domingo, 6 de abril de 2025

A Globalização segundo Milton Santos

 A Globalização segundo Milton Santos

Milton Santos, um dos maiores geógrafos brasileiros, analisou a globalização de maneira crítica, trazendo à tona suas contradições e impactos sobre a sociedade, especialmente nos países periféricos. Para ele, a globalização não é um fenômeno homogêneo ou benéfico para todos, mas sim um processo marcado por desigualdades, que favorece o capital em detrimento das populações mais vulneráveis.

Santos identificava três formas de globalização: a globalização como fábula, como perversidade e como possibilidade. A globalização como fábula refere-se à narrativa dominante propagada pelos grandes meios de comunicação e pelos defensores do neoliberalismo, que apresentam a globalização como um processo de modernização universal e de oportunidades iguais para todos. Esse discurso esconde as assimetrias e desigualdades entre os países centrais e periféricos, criando uma ilusão de progresso acessível a todos.

A globalização como perversidade, por sua vez, revela os efeitos nefastos do modelo econômico vigente. Para Milton Santos, o mundo globalizado é dominado por grandes corporações transnacionais e pelo capital financeiro, que impõem uma lógica de acumulação e exclusão. A concentração de riquezas em poucas mãos, a precarização do trabalho e a destruição do meio ambiente são algumas das consequências desse modelo. A imposição de políticas neoliberais aos países em desenvolvimento intensifica a dependência econômica e impede que esses países desenvolvam suas próprias estratégias de crescimento.

Entretanto, Milton Santos não via a globalização apenas de maneira negativa. Ele também defendia a ideia de uma globalização como possibilidade, ou seja, uma alternativa ao modelo imposto pelo capital. Essa visão otimista baseava-se na ideia de que os avanços tecnológicos e a circulação de informações poderiam ser usados para criar um mundo mais justo e solidário. Para isso, seria necessário que a globalização fosse apropriada pelos povos e não apenas pelas elites econômicas. Ele acreditava na importância da participação popular e na construção de um sistema baseado na cooperação e na valorização das identidades locais.

Outro ponto fundamental na visão de Milton Santos é a ideia de que a globalização não se manifesta da mesma forma em todos os lugares. Ele propunha o conceito de "geografia do espaço banal", no qual destacava a influência das estruturas econômicas globais sobre as realidades locais. Dessa forma, a globalização não é apenas um fenômeno econômico, mas também social, cultural e político, impactando de maneira distinta diferentes regiões do mundo.

O pensamento de Milton Santos continua relevante para entender os desafios da globalização contemporânea. A desigualdade entre países e dentro das próprias nações, a precarização do trabalho, a crise ambiental e o avanço do neoliberalismo são problemas que ele já antecipava em suas análises. Sua visão crítica nos ajuda a refletir sobre alternativas para um mundo mais justo e equilibrado, onde a globalização possa servir aos interesses da coletividade e não apenas ao lucro.

Portanto, a globalização, segundo Milton Santos, não é um fenômeno inevitável ou neutro. Ela pode ser reapropriada e transformada, desde que os indivíduos e sociedades tomem consciência de suas dinâmicas e busquem construir novas formas de organização social e econômica que priorizem o bem-estar coletivo.

Vídeo 1 - A Globalização por Milton Santos


Vídeo 2  - Milton Santos - Por uma outra globalização, 2004



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