às suas convicções teóricas, adensada por sua erudição, ganha especial sentido para os que testemunham a humanidade calorosa com que trata os jovens em início de caminhada.
Esta entrevista tem também o sentido de homenagear outro grande mestre, professor, pensador e figura humana marcante para tantas e tantos de nós: o professor Carlos Nelson Coutinho, com quem Zé Paulo conviveu por frutíferas décadas. O entrevistado começou falando do amigo e o citando encerrou. A Carlos Nelson a revista Habanero dedica esta entrevista.

A atualidade do pensamento vinculado à superação do capitalismo, o significado dos processos sociais e políticos atuais, o lugar dos movimentos de “minorias” e do movimento ambientalista e sua relação com a luta de classes, o papel da militância partidária no mundo de hoje e, por todos, a possibilidade de um futuro humano emancipado, são alguns dos temas tratados com extraordinárias lucidez, atualidade e coerência por nosso entrevistado. Seu conhecido rigor teórico, exige advertir que a eventual brevidade com que alguns assuntos são tratados decorre das limitações temporais e técnicas e não do desconhecimento de que são apenas parte do debate. Mas seus entrevistadores – editores desta revista, que contaram com a valiosa colaboração do amigo Victor Neves – se perguntam: quantos poderiam ter dito tanto em tão pouco tempo?

Fonte:http://www.revistahabanero.org/