por Credit Suisse Research Institute [*]
![]() A riqueza pessoal varia entre os adultos por muitas razões. Alguns indivíduos com pouca riqueza podem estar nas etapas iniciais das suas carreiras, com pouca oportunidade ou motivação para acumular activos. Outros podem ter sofrido contratempos nos negócios ou infortúnios pessoais, ou viverem em partes do mundo onde oportunidades para a criação de riqueza são severamente limitadas. No outro extremo do espectro, há indivíduos que adquiriram uma grande fortuna através de uma combinação de talento, trabalho árduo ou simplesmente por estar no lugar certo no momento certo. A pirâmide de riqueza na Figura 1 mostra estas diferenças com notável pormenor. Ela tem uma grande base de possuidores de baixa riqueza, mais acima camadas ocupadas por cada vez menos pessoas. Em 2013 estimámos que 3,2 mil milhões de indivíduos – mais de dois terços dos adultos do mundo – têm riqueza inferior a US$10.000. Uma nova camada acima com mil milhões (23% da população adulta) cai dentro da amplitude dos US$10.000 – US$100.000. Se bem que a riqueza média possuída seja modesta nos segmentos da base e médios da pirâmide, sua riqueza total monta a US$40 milhões de milhões (trillion),destacando o potencial para produtos de consumo original e serviços financeiros inovadores destinados a este segmento muitas vezes menosprezado. Os remanescentes 393 milhões de adultos (8% do mundo) têm valor líquido acima dos US$100.000. Eles incluem 32 milhões de milionários em dólares, um grupo compreende menos do que 1% da população adulta mundial, ainda que colectivamente possua 41% da riqueza familiar global. Dentro deste grupo estimamos que 98.700 indivíduos possuem mais dos US$50 milhões e 33.900 possuem mais de US$100 milhões. A base da pirâmide ![]() Riqueza da classe média Os mil milhões de adultos situados na amplitude dos US$10.000 – 100.000 constituem a classe média no contexto da riqueza global. A riqueza média possuída está próxima da média global para todos os níveis de riqueza e o patrimônio líquido total de US$33 milhões de milhões proporciona a este segmento considerável poder económico. Esta é a camada cuja composição regional acompanha mais de perto a distribuição regional de adultos no mundo, embora a Índia e a África estejam sub-representadas e a China esteja super-representada. O contraste entre a China e a Índia é particularmente interessante. A Índia abriga apenas 4% da classe média global e a sua participação tem estado a elevar-se bastante vagarosamente nos últimos anos. A participação da China, por outro lado, tem estado a crescer rapidamente a agora representa mais de um terço da pertença global, quase dez vezes mais elevada do que a da Índia. O segmento de alta riqueza da pirâmide ![]() O padrão de pertença altera-se mais uma vez quando a atenção se volta para os milionários em dólares no topo da pirâmide. O número de milionários em qualquer país dado é determinado por três factores: a dimensão da população adulta, a riqueza média e a desigualdade de riqueza. Os Estados Unidos têm classificação elevada em todos os três critérios e têm de longe o maior número de milionários: 13,2 milhões, ou 42% do total mundial (ver Figura 3). Há poucos anos o número de milionários japoneses não estava muito longe do número dos Estados Unidos. Mas o número de milionários em dólar tem subido gradualmente assim como o número de milionários japoneses tem caído – especialmente este ano. Em consequência, a proporção de milionários globais do Japão afundou abaixo dos 10% pela primeira vez em 30 anos ou mais. Os onze países remanescentes com mais de 1% do total global são encimados pelos países europeus do G7, França, Reino Unido e Itália, todos os quais têm proporções na amplitude dos 5-7%. A China está pouco atrás com uma pertença de 4% e parece provável que ultrapasse os principais países europeus dentro de uma década. A Suécia e Suíça tem populações relativamente pequenas, mas as suas altas riquezas médias elevam-nas às lita dos países que têm pelo menos 300.000 milionários, o número exigido para 1% do total mundial. Alteração de pertença do grupo milionário Alterações nos níveis de riqueza desde meados de 2012 afectaram o padrão da sua distribuição. A ascensão em riqueza média combinada com um aumento de população elevaram o número de adultos com pelo menos US$10.000, dos quais só os Estados Unidos representam 1,7 milhão de novos membros (ver Tabela 1). Pode parecer estranho que a Eurozona tenha adquirido tantos novos milionários no ano passado, mais notavelmente a França (287.000), Alemanha (221.000), Itália (127.000), Espanha (47.000) e Bélgica (38.000), mas isto simplesmente compensa em parte a grande queda no número de milionários experimentada um ano atrás. A Austrália, Canadá e Suécia também reduziram o número de milionários em 2011-2012 e agora surgem entre os dez principais ganhadores. O Japão dominante completamente a lista de países que perdem milionários, representando perdas de 1,2 milhão, ou 98% do total global. ![]()
Indivíduos com riqueza líquida elevada
[*] Excerto de Global Wealth Report 2013, elaborado por Hans-Ulrich Meister e Robert S. Shafir, do Credit Suisse Research Institute, 64p., Outubro/2013. O seu texto integral pode ser descarregado aqui (2121 kB). ![]() Indivíduos com riqueza líquida ultra elevada ![]() Conclusão Diferenças em haveres pessoais de activos podem ser detectadas através de uma pirâmide de riqueza, na qual milionários estão situados no estrato do topo e as camadas da base são preenchidas com pessoas mais pobres. Comentários sobre riqueza muitas vezes centram-se exclusivamente na parte do topo da pirâmide, o que é lamentável porque US$40 milhões de milhões de riqueza familiar é possuída nos segmentos da base e médios, e satisfazer as necessidades destes possuidores de activos pode muito bem conduzir a novas tendências no consumo, na indústria e na finança. O Brasil, China, Coreia e Formosa são países que já estão a ascender rapidamente através desta parte da pirâmide de riqueza, com a Indonésia logo atrás e a Índia a crescer rapidamente a partir de um baixo ponto de partida. Ao mesmo tempo, o segmento do topo da pirâmide provavelmente continuará a ser o mais forte condutor das tendências de fluxos e investimento de activos privados. Nossos números para meados de 2013 indicam que há agora mais de 30 milhões de indivíduos HNW, com mais de um milhão localizado na China e 5,2 milhões a residirem em outros países da Ásia-Pacífico além da China e Índia. Fortunas cambiantes No cume da pirâmide, cada um 98.700 indivíduos UHNW agora vale mais de US$50 milhões. As fortunas recentes criadas na China levam-nos a estimar que 5.830 chineses adultos (5,9% do total global) agora pertencem ao grupo UHNW, e um número semelhante são de residente no Brasil, Índia ou Rússia. Apesar da haver pouco informação confiável sobre tendências ao longo do tempo nos dados da pirâmide de riqueza, parece quase certos que a riqueza tem estado a crescer mais rapidamente no estrato do topo da pirâmide desde pelo menos o ano 2000 e que esta tendência continua. Por exemplo: o total global de riqueza cresceu 4,9% desde meados de 2012 a meados de 2013, mas o número de milionários no mundo cresceu 6,1% durante o mesmo período, e o número de indivíduos UHNW ascendeu em mais de 10%. Parece portanto que a economia mundial permanece propícia à aquisição e preservação de fortunas de grande e média dimensão. Este documento encontra-se em http://resistir.info/ . |
Com duração de 5 horas e 45 minutos e todo em preto e branco, La Commune pretende ser uma cobertura popular e documental da Comuna de Paris, mostrando o seu dia a dia por meio de uma TV fictícia criada peloscommunards. Ao mesmo tempo em que faz a dramatização da cobertura dos eventos, o filme também os contextualiza, exibindo informações históricas em formato de documentário – um gênero chamado docudrama, em inglês. Também trata do papel da mídia de massas, tanto no passado quanto no presente.
Logo nos primeiros dias da Comuna, ao perceberem que a mídia burguesa mentia, omitia e distorcia os fatos, os communards viram a necessidade de ter seu próprio veículo de comunicação. Assim, criaram a TV Comuna, que com seus dois repórteres acompanhará toda a revolução em seus aspectos mais particulares.
Um filme militante
O calor transmitido pela obra é contagiante. O povo se reúne e debate a organização da nova sociedade a todo o momento. As novas cooperativas de trabalhadores reativando oficinas abandonadas, a nova organização das mulheres, a nova administração e a nova educação desvinculada da Igreja, enfim, não há um só minuto de silêncio no decorrer do filme, com exceção das cenas que mostram como o canal de televisão da burguesia noticiava esses mesmos fatos.
Mas a característica mais marcante da obra é que, por diversos momentos, perde-se a barreira que separa o que é ficção e o que é realidade, o que é passado e o que é presente: durante o filme, os próprios atores são questionados sobre determinadas cenas da Comuna que estão representando. É assim, por exemplo, quando durante a defesa em uma barricada contra o avanço do exército de Versalhes, o repórter da TV Comuna se aproxima para entrevistar uma trabalhadora que ali lutava. No entanto, ele ultrapassa a linha do ficcional e entrevista não a personagem, mas a própria atriz, que lhe responde sob a emoção da cena que continua em andamento com os outros atores.
La Commune é também um filme para reflexão. A obra registra debates políticos entre os atores, ainda trajando seus figurinos dentro do cenário, sem que se avise antes ao telespectador que foi interrompido o fluxo dos eventos e que entramos em uma discussão sobre o mundo atual. Somente no decorrer do diálogo é que se percebe que ocorreu tal transição.
Meses antes das filmagens, cada ator estudou sobre a Comuna de Paris e sobre o que considerou necessário para compreender o tema. Suas opiniões registradas nos debates, portanto, resultaram do confronto entre suas leituras, a recriação dos eventos da Comuna e os debates com outros atores. E foi o resultado de todas essas experiências o que levou uma atriz a revelar durante um debate: “Quando eu ouvi falar desse filme eu reli Valles, Louise Michel, Lissagaray. Eu terminei os três livros e pensei: eu entendi Lênin!”. Para ela, foi somente pela experiência de recriação da Comuna de Paris que foi possível perceber a necessidade de uma organização centralizada como proposta por Lênin para dirigir a revolução – o Partido Comunista –, o que, em sua opinião, faltou na Comuna. Quando outro ator discorda de sua posição devido à repressão ao levante de Kronstadt (um levante que colocava em perigo o novo poder soviético), ela ainda replica: “Sim, mas eles [os bolcheviques] venceram a revolução”.
Por ser um filme engajado, militante, não se poderia esperar, obviamente, que fosse facilmente financiado. E a própria obra denuncia isto, quando, após um debate entre os atores, escreve: “A participação do elenco na produção deste filme é exatamente o que a mídia global teme, e uma das principais razões dos canais de televisão, aos quais foram solicitados recursos para este filme, terem se recusado a financiá-lo. O que a mídia teme, mais especificamente, é ver o homem no pequeno retângulo [televisão] ser substituído por uma multidão de pessoas, pelo público”.
Apesar de lançado no ano 2000, as dificuldades de financiamento e distribuição impediram sua ampla divulgação, somando-se o fato de que suas únicas legendas originais são em inglês (com áudio em francês). No entanto, graças à livre colaboração na internet, já é possível encontrar legendas não oficiais também em português. La Commune é um filme obrigatório.
Glauber Ataide, Belo Horizonte