A crise sistêmica global encaminha-se para um novo
patamar de ebulição, com impactos muitos mais explosivos do que em 2008, quando
quebrou o Lehmon Brothers. Podemos dizer que aquele episódio, apesar das
conseqüências devastadoras para a economia mundial e, especialmente, para os
Estados Unidos, deve ser considerado apenas como o início da crise sistêmica
global. As contradições violentas que se acumularam no interior do sistema
capitalista desde a década de 70 e se aprofundaram com as políticas monetaristas
nas décadas de 80 e 90, ainda não se manifestaram em toda a sua plenitude.
Estamos nos aproximando de mudanças quantitativas e qualitativas no interior da
ordem internacional capitalista, tais como a desarticulação do sistema
monetário-financeiro que emergiu após a Segunda Guerra Mundial, a depressão
prolongada na grande maioria dos países capitalistas centrais, especialmente na
economia-líder, e a retomada das lutas sociais em dimensão global.
O período que se abre agora vai entrecruzar um conjunto de fenômenos explosivos
que tornarão o início da crise apenas como a primeira ventania antes da grande
tempestade. Passado o período de tensa calmaria ocorrido em função das injeções
trilionárias de dólares pelos governos dos países centrais, principalmente os
EUA, ocasião em que os meios de comunicação procuraram criar um clima
manipulatório de normalidade e retomada do crescimento, a hora da verdade está
chegando para todos os gestores políticos do grande capital, todos eles ainda
presos aos valores de um mundo que começou a ruir em 2008 e, por isso mesmo,
não conseguem compreender a profundidade da crise, nem tomar as medidas
necessárias para enfrentá-la. Continuam a utilizar os mesmos métodos do passado
para fenômenos inteiramente novos do mundo do presente.
A recessão na Europa e, especialmente, na zona do euro, já uma realidade, muito
embora ainda seja mais forte nas regiões da Europa do Sul, os elos débeis do
sistema imperialista europeu. Mesmo com todas as tentativas de regulação,
injeções trilionárias de recursos para salvar países e bancos, a economia
européia está mergulhada na recessão, tanto porque os problemas que originaram
a crise não foram resolvidos como porque as medidas de austeridade vão
aprofundar ainda mais o processo recessivo. Os ajustes que estão sendo
realizados em praticamente todos os países aumentam o desemprego e a queda da
atividade econômica. O desemprego médio na região está acima de dois dígitos,
sendo que em vários países ultrapassa 20% e entre os jovens este índice ainda é
maior. Desemprego significa queda na renda [NR] e queda na renda tem como resultado redução
do consumo e, portanto, mais recessão.
Nos Estados Unidos a situação é ainda mais grave, apesar da manipulação da
mídia e das estatísticas não revelarem em plenitude a crise da economia-líder.
Na verdade, os Estados Unidos condensam todos os problemas da crise
capitalista: uma dívida pública que já ultrapassa 100% do PIB, com impactos
potenciais muito mais explosivos que a dívida européia, pois a carga tributária
norte-americana corresponde a apenas 19% do PIB, enquanto na Europa ultrapassa
uma média de 30%.
A crise fiscal se torna cada vez mais problemática, com vários Estados e
municípios em situação pré-falimentar, além do fato de que as políticas de
facilidades quantitativas ( qualitative easing 1 e 2 ) estão se tornando
inviáveis politicamente, tanto do ponto de vista interno quanto internacionalmente.
A crise do setor imobiliário continua se agravando, com o preço das residências
caindo à medida em que a crise persiste. Existem ainda os cortes no orçamento
que o governo está realizando para satisfazer as pressões dos republicanos.
Essas medidas ainda não produziram resultados explosivos porque o Fed tem
conseguido até agora realizar um conjunto de ações que vem adiando a emergência
explicita da crise (juros baixíssimos, injeções de recursos no sistema
financeiro, facilidades quantitativas, etc), mas esse arsenal de medidas tem
limites e não pode se sustentar indefinidamente, uma vez que produzirão efeitos
colaterais severos na economia. À medida em que a campanha eleitoral se
desenvolva, vai ficar mais clara a gravidade dos problemas. A esses problemas
podem ser adicionados a questão do dólar como moeda de reserva mundial e a
dívida pública que já ultrapassou 100% do PIB.
Outro ponto importante a ser abordado nesta crise é o surgimento das lutas
sociais. Se na primeira onda da crise os trabalhadores praticamente se
comportaram como espectadores, a partir da segunda onda, com a crise das
dívidas soberanas e as medidas de ajustes do grande capital, as lutas sociais
emergiram em praticamente todas as regiões afetadas pela crise. Mesmo ainda embrionárias,
com elevado grau de espontaneísmo, sem uma direção com perspectiva de classe na
maioria dos países, essas lutas estão se intensificando, especialmente na
Europa, onde o capital tem realizado os ajustes mais severos. Mesmo nos Estados
Unidos, surgiram vários movimentos em resposta à crise, em vários Estados,
especialmente o Ocuppy Wall Stret, que tem grande potencial de desenvolvimento
com o aprofundamento da crise.
Esses fenômenos ainda não estão plenamente percebidos em função de avassaladora
manipulação midiática que o capital desenvolve cotidianamente para dar uma
aparência de normalidade à conjuntura. Mas a crise é dramática e, em algum
momento próximo, os elementos objetivos da crise irão se impor e então as
pessoas tomarão conhecimento da extensão do problema. Estamos nos aproximando
daqueles momento em que o impensável acontece como se fosse fato do cotidiano.
Crises cíclicas e crises sistêmicas
Há uma enorme confusão e desconhecimento sobre a questão das crises e,
especialmente, sobre as crises sistêmicas. Por isso, é importante realizarmos
um esforço no sentido não só de precisar melhor esta questão como também tentar
estabelecer um estatuto teórico às crises sistêmicas, buscando avançar em
relação a alguns fundamentos não observados pelos clássicos, de forma a
precisar melhor a natureza do fenômeno, bem como suas implicações econômicas,
políticas e sociais.
As crises são fenômenos imanentes do sistema capitalista, oriundas da
contradição central entre o caráter social da produção e a apropriação privada
de seus resultados e ocorrem com periodicidade regular desde os primórdios
deste modo de produção. As crises não têm origem monocausal conforme muitos
marxistas costumam analisar esses fenômenos. Resultam das contradições gerais do
sistema: não tem origem no subconsumo, não é crise de desproporção entre os
diversos setores de produção, não é crise em função da queda da taxa de lucro,
da especulação financeira ou qualquer outro fator isoladamente. A crise é a
fusão das contradições que se acumulam ao longo do ciclo, muito embora possam
se expressar mais acentuadamente em uma ou outra variável específica.
Desde Adam Smith que se busca uma explicação para as crises cíclicas do
capitalismo, passando por Ricardo, Malthus, Rodsberto, Sismondi, Marshall.
Posteriormente, com o desenvolvimento do capitalismo, outros autores
desenvolveram novas abordagens da crise, como os ciclos ou ondas longas, de
Parvus, Von Gerendem, Kondratiev, Schumpeter, entre outros. Eles buscaram de
alguma forma, com as ferramentas de sua época, identificar e compreender os
fenômenos das crises. Estado estacionário em Smith, renda decrescente da terra
em Ricardo, subconsumo das massas em Malthus, Sismondi e Rodsberto, os ciclos
longos de Parvus, Von Gerendem, Krondratiev, as destruições criadoras em
Schumpeter, todos eles tentaram explicar a natureza e o desenvolvimento das
crises capitalistas.
No entanto, foi Marx quem definiu de maneira mais precisa os fundamentos
teóricos das crises capitalistas, ao deslocar a análise da órbita da circulação
para a esfera da produção e defini-la como sínteses de todas as contradições do
capitalismo.
As crises sistêmicas
Para efeito desta análise, procuraremos diferenciar as crises cíclicas das
crises sistêmicas, bem como tentar estabelecer um estatuto teórico para as
crises sistêmicas. As crises cíclicas se transformaram em fenômenos recorrentes
do modo de produção capitalista e para enfrentá-las o capital já adquiriu vasta
experiência e desenvolveu ferramentas para atenuar seus efeitos mais perversos
e ressurgir desse processo num patamar superior. Já as crises sistêmicas são
bem mais complexas, com duração mais longa e efeitos devastadores mais
acentuados. Seus resultados provocam mudanças profundas na vida econômica, na
estrutura das relações de produção, na forma de dominação do capital, além de
modificações em toda a vida social. Portanto, necessitam de um estatuto teórico
à altura dos fenômenos que provoca.
Marx não viveu o suficiente para testemunhar as crises sistêmicas e delas
apreender os resultados teóricos que expressou em relação às crises em geral.
Escreveu sobre sua época, a época do capitalismo concorrencial e das crises
cíclicas. Não tinha obrigação de adivinhar o futuro, nem teorizar sobre aquilo
que ainda não existia, não possuía vida material. Como ele próprio enfatiza: "É
por isso que a humanidade só apresenta os problemas que é capaz de resolver e,
assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu
quando as condições materiais para resolvê-lo já existiam ou estavam, pelo
menos, em vias de aparecer". [1]
Mesmo escrevendo sobre as crises em geral, no Manifesto Comunista, Marx
já revelava alguma pista sobre o desenrolar das crises no capitalismo, muito
embora não tenha escrito especificamente sobre as crises sistêmicas e,
principalmente, sobre as crises do período da internacionalização da produção e
das finanças, fenômenos que se tornaram conhecidos popularmente como
globalização:
"A sociedade burguesa moderna, que criou gigantescos meios de produção
e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar os poderes
infernais que invocou. Há dezenas de anos a história da indústria e do comércio
não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as
modernas relações de produção ... Basta mencionar as crises comerciais que,
repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a sociedade burguesa e seu
domínio. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos
fabricados, mas também grande parte das próprias forças produtivas já criadas
... O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas
criadas em seu meio ... A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e
mais destruidoras e à diminuição dos meios para evitá-las" [2]
Em outras palavras, Marx já intuía que, à medida que o capitalismo fosse se
desenvolvendo, o sistema chegaria ao ponto em que as crises seriam mais
prolongadas, mais devastadoras e, especialmente, em função da própria ampliação
do domínio do capital no mundo, seus gestores passariam a ter uma margem menor
de manobra para evitá-las ou administrá-las, dada a amplitude do processo de
acumulação e à junção de contradições cada vez mais novas e complexas neste
modo de produção. Possivelmente, se tivesse vivido após 1873, época do início
da primeira grande crise sistêmica do capitalismo, teria identificado esse
fenômeno e elaborado as conclusões teóricas necessárias.
Friedrich Engels, seu parceiro teórico e de lutas, que viveu bastante tempo
após a morte, e organizou sua obra seminal, os volumes II e III do Capital, já
vislumbrava que algo de novo estava acontecendo em relação às crise
capitalistas, conforme escreveu, em 1886, no prefácio da edição inglesa do
Capital. "Enquanto a força produtiva cresce em progressão geométrica, a
expansão dos mercados cresce, na melhor das hipóteses, em progressão
aritmética. O ciclo decenal de estagnação, prosperidade, superprodução e crise,
que se repetiu sempre, de 1827 a 1867, parece ter se esgotado. Mas só para
deixarmos aterrissar no lodaçal desesperador de uma depressão crônica e
duradoura". [3]
Alguns anos mais tarde, em 1890, em nota de rodapé do tomo II do Capital,
Engels volta novamente a se referir às novas manifestações das crises,
identificando alguns elementos constitutivos de uma crise diferente, muito
embora ainda sem definí-la plenamente, até mesmo porque a crise sistêmica de
1873-1896 não estava totalmente completa nesse período. Apenas indaga se o
sistema não estaria diante de um fenômeno mundial de "veemência
inaudita":
"A forma aguda do processo periódico, com seu ciclo até então de 10
anos, parece ter cedido lugar a uma alternância mais crônica, mais prolongada,
que se distribuiu entre diversos países em tempos diferentes, de melhoria
relativamente curta e débil dos negócios e pressão relativamente longa e
indecisa. Mas talvez trata-se apenas de uma expansão de duração do ciclo. Na
infância do comércio mundial, de 1815 a 1847, pode-se comprovar ciclo de até
cinco anos; de 1847 a 1867 os ciclos são decididamente de 10 anos; será que nos
encontramos no período preparatório de uma nova crise mundial de veemência
inaudita"? [4]
A partir dessas pistas, continuaremos nossa investigação seguindo as pegadas
dos fundadores do marxismo, que definiram as crises do capitalismo como colapso
da totalidade, a totalidade do capitalismo de sua época, a época do capitalismo
concorrencial. Cremos que, a partir de um posto de observação do século XXI,
quando o capitalismo atingiu seu amadurecimento pleno, poderemos realizar uma
primeira mediação em relação a esta questão teórica, sugerindo que as crises
cíclicas representam colapsos parciais da totalidade, enquanto as
crises sistêmicas podem ser consideradas rebeliões generalizadas da
totalidade contra a cisão da unidade entre valor de uso e valor, mercadoria
e dinheiro, produção e consumo, forças produtivas e relações de produção
plenamente desenvolvidas em nível mundial, provocadas pelas contradições do
sistema capitalista e que se expressam explosivamente em toda a vida social,
provocando mudanças quantitativas e qualitativas no modo de produção
capitalista.
O correto entendimento teórico destas duas formas de manifestação da crise do
capital nos permite compreender melhor a dinâmica histórica do capitalismo.
Primeiro, as crises cíclicas são fenômenos perturbadores do curso natural deste
modo de produção e já fazem parte do cotidiano histórico. Dada suas
manifestações rotineiras, os capitalistas adquiriram experiência suficiente
para manejá-las, atenuar suas dimensões mais destrutivas e renascer das cinzas
num patamar superior, muito embora carreguem todas as contradições do passado e
acrescentem novas contradições que se desenvolverão ao longo do próximo ciclo.
As políticas keynesianas utilizadas generalizadamente após a Segunda Guerra
Mundial podem ser consideradas como o exemplo mais sofisticado das ferramentas
utilizadas pelos capitalistas para administrar o ciclo econômico.
No entanto, as crises sistêmicas têm uma dimensão superior, ocorrem em períodos
mais longos, desestruturam toda a ordem anterior e constroem, sob seus
escombros, uma nova ordem, isso porque significam a exaustão de um período
histórico de acumulação do capital. As crises sistêmicas não só desorganizam de
maneira radical o sistema econômico, político e social construído para
responder às necessidades da ordem anterior, como atingem todas as instituições
da velha ordem, em proporções tais que provocam mudanças no conjunto do sistema
e abrem espaço para a contestação do próprio sistema, uma vez que nestas épocas
de crises sistêmicas torna-se mais aberta a aliança entre o Estado e as classes
dominantes, pois essas duas criaturas siamesas passam a agir abertamente no
sentido de colocar todo o ônus da crise na conta dos trabalhadores, o que leva
a intensas lutas sociais.
As crises sistêmicas carregam consigo um conjunto de fenômenos novos que vão
muito além do horizonte convencional com o qual as classes dominantes estão
acostumadas a lidar, para os quais as ferramentas corriqueiras do processo
anterior (as crises cíclicas) não surtem os mesmos efeitos. Por isso, são muito
mais explosivas, colocam em perigo a ordem capitalista e despertam os
trabalhadores para as batalhas de classe. Também são mais duradouras: não
apenas por carregarem consigo em bases ampliadas as velhas e novas
contradições, mas porque as classes dominantes, acostumadas aos valores da
velha ordem em desagregação, teimam em utilizar os instrumentos convencionais,
num ambiente em que estes já não produzem mais os resultados que produziam no
período precedente.
As crises sistêmicas do capitalismo apresentam características bastante
diferentes das crises cíclicas comuns, em função não apenas de sua profundidade
devastadora, mas também com relação à forma como se desenvolvem no ambiente
econômico e social. Geralmente, as pessoas com pouco conhecimento histórico têm
dificuldades de compreender as diferenças entre as crises cíclicas e as crises
sistêmicas, confundem os dois fenômenos ou então imaginam as crises sistêmicas
como colapsos destrutivos lineares que, ao serem desencadeadas, seguem uma
trajetória avassaladora de maneira contínua, sem compassos de espera ou
espasmos-recuperação.
A realidade das crises sistêmicas é bastante diferente: estas crises irrompem
de maneira unilateral na conjuntura e realizam os primeiros estragos na
economia e na sociedade, tomando a todos de surpresa. Mas os governos reagem
com uma série de medidas que aliviam momentaneamente os efeitos mais perversos
da crise. Num ambiente de tensões nos circuitos que se beneficiavam da bonança
anterior à crise, esses setores procuram criar nos meios de comunicação uma
atmosfera de normalidade e recuperação da economia, de forma a manter seus
privilégios e retornar ao status precedente,
No entanto, a crise irrompe novamente de maneira unilateral na conjuntura,
muitas vezes com mais intensidade que no período anterior, ampliando a
destruição da primeira onda. Pode acontecer novamente um compasso de espera
para emergir uma nova onda da crise e assim por diante até desagregar a velha
ordem e provocar mudanças quantitativas e qualitativas no interior do sistema
ou a mudança do próprio sistema. Nesse processo há apenas uma constância: a
contínua deterioração das condições econômicas, sociais e políticas a cada
patamar em que se desenvolve a crise.
As crises sistêmicas são também mais devastadoras porque reproduzem em bases
ampliadas todas as contradições do capitalismo. Toda crise do capital traz um
conteúdo novo à conjuntura, além de carregar em seu bojo as contradições do
passado. No entanto, as crises sistêmicas são muito mais devastadoras porque
são crises completas, rebeliões generalizadas da totalidade contra a velha
ordem (Campos, 2001). Esta crise que explode em 2008 é a primeira grande crise
completa do sistema capitalista, portanto mais explosiva, uma vez que envolve
todo o arcabouço econômico e social do sistema capitalista – a esfera da
produção, da circulação, do crédito, das dívidas públicas e privadas, o sistema
social, o meio ambiente e os valores neoliberais (Costa, 2009).
Como constatam Roubini e Mihm: "Infelizmente, as crises financeiras têm
fluxos e refluxos; é raro que explodam de uma só vez e terminem. Na verdade, se
parecem mais com furacões, que reúnem suas forças, amainam por algum tempo,
para em seguida se tornar mais destrutivos. Isso reflete o fato de que as
vulnerabilidades que se acumulam na formação de uma crise são generalizadas e
sistêmicas". [5]
Assim foram as crises sistêmicas de 1873 e 1929. Em 1873, a crise começou pela
Bolsa de Valores de Viena, seguiu com falências bancárias na Áustria e
Alemanha, Estados Unidos e, posteriormente na Inglaterra. A crise se espalhou
ainda pela área industrial, tendo como consequência grande desemprego entre os
trabalhadores (Coggiola, 2009). [6] Como todas as crises sistêmicas, sua
particularidade foi uma longa depressão, até 1896, ou seja, 23 anos de crise.
No entanto, esta primeira grande crise sistêmica não foi linear como o senso
comum costumar imaginar: ocorreram períodos de recuperação em vários pontos da
curva descendente, conforme Dobb : "A grande depressão, iniciada em
1873, foi interrompida por surtos de recuperação em 1880 e 1888 e continuada
até meados da década de 90". [7] A crise sistêmica iniciada em 1873
resultou macroeconomicamente na transição do capitalismo concorrencial para o
capitalismo monopolista.
A crise de 1929-1945, bem mais documentada, o que nos poupa de alongarmos em
seus detalhes, produziu a segunda guerra mundial e a destruição das forças
produtivas de praticamente toda a Europa. Nos Estados Unidos, epicentro da
crise, o Produto Interno Bruto, entre 1929 e 1933, teve uma queda de mais de
25%, a Bolsa de Valores se desagregou, e o desemprego atingiu um quarto da
população economicamente ativa. Da mesma forma que na crise sistêmica de
1873-1896 a crise nos EUA teve momentos de depressão e recuperação,
especialmente com a política do New Deal e a produção para guerra, mesmo assim
a produção de automóveis só alcançou os patamares do início da crise (1929)
quatro anos após o fim da Segunda guerra Mundial, em 1949. [8]
Como pode ser observado na crise anterior, a crise de 1929-1945 produziu
mudanças profundas na conjuntura econômica internacional, na organização do
capitalismo e na correlação das forças sociais. Primeiro, a União soviética
emerge da Segunda Guerra como uma poderosa potência econômica e militar,
liderando um sistema socialista composto por um terço da humanidade. Segundo,
os países capitalistas, sob pressão dos trabalhadores, reorganizam as relações
de produção, tendo como norte teórico o keynesianismo e a construção do Estado
do Bem Estar Social. No plano político, cria-se uma nova ordem econômica
internacional, com novas instituições e com os países vencedores da guerra com
poder de veto na Organização das Nações Unidas.
Portanto, essa nova crise sistêmica de 2008, por incorporar todas as
contradições das crises anteriores e por ser a primeira crise completa do
sistema capitalista, com certeza resultará também em mudanças de fundo na
economia e na sociedade.
A crise sistêmica de 2008
A crise sistêmica de 2008 marca uma diferença qualitativa em relação às duas
crises sistêmicas anteriores (1873-96 / 1929-1945), porque surge após um
período em que o capitalismo se transformou num sistema mundial completo, em
função da internacionalização da produção e da internacionalização financeira,
popularmente denominada de globalização. Anteriormente, o sistema só era
realmente completo no que se refere a duas variáveis da órbita da circulação: o
comércio mundial e a exportação de capitais. Com a globalização, o sistema
mundializou objetivamente as esferas da produção e da circulação, unificando
globalmente o ciclo do capital e fechando assim uma etapa histórica que se
iniciara com a revolução inglesa de 1640 na Inglaterra (Costa, 2009).
A internacionalização da produção possibilitou modificações profundas
nas relações de produção internacionais e mudou de maneira expressiva a forma
de expropriação do valor por parte da burguesia dos países centrais,
possibilitando a descentralização dos ambientes de apropriação da mais-valia.
Pela primeira vez na história do capitalismo, a burguesia passou a extrair
diretamente e generalizadamente o valor fora de suas fronteiras nacionais, [9] transformando-se assim numa classe exploradora
direta tanto nos países centrais quanto na periferia, o que confirma
objetivamente o caráter internacional do proletariado.
No passado, a burguesia se apropriava do valor dos países periféricos mediante
o comércio internacional, em função da troca desigual (produtos manufaturados
versus matérias-primas), o pagamento dos juros das dívidas, os dividendos ou
remessas de lucros enviadas pelas filiais de suas empresas que atuavam na
órbita da circulação. Agora, o capital vive sua maturidade plena, ao
transformar o planeta numa esfera única de investimento, produção, realização e
acumulação do capital.
A internacionalização das finanças e, especialmente, a desregulamentação
financeira realizada mundialmente após os governos Reagan e Tatcher, aliadas às
ferramentas das tecnologias da informação e a universalização dos computadores,
possibilitaram ao capital atuar com a mais ampla liberdade possível em todas as
partes do mundo e auto-acrescentar-se ao longo das 24 horas do dia, rompendo
assim as barreiras do espaço e do tempo, num processo como nunca antes se
verificara no sistema capitalista. Para tanto, basta se utilizar da melhor
maneira possível os fusos horários para atuar permanentemente em todas as
praças financeiras do mundo, em todos os continentes.
Essas modificações operadas na área das finanças marcaram também uma mudança na
correlação de forças entre as frações do grande capital internacional: o setor
mais parasitário passou a hegemonizar as decisões econômicas e políticas nos
países centrais e subordinou todos os outros setores à lógica financeira,
desenvolvendo de maneira acelerada um processo especulativo que hegemonizou não
só a esfera das finanças, mas contaminou a produção e as decisões orçamentárias
do Estado. No plano político, esse movimento foi expresso nas políticas
neoliberais desenvolvidas desde o final da década de 70 nos países centrais e,
posteriormente, em todos os países capitalistas ligados à economia líder.
O frenesi especulativo se desenvolveu como um rastilho de pólvora, facilitado
pela interconexão dos mercados financeiros e sua integração eletrônica, e
resultou num enorme descolamento entre a órbita financeira e a esfera da
produção, criando assim possibilidades de rupturas de liquidez a uma velocidade
impressionante, em função da extraordinária capacidade de propagação pelos
meios de comunicação, como se verificou a partir da queda do Lehmann Brothers.
Estas considerações precedentemente elencadas, levando em conta o grau de
mudanças que se operou na base do sistema capitalismo, dão à atual crise
sistêmica um conteúdo novo, fruto dos novos fenômenos que emergiram nesta fase
do capitalismo. Conforme assinalávamos em ensaio publicado em fevereiro de
2009, a crise sistêmica global era profunda, devastadora e de longa duração: "Esta
é a primeira grande crise realmente completa [10] do sistema capitalista, por isso mais
complexa e potencialmente mais explosiva, uma vez que envolve toda a vida
social do sistema capitalista – a esfera da produção, da circulação, o crédito,
as dívidas públicas e privadas, o sistema social, o meio ambiente, os valores
neoliberais, a cultura individualista e, especialmente, o Estado como
articulador do processo de acumulação". [11]
Portanto, a crise sistêmica mundial está em curso, apesar da manipulação diária
operada pelos meios de comunicação. Eles buscam quotidianamente confundir os
trabalhadores, buscando dar uma aparência de normalidade e recuperação da
economia mundial, mas a realidade tem sido mais dura que as miragens plantadas
pela mídia. Em breve estaremos assistindo um aprofundamento da crise, tanto nos
Estados Unidos quanto na Europa, e a ampliação das lutas sociais nas principais
regiões afetadas pela crise, uma vez que as medidas tomadas até agora para
enfrentar a crise estão objetivamente criando as condições para seu
acirramento.
A crise no coração do sistema
Conforme alertávamos em 2002, a crise mundial do capitalismo só estaria madura
quanto atingisse o coração do sistema: os Estados Unidos, a Europa e o Japão. [12] Agora, com a crise sistêmica global, o
mundo assiste a maior crise de toda a história do capitalismo e, ao mesmo
tempo, inicia-se o processo de amadurecimento para as transformações de todas
as instituições construídas em Bretton Woods. O velho sistema
monetário-financeiro está desaparecendo, porque já não cumpre mais as funções
para as quais foi criado e nem corresponde mais às novas relações de produção
oriundas da internacionalização da produção e das finanças. A ordem econômica
internacional está à deriva: suas instituições, seus métodos de regulação e
ação política dos governos centrais se mostram incapazes de resolver os
problemas oriundos da crise.
As várias frações de classe do grande capital, (norte-americano, europeu e
japonês) tateiam no escuro, impotentes diante dos fenômenos novos para os quais
não estão preparados. Não conseguem entender a profundidade da crise e
continuam aplicando sem sucesso os mesmos métodos do passado. Essa impotência diante
dos fatos objetivos da vida torna mais agressiva as elites parasitárias dos
países centrais, que buscam a todo o custo sair da crise pelos métodos mais
primitivos e predatórios, como a fomentação de guerras cada vez destrutivas
contra nações que não obedecem aos ditames do capital, a imposições de ajustes
econômicos predatórios contra os trabalhadores, buscando regredir seus direitos
aos estatutos do século XIX, bem como a manipulação cada vez mais sem cerimônia
dos meios de comunicação para justificar suas ações.
Mas a ofensiva do grande capital não pode esconder que o sistema capitalista
está doente, passa pelo momento de maior dificuldade em toda a sua história e a
crise sistêmica global tende a se agravar mais a cada dia que passa, porque
desde que foi desencadeada nenhum dos problemas que a detonaram foi resolvido.
Pelo contrário, a crise agora está mais explosiva porque reúne em torno de si
todas as contradições do capitalismo oriundas do processo anterior e adiciona
os novos fenômenos do capitalismo contemporâneo, o que a torna mais devastadora
e cujo momento explosivo se aproxima com uma velocidade expressiva. Em breve, a
crise completa do capital estará produzindo fenômenos tão desconcertantes que
deixarão os observadores impressionados com sua dinâmica e efeitos econômicos,
políticos, sociais e geopolíticos em todo o sistema capitalista.
Nossa investigação buscará apreender os principais elementos constitutivos da
crise sistêmica global nas duas principais regiões do capitalismo central, Estados
Unidos e a União Européia e, a partir desses dados objetivos, avaliar a
profundidade da crise, os principais fenômenos novos que brotarão dessa
conjuntura, bem como as possibilidades de mudanças no interior do sistema, a
partir da entrada em cena de um novo personagem – os trabalhadores, cuja
resistência vem se manifestando em várias regiões, mas com o agravamento da
crise está se abrindo um novo patamar na luta de classes internacional.
A crise fiscal nos Estados Unidos
A crise fiscal dos Estados Unidos é muito grave e atinge todas as esferas dos
governos federal, estadual e municipal. A sociedade norte-americana está
iniciando um período de dificuldades semelhantes aos países da periferia
capitalista. O déficit público em 2010 atingiu 1,260 trilhão e nos últimos
meses de 2011 atingiu cerca de 10% do PIB. Essa performance tende a se agravar
em função da queda da atividade econômica, da redução no consumo das famílias,
além do aumento do desemprego. Quer queira ou não o presidente Obama, os
Estados Unidos iniciam, premidos pela lógica objetiva dos fatos, um período de
austeridade que deverá agravar ainda mais a crise social no País, cuja
expressão mais visível é o aumento do número de pobres, que hoje já alcança 60
milhões de pessoas.
A crise nos Estados Unidos tem origem nas contradições do sistema capitalista,
mas carrega consigo uma série de problemas específicos que se foram acumulando
ao longo dos anos, tais como o deslocamento de plantas industriais para outras
regiões e, especialmente, em função de medidas tomadas pelo governo Bush, como
a redução de impostos para os setores de maior renda [NR] , os gastos trilionários para resgatar
os bancos da crise, as guerras no Afeganistão e Iraque, bem como a chamada
"guerra contra o terror", que ampliou de maneira acentuada o aparato
de espionagem e exércitos irregulares pelo mundo afora.
Vale ressaltar ainda que os Estados Unidos possuem um problema estrutural em
relação ao orçamento. Enquanto nos países da zona do Euro a arrecadação
tributária corresponde em média a cerca de 30% do PIB, nos Estados Unidos o
País arrecada apenas 19% do produto. Essa é uma debilidade da economia
norte-americana, porque o nível de arrecadação torna mais difícil uma solução
do déficit no curto prazo, especialmente se levarmos em conta que a redução de
impostos e aumento de gastos alteraram o panorama tributário norte-americano
para níveis mais baixos desde 1950 (Eichengreen, 2011). A menos que haja uma
política de ajuste predatório, o que é um problema com poucas perspectivas em
função da reação da população, essa questão vai continuar por bastante tempo.
Esses problemas fizeram com que o déficit se fosse tornando cada vez mais uma
bomba de efeito retardado, à medida em que a economia norte-americana perdia
competitividade industrial, o setor financeiro passava a hegemonizar as
decisões de política econômica, as administrações republicanas reduziam o
imposto para os ricos e aumentavam as despesas militares. A crise veio ampliar
o déficit, uma vez o governo teve que resgatar os bancos da falência e a
recessão oriunda da crise duplicou o nível de desemprego e reduziu o consumo,
completando assim um quadro de anemia fiscal no País. Vejamos mais detalhadamente
os principais pontos que tornam o déficit fiscal uma questão explosiva,
principalmente em função da crise:
1) O deslocamento das plantas fabris para outras regiões operou-se de maneira
lenta mas permanente em função da queda na taxa de lucro nos Estados Unidos.
Parcelas expressivas das grandes corporações deslocaram-se para vários
continentes, especialmente para a Ásia em busca de mão-de-obra e matérias
baratas e condições fiscais vantajosas. Os estrategistas do capital imaginavam
que o poder hegemônico norte-americano criaria uma economia de serviços, com
alta densidade tecnológica, a partir da qual os Estados Unidos capturariam
parcela expressiva da mais-valia produzida mundialmente mediante a apropriação
das rendas [NR] remetidas do exterior (royalties,
patentes, dividendos, juros) e o sistema financeiro se encarregaria de reciclar
os capitais que migrariam para Estados Unidos em função de seus mercados sofisticados
e hegemônicos. Esse movimento reduziu a dinâmica do setor da economia que
produzia o valor e abriu espaço para o frenesi especulativo que veio a se
estilhaçar em 2008 e contaminar todos os setores econômicos do País.
A redução da competitividade industrial inverteu um curso histórico: os Estados
Unidos passaram de maior exportador mundial para maior importador, acumulando
ao longo dos últimos 30 anos crescentes déficit na balança comercial. Na década
de 70, os EUA apresentaram apenas pequenos déficits na balança comercial, mas a
partir de meados da década de 80 esses déficits foram crescendo de maneira
extraordinária até ultrapassar, em 1984, a marca de US$ 100 mil milhões. A
partir daí, os saldos negativos na balança comercial foram se avolumando até
atingir US$ 328,8 mil milhões em 1999. A partir de 2003, os déficits passam a
superar os US$ 500 mil milhões, até ultrapassar os US$ 800 mil milhões em 2006,
2007, 2008, caindo para US$ 634,9 mil milhões em 2010 (Tabela 1).
Tabela 1 – Balança Comercial dos EUA,1983-2010
Ano
|
Exportação
|
Importação
|
Saldo comercial
|
1983
|
205,6
|
258,0
|
-52,4
|
1984
|
224,0
|
330,7
|
-106,7
|
1985
|
218,8
|
336,5
|
-117,7
|
1986
|
227,2
|
365,4
|
-138,2
|
1987
|
254,1
|
406,2
|
-152,1
|
1988
|
322,4
|
441,0
|
-118,6
|
1989
|
363,8
|
473,2
|
-109,4
|
1990
|
393,6
|
495,3
|
-101,7
|
1991
|
421,7
|
488,5
|
-66,8
|
1992
|
448,2
|
532,7
|
-84,5
|
1993
|
465,1
|
580,7
|
-115,6
|
1994
|
512,6
|
663,3
|
-150,7
|
1995
|
584,7
|
743,5
|
-158,8
|
1996
|
625,1
|
795,3
|
-170,2
|
1997
|
689,2
|
869,7
|
-180,5
|
1998
|
682,1
|
911,9
|
-229,8
|
1999
|
695,8
|
1.024,6
|
-328,8
|
2000
|
781,9
|
1.218,0
|
-436,1
|
2001
|
729,1
|
1.141,0
|
-411,9
|
2002
|
693,1
|
1.161,4
|
-468,3
|
2003
|
724,8
|
1.257,1
|
-532,3
|
2004
|
814,9
|
1.469,7
|
-654,8
|
2005
|
901,1
|
1.673,5
|
-772,4
|
2006
|
1.026,0
|
1.853,9
|
-827,9
|
2007
|
1.148,2
|
1.957,0
|
-808,8
|
2008
|
1.287,4
|
2.103,6
|
-816,2
|
2009
|
1.056,0
|
1.559,6
|
-503,6
|
2010
|
1.278,3
|
1.913,2
|
-634,9
|
Fonte: Department of
Commerce (Bureau of the Census and Bureau of Economic Analysis), Table B -106
2) A conjuntura econômica viria a se deteriorar de
maneira dramática após a crise sistêmica global. A redução dos impostos
realizada entre 2001 e 2003 e os gastos com as guerras do Afeganistão e Iraque,
após a queda das torres gêmeas, aliados à ampliação dos gastos militares
secretos em função da política anti-terrorista do governo Bush, continuada por
Obama, reduziram drasticamente o perfil tributário dos EUA. Passou-se de um
superávit fiscal em 2000 para um déficit de 4% do PIB em 2007-2008 (Eichengreen,
2011). Essa conjuntura seria agravada de maneira dramática em função da crise
sistêmica global, que levou o Tesouro a injetar cerca de 8,5 trilhões de
dólares para salvar os bancos, o que agravou de maneira dramática a crise
fiscal norte-americana.
3) Mas o problema menos conhecido e menos divulgado, mas tão grave como os
precedentemente elencados, é a crise fiscal dos Estados e Municípios.
Atualmente, 45 Estados estão com suas contas no vermelho. A crise fiscal
regional é resultado tanto da recessão que o país enfrenta desde 2008, que
reduziu as receitas, quanto das perdas oriundas das aplicações financeiras
realizadas por Estados e Municípios na especulação financeira. Uma
particularidade da legislação fiscal norte-americana é o fato de que os Estados
e Municípios são proibidos de ter déficits, muito embora sempre encontrem uma
maneira criativa de burlar a legislação.
Estados grandes e ricos como a Califórnia se encontram em calamidade fiscal,
enquanto outros mais pobres também possuem déficits elevadíssimos. Por exemplo,
13 Estados estão com déficit acima de 20% em relação ao ano fiscal de 2011,
seis Estados com déficit acima de 30% e 15 com déficit acima de 10%, o que
configura uma situação dramática do ponto de vista fiscal (Tabela2). Como a
crise eleva as despesas dos Estados e a recessão reduz as receitas, temos assim
um dilema difícil de ser resolvido e que tende a se agravar à medida em que a
recessão se ampliar pelo conjunto da economia.
Tabela 2 – Déficit dos Estados em relação ao ano fiscal de 2011
Alabama
|
12,3
|
Loisiania
|
14,3
|
Oklahoma
|
13,7
|
Arizona
|
39,0
|
Maine
|
34,7
|
Oregon
|
34,2
|
Califórnia
|
20,7
|
Maryland
|
15,3
|
Pennsylvania
|
16,4
|
Colorado
|
25,1
|
Massachusetts
|
8,6
|
Rhode Island
|
13,4
|
Connecticut
|
28,8
|
Michigan
|
9,3
|
South Carolina
|
26,1
|
Delaware
|
11,4
|
Minnesota
|
25,0
|
South Dakota
|
8,8
|
District of Columbia
|
4,5
|
Mississipi
|
15,9
|
Tennessee
|
9,4
|
Florida
|
19,5
|
Missori
|
9,4
|
Texas
|
20,9
|
Georgia
|
25,4
|
Nebraska
|
9,7
|
Utah
|
14,7
|
Hawai
|
16,2
|
Nevada
|
54,5
|
Vermont
|
31,3
|
Idaho
|
3,5
|
New Hampshire
|
27,2
|
Virginia
|
8,5
|
Illinois
|
40,2
|
New Jersey
|
38,2
|
Washington
|
29,6
|
Indiana
|
9,4
|
New Mexico
|
9,1
|
West Virginia
|
3,6
|
Iowa
|
20,3
|
New York
|
15,9
|
Wiscosin
|
24.9
|
Kansas
|
10,1
|
North Carolina
|
30,6
|
Wyoming
|
10,3
|
Kentucky
|
9,1
|
Ohio
|
11,0
|
States total
|
19,9
|
Fonte: Center Of Budget and
Policy Priorits, Tabel 4, March, 2012, by Elizabeth McNichol, Phil Oliff and
Nicholas Johnson
Esta crise dentro da crise vem afetando diretamente
a população, uma vez que os Estados endividados diminuem os salários dos funcionários
e reduzem serviços como linhas de metrô, coleta de lixo, limpeza, assistência
médica aos pobres, velhos e deficientes. Há ainda os cortes nas verbas para
escolas e faculdades, demissão de professores, policiais, pessoal médico e
funcionários públicos em geral. Some-se a isso o fato de que a infraestrutura
de vários Estados e Municípios está em frangalhos, com equipamentos sociais
precários, pontes desabando, escolas e hospitais sucateados.
Além dos problemas relacionados, um outro fator também veio adicionar mais um
elemento explosivo: a crise dos títulos municipais ( Munis Bonds ) e a
incapacidade dos governos locais de pagá-los diante da conjuntura de penúria
fiscal. Trata-se de um mercado de US$ 3 trilhões, geralmente estável em tempos
de bonança. No entanto, como em todas as crises, algumas questões que estavam
adormecidas afloram na superfície com uma veemência extraordinária.
Pode-se dizer que há um sinal amarelo no mercado de Munis Bonds, não
apenas porque há pelo US$ 10 mil milhões em títulos inadimplentes e outros US$$
22 mil milhões em estado de stress, como costumam se referir
eufemisticamente os comentaristas econômicos norte-americanos. Mas o indicador
mais objetivo da crise desse mercado foi o fato de a Standard & Poor´s ter
rebaixado a nota tríplice A (AAA) de 4% dos títulos desse mercado.
Portanto, à medida em que a crise for avançando, o mercado de Munis Bonds também
seguirá a rota de desagregação, amplificando para as populações regionais a
crise nacional.
Outros dos indicadores da crise fiscal podem ser localizados nos gastos
militares dos Estados Unidos. Mesmo com as promessas de retirada das tropas do
Iraque e Afeganistão, os gastos norte-americanos continuam desproporcionais em
relação ao resto do mundo. Para se ter uma idéia, o orçamento militar de 2011
está calculado em US$ 700 mil milhões (4,8% do PIB), um quantum maior que os 17
maiores orçamentos militares do planeta e seis vezes maior que o da China, a
nação com o segundo maior gasto do mundo. Nesta questão tanto faz ser
republicano ou democrata, todos estão de acordo em manter a aperfeiçoar a
máquina de guerra norte-americana e continuar alimentando o complexo industrial
militar. Segundo informações dos meios de comunicação, essa máquina de guerra é
composta por 560 bases militares fora dos Estados Unidos e um aparato de
espionagem que tem mais pessoas com acesso a informações secretas que todas as
pessoas que vivem na capital, Washington.
Quem imaginar que o final da guerra fria significou a redução desta máquina de
guerra está completamente enganado. Hoje, os Estados Unidos não têm
concorrentes no espaço aéreo nem nos mares: porta-aviões gigantes, submarinos
atômicos, satélites por toda a parte, aviões robôs, bombas inteligentes guiadas
a laser, caças-bombardeios, aviões invisíveis, tanques e helicópteros da mais
alta sofisticação compõem a máquina militar mais agressiva que a humanidade já
conheceu. Muito embora esse aparato seja assustador, ironicamente está perdendo
a guerra para beduínos nas areias do Iraque e guerrilheiros das montanhas no
Afeganistão, o que demonstra que a hegemonia não envolve apenas questões
militares.
A crise da dívida dos Estados Unidos
A dívida dos Estados Unidos condensa atualmente toda a dinâmica da economia
norte-americana, seus problemas, contradições e perspectivas, porque sintetiza
historicamente as opções econômicas estratégicas, a euforia e as debilidades da
economia líder do sistema capitalista. A crise da dívida, portanto, é o
elemento catalisador de todos os problemas da sociedade norte-americana. Os
dilemas políticos ocorridos recentemente no Congresso, referentes ao aumento do
teto da dívida, são apenas a ponta do iceberg da crise política, econômica e
social de um sistema imperial em decadência, cujos contornos ficarão mais
claros à medida em que a crise for aprofundando as contradições de uma economia
ferida.
Ao longo dos últimos 30 anos a dívida pública funcionou como uma espécie de
colchão social, econômico e financeiro do sistema de poder imperial norte-americano.
Trata-se de um débito que estruturou macroeconomicamente toda a ordem econômica
internacional e possibilitou aos Estados Unidos viverem por várias décadas com
déficits permanentes, um padrão de vida acima da média mundial, enquanto os
países superavitários transformavam seus saldos comerciais positivos em títulos
da dívida pública norte-americana.
Em função do poderio de sua economia, da liderança que exerciam no mundo
capitalista, da sofisticação de seu mercado financeiro e da liquidez de seus
papéis, os títulos da dívida dos EUA eram considerados o porto mais seguro para
as aplicações das reservas internacionais de grande maioria dos países
industrializados. Nações como a China, o Japão e o Brasil, principais
detentores desses títulos, acumularam por anos a fio superávits comerciais e os
trocaram por T-Bonds, títulos do Tesouro norte-americano, mesmo a uma
taxa de juros extraordinariamente baixa, como se esses papéis representassem a
cristalização do valor produzido mundialmente.
Para os Estados Unidos, tratava-se de um bom negócio. Sem trocadilho: um
negócio da China! Como num transe de mágica, os sucessivos governos dos Estados
Unidos conseguiam trocar papéis pintados (dólares) ou promissórias (títulos da
dívida), ambos sem lastro em ativos reais, por bens tangíveis dos países
produtores de manufaturas do resto do mundo. Demorou muito para que os governos
começassem a compreender que a quantidade de dólares impressos pelos Estados
Unidos e espalhados pelo mundo, bem como os títulos da dívida pelos quais
trocavam seus superávits comerciais, não possuíam relação direta com os ativos
reais dos Estados Unidos. Em outras palavras, os agentes econômicos que
participaram dessa pantomina estão atualmente com uma batata quente na mão,
pois a qualquer momento podem ser surpreendidos pela terrível notícia que seus
papéis não valem quase nada, foram desvalorizados pela lei do valor.
Essa severa realidade está se aproximando com uma velocidade acentuada, em
função desta terceira onda da crise global. Conforme advertíamos no início de
2009, a crise iria produzir um conjunto de fenômenos novos: "Quanto
mais a crise se acirrar, mais haverá a possibilidade de questionamento da
hegemonia norte-americana e um acirramento da disputa interimperialista, pois a
crise pode gerar um clima de salve-se quem puder ... Existe ainda a
possibilidade concreta de uma maxidesvalorização do dólar ou de um calote
generalizado da dívida externa norte-americana". Naquela época pode
ter parecido um exagero essas afirmações, mas agora já é parte de uma dolorosa
realidade dolorosa para o mundo.
A dívida pública dos Estados Unidos vem crescendo de maneira impressionante
desde o início deste século: correspondia a cerca de U$ 5 trilhões em 2000 e
agora em outubro de 2011 se situa em torno de US$ 15 trilhões (aumentou três
vezes na década), ou seja, cerca de 100% do PIB. Uma dívida dessa magnitude não
seria grande problema se as circunstâncias não fossem as mais sombrias para a
economia norte-americana, afinal países como a Itália convivem com déficits de
mais de 100% do PIB há vários anos. Mas num período de crise sistêmica todos os
valores do período anterior passam a ser questionados. O debilitamento da
economia, aliada à disputa recente entre os republicanos e democratas em
relação ao teto da dívida, acendeu o sinal amarelo para os detentores dos T-Bonds,
criou um clima de desconfiança entre principais agentes econômicos,
especialmente a China, e dificilmente essa conjuntura será revertida, em função
do agravamento da crise.
Em termos de perspectiva, os T-Bonds já não podem ser considerados a
base das finanças mundiais, uma vez que estão mais claras uma série de fissuras
na estrutura de dominação econômica e financeira dos Estados Unidos. Pela
primeira vez em 70 anos, uma agência de classificação de risco rebaixou a nota
dos títulos norte-americanos. Um dos principais fundos privados de
investimentos dos Estados Unidos, o PINCO, já colocou os T-Bonds fora do
seu portfólio. A China, principal credor, discretamente está se desembaraçando
desses títulos. E não faz em maior velocidade porque está presa ao destino de
seu maior devedor. Caso se desfaça rapidamente a crise se aprofundará, haverá
uma grande desvalorização, o que significa também prejuízos na mesma proporção
para os chineses. Os bancos centrais dos principais países industrializados
estão acelerando a compra de ouro, o que tem feito o preço do metal subir
vertiginosamente, ao mesmo tempo em reflete a desconfiança na capacidade dos
EUA de honrar a dívida.
Numa conjuntura dessa ordem a tendência principal é uma contínua deterioração
da situação econômica financeira do País e, consequentemente, uma perda de
confiança dos agentes econômicos na capacidade dos Estados Unidos de honrar a
dívida. Quanto mais a conjuntura interna se deteriora (recessão, desemprego,
crise imobiliária, austeridade fiscal, crise nas administrações locais, crise
do dólar, crise social) basta uma fagulha, um elemento fortuito, para
desencadear a nova onda da crise de grandes proporções que já está madura no interior
do sistema. Uma crise no coração do sistema se espalhará pelo conjunto do
planeta como um rastilho de pólvora, colocando a economia mundial numa situação
mais explosiva que a de 2008.
A crise do dólar como moeda mundial
A dívida pública dos Estados Unidos e o dólar são como irmãos siameses.
Portanto, o destino de um está ligado à performance do outro e vice-versa. Por
isso, a crise da dívida contamina o prestígio da moeda norte-americana, abala
sua credibilidade, consolida um clima de desconfiança e abre espaço para que os
países passem a contestar com mais rigor a hegemonia do dólar. Por isso, várias
nações já propõem abertamente a substituição do dólar como moeda mundial e
instrumento de referência das transações internacionais.
O prestigio de uma moeda – especialmente uma moeda de reserva internacional –
está umbilicalmente ligado à performance da economia que a emite. Desde
os acordos de Bretton Woods o dólar tem sido a moeda de referência
internacional. Mesmo que na década de 60 alguns países europeus, especialmente
a França, tenham questionado o privilégio norte-americano, mesmo com a
desvinculação do dólar em relação ao ouro anunciada por Nixon em 1971, a moeda
norte-americana continuou sendo um porto seguro para as reservas internacionais
dos Bancos Centrais e para as transações do comércio internacional.
No entanto, com a decadência da economia dos Estados Unidos, a emergência da
China como potência mundial e o aparecimento do euro como moeda de grande parte
dos países da Europa e, especialmente, com a crise sistêmica mundial e o
aumento exponencial do endividamento norte-americano, o panorama mudou
radicalmente. O que era impensável em tempos de calmaria – a crise da dívida e
a crise do dólar – hoje é uma realidade para grande parte dos agentes
econômicos. A maior parte dos Bancos Centrais bem que gostariam de se desfazer
do dólar, mas um movimento brusco dessa ordem levaria a economia mundial ao
caos e os países detentores de dólares a registrar enormes prejuízos.
O governo norte-americano injetou, desde o início da crise, cerca de US$ 8,5
trilhões para salvar os bancos e empresas e lançou dois Quantitative Easing (QE1
e QE2) e agora está com poucas condições de lançar um Quantitative Easing 3,
porque as medidas tomadas anteriormente reduziram o estoque de ações do
Federal Reserve, até mesmo estas trilionárias injeções de capitais não
apresentaram resultados desejados, uma vez que a economia continua em processo
de deterioração. Essa quantidade de dinheiro em circulação é uma bomba de efeito
retardado para a economia dos Estados Unidos, pois em algum momento isso se
refletirá em aumento da inflação e, conseqüentemente da taxa de juros, o que
significa um tiro de misericórdia para qualquer esperança de recuperação
econômica.
Além disso, as ações monetárias unilaterais geram sérios atritos com os
aliados, porque inauguram uma espécie de guerra cambial sem nenhuma regulação.
Com a inundação de dólares sem lastro no mundo, haverá uma sobrevalorização das
moedas nacionais (e uma desvalorização do dólar) e um impacto negativo nas
balanças comerciais, pois quanto mais valorizada a moeda nacional menos o País
terá condições de exportar. Nesse contexto, cada País procurará tomar as
medidas necessárias para proteger o seu setor exportador, o que em última
instância tenderá a desencadear um protecionismo generalizado, um clima de
salve-se quem puder.
Como os Bancos Centrais não podem se desfazer bruscamente do dólar, seguem uma
estratégia discreta de diversificar seu portfólio, comprando ouro e realizando
transações comerciais bilaterais em moedas locais (yuan na Ásia, Euro na
Europa, Real com alguns países da América Latina) ou realizando fortes
investimentos na aquisição de ativos reais pelo mundo, como compra de terras na
África e América Latina, e empresas lucrativas em vários países, de forma a se
desfazerem dos dólares em carteira. Mas esses movimentos não resolvem o
problema central: há mais dólares no mundo que os ativos reais norte-americanos
possam representar e esse fato em algum momento será um fator para a
contestação final do dólar como moeda de reserva, como já vem sendo feito pela
China, especialmente com o agravamento da crise, afinal uma economia moribunda
não pode ter uma moeda de reserva mundial.
No entanto, a crise não significa que uma outra moeda venha substituir
imediatamente o dólar, pois este ainda possui um peso grande na economia
mundial e o Euro ou o Yuan ainda não estão em condições de substituí-lo. Para
se ter uma idéia, o dólar representava 61% das divisas internacionais, em 2010.
Continua a moeda dominante nos mercados cambiais, com 85% das operações; Cerca
de 45% dos títulos das dívidas dos países são expressos em dólar (Eichengreem,
2011). Portanto, numa situação de crise, uma solução temporária poderá ser a
criação de uma cesta de moeda compostas por Euro, Yuan, Dólar, Real, Rublo e
DES (Depósitos Especiais de Saque) do FMI. Mas essa solução não impediria a
desarticulação do sistema monetário financeiro montado a partir de 1945.
A crise na União Européia
A União Européia é parte integrante do sistema imperialista mundial,
especialmente a Alemanha, França, Inglaterra e Itália, e o velho continente
está também envolvido profundamente na crise sistêmica global e sofrerá
conseqüências semelhantes às que estão atingindo a economia líder, tendo em
vista as interconexões entre o grande capital e as operações econômicas
cruzadas entre as várias frações da burguesia dos países centrais.
Acrescente-se a isso a identidade destas classes dominantes com o sistema
político e econômico neoliberal, implantado a partir do final da década de 70,
com a eleição de Margareth Tatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados
Unidos, além das próprias contradições do capitalismo europeu.
A formação da zona do euro, sob a orientação do Tratado de Maastricht,
consolidou uma Europa do capital, no qual as frações mais reacionárias da
burguesia impuseram aos países participantes um conjunto de leis e regras que
buscam garantir seus interesses econômicos e políticos, às custas dos trabalhadores
e dos povos europeus. Estruturou-se um conjunto de instituições regidas pelos
interesses do grande capital, sob a ótica neoliberal, mesmo com este já
moribundo, uma hierarquia draconiana entre as nações e um sistema
esquizofrênico onde existe uma moeda única sem um Estado para respaldá-la, nem
um emprestador de última instância; com um teto de déficit público formal,
irrealista, especialmente em função da crise, e uma assimetria fiscal que torna
a gestão macroeconômica da política monetária uma lenda.
Apesar de ser parte do sistema imperialista mundial, a União Européia possui um
conjunto de singularidades que devem ser levadas em conta na análise desta
crise. A primeira é a própria constituição do bloco econômico, um processo que
vem se consolidando há várias décadas e que criou certa identidade cultural
entre os povos. A segunda é a criação de uma moeda única na zona do euro. Mesmo
levando em conta a heterogeneidade das economias, o desenvolvimento desigual e
as questões fiscais, o euro rapidamente se constituiu num importante
instrumento de reserva dos bancos centrais, representando hoje 21% de todas as
reservas em poder dos estados nacionais. Além disso, o próprio desenvolvimento
desigual do capitalismo e os interesses dos diversos blocos das burguesias dos
países centrais, criam necessariamente disputas entre as frações do grande
capital da União Européia e as frações dominantes do capital da economia líder
e dos outros países imperialistas, o que tem se refletido em decisões de
política internacional e na própria gestão da crise européia.
No entanto, o processo que atinge a Europa e que se expressa atualmente na
crise das dívidas soberanas tem origem tanto nas contradições do capitalismo
europeu e seu modelo neoliberal atrelado à economia líder, quanto da opção dos
seus governos em salvar os bancos com recursos públicos, cujo resultado levou
ao acirramento da crise, com a ampliação extraordinária das dívidas soberanas.
Se observarmos a evolução das dívidas dos países europeus poderemos ver claramente
o impacto fiscal das operações de salvamento dos bancos europeus:
A dívida total dos países da área do euro correspondia a 79,3% do PIB em 2008 e
cresceu para 102,4% em 2011. Se observarmos isoladamente os diversos países da
Europa, numa hierarquia inversa em função da crise veremos mais precisamente o
impacto das operações de salvamento dos bancos. A dívida grega, que em 2008,
era de 116,1% do PIB aumentou para 157,1% em junho de 2011. A dívida portuguesa
aumentou, no mesmo período, de 80,6% do PIB para 110,8%; a da Espanha de 47,4%
para 74,8%; a da Itália, cresceu de de 115,2 para 129,0%; a da Irlanda de 49,6
para 120,4%; a da Inglaterra de 57% para 88,5%; a da França de 77,8 para 97,3%;
e a da Alemanha de 69,3 para 87,3%. O Japão, o mais endividado, passou de uma
dívida de 174,1 em 2008 para 212,7% em junho de 2011. Em todos os países, o que
se nota é um salto extraordinário no endividamento após a crise (Tabela 3).
Tabela 3 – Passivo financeiro dos países centrais em relação ao PIB (junho
de 2011)
Países
|
2000
|
2005
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
Bélgica
|
113,7
|
95,9
|
93,3
|
100,5
|
100,7
|
100,4
|
Alemanha
|
60,4
|
71,2
|
69,3
|
76,4
|
87,0
|
87,3
|
Grécia
|
115,3
|
121,2
|
116,1
|
131,6
|
147,3
|
157,1
|
Irlanda
|
39,4
|
32,6
|
49,6
|
71,6
|
102,4
|
120,4
|
Itália
|
121,6
|
120,0
|
115,2
|
127,8
|
126,8
|
129,0
|
Japão
|
135,4
|
175,3
|
174,1
|
194,1
|
197,7
|
212,7
|
Portugal
|
60,2
|
72,8
|
80,6
|
93,1
|
103,1
|
110,8
|
Espanha
|
66,5
|
50,4
|
47,4
|
62,3
|
66,1
|
74,8
|
França
|
65,6
|
75,7
|
77,8
|
89,2
|
94,1
|
97,3
|
Inglaterra
|
45,1
|
46,4
|
57,0
|
72,4
|
82,4
|
88,5
|
EUA
|
54,5
|
61,4
|
71,0
|
84,3
|
93,6
|
101,1
|
Eurozona
|
75,8
|
78,1
|
76,5
|
86,9
|
92,7
|
95,6
|
Total OCDE
|
69,8
|
76,3
|
79,3
|
90,9
|
97,6
|
102,4
|
Fonte: OECD – Economic
Outlook. No. 89, 2011
Apesar de a crise expressar-se mais explicitamente
na questão das dívidas soberanas, esta é uma crise do sistema como um todo. Sua
expressão nas dívidas soberanas é apenas a face mais visível da crise sistêmica
global na Europa. Um dado importante a ser analisado é o fato de que as classes
dominantes européias, mesmo com a experiência da primeira onda da crise,
continuam insistindo nos velhos métodos do passado como se essa crise não
tivesse características inteiramente diferentes das crises anteriores. O mais
grave desta cegueira política é o fato de que estão implementando um conjunto
de medidas predatórias contra os trabalhadores que terão como conseqüência o
aprofundamento da crise, que se espalhará para o conjunto das economias
capitalistas; a desagregação do sistema financeiro internacional tal como
conhecemos hoje; a recessão prolongada, o aumento do desemprego e a crise
social.
Vejamos mais detalhadamente os principais elementos dessa conjuntura explosiva.
O ritual é mais ou menos o seguinte: parte expressiva dessa dívida foi
incentivada pelos próprios bancos, no seu permanente desejo de lucro fácil e
sem risco, uma vez que se imaginava que as dívidas dos Estados eram um porto
seguro para as atividades bancárias. Com a crise de 2008, os Estados ampliaram
de maneira extraordinária seu endividamento para salvar o sistema bancário da
falência. O sistema bancário ganhou sobrevida e impôs condições financeiras
draconianas para os próprios países que lhes salvaram da bancarrota. Os Estados
entraram em crise em função do aumento cada vez maior do serviço da dívida.
Para garantir seus lucros, o sistema bancário vem pressionando as instituições
e governos europeus para que imponham aos trabalhadores e ao povo em geral
ajustes predatórios para que possam pagar a dívida.
Vale ressaltar que a troika (União Européia, Banco Central Europeu e FMI) tem
se comportado nesta crise como uma junta de representantes do grande capital.
No entanto, as medidas tomadas até gora, tais como a criação do fundo de
resgate, empréstimos bilionários ao sistema bancário, os torniquetes econômicos
impostos a países como a Grécia, Irlanda e Portugal, não foram suficientes para
resolver a crise, pelo simples fato de que a crise sistêmica que envolve o
mundo capitalista não pode ser resolvida com medidas paliativas. Essas medidas
apenas adiam o desfecho do processo. Se observarmos o tamanho das dívidas
soberanas e os recursos que estão sendo organizados para resgatar as economias
de um possível colapso, poderemos constatar que são absolutamente irrelevantes
diante da dimensão do problema.
De fato, as dívidas soberanas dos países da zona do euro, conforme podemos
observar na tabela, são inadministráveis, pois grande parte desses débitos
ultrapassam 100% do PIB. Numa conjuntura de crescimento econômico, as dívidas
poderiam ir sendo roladas sem grandes problemas, desde que não ultrapassassem
certos limites. No entanto numa conjuntura de crise, com recessão generalizada,
desemprego, queda no consumo e na arrecadação tributária, a tendência é o
aprofundamento da crise, fato que se concretizará à medida em que o primeiro
País se declarar inadimplente, mesmo que este País não tenha grande expressão
econômica, tendo em vista a estreita relação entre o endividamento e os bancos
da zona do euro. Os chamados mercados entrarão em pânico, contagiando todas as
outras dívidas e se instalará o caos econômico, um clima de salva-se quem
puder, o que também atingirá em cheio a economia norte-americana.
Por falar na relação bancos europeus-dívidas soberanas , é necessário
ressaltar que os bancos do velho continente estão profundamente envolvidos
nesse processo e foram partícipes artífices do endividamento público. Em termos
concretos, os bancos da Europa têm em carteira 3 trilhões de euros em títulos
da dívida soberana, representando quase 8% de seus ativos totais, o que por si
só dá uma idéia da dimensão do problema. Se levarmos conta que a crise de 2008
levou à nacionalização de vários conglomerados financeiros europeus, imaginem o
que poderá acontecer ao sistema bancário se ocorrer uma onde de calote soberano
não apenas na Grécia, Portugal ou Irlanda, mas em países como Espanha ou Itália
ou mesmo a França?!
A cegueira do grande capital e seus representantes políticos diante da crise é
tamanha que agora eles resolveram, num gesto desesperado, deixar de lado as
aparência e intervir diretamente nos países com crises mais explícitas e
exercer diretamente o poder político nas instituições e governos da região. É o
caso dos pró-consules da Goldman Sachs que assumiram o poder na Europa. Ferina
ironia: os homem que fabricaram a crise estão agora comandando o poder
econômico e político na Europa. Sob a proteção da manipulação midiática, que os
apresenta como um "governo técnico", eles estão encarregados de
implementar o trabalho sujo, que consiste em saquear as economias nacionais, privatizar
o patrimônio público, aumentar os impostos, ampliar o desemprego, cortar os
salários, as pensões, reduzir o padrão de vida dos povos para satisfazer o
apetite voraz do capital financeiro.
Vejamos quem são esses personagens: Mário Draghi, antigo vice-presidente e
membro do Comitê de Administração da Goldman Sachs, que tinha como uma de suas
funções vender swaps aos países europeus, agora é presidente do Banco
Central Europeu (BCE); Mario Monti, ex-presidente da Comissão Trilateral, do
grupo Bilderberg, também assessor internacional da Goldman, agora é o principal
dirigente político da Itália; Lucas Papademos, ex-governador do Banco Central
Grego, participou das operações de falsificação das contas do País a serviço da
Goldman, agora é o líder político da Grécia; além de outros personagens
influentes na Europa e que participam da rede da Goldman na região. [13] Em relação a esses personagens, vale o
que disse certa vez Alessio Rastani, ex-trader, numa entrevista à BBC que
chocou os mais desavisados; "Os políticos não governam o mundo. A Goldman
Sachs governa o mundo".
Essa ação desesperada do grande capital na Europa pode ser o canto dos cisnes
antes da tempestade, mas vale uma advertência: a ação ousada do capital
representa um perigo para o padrão de vida não apenas dos trabalhadores e da
população em geral, mas para a própria democracia, pois a burguesia, em sua
busca desesperada para sair da crise não apenas vem colocando todo o custo da
crise na conta dos trabalhadores, como também não hesitará em atropelar a
democracia e criar um clima de terra arrasada, caos, instabilidade, para
atingir seus objetivos, instalando governos de caráter fascista, como ocorreu na
Alemanha e Itália na década de 30, com as conseqüências que todos conhecemos.
A luta de classes mudou de patamar
Mas um fenômeno novo vem ocorrendo nesta conjuntura, que é a emergência das
lutas sociais em praticamente todas as regiões do planeta. Ainda embrionárias,
com certo grau de espontaneísmo, sem uma vanguarda com capacidade de construir
um projeto alternativo ao do capital, as lutas de massas mudaram de patamar. Na
primeira onda, a crise não teve uma resposta contundente dos trabalhadores, em
termos de lutas sociais. Tomados de surpresa pela intensidade da crise, sem uma
direção que as orientasse no sentido da combatividade de classe, fragmentados
em função da reestruturação produtiva, do refluxo que caracterizou as três
décadas de neoliberalismo e da ofensiva contra o movimento sindical e os
direitos dos trabalhadores operados pelos sucessivos governos neoliberais, os
trabalhadores praticamente se comportaram como coadjuvantes diante da crise
mundial.
O grande capital, também tomado de surpresa pela intensidade da crise, buscou
num primeiro momento resolver os problemas injetando uma quantidade
extraordinária de recursos na área financeira, visando evitar o colapso do
sistema. No entanto, tão logo foram aliviados os sintomas mais perversos da crise,
o grande capital se estruturou em nível internacional, especialmente nos países
centrais, para colocar todo o ônus da crise na conta dos trabalhadores, com
medidas draconianas, impensáveis há poucos anos atrás, buscando aplicar aos
trabalhadores uma derrota histórica, condição essencial para recuperar as taxas
de lucros, disciplinar a classe operária, sair da crise e organizar a economia
em novo patamar, de acordo com seus interesses.
Mas, ao contrário do que imaginam os gestores do capital, essas medidas
predatórias podem até apresentar algum resultado no curto prazo, mas é uma
bomba de efeito retardado no médio prazo, uma vez que provocarão queda na
atividade econômica, desemprego, queda na renda e no consumo e, portanto, mais
recessão e mais crise. Realizar os ajustes draconianos em nível global, como
está sendo feito na Europa, levará o mundo a uma depressão prolongada, maior
que na crise de 1930, e a um levante social também de caráter global. Uma coisa
é implementar essas medidas em países em que a miséria é parte da vida
quotidiana das pessoas. Outra, é realizar essas medidas nos países onde as
conquistas sociais já faziam parte do quotidiano da sociedade. A reação nessas
sociedades pode ser muito maior, mais organizada, até mesmo porque as relações
de produção são muito mais avançadas.
Conforme advertíamos em nosso primeiro artigo, [14] a crise torna a burguesia mais agressiva
e evidencia de maneira mais clara os projetos do capital para resolver os
problemas oriundos da crise. Do ponto de vista militar, pode-se constatar
claramente uma ofensiva do imperialismo no sentido para fomentar intervenções
militares e guerras em várias regiões, como os casos recentes da Líbia, da
Síria e do Irã. Do ponto de vista econômico há uma ação articulada do capital
no sentido de avançar sobre as finanças do Estado, bem como sobre os direitos e
garantias dos trabalhadores e, do ponto de vista político, o capital vai cada
vez mais tirando a máscara e impondo aos povos governos diretamente geridos
pelos representantes do capital, cujas ações vem sendo realizadas no sentido de
suprimir as próprias liberdades democráticas típicas dos tempos de calmaria do
capitalismo.
Diante desse quadro, os trabalhadores vão tomando consciência da conjuntura num
processo de aprendizado mais rápido que nos tempos de calmaria. A partir do
momento em que os governos começaram a tomar medidas concretas contra seus
direitos e garantias, como no caso atual da Europa, a crise abre espaço para a
emergência da luta popular, os trabalhadores e a população começam a sair às
ruas em resistência aos ajustes, vão perdendo o medo, reorganizando suas forças
e a luta de classes se intensifica.
Conforme ainda afirmávamos no mesmo artigo, a crise iria abrir a possibilidade
de uma retomada da luta de massas em caráter mundial, especialmente nos países
centrais. "Os desdobramentos desta crise vão atingir profundamente os
trabalhadores em termos de emprego e de renda e vão acirrar a luta de classes
nos países centrais e na periferia. Ao contrário do senso comum e de muitos
companheiros da esquerda, nós achamos que o potencial da classe operária e dos
trabalhadores em geral é muito mais forte nos países centrais que na periferia,
pois é exatamente nos países centrais onde se encontra a classe operária mais
avançada do ponto de vista das forças produtivas e o capitalismo mais maduro.
Portanto, é o teatro de operações mais favorável para a luta de classes que nos
países atrasados".
Essa nossa análise continua válida para este momento histórico, muito embora a
luta de classes não tenha ainda atingido, da mesma maneira que na Europa, o
coração da economia líder, os Estados Unidos. Se observarmos o desenvolvimento
da luta de classes em caráter mundial desde 2008, poderemos constatar que
ocorreu uma mudança de qualidade em praticamente todos os continentes. Poucas
pessoas imaginariam a queda dos regimes da Tunísia, do Egito, do Iêmen e as
lutas ainda em curso dos povos árabes e do norte da África e Oriente Médio
contra os sistemas tirânicos nessas regiões.
Na Europa, onde o ajuste predatório promovido pelo capital é mais forte, tem
ocorrido lutas em todos os países e, em muito deles, como na Grécia, se
aproxima de insurreição popular. Até mesmo nos Estados Unidos ocorreram várias
lutas sociais, em vários Estados, e um importante movimento social, o Ocuppy
Wall Street, pode ter um desdobrando muito grande no futuro próximo. Na
América Latina, as lutas sociais também estão ocorrendo de maneira efetiva,
apesar de a região não ter sofrido o impacto da crise da mesma forma como
ocorreu nos países centrais.
Até agora, no entanto, a resistência popular à ofensiva do capital não tem sido
realizada de forma organizada na maioria dos países. Isso se deve ao fato de
que, em função da crise do socialismo, com a queda da URSS, ocorreu uma
desagregação generalizada política, orgânica e ideológica dos comunistas, o que
afetou de maneira profunda o curso da luta de classe em nível mundial. Mas a
crise é um fenômeno objetivo e se desenvolve independentemente da vontade das
pessoas. Como a crise vai se aprofundar, o capital também vai procurar de todas
as formas aprofundar o ajuste em caráter mundial, o que ampliará a resposta dos
trabalhadores.
O futuro em disputa
A crise, por sua profundidade, dimensão e ofensiva do capital, compõe um
labirinto de possibilidades tanto para o capital quanto para os trabalhadores.
As crises em geral e as crises sistêmicas em particular, significam a hora da
verdade da luta de classes. As classes fundamentais, burguesia e proletariado,
entram em disputa aberta mesmo que a luta aparentemente não se torne explícita.
Cada classe vai medir forças para implementar seu projeto de acordo com seus
interesses e quando mais a crise se estender, maior será o acirramento da luta
de classes.
Neste momento o capital está na ofensiva política, militar e econômica, mas seu
calcanhar de Aquiles é a própria crise econômica que não consegue resolver.
Conforme assinalávamos, a crise se desenvolve em três patamares, a saber: a
crise econômica, que leva à crise social, que se os problemas não forem
resolvidas leva à crise política. A crise econômica e a crise social estão na
ordem do dia e a crise política é o próximo momento da crise sistêmica global,
quando ocorrer a desarticulação monetária financeira global e um ambiente de
salve-se quem puder, com novas quebras financeiras, protecionismo, ampliação da
guerra cambial, ditadura aberta do capital e emergência do movimento social em função
da desarticulação política do poder do capital.
Nada está descartado num ambiente de crise econômica, social e política do
capital, nem mesmo um governo ao estilo fascista como na década de 30 na
Europa, nem a revolução social. As crises funcionam como parteiras de uma nova
época tanto para a burguesia quanto para o proletariado. Em função da crise e
das lutas sociais, pode iniciar-se um período de repressão aberta contra os
trabalhadores, sob o pretexto de manter a lei, a ordem e a estabilidade econômica.
Mas também pode ocorrer uma resposta dos trabalhadores muito maior do que se
imaginava no início da crise. Vale lembrar que as crises levam a um aprendizado
acelerado das massas. Setores que antes pareciam adormecidos, irrompem na cena
política de maneira inesperada, há uma mudança nas condições subjetivas de sua
organização.
Isso não significa que toda crise sistêmica gere fascismo ou revolução. São
apenas possibilidades. Mas a luta entre capital e trabalho em caráter mundial
está num outro patamar. O mundo que emergirá após a crise será muito diferente
da ordem estruturada em Bretton Woods. Não se pode prever qual será a classe
vitoriosa nesse processo que se abriu com a crise de 2008, mas a construção de
um mundo futuro será resultado do embate que as duas classes fundamentais
travarão ao longo da crise sistêmica global.
Notas
1- Karl Marx. Contribuição à Crítica da Economia Política, pag. 6. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
2- Karl Marx. Manifesto Comunista, pg. 45. São Paulo: Boitempo Editorial, 1998.
3- Engels, Friedrich. Prefácio à edição inglesa do capital. Volume I, pg 33.
São Paulo: Abril Cultural, 1983.
4- Engels, Friedrich. O capital. Vol. II. Pg. 28. São Paulo: Abril cultural,
1983.
5- Roubini, N. Mihm, S. A economia das crises – Um curso relâmpago sobre o
futuro do sistema financeiro internacional. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.
6- Coggiola. O. As Grandes Depressões, 1873-1896 - 1929-1939, pag. 72-3. São
Paulo: Alameda, 2009.
7- Dobb, M. A Evolução do Capitalismo, 9º. Ed., pag. 300. Rio de Janeiro: LTC,
2009.
8- Coggiola, O. As Grandes Depressões – 1876-18796 – 1929-1939, pag. 73-73. São
Paulo: Alameda, 2009.
9- A extração do valor fora das fronteiras nacionais foi abordada anteriormente
por Michalet, em seu livro capitalismo mundial (Paz e Terra, 1984), muito
embora aquela análise não se referisse à questão da globalização atual.
10- A crise completa do sistema capitalista foi desenvolvida por Lauro Campos
(A crise completa – a economia política do não. São Paulo: Boitempo, 2001),
muito embora o autor não estivesse se referindo especificamente à crise
sistêmica global em curso.
11- Costa, Edmilson. A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos
trabalhadores. Resistir.info, 5 de fevereiro de 2009.
12- Trata-se da tese de pós-doutoramento que elaboramos em 2002 no Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
13- Peter Chistodoulos, hoje administrador da dívida pública grega, também
ex-presidente do Banco Nacional da Grécia e ex-trader da Goldman, também participou
da maquiagem das contas gregas para favorecer a Goldman; Ottmar Issing,
ex-presidente do Bundesbank e conselheiro internacional as Goldman; Peter
Sutherland, ex-presidente da Goldman Internacional, e ex-integrante da Comissão
de Competição da União Européia; e até mo criar dos BRICS, Peter O´Neil,
influente personagem na formulação das políticas econômicas atuais, também é um
homem da Goldman, pois presidiu a Goldman Sachs Asset Management.
14- Trata-se do artigo "A crise mundial do capitalismo e a perspectiva dos
trabalhadores", publicado inicialmente em resistir.info e depois
reproduzido em centenas de sites, blogs de vários países e, posteriormente na
revista Novos Temas, do Instituto Caio Prado Junior.
[NR] No Brasil chamam de renda a qualquer espécie de rendimento
e não apenas a renda propriamente dita.
Bibliografia
DEPARTMENT of COMMERCE . Bureau of the Census and Bureau of Economic Analysis,
Table B, 106, 2011.
CAMPOS,
Lauro. A Crise Completa – A economia política do Não. São Paulo: Boitempo
Editorial
COGGIOLA, Oswaldo. As Grandes Depressões, 1873-1986; 1929-1939. São Paulo:
Alameda, 2009.
COSTA , Edmilson. A Crise Econômica Mundial e as Perspectivas do Capitalismo.
São Paulo: Novos Temas, No. 1, 2009.
_____________ A Globalização Neoliberal e as Novas Dimensões do Capitalismo.
Tese de Pós-Doutoramento. IFCH-Unicamp, 2002.
DOBB, Maurice. A Evolução do Capitalismo. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
EYCHENGREEN, Barry. Privilégio exorbitante. Rio de Janeiro: Campus, 2011.
ENGELS, Friedrick. Nota de rodapé. Vol. II de O capital. São Paulo: Abril
Culural, 1983.
ECONOMIC OUTLOOK . OCDE, No. 89. Annex Table, 32. General government financial liabilities, 2011.
MCNICHOL, E; OLIFF, P. JOHNSON, N. States Continue to Feel Recession´s Impact.
Center Budget and Policy Priorities. USA: Table 4, March, 2012.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrick. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial,
1998.
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
MICHALE T, Charles Albert. Capitalismo Mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
OECD. Economic Outlook, No. 89, 2011.
ROUBINI, Nouriel; MIHM , Stephen. A Economia das Crises – Um curso relâmpago
sobre o futuro do sistema financeiro internacional. Rio de Janeiro: Intrínseca,
2010.
Do mesmo autor:
A tragédia da social-democracia
retardatária no Brasil
[*] Doutor em economia pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da mesma instituição. É professor universitário e autor de Imperialismo
(Global, 2007), A Política Salarial no Brasil (Boitempo, 1997) A
Globalização e o Capitalismo Contemporâneo (Expressão Popular, 2008), além
de vários ensaios publicados no Brasil e exterior. É membro do Comitê Central
do PCB.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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