quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Apenas 147 conglomerados empresariais controlam 40% da riqueza mundial

 A maior parte das corporações mundiais está no Hemisfério Norte e controlam a economia mundial com graves riscos para o mundo

corporaçõesUm estudo da Universidade de Zurich revelou que um pequeno grupo de 147 grandes corporações trasnacionais, principalmente financeiras e mineiro-extrativas, na prática controlam a economia global. O estudo foi o primeiro a analisar 43.060 corporações transnacionais e desentranhar a teia de aranha da propriedade entre elas, conseguindo identificar 147 companhias que formam uma “super entidade” que controla 40% da riqueza da economia global.
O pequeno grupo está estreitamente interligado através das diretorias corporativas e constitui uma rede de poder que poderia ser vulnerável ao colapso e propensa ao “risco sistemico”, segundo diversas opiniões. O Project Censored (Projeto Censurado, em tradução livre) da Universidade Estadual de Sonoma, na Califórnia, EUA, desclassificou esta notícia e sua repercussão foi sepultada pelos meios de comunicação norte-americanos. Mas Peter Phillips, professor de sociologia naquela universidade, ex-diretor do Projeto Censurado e atual presidente da Fundação Media Freedom/Project Censored, fez referência a ela em seu trabalho The Global 1%: Exposing the Transnational Ruling Class (O Um Por Cento Global: Exposição da Classe Dominante Transnacional), assinado com Kimberly Soeiro e publicado em projectcensored.org.
Os autores do estudo são Stefania Vitali, James B. Glattfelder e Stefano Battiston, pesquisadores da Universidade de Zurich (Suíça), os quais publicaram seu trabalho a 26 de outubro 2011, sob o título A Rede de Controle Corporativo Global (The Network of Global Corporate Control) na revista científica plosone.org.
Na apresentação do estudo publicado na PlosOne, os autores escreveram: “A estrutura da rede de controle das empresas transnacionais afeta a concorrência do mercado mundial e a estabilidade financeira. Até agora, foram estudadas somente pequenas mostras nacionais e não existia uma metodologia adequada para avaliar o controle a nível mundial. Apresenta-se a primeira pesquisa da arquitetura da rede de propriedade internacional, junto ao cálculo da função mantida por cada contendor global”.
“Verificamos que as corporações transnacionais formam uma gigantesca estrutura como gravata de laço e que uma grande parte dos fluxos de controle conduzem para um pequeno núcleo muito unido de instituições financeiras. Este núcleo pode ser visto como um bem econômico, uma “super-entidade” que propõe novas questões importantes, tanto para os pesquisadores como para os responsáveis políticos”.
O diário conservador britânico Daily Mail foi talvez o único do mundo a publicar esta notícia, em 20 de outubro 2011, assinada por Rob Waugh com o chamativo titulo: Existe uma ‘super-corporação’ que dirige a economia global. O Estudo ressalta que esta célula empresarial gigante poderia ser terrivelmente instável. A pesquisa concluiu que 147 empresas criaram uma “super entidade” dentro do grupo, controlando 40% da riqueza mundial”.
Waugh explica que o estudo da Universidade de Zurich “prova” que um pequeno grupo de companhias – principalmente bancos – exerce um poder enorme sobre a economia global. O trabalho foi o primeiro a examinar um total de 43.060 corporações transnacionais, a teia de aranha da propriedade entre elas e estabeleceu um “mapa” de 1.318 empresas como coração da economia global.
“O estudo encontrou que 147 empresas desenvolveram em seu interior uma “super entidade”, controladora de 40% de sua riqueza. Todos possuem parte ou a totalidade de um e outro. A maioria são bancos – os 20 top, incluídos Barclays e Goldman Sachs. Mas o estreito relacionamento significa que a rede poderia ser vulnerável ao colapso”, escreveu Waugh.
O 1% do mundo
“Efetivamente, menos de 1% das empresas foi capaz de controlar 40% de toda a rede”, disse ao Daily Mail James Glattfelder, teórico de sistemas complexos do Instituto Federal Suíço de Zurich, um dos três autores da investigação.
Alguns dos supostos que subjazem no estudo foram criticados, como a ideia de que propriedade equivale a controle. “No entanto, os pesquisadores suíços não têm nenhum interesse pessoal: limitaram-se a aplicar à economia mundial modelos matemáticos utilizados habitualmente para modelar sistemas naturais, usando o Orbis 2007, um banco de dados que contém 37 milhões as companhias e investidores”, informou Waugh.
O economista John Driffil, da Universidade de Londres, especialista em macroeconomia, disse à revista New Scientist que o valor do estudo não radicava em ver quem controla a economia global, mas em mostrar as estreitas conexões entre as corporações maiores do mundo. O colapso financeiro de 2008 mostrou que este tipo de redes estreitamente unidas pode ser instável.
– Se uma empresa sofre uma angústia, esta se propaga – disse Glattfelder.
Para Rob Waugh e o Daily Mail há um “senão”: “Parece pouco provável que as 147 corporações no coração da economia mundial pudessem exercer um poder político real, pois representam demasiados interesses”, assegurou o diário conservador britânico.
A riqueza global do mundo estima-se que se aproxima dos US$ 200 bilhões, ou seja, duas centenas de milhões de milhões. Segundo Peter Phillips e Kimberly Soeiro, 1% mais rico da população do planeta agrupa, aproximadamente, 40 milhões de adultos. Estas pessoas constituem o segmento mais rico da população dos países mais desenvolvidos e, intermitentemente, em outras regiões.
Segundo o livro de David Rothkopf Super-classe: a Elite de Poder Mundial e o Mundo que está Criando, a super elite abarcaria aproximadamente 0,0001% (1 milionésima parte) da população do mundo e compreenderia umas 6 a 7 mil pessoas, embora outros assinalem 6,6 mil. Entre esse grupo, teria que se procurar os donos das 147 corporações a que se refere o estudo dos pesquisadores de Zurich.
Ernesto Carmona é jornalista e escritor chileno.
• Artigo publicado originariamente em Diário da Liberdade.
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Fonte: http://correiodobrasil.com.br/

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Conselho Indigenista Missionário esclarece “suicídio coletivo” de índios

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) emitiu nota para esclarecer o que está sendo disseminado nas redes sociais como “suicídio coletivo” dos índios Kaiowá e Guarani. Na verdade, a carta divulgada por eles fala em morte coletiva, já que decidiram ficar na terra e resistir à desapropriação autorizada pela Justiça Federal de Navirai, no Mato Grosso do Sul.

Nota sobre o suposto suicídio coletivo dos Kaiowá de Pyelito Kue
Cimi entende que na carta dos indígenas Kaiowá e Guarani de Pyelito Kue, MS, não há menção alguma sobre suposto suicídio coletivo, tão difundido e comentado pela imprensa e nas redes sociais. Leiam com atenção odocumento: os Kaiowá e Guarani falam em morte coletiva (o que é diferente de suicídio coletivo) no contexto da luta pela terra, ou seja, se a Justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los de suas terras tradicionais, estão dispostos a morrerem todos nela, sem jamais abandoná-las. Vivos não sairão do chão dos antepassados. Não se trata de suicídio coletivo! Leiam a carta, está tudo lá. É preciso desencorajar a reprodução de tais mentiras, como o que já se espalha por aí com fotos de índios enforcados e etc. Não precisamos expor de forma irresponsável um tema que muito impacta a vida dos Guarani Kaiowá.
O suicídio entre os Kaiowá e Guarani já ocorre há tempos e acomete sobretudo os jovens. Entre 2003 e 2010 foram 555 suicídios entre os Kaiowá e Guarani motivados por situações de confinamento, falta de perspectiva, violência aguda e variada, afastamento das terras tradicionais e vida em acampamentos às margens de estradas. Nenhum dos referidos suicídios ocorreu em massa, de maneira coletiva, organizada e anunciada.
Desde 1991, apenas oito terras indígenas foram homologadas para esses indígenas que compõem o segundo maior povo do país, com 43 milindivíduos que vivem em terras diminutas. O Cimi acredita que tais números é que precisam de tamanha repercussão, não informações inverídicas que nada contribuem com a árdua e dolorosa luta desse povo resistente e abnegado pela Terra Sem Males.
Histórico
Os índios Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul (MS), Centro-Oeste brasileiro, cansados da morosidade da justiça, decidiram retomar parte do tekoha (território sagrado) Arroio Koral, localizado no município de Paranhos, em 10 de agosto deste ano. Poucas horas depois, nem bem os cerca de 400 indígenas haviam montado acampamento, pistoleiros invadiram o local levando medo e terror para homens, mulheres e crianças.
No momento do ataque, os indígenas correram e se espalharam pela mata, no entanto, passados os momentos de pânico, aos poucos os Guarani Kaiowá foram retornando para o acampamento e mesmo se sentindo inseguros e amedrontados pretendem não sair mais de lá.
O Guarani Kaiowá Dionísio Gonçalves assegura que os indígenas estão firmes na decisão de permanecer no tekoha Arroio Koral, mesmo cientes das adversidades que terão que enfrentar, já que o território sagrado reivindicado por eles fica no meio de uma fazenda.
- Nós estamos decididos a não sair mais, nós resolvemos permanecer e vamos permanecer. Podem vir com tratores, nós não vamos sair. A terra é nossa, até o Supremo Tribunal Federal já reconheceu. Se não permitirem que a gente fique é melhor mandarem caixão e cruz, pois nós vamos ficar aqui – assegurou.
A batalha pela retomada de terras indígenas não é de hoje no Mato Grosso do Sul. Neste Estado, onde se localizam os mais altos índices de assassinatos de indígenas, esta população luta há vários anos pela devolução de terras tradicionais e sagradas. Dentro deste contexto de luta já aconteceram diversos ataques como os de sexta-feira, muitos ordenados por fazendeiros insatisfeitos com a devolução das terras aos seus verdadeiros donos.
O conflito fundiário e judicial que envolve o território sagrado Arroio Koral parecia estar resolvido quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, em dezembro de 2009, um decreto homologando a demarcação da terra.
No entanto, em janeiro de 2010, o Supremo Tribunal Federal (STF), do qual está à frente o ministro Gilmar Mendes, suspendeu a eficácia do decreto presidencial em relação às fazendas Polegar, São Judas Tadeu, Porto Domingos e Potreiro-Corá.
O processo continua em andamento, mas tem caminhado a passos muito lentos, já que ainda não foi votado por todos os ministros. Assim, fartos da morosidade da justiça brasileira, os Guarani Kaiowá decidiram fazer a retomada da terra.
Os indígenas escreveram uma carta para os ministros do Supremo Tribunal Federal e para o Governo Federal em que reivindicam o despejo dos fazendeiros que ainda estão ocupando e destruindo territórios tradicionais já demarcados e reconhecidos pelo Estado brasileiro e pela Justiça Federal e exigem a devolução imediata de todos os antigos territórios indígenas.
- Sabemos que os pistoleiros das fazendas vão matar-nos, mas mesmo assim, a nossa manifestação pacífica começa 10 de agosto de 2012. Por fim, solicitamos, com urgência, a presenças de todas as autoridades federais para registrar as nossas manifestações pacíficas, étnicas e públicas pela devolução total de nossos territórios antigos – anuncia o último trecho da carta assinada por lideranças, rezadores, mulheres pertencentes ao Povo Kaiowá e Guarani dos acampamentos e das margens de rodovias, ameaçados pelos pistoleiros das fazendas, dos territórios reocupados e das Reservas, Aldeias Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul.
Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil
Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.
Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.
Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.
Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.
Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

“Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”



























A declaração de morte coletiva feita por um grupo de Guaranis-Kaiowás demonstra a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e mostra que somos todos cúmplices de genocídio – uma parte de nós por ação, outra por omissão.

- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.
[Eliane Brum, Época, 22 out 12] O trecho pertence à carta de um grupo de 170 indígenas que vivem à beira de um rio no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, cercados por pistoleiros. As palavras foram ditadas em 8 de outubro ao conselho Aty Guasu (assembleia dos Guaranis-Kaiowás), após receberem a notícia de que a Justiça Federal decretou sua expulsão da terra. São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças. Decidiram ficar. E morrer como ato de resistência – morrer com tudo o que são, na terra que lhes pertence.
Há cartas, como a de Pero Vaz de Caminha, de 1º de maio de 1500, que são documentos de fundação do Brasil: fundam uma nação, ainda sequer imaginada, a partir do olhar estrangeiro do colonizador sobre a terra e sobre os habitantes que nela vivem. E há cartas, como a dos Guaranis-Kaiowás, escritas mais de 500 anos depois, que são documentos de falência. Não só no sentido da incapacidade do Estado-nação constituído nos últimos séculos de cumprir a lei estabelecida na Constituição hoje em vigor, mas também dos princípios mais elementares que forjaram nosso ideal de humanidade na formação do que se convencionou chamar de “o povo brasileiro”. A partir da carta dos Guaranis-Kaiowás, tornamo-nos cúmplices de genocídio. Sempre fomos, mas tornar-se é saber que se é.
Os Guaranis-Kaiowás avisam-nos por carta que, depois de tantas décadas de luta para viver, descobriram que agora só lhes resta morrer. Avisam a todos nós que morrerão como viveram: coletivamente, conjugados no plural.
Nos trechos mais pungentes de sua carta de morte, os indígenas afirmam:
- Queremos deixar evidente ao Governo e à Justiça Federal que, por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo. Não acreditamos mais na Justiça Brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos, mesmo, em pouco tempo. Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy, onde já ocorreram 4 mortes, sendo que 2 morreram por meio de suicídio, 2 em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um ano. Estamos sem assistência nenhuma, isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia a dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários de nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali está o cemitérios de todos os nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje. (…) Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.
Como podemos alcançar o desespero de uma decisão de morte coletiva? Não podemos. Não sabemos o que é isso. Mas podemos conhecer quem morreu, morre e vai morrer por nossa ação – ou inação. E, assim, pelo menos aproximar nossos mundos, que até hoje têm na violência sua principal intersecção.
Desde o início do século XX, com mais afinco a partir do Estado Novo (1937-45) de Getúlio Vargas, iniciou-se a ocupação pelos brancos da terra dos Guaranis-Kaiowás. Os indígenas, que sempre viveram lá, começaram a ser confinados em reservas pelo governo federal, para liberar suas terras para os colonos que chegavam, no que se chamou de “A Grande Marcha para o Oeste”. A visão era a mesma que até hoje persiste no senso comum: “terra desocupada” ou “não há ninguém lá, só índio”.
Era de gente que se tratava, mas o que se fez na época foi confiná-los como gado, num espaço de terra pequeno demais para que pudessem viver ao seu modo – ou, na palavra que é deles, Teko Porã (“o Bem Viver”). Com a chegada dos colonos, os indígenas passaram a ter três destinos: ou as reservas, ou trabalhar nas fazendas como mão de obra semiescrava ou se aprofundar na mata. Quem se rebelou foi massacrado. Para os Guaranis-Kaiowás, a terra a qual pertencem é a terra onde estão sepultados seus antepassados. Para eles, a terra não é uma mercadoria – a terra é.
Na ditadura militar, nos anos 60 e 70, a colonização do Mato Grosso do Sul se intensificou. Um grande número de sulistas, gaúchos mais do que todos, migrou para o território para ocupar a terra dos índios. Outros despacharam peões e pistoleiros, administrando a matança de longe, bem acomodados em suas cidades de origem, onde viviam – e vivem até hoje – como “cidadãos de bem”, fingindo que não têm sangue nas mãos.
Com a redemocratização do país, a Constituição de 1988 representou uma mudança de olhar e uma esperança de justiça. Os territórios indígenas deveriam ser demarcados pelo Estado no prazo de cinco anos. Como sabemos, não foi. O processo de identificação, declaração, demarcação e homologação das terras indígenas tem sido lento, sensível a pressões dos grandes proprietários de terras e da parcela retrógrada do agronegócio. E, mesmo naquelas terras que já estão homologadas, em muitas o governo federal não completou a desintrusão – a retirada daqueles que ocupam a terra, como posseiros e fazendeiros –, aprofundando os conflitos.


Nestas últimas décadas testemunhamos o genocídio dos Guaranis-Kaiowás. Em geral, a situação dos indígenas brasileiros é vergonhosa. A dos 43 mil Guaranis-Kaiowás, o segundo grupo mais numeroso do país, é considerada a pior de todas. Confinados em reservas como a de Dourados, onde cerca de 14 mil, divididos em 43 grupos familiares, ocupam 3,5 mil hectares, eles encontram-se numa situação de colapso. Sem poder viver segundo a sua cultura, totalmente encurralados, imersos numa natureza degradada, corroídos pelo alcoolismo dos adultos e pela subnutrição das crianças, os índices de homicídio da reserva são maiores do que em zonas em estado de guerra.

A situação em Dourados é tão aterradora que provocou a seguinte afirmação da vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat: “A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo”. Segundo um relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que analisou os dados de 2003 a 2010, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 para cada 100 mil habitantes – no Iraque, o índice é de 93 assassinatos para cada 100 mil. Comparado à média brasileira, o índice de homicídios da Reserva de Dourados é 495% maior.
A cada seis dias, um jovem Guarani-Kaiowá se suicida. Desde 1980, cerca de 1500 tiraram a própria vida. A maioria deles enforcou-se num pé de árvore. Entre as várias causas elencadas pelos pesquisadores está o fato de que, neste período da vida, os jovens precisam formar sua família e as perspectivas de futuro são ou trabalhar na cana de açúcar ou virar mendigos. O futuro, portanto, é um não ser aquilo que se é. Algo que, talvez para muitos deles, seja pior do que a morte.
Um relatório do Ministério da Saúde mostrou, neste ano, o que chamou de “dados alarmantes, se destacando tanto no cenário nacional quanto internacional”. Desde 2000, foram 555 suicídios, 98% deles por enforcamento, 70% cometidos por homens, a maioria deles na faixa dos 15 aos 29 anos. No Brasil, o índice de suicídios em 2007 foi de 4,7 por 100 mil habitantes. Entre os indígenas, no mesmo ano, foi de 65,68 por 100 mil. Em 2008, o índice de suicídios entre os Guaranis-Kaiowás, chegou a 87,97 por 100 mil, segundo dados oficiais. Os pesquisadores acreditam que os números devem ser ainda maiores, já que parte dos suicídios é escondida pelos grupos familiares por questões culturais.
As lideranças Guaranis-Kaiowás não permaneceram impassíveis diante deste presente sem futuro. Começaram a se organizar para denunciar o genocídio do seu povo e reivindicar o cumprimento da Constituição. Até hoje, mais de 20 delas morreram assassinadas por ferirem os interesses privados de fazendeiros da região, a começar por Marçal de Souza, em 1983, cujo assassinato ganhou repercussão internacional. Ao mesmo tempo, grupos de Guaranis-Kaiowás abandonaram o confinamento das reservas e passaram a buscar suas tekohá, terras originais, na luta pela retomada do território e do direito à vida. Alguns grupos ocuparam fundos de fazendas, outros montaram 30 acampamentos à beira da estrada, numa situação de absoluta indignidade. Tanto nas reservas quanto fora delas, a desnutrição infantil é avassaladora.
A trajetória dos Guaranis-Kaiowás que anunciaram sua morte coletiva ilustra bem o destino ao qual o Estado brasileiro os condenou. Homens, mulheres e crianças empreenderam um caminho em busca da terra tradicional, localizada às margens do Rio Hovy, no município de Iguatemi (MS). Acamparam em sua terra no dia 8 de agosto de 2011, nos fundos de fazendas. Em 23 de agosto foram atacados e cercados por pistoleiros, a mando dos fazendeiros. Em um ano, os pistoleiros já derrubaram dez vezes a ponte móvel feitas por eles para atravessar um rio com 30 metros de largura e três de fundura. Em um ano, dois indígenas foram torturados e mortos pelos pistoleiros, outros dois se suicidaram.
Em tentativas anteriores de recuperação desta mesma terra, os Guaranis-Kaiowás já tinham sido espancados e ameaçados com armas de fogo. Alguns deles tiveram seus olhos vendados e foram jogados na beira da estrada. Em outra ocasião, mulheres, velhos e crianças tiveram seus braços e pernas fraturados. O que a Justiça Federal fez? Deferiu uma ordem de despejo. Em nota, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) afirmou que “está trabalhando para reverter a decisão”.
Os Guaranis-Kaiowás estão sendo assassinados há muito tempo, de todas as formas disponíveis, as concretas e as simbólicas. “A impunidade é a maior agressão cometida contra eles”, afirma Flávio Machado, coordenador do CIMI no Mato Grosso do Sul. Nas últimas décadas, há pelo menos duas formas interligadas de violência no processo de recuperação da terra tradicional dos indígenas: uma privada, das milícias de pistoleiros organizadas pelos fazendeiros; outra do Estado, perpetrada pela Justiça Federal, na qual parte dos juízes, sem qualquer conhecimento da realidade vivida na região, toma decisões que não só compactuam com a violência , como a acirram.
“Quando os pistoleiros não conseguem consumar os despejos e massacres truculentos dos indígenas, os fazendeiros contratam advogados para conseguir a ordem de despejo na Justiça”, afirma Egon Heck, indigenista e cientista político, num artigo publicado em relatório do CIMI. “No momento em que ocorre a ordem de despejo, os agentes policiais agem de modo similar ao dos pistoleiros, visto que utilizam armas pesadas, queimam as ocas, ameaçam e assustam as crianças, mulheres e idosos.”
Ao fundo, o quadro maior: os sucessivos governos que se alternaram no poder, após a Constituição de 1988, foram incompetentes para cumpri-la. Ao final de seus dois mandatos, Lula reconheceu que deixava o governo com essa dívida junto ao povo Guarani-Kaiowá. Legava a tarefa à sua sucessora, Dilma Rousseff. Os indígenas escreveram, então, uma carta: “Presidente Dilma, a questão das nossas terras já era para ter sido resolvida há décadas. Mas todos os governos lavaram as mãos e foram deixando a situação se agravar. Por ultimo, o ex-presidente Lula prometeu, se comprometeu, mas não resolveu. Reconheceu que ficou com essa dívida para com nosso povo Guarani-Kaiowá e passou a solução para suas mãos. E nós não podemos mais esperar. Não nos deixe sofrer e ficar chorando nossos mortos quase todos os dias. Não deixe que nossos filhos continuem enchendo as cadeias ou se suicidem por falta de esperança de futuro (…) Devolvam nossas condições de vida que são nossos tekohá, nossas terras tradicionais. Não estamos pedindo nada demais, apenas os nossos direitos que estão nas leis do Brasil e internacionais”.
A declaração de morte dos Guaranis-Kaiowás ecoou nas redes sociais na semana passada. Gerou uma comoção. Não é a primeira vez que indígenas anunciam seu desespero e seu genocídio. Em geral, quase ninguém escuta, para além dos mesmos de sempre, e o que era morte anunciada vira morte consumada. Talvez a diferença desta carta é o fato de ela ecoar algo que é repetido nas mais variadas esferas da sociedade brasileira, em ambientes os mais diversos, considerado até um comentário espirituoso em certos espaços intelectualizados: a ideia de que a sociedade brasileira estaria melhor sem os índios.
Desqualificar os índios, sua cultura e a situação de indignidade na qual vive boa parte das etnias é uma piada clássica em alguns meios, tão recorrente que se tornou quase um clichê. Para parte da elite escolarizada, apesar do esforço empreendido pelos antropólogos, entre eles Lévi-Strauss, as culturas indígenas ainda são vistas como “atrasadas”, numa cadeia evolutiva única e inescapável entre a pedra lascada e o Ipad – e não como uma escolha diversa e um caminho possível. Assim, essa parcela da elite descarta, em nome da ignorância, a imensa riqueza contida na linguagem, no conhecimento e nas visões de mundo das 230 etnias indígenas que ainda sobrevivem por aqui.
Toda a História do Brasil, a partir da “descoberta” e da colonização, é marcada pelo olhar de que o índio é um entrave no caminho do “progresso” ou do “desenvolvimento”. Entrave desde os primórdios – primeiro, porque teve a deselegância de estar aqui antes dos portugueses; em seguida, porque se rebelava ao ser escravizado pelos invasores europeus. A sociedade brasileira se constituiu com essa ideia e ainda que a própria sociedade tenha mudado em muitos aspectos, a concepção do índio como um entrave persiste. E persiste de forma impressionante, não só para uma parte significativa da população, mas para setores do Estado, tanto no governo atual quanto nas gestões passadas.
“Entraves” precisam ser removidos. E têm sido, de várias maneiras, como a História, a passada e a presente, nos mostra. Talvez essa seja uma das explicações possíveis para o impacto da carta de morte ter alcançado um universo maior de pessoas. Desta vez, são os índios que nos dizem algo que pode ser compreendido da seguinte forma: “Então é isso o que vocês querem? Nos matar a todos? Então nós decidimos: vamos morrer”. Ao devolver o desejo a quem o deseja, o impacto é grande.
É importante lembrar que carta é palavra. A declaração de morte coletiva surge como palavra dita. Por isso precisamos compreender, pelo menos um pouco, o que é a palavra para os Guaranis-Kaiowás. Em um texto muito bonito, intitulado Ñe’ẽ – a palavra alma, a antropóloga Graciela Chamorro, da Universidade Federal da Grande Dourados, nos dá algumas pistas:
“A palavra é a unidade mais densa que explica como se trama a vida para os povos chamados guarani e como eles imaginam o transcendente. As experiências da vida são experiências de palavra. Deus é palavra. (…) O nascimento, como o momento em que a palavra se senta ou provê para si um lugar no corpo da criança. A palavra circula pelo esqueleto humano. Ela é justamente o que nos mantém em pé, que nos humaniza. (…) Na cerimônia de nominação, o xamã revelará o nome da criança, marcando com isso a recepção oficial da nova palavra na comunidade. (…) As crises da vida – doenças, tristezas, inimizades etc. – são explicadas como um afastamento da pessoa de sua palavra divinizadora. Por isso, os rezadores e as rezadoras se esforçam para ‘trazer de volta’, ‘voltar a sentar’ a palavra na pessoa, devolvendo-lhe a saúde.(…) Quando a palavra não tem mais lugar ou assento, a pessoa morre e torna-se um devir, um não-ser, uma palavra-que-não-é-mais. (…) Ñe’ẽ e ayvu podem ser traduzidos tanto como ‘palavra’ como por ‘alma’, com o mesmo significado de ‘minha palavra sou eu’ ou ‘minha alma sou eu’. (…) Assim, alma e palavra podem adjetivar-se mutuamente, podendo-se falar em palavra-alma ou alma-palavra, sendo a alma não uma parte, mas a vida como um todo.”
A fala, diz o antropólogo Spensy Pimentel, pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo, é a parte mais sublime do ser humano para os Guaranis-Kaiowás. “A palavra é o cerne da resistência. Tem uma ação no mundo – é uma palavra que age. Faz as coisas acontecerem, faz o futuro. O limite entre o discurso e a profecia é tênue.”
Se a carta de Pero Vaz de Caminha marca o nascimento do Brasil pela palavra escrita, é interessante pensar o que marca a carta dos Guaranis-Kaiowás mais de 500 anos depois. Na carta-fundadora, é o invasor/colonizador/conquistador/estrangeiro quem estranha e olha para os índios, para sua cultura e para sua terra. Na dos Guaranis-Kaiowás, são os índios que olham para nós. O que nos dizem aqueles que nos veem? (Ou o que veem aqueles que nos dizem?)
A declaração de morte dos Guaranis-Kaiowás é “palavra que age”. Antes que o espasmo de nossa comoção de sofá migre para outra tragédia, talvez valha a pena uma última pergunta: para nós, o que é a palavra?
Clique aqui para assinar o Abaixo-Assinado em favor dos Guaranis-Kaiowás.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

"À Sombra de um Delírio Verde"



À Sombra de um Delírio Verde from Vimeo.

Foi lançado nesta terça-feira (21) uma versão HD para internet do documentário que denuncia o processo de genocídio dos Guarani Kaiowá. “À Sombra de um Delírio Verde” mostra a triste situação do povo indígena com a maior população no Brasil que trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território contra as transnacionais do agronegócio. Trata-se de uma produção independente (assinada por produtores da Argentina, Bélgica e Brasil) que procura expor em 29 minutos as sistemáticas violências vividas por este povo.

Contexto atual

Na última sexta-feira (dia 18) um grupo de pistoleiros fortemente armados promoveram no acampamento Tekoha Guaiviry, município de Amambaí, Mato Grosso do Sul, um forte ataque uma ataque conta a comunidade Guarani Kaiowá. O massacre teve como alvo o cacique Nísio Gomes, 59 anos, executado à tiros. Depois de morto, o corpo do indígena foi levado pelos pistoleiros – prática vista em outros crimes cometidos contra os Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Além da morte de Nísio, dois adolescentes e uma criança permanecem desaparecidos. 

Infelizmente, devido à impunidade de seus autores, há décadas esta prática já se tornou comum no estado do Mato Grosso do Sul, como pode ser comprovado no documentário “À Sombra de um Delírio Verde”. Este é o segundo massacre com as mesmas características promovido somente este ano.  

A situação de violência contra os Guarani Kaiowá os coloca em relatórios de organismos internacionais como uma das piores situações vividas por um povo indígena no mundo.

"A ONG Anistia Internacional disse que o caso é "chocante" e criticou a lentidão das autoridades no processo de demarcação de terras na região", destacou a agência inglesa BBC.

"O vice-presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa Humana, Percílio de Souza Lima neto, a morte do cacique foi uma tragédia anunciada", registrou o jornal O Estado de São Paulo


Sinopse

Na região Sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, o povo indígena com a maior população no Brasil trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território.

Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, juntamente com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível “limpo” e ecologicamente correto.

Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e trabalho escravo.

Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.

Notas sobre o filme

“À Sombra de um Delírio Verde” (The Dark Side of Green) é uma produção independente realizada sem recursos públicos, de empresas ou do terceiro setor. Trabalharam de forma associada a repórter televisiva belga An Baccaert, o jornalista Cristiano Navarro e o repórter cinematográfico argentino Nicolas Muñoz.

O filme começou a ser rodado nas aldeias da região sul do Mato Grosso do Sul, em abril de 2008, e contou com apoio logístico da Associação de Professores Guarani Kaiowá, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Foodfirst Information & Action Network (Fian international). Sua finalização, feita de maneira “quase artesanal”, foi concluída em janeiro de 2011.

A maior parte das informações apuradas nas comunidades, com órgãos públicos e com associações de produtores rurais fazem parte dos trabalhos de investigação que Navarro desenvolve desde 2002 junto ao Cimi. 

Sete músicas de fundo foram compostas especialmente para o documentário por Thomas Leonhardt. O grupo de hip-hop Bro’w, que canta a música No Yankee, é formado por jovens Guarani Kaiowá de comunidades das aldeias de Dourados, Mato Grosso do Sul. 

A narração do documentário em português foi feita pela cantora sambista Fabiana Cozza. O documentário também possui narrações em espanhol, francês, inglês, alemão e holandês.

Mais do que um simples produto audiovisual, os realizadores do filme têm como expectativa utilizar o documentário para fazer uma denúncia internacional sobre a grave situação em que vive o povo Guarani Kaiowá, apoiando assim a sua luta pela reconquista de seu território tradicional.

http://www.thedarksideofgreen-themovie.com/

Ficha técnica:
Título Original: À Sombra de um Delírio Verde Documentário (The Dark Side of Green)
Gênero: Documentário
Produção: Argentina, Bélgica, Brasil
Tempo de Duração: 29 min
Ano de Lançamento: 2011
Direção, produção e roteiro: An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicolas Muñoz
Narração em Português: Fabiana Cozza
Música composta por Thomas Leonhardt

Festivais
5º Festival de Cinema da Floresta (sem patrocínio da Petrobras ou BNDES)
23º Festival Cinémas d’Amérique Latine 2011, Tolouse, France

Veja Também: 
Este projeto tem como objetivo o esclarecimento do público a respeito da implantação da usina hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu. É, portanto, um documentário cujo o objetivo é questionar o modelo de desenvolvimento proposto para a Amazônia, que revela também as tendências mundiais de desenvolvimento.



Belo Monte, Anúncio de uma Guerra (CATARSE) from CINEDELIA on Vimeo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Opressão: Empregada doméstica, negra, mulher, vítima de assédio sexual, perde emprego. Alguém se importa?

Nesse Blog, não nos calamos perante as opressões, as explorações, os atrasos e os obscurantismos da humanidade. Hoje, vimos aqui problematizar um caso concreto de opressão, como muitos outros que acontecem no Brasil, e que muitas vezes não costumam aparecer em nossa sociedade capitalista hipócrita, pois os oprimidos, ideologicamente, sentem medo e até vergonha de denunciar, até porque sentem que as leis não os protegerão e serão ainda mais prejudicados caso denunciem.
Uma amiga minha, empregada doméstica, negra, mulher, toda cheia de vergonha, contou-me hoje a cruel e lamentável história: “fui agarrada por detrás pelo marido da minha patroa, enquanto lavava as louças do almoço e, no momento, dei um grito assustada e, nesse mesmo instante, a minha patroa chegou em casa e perguntou: ´o que está acontecendo aqui?`. Senti muita vergonha, fui para o quartinho da empregada, e fiquei lá tremendo de vergonha diante do que aconteceu. A patroa veio conversar comigo depois e me disse que o seu marido já tinha feito isso antes com outras empregadas domésticas e que iria me despedir para não acontecer de novo comigo. Eu era obrigada a usar jaleco por cima de minha roupa e só agora estou pensando, devia ser para esconder o meu corpo...”, ou seja, a patroa já sabia dos assédios sexuais de seu marido. Fiquei triste, ao ver o sofrimento da minha amiga, e ao pensar na situação trabalhista das empregadas domésticas.
Perguntei se ela tinha carteira assinada e ela me disse que não. Senti a crueldade do mundo capitalista burguês e opressor. Uma mulher trabalhadora, vítima do machismo, vítima do racismo, vítima do analfabetismo cultural, vítima do assédio sexual, vítima da falta de direitos trabalhistas, vítima da falta de moradia, estava ali, em minha frente, envergonhada, relatando práticas opressoras desse mundo capitalista. Aos que tem sensibilidade, o cruel se revelou: empregada doméstica, oprimida, humanamente trabalhadora e socialmente desamparada. Alguém se importa? E pior, ficou com a autoestima profundamente abalada com evento e, obviamente, como muitas outras empregadas domésticas desse país e do mundo, com um profundo medo de denunciar, porque tem medo de piorar a situação para elas e não conseguirem arrumar mais emprego.
Consequências da crueldade: minha amiga, agora, está simplesmente desempregada. Vai mais uma vez para a fila das domésticas que procuram emprego nas agências das domésticas da cidade. O empresário que a assediou segue livre em sua hipocrisia burguesa opressora. A patroa segue ocultando os assédios sexuais do marido. E a minha amiga, vítima da covardia do burguês opressor, não sabe como pagar o aluguel do próximo mês.
Contei a minha amiga que iria discutir essa opressão aqui no Blog pelo menos para trazer à tona a necessidade de se lutar contra tais práticas opressoras silenciosas. Ela ficou desesperada. Tem medo, tem vergonha, e principalmente tem pavor de ficar marcada e não arrumar mais emprego depois. Ela disse, apavorada, o seguinte enunciado: “sabe como é essa gente rica, me marcam e daí eu não arrumo mais emprego nas agências da cidade!” Enfim, é cruel ou não é, saber que isso acontece nos bastidores de uma casa em que se contrata uma empregada doméstica? E pior: quanta pressão econômico-psicológica ainda pesa sobre o ombro dessas trabalhadoras? Fiquei me perguntando: quantas dores, dessas trabalhadoras domésticas, que já se perderam e que ainda se perderão no silêncio dessa sociedade capitalista hipócrita e opressora?
Sabemos que as práticas opressoras não são eternas, não são inevitáveis, não são naturais, nem tampouco necessárias. Mas para não sê-lo, para mudar tal situação, sabemos também que as opressões não podem se perder no silêncio e no esquecimento. Às companheiras trabalhadoras domésticas, vítimas da opressão machista, vítimas do assédio sexual, vítimas da opressão racista, faço aqui saber minha indignação política e exigência aos que fazem leis nesse país: é preciso haver proteção trabalhista e, sobretudo, segurança física para que as trabalhadoras domésticas possam ter coragem de denunciar. Do contrário, minha amiga e muitas outras empregadas domésticas, por falta de proteção trabalhista e por falta de segurança, não tem e não terão coragem de denunciar as opressões. No capitalismo, individualmente, a corda sempre arrebentou do lado mais fraco. É isso que elas temem.
Ah, argumentaria o preconceito quanto às profissões: mas são “só” trabalhadoras domésticas. Alguém se importa? Os Socialistas Livres se importam.
Fonte:  http://socialistalivre.wordpress.com

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Eleições em São Paulo: 2º turno

 Por Claudemir Mazucheli.
Mudam-se as moscas, mas a merda continua a mesma. Ou, mudam-se as merdas, para que as moscas sempre continuem as mesmas.
Haddad ou Serra? Qual dos candidatos realmente quer melhorar as condições do povo de São Paulo?
Nenhum!
Querem somente enganar, mais uma vez, a população.
É certo que hoje, vivemos em um regime nazifascista, pseudodemocrático. Esse sistema não aceita a igualdade entre os
humanos, assim como seus congêneres totalitários europeus. Assim, adota-se o racismo, o machismo e a homofobia para perpetuar as desigualdades sociais, onde poucos usufruem das benesses do sistema. Esse sistema utiliza-se de práticas totalitárias e militaristas para dominar e para garantir essa dominação, se apoia uma força armada (Exercito e Polícia). Há uma inovação, o modelo burguês travestiu-se (pela difusão mídia) de livre e não violento “na forma”, mas “em conteúdo” é até o mais sanguinário da história humana.
Nesse modelo, o desgaste de um governo (marionete da elite rica) pode ser resolvido no interior da pseudode¬mocracia burguesa, pela sua substituição por meio do voto, em novas eleições, o que dá a ilusão da "autodeterminação". Mesmo com o iní¬cio da crise do regime e a desconfiança em relação as eleições e aos "políticos", a democracia burguesa mantém uma força relativa.
De tempos em tempos ocorre uma “reação democrática”. (é claro, se não a farsa não se sustenta). “Mas tudo é de mentirinha”. Pois, é a elite burguesa “enganando mais uma vez o povão” fingindo querer resolver os problemas sociais e políticos, mas seu objetivo é manter as massas distantes da luta política direta. Esta é uma política defensi¬va da elite rica, mas eficaz para a recomposição do regime, na medida em que as massas confiem em direções que estão dispostas a colaborar como essa elite.
O que necessitamos é a construção de um modelo organizativo alternativo ( Anti-nazifascista).
Essa alternativa só pode ser viável com a construção de um poder que esteja apoiado nas mobiliza¬ções e organizações dos próprios trabalhadores, em grandes ascensos revolucionários, em que a autodeterminação das massas passe por sua ação direta, que possibilite a luta pelo poder.
Qual dos dois candidatos tem apresentado em suas propostas essa alternativa? Nenhum!!!
Mas porque os partido travestidos de esquerdistas (como o PT – que é apenas travestido, pois em sua essência carregam programas da “velha” direita) e os travestidos como socialdemocratas (PSDB – que acampou as propostas da direita fascista) não caminham para isso?
É obvio: para realizar esta tarefa é necessário intensificar a revolução democrático-burguesa, para tanto a elite burguesa teria de recorrer à mobilização revolucionária das massas, que inevitavelmente não se limitaria a estas propostas. O povão exigiria seguramente melhores salários e condições de vida, o que se chocaria com os lucros da elite rica. Como conter a vontade das massas nesse processo? Não há certeza. Portanto, é bom nem tentar. Assim “pensam os petistas e seus asseclas....
Como esse risco ninguém quer correr, nem a Elite muito menos os partidos, convêm então controlar o povo por meio das eleições oferecendo a eles “direções políticas” cooptadas que estão dispostas a colaborar para que muitas vezes as coisas mudem, mas sempre continuem como estão.
Assim, mudam-se as moscas, mas a merda continua a mesma. Ou, mudam-se as merdas, para que as moscas sempre continuem as mesmas.

Nem o centralismo “cupulocrático” do PSTU, nem o voluntarismo “direitizante” de algumas figuras públicas do PSOL.


Polêmica - Nem o centralismo “cupulocrático” do PSTU, nem o voluntarismo “direitizante” de algumas figuras públicas do PSOL.
Por  Gíber Martins Duarte
Foi alardeada nas redes sociais a aliança “direitizante” que o candidato do PSOL está tentando construir em Macapá para o segundo turno. Obviamente, buscar apoio eleitoral e fazer concessões a setores do DEM e do PSDB é um escândalo para todos os Socialistas Convictos, como nós o somos. Tal prática política é reflexo do voluntarismo “direitizante” de algumas Figuras Públicas do PSOL, que, sobretudo, revelam-se, agindo dessa forma, que estão adaptando-se à ordem capitalista, e, nesse caso específico, não servem como agentes da revolução, mas, sim, como agentes da reprodução das relações de produção capitalistas.
Ora, enquanto Socialista Livre, apoio os partidos da esquerda socialista: PSTU, PSOL, PCB e PCO. Contudo, sendo também Socialista Livre, sinto-me livre para discutir francamente, sem camisa de força nenhuma, os erros contra-revolucionários que, porventura, tais organizações cometam. E é um desvio “direitizante” grave apoiar essa aliança desse candidato do PSOL com setores da direita, simplesmente para se ganhar uma prefeitura. Esperamos e torcermos francamente para que os militantes do PSOL revertam internamente esse erro grave e digam não ao voluntarismo “direitizante” de algumas de suas figuras públicas.
Porém, queremos aqui também criticar outra falácia, também divulgada nas redes sociais, que alguns militantes do PSTU começam a fazer circular sempre que militantes isolados do PSOL cometem desvios “direitizantes”. Começam a ser simplistas e a anunciar que, no PSTU, “tudo é perfeito”, porque lá tem Centralismo Democrático e com o tal Centralismo tudo está resolvido. Doce ilusão. Fui militante durante 18 anos do PSTU até este presente ano de 2012 e também acreditei nessa ilusão do Centralismo Democrático como cura para todos os males.
Qual o problema e qual a falácia desse discurso? Na verdade, no PSTU, não existe esse tal de Centralismo Democrático perfeito, rezado pelos militantes em suas cartilhas revolucionárias. Lá a direção do PSTU manda e a base tem de obedecer, trata-se de um Centralismo “Cupulocrático”, ou seja, a cúpula da Direção Nacional do PSTU manda e ninguém, na base, tem o direito de criticar os erros dessa direção. Se você criticar erros da direção nacional publicamente você é simplesmente excluído do partido. No PSOL, a base não controla suas Figuras Públicas, isso é verdade, mas, no PSTU, a base também não tem direito de controlar e criticar sua Direção, porque, se você o fizer, a Direção dá um jeito de tirar você do partido. Isso é democracia? Isso ajuda em alguma coisa? Não. É trocar seis por meia-dúzia, como diz o bom ditado popular.
Na prática, para dar exemplo concreto desse Centralismo “Cúpulocrático” do PSTU, repito aqui, nesse Blog, como já o mostramos em outros artigos anteriores, o caso que se deu comigo, quando, este ano, fui excluído do PSTU, porque critiquei a falta de Democracia Operária da Direção Nacional do PSTU no Congresso da CSP-CONLUTAS. Portanto, quero desmistificar e questionar o ponto cego desse discurso de militantes do PSTU quando afirmam que o Centralismo ali existente resolve todos os conflitos. Não é verdade. É um Centralismo “Cupulocrático” que exclui militantes honestos como eu, quando não aceitamos desvios graves da direção.
Outro exemplo do Centralismo “Cupulocrático” da direção do PSTU. Muitos militantes honestos e sinceros do PSTU discordaram do partido se aliar com o PC do B / PSOL em Belém. Não quero entrar no mérito sobre quem estava certo ou não, se a direção nacional do PSTU ou a base descontente do partido. Mas uma coisa é certa: não houve espaço dentro do partido para a base decidir se essa política “cupulocrática” da Direção Nacional estava certa ou não. A direção simplesmente tomou a decisão e pronto. Daqui dois anos, no próximo congresso, talvez alguns militantes isolados possam fazer alguma crítica sobre essa aliança, mas, na prática, ficou do jeito que a Direção Nacional do PSTU quis. Ninguém da base tem o poder de criticar e de mudar as práticas cotidianas do partido, quando os militantes as consideram equivocadas. Eu tinha ilusão de que isso poderia ocorrer no Centralismo do PSTU, mas provei, na prática, que a cúpula não é controlável pela base. É o mesmo problema que militantes do PSOL estão sofrendo com algumas de suas Figuras Públicas quando estas resolvem cometer equívocos. Como corrigi-las? Como controlar as Hierarquias Políticas? Eis a questão.
Na prática da luta socialista, compreendi uma dura lição e quero compartilhá-la, aqui, com todos os socialistas honestos e convictos como eu: NÃO EXISTE NENHUMA ORGANIZAÇÃO SOCIALISTA PERFEITA. Todas as organizações políticas estão sujeitas a cometer erros graves, seja o PSTU, PSOL, PCB, PCO e outros. Diante dessa caracterização prática no seio da Esquerda Socialista, temos defendido a seguinte tese: a convicção socialista, a convicção do princípio de que só o socialismo muda nossa vida, a convicção na plena liberdade de crítica, a convicção de que a luta da classe trabalhadora é a luta de todos os socialistas são os fatores decisivos. Temos um artigo nesse Blog que se intitula: “Em defesa da Convicção Socialista”. Esse artigo não é por acaso. Não existe vacina contra os desvios não revolucionários que aparecem no seio das organizações da Esquerda Socialista. Somente nossa convicção socialista pode nos ajudar a NUNCA apoiar práticas políticas que ajudam a reprodução das relações de produção capitalistas ou que ajudam na burocratização das organizações da Esquerda Socialista.
Com essa experiência política, advertimos: mesmo que você faça parte de alguma organização política da Esquerda Socialista, Seja Socialista Livre, isto é, não se submeta às práticas políticas equivocadas de suas direções simplesmente para ficar bem com o grupo partidário. A revolução socialista não será obra de submissos, ao contrário, será obra de rebeldes, de livres, de lutadores sociais críticos que não se calam perante a opressão, perante a exploração, perante o atraso, perante os obscurantismos, perante os autoritarismos, perante as práticas políticas equivocadas, mesmo que os equívocos ocorram no seio da Esquerda Socialista. Leiam outros artigos em nosso Blog que discutem esses problemas. Saudações Socialistas Livres.