terça-feira, 20 de agosto de 2013

Leandro Narloch - O "guia correto" do Idiota Burguês Neoliberal do Brasil

Leandro Narloch - O "guia correto" do Idiota Burguês Neoliberal do Brasil

Leandro Narloch - O "guia correto" do Idiota Burguês Neoliberal do Brasil
 
por Cláudio R. Duarte
 
A Direita liberal -- protofascista desde as suas mais profundas raízes -- vem renascendo com vigor no mundo todo nas últimas décadas, principalmente após a derrocada do socialismo de caserna no Leste e do triunfo da ideologia neoliberal.
Como é de se esperar em tempos sombrios e regressivos como estes, o livro do jornalista Leandro Narloch - Guia politicamente incorreto da história do Brasil (1) - tem todos os ingredientes para se tornar, como já se tornou, um best-seller desse pensamento. Com a força de outros intelectuais da direita orgânica (Reinaldo de Azevedo, Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Diogo Mainardi, Pondé), ele vem gerando muitos discípulos, encorajando-os a mostrar a sua face incivil, apolítica, individualista, competitiva.
Nada de novo no front se contarmos o liberalismo como a forma mais natural e mais pura da consciência coisificada e da política  realista-pragmática do sujeito burguês moderno, aprisionado ao caráter fetichista das relações sociais mercantilizadas. O que é novo no neoliberalismo, talvez, é a sua fé cretina na selvageria do mercado como a única alternativa de vida possível.  
O neoliberalismo é assim o pensamento e a prática que afirmam secamente a concorrência capitalista, reduplicando de modo cínico a ideologia materializada pelas relações sociais do sistema produtor de mercadorias. Aos trocadores de mercadorias, como mostrou Marx, o valor é uma propriedade natural das coisas, assim como o mercado é um sistema que serve aos homens de maneira totalmente justa, conforme o que cada um exige  e tem a oferecer ao mercado. O neoliberal radicaliza a fé nessa justiça mercantil, praticamente excluindo o bom mocismo, a aura de civilidade, o social ou politicamente correto.
Em outras palavras, para o neoliberal não pode haver injustiça no mercado, o injusto é sempre um justo resultado das ações de cada um: o resultado do empenho diferencial e naturalmente desigual de cada competidor no mercado. Eis o que o converte em um neodarwinista social radical (ou potencialmente radical). A injustiça social aparece apenas quando o Estado ou a política intervém no mercado ou este é regulamentado por normas universais ou por algum tipo de relação social totalizante exterior ao mercado, que passa a impedir os negócios particulares e o impulso empreendedor e possessivo supostamente natural dos homens. A injustiça é o que interfere no livre-arbítrio - ou antes, no capricho dos proprietários -- ou no capricho dos jornalistas que podem também rearticular e remendar os fatos históricos para contar, como fofocas da vida privada, as suas próprias versões caprichosas de processos históricos. A verdade do processo não conta, o que conta é a versão apimentada ou polêmica de mercado, já sem o pau chutado da barraca da objetividade. Tudo seria uma questão de ponto de vista relativo.
No livro de Narloch, os homens são e serão o que sempre foram na sociedade burguesa: acumuladores de dinheiro e poder, se bem que sempre com alguns laivos de um tênue espírito de cidadania ou nacionalismo -- tudo isso sem muita angústia ou drama, afinal, o que pode haver de incorreto em tudo isso? O que haveria de errado com os bons colonizadores portugueses ou com os valentes bandeirantes paulistas, que ajudaram a formar a grande terra brasilis, a civilizar os índios (estes sim, derrubadores de floresta), ou ainda com a Inglaterra, a maior interessada no fim do tráfico negreiro por motivos humanitários!? O que pode haver de errado com a "ditabranda" de 64, segundo a versão da Folha (ou de Marco Antônio Villa, o historiador predileto da Revista Veja), um regime forte que recrudesceu somente a partir da luta armada, e que teria feito crescer  repartir a renda nacional na época do milagre brasileiro?!  Assim, nada há de errado, conclui o livro: "Viva o Brasil capitalista" (p. 336).
Seu pressuposto cego é que as relações sociais fundamentais só podem existir de fato como relações entre as coisas no mercado, como relações de compra e venda entre proprietários, isto é, por meio da troca entre pessoas privadas, entre mônadas funcionais que dispendem e fazem circular trabalho humano homogêneo, igual, abstrato. Assim, para o jornalista, o tráfico negreiro era nada mais que uma espécie de barbárie civilizada, uma troca no fundo justa entre potentados europeus e reinos africanos, que preservavam interesses particulares iguais -- como se a gênese do processo de acumulação capitalista tivesse realmente mais a ver com a sede de luxo dos reis africanos do que com o sistema capitalista de plantations, ou seja, como se a África fosse um parceiro comercial não subordinado à Europa, ao berço do Capital. 
O livro funciona assim como guia cego de mistificação para leitores há muito cegados da revista Veja. Eles estão como sempre sedentos pela justiça da troca de equivalentes em trabalho. À consciência fetichista segue-se o discurso apologético de que tudo se deu no final das contas de maneira racional e progressista desde a colonização -- a não ser por distúrbios da lógica da equivalência, como no caso do Acre, p.ex., que paga muito menos impostos do que recebe em troca da Federação. Ou dos guerrilheiros insurrectos contra a Ditadura, que apenas sangram os cofres públicos, sendo os verdadeiros heróis os militares, que defenderam a nação contra o espectro do comunismo, tido como sinônimo puro e simples de mais uma Ditadura estalinista ou maoísta (claro que distorcendo o processo real em curso, meramente reformista, legitimando assim a contrarrevolução preventiva e silenciando todo a ação imperialista estadunidense no caso). Narloch, como os liberais desde Adam Smith, recalca e esquece, assim, que o que se ergue a partir de suas honoráveis relações coisificadas só pode ser um processo social autonomizado, alheio ao controle de todos -- essa a verdadeira ditadura totalitária, que ganha a vida própria de um deus-fetiche da acumulação -- reforçado politicamente pelo golpe de 1964 -- um processo objetivo que os neoliberais simplesmente adoram e transfiguram fantasiosamente como a "mão invisível"... não da escravidão e do infortúnio coletivos, mas da busca da justiça e da democracia...
Para o neoliberalismo, tudo isso tem seu ponto de partida nos atos livres do indivíduo como proprietário burguês. Eis então um modo relativamente simples de equacionar os processos sociais opacos e hipercomplexos: as estruturas são redutíveis a ações individuais, a atos voluntários, a interesses particulares - ou, na versão de Narloch, a feitos individuais bem-sucedidos ou malogrados (a guerra do Paraguai como culpa de um tirano, p. ex., ou as bandeiras como empreendimentos heroicos de gente chã e pedestre -- dois massacres históricos aliás praticamente "inexistentes", segundo sua visão alternativa dos fatos etc.). Como dizia Margareth Thatcher, a sociedade é uma ficção, o que existe são indivíduos isolados e seus comportamentos singulares - que podem ser interpretados ao bel-prazer do historiador.
Da mesma maneira, o fracasso é sempre individual, ou seja, ele é culpa dos próprios indivíduos que não deram duro o bastante para afirmar a sua liberdade -- nunca é o resultado de um mecanismo social cego, alienado, monstruoso, que corre por trás das costas dos envolvidos e que no capitalismo gera necessariamente banhos de sangue. O pensamento fetichista simplesmente afirma a naturalidade desse estado de coisas coisificado e fetichizado, a eternidade do curso do mundo leibziniano, como o melhor dos mundos possíveis. O que se afirma é, como viu Chico de Oliveira, uma "subjetividade antipública" e uma ideologia da "impossibilidade do dissenso"(2) -- aqui, sob as vestes esfarrapadas do jovem rebelde que aparentemente destrói o consenso, pois que apenas o faz destruindo a universalidade e a objetividade da história e da luta pelos direitos sociais.
A hegemonia cultural da esquerda, segundo Roberto Schwarz operante em determinado momento dos anos 60, foi há muito abalada (3). Com livros como os de Narloch a direita vai consolidando o seu "sonho de apartheid total" (4).
________
Notas:
(1) NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. 2.ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Leya, 2011.
(2) OLIVEIRA, Francisco de. Os direitos do antivalor. (A economia política da hegemonia imperfeita). Petrópolis: Vozes, 1998, pp. 220-1.  
(3) Cf. SCHWARZ, Roberto. "Cultura e política - 1964-1969" (n:__. O pai de família e outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
(4) OLIVEIRA, op. cit., p. 203.
Fonte: http://militante-imaginario.blogspot.com.br 

sábado, 3 de agosto de 2013

A fortuna do 1% mais rico do mundo cresceu 60% em 20 anos



99-pct-de-todo-o-mundo-uni-vos

















As 300 maiores fortunas do planeta aumentam sua renda em 60% nos últimos 20 anos e acumulam mais riqueza que os mais de 3 bilhões de pobres que existem no mundo e representam 99% da população. Assim afirma o professor Jason Hickel, da escola de Economia de Londres, assessor do movimento The Rules, que luta contra a desigualdade.


"Citamos estes números porque nos oferece uma comparação clara e impressionante: as 200 pessoas mais ricas possuem aproximadamente US$ 2,7 trilhões e isso é muito mais que o que possui as 3,5 bilhões de pessoas, que possuem um total de US$ 2,2 trilhõe", explica o economista Jason Hickel, citando um estudo recente da ONG Oxfam, que salienta que o 1% dos mais ricos aumentou seus ingressos em 60% nos últimos 20 anos com a radicalização das políticas imperialistas.
No vídeo A desigualdade da riqueza mundial, o movimento The Rules expõe como cresce esta desigualdade social com o passar do tempo em diferentes países. Assim, durante o período colonial, a brecha entre os países ricos e pobres aumentou de 3:1 a 35:1. Desde então, a brecha cresceu até um nível de 80:1.
De acordo com o economista, o crescimento da brecha se deve em parte às políticas econômicas neoliberais que instituições internacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) impuseram aos países em desenvolvimento durante as últimas décadas.
"Essas políticas estão desenhadas para liberar os mercados à força, abrindo-os a fim de dar as multinacionais um acesso sem precedentes à terra barata, recursos e mão de obra. Mas a um preço muito alto: que os países pobres percam por volta de US$ 500 milhões por ano de seu PIB", explica o professor citando o economista Robert Pollin, da Universidade de Massachusetts.