quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Polícia cerca assentamento para despejar índios e trabalhadores rurais; deputado é agredido

Índios reclamam posse da terra O assentamento da reforma agrária João Gomes, que fica na Grande Mucatu, em Alhandra, no Litoral Norte, está cercado para a Polícia Militar para o despejo de índios e trabalhadores rurais que ocuparam a área desde o início deste mês. O deputado Frei Anastácio, que tenta intermediar o conflito, denunciou que foi agredido por policiais (veja abaixo).


Os lotes foram comprados pela fábrica Elizabeth para instalação de uma fábrica de cimento. Segundo a irmã Tania Maria, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o clima no local é muito tenso. Os índios ameaçam resistir ao despejo e pode haver confronto.
Os advogados da Comissão Pastoral da Terra, o Ouvidor Agrário do INCRA e o deputado estadual Frei Anastácio estão na área tentando negociar uma solução pacífica, para evitar confronto. A tropa da PM que se encontra na área está comandada pelo coronel Castro.
O coordenador de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar, tenente coronel Josman Lacerda,também está na área tentando uma forma pacifica.
O cacique dos Tabajaras, Ednaldo dos Santos (Araquém) afirmou que os índios estão prontos para o confronto, se forem abordados pelas polícias militares. "Estamos prontos para dar nosso sangue pela terra que é nossa", afirmou Araquém, que está com pintura de guerra.
Agressão
O deputado estadual Frei Anastácio denunciou que foi agredido por três policiais militares, quando tentava entrar no assentamento no início da manhã desta quarta-feira.
Segundo o deputado, três policiais de moto tentaram impedir que ele tivesse acesso a área.
“Eles torceram meus braços para traz, com força, e só não me espancaram porque os índios que estão na área correram para me acudir”, disse Frei Anastácio.
O parlamentar já comunicou o fato ao presidente da Assembléia Legislativa e irá fazer exame de corpo de delito, no Instituto de Polícia Científica.
“Além de agredirem um parlamentar, os policiais também cometeram agressão contra um idoso, já que tenho 66 anos idade. Em toda minha luta, de quase 40 anos, nunca fui tão maltratado com força física pela PM, nem durante a ditadura militar eu passei por isso. Até mesmo quando fui preso, não passei por tanta humilhação”, desabafou o deputado.
Frei Anastácio foi ao local para dar apoio aos índios e trabalhadores, já que mais de 200 homens da PM estavam na área para realizar o despejo.
O deputado reafirma que é contra a instalação da fábrica dentro do assentamento.
“Essa fábrica irá explorar quase três mil hectares de terras.Outras três fábricas estão programadas para a área.Se isso acontecer,mais de 10 mil famílias irão ser atingidas”,disse o deputado.
Frei Anastácio explicou que os índios ocuparam os três lotes comprados pela cerâmica Elizabeth, numa ação de retomada de suas terras na região do litoral sul do estado da Paraíba.
Os indígenas reivindicam a demarcação de aproximadamente 10.000 hectares.
“Essas terras hoje estão ocupadas, em sua maioria, pelo Grupo João Santos, pelo monocultivo de cana-de-açúcar da destilaria Tabú e por assentamentos, além de ser uma área que sofre intenso assédio de empresas privadas. Mas, as terras que estão nas mãos dos assentados não são reclamadas pelos índios, já que cumprem sua função social”,explicou Frei Anastácio.
O deputado relata que, no entanto, no momento em que as terras são vendidas para o capital privado, os índios entram em ação e querem a posse.
“É isso que está acontecendo na grande Mucatu.Essa área está incluída na luta pela demarcação que os Tabajaras querem.Eles reivindicam as terras que vão do Rio Gramame até o Rio Pipoca, uma extensa área que fica entre os municípios de Conde, Alhandra e parte de Pitimbu.
“Dessa forma, as terras que forem vendidas em assentamentos e as que estão sendo exploradas pelo capital privado, são alvo dos índios e eu estou ao lado deles e dos trabalhadores que querem viver de duas terras”,concluiu Frei Anastácio.

Uma guerra social na Europa

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dilma prepara novo massacre em Corumbiara

Por Codevise   
Seg, 28 de Novembro de 2011


Base do Exército em Cerejeiras/RODesde o fim de semana tropas do Exército brasileiro e Força Nacional de Segurança estão estacionadas na cidade de Cerejeiras, outras unidades da Aeronáutica que contam com helicópteros e aviões estão em Vilhena para participarem de operações na região sul do estado. Uma dessas ações seria retirar as mais de 260 famílias que em dezembro comemoram um ano da realização do corte popular e posse das terras pelos remanescentes das vítimas de Santa Elina e camponeses sem terra. Desde julho de 2010 estas famílias retomaram as terras depois de 15 anos de promessas e muita enrolação. Também fazem parte da operação as Polícias Federal, Militar e tropas da Marinha do Brasil.
  Tropas da Força Nacional desembarcaram em VilhenaEm maio de 2008 quando as famílias retomaram as terras pela primeira vez após 13 anos do massacre, sofreram ataques de bandos armados de latifundiários, perseguições, prisões e foram despejadas pela polícia militar. Ao mesmo tempo tiveram que enfrentar as constantes tentativas do Incra e Fetagro – Federação dos Trabalhadores na Agricultura de desmobilizar os acampados.
Homenagem_local_23
 Nos últimos meses o Incra e a Fetagro retomaram esses ataques ameaçando despejar as famílias que trabalham e produzem nas terras. A polícia militar e civil tem realizado levantamentos de lideranças e trabalhadores visando a sua prisão e perseguição. Membros da Fetagro e representantes do Incra também tem realizado um amplo trabalho de deduragem de ativistas e lideranças camponesas junto à policia.
 Existem boatos de que latifundiários estariam preocupados com a presença da LCP temendo um aumento das tomadas de terra na região. Ao mesmo tempo sindicatos ligados à Fetagro (PT/CUT) também tentam a todo custo desmobilizar as famílias. Há denúncias de que representantes do Incra teriam negociado o direito dos lotes com pessoas de outras cidades da região. Formou-se uma “santa aliança” entre as forças repressoras do Estado, latifundiários e oportunistas do PT que preparam um novo massacre contra as famílias de Santa Elina.
 A situação é grave, estão preparando uma onda de prisões e perseguições aos camponeses de Santa Elina. Um delegado que esteve na área disse que fariam como no sul do Pará, em alusão a chamada operação “Paz no Campo” levada a cabo pela então governadora Ana Júlia Carepa (PT) no despejo de 1100 famílias da fazenda Forkilha em novembro de 2007. Nesta ocasião cerca de 200 camponeses foram presos e torturados pela PM e doze ativistas que participaram da mobilização para a tomada da área foram assassinados posteriormente por pistoleiros a serviço do latifúndio.
 Camponeses celebram 16 anos da resistência de CorumbiaraO governo Dilma Roussef (PT) já deixou claro que esta é a sua política agrária: financiar com bilhões o agronegócio exportador de matéria prima barata e concentrador de terras e criminalizar os camponeses que lutam pela terra de forma combativa. Há anos Lula prometeu que assentaria as vítimas de Santa Elina, mas nunca fez nada. Sequer recebeu uma delegação de camponeses que ficaram acampados em Brasília por mais de 23 dias em agosto de 2007. Depois de tanto esperar, as famílias decidiram retomar as terras e exigem o reconhecimento de sua posse.
Manifestação 9 de agosto 2011 Nós, as vítimas de Santa Elina e todas as famílias que vivem e trabalham nestas terras não desistiremos de lutar por elas, estamos dispostos a defendê-las com unhas e dentes. Qualquer coisa que venha a acontecer com as famílias será de inteira responsabilidade da gerência Dilma/PT e Ouvidoria Agrária Nacional. Conclamamos a todos os trabalhadores, professores, estudantes, intelectuais honestos, organizações classistas a denunciar este absurdo contra as famílias vítimas de Corumbiara.
Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina - Codevise
Fonte: http://www.resistenciacamponesa.com

domingo, 27 de novembro de 2011

Revolução na Islândia à Margem Esquerda da Europa

Protestos da Revolução Islandesa

 A Islândia nos mostra (apesar da nossa mídia esconder) que existe uma maneira muito viável e bem melhor que o resto da Europa para combater a crise econômica.

Fazendo a Revolução!
Em 2008, todos os bancos na ilha nórdica europeia quebraram abrindo um rombo enorme no setor financeiro do país, o Governo em vez de combater a crise com mais neoliberalismo, teve a "insensatez" de nacionalizar os principais bancos. Que loucura!
Mas chega 2009 e o FMI não gostou desse negócio de nacionalização de bancos e pressiona a Islândia a pegar US$ 2 milhões emprestados, a população não gostou nada e foi às ruas, organizando um grande protesto em frente ao Parlamento Islandês. Consegue-se derrubar o Primeiro-Ministro conservador, o primeiro governo derrubado em decurso da crise, em março uma coalizão de esquerda ganha as eleições e assume o governo. Em maio foi feito um referendo sobre o pagamento da dívida adquirida com o FMI e outros países nórdicos, vitória arrasadoras do NÃO pagamento com 93%. Mais uma loucura! Mais essa não vai ficar impune, o FMI bloqueia todas as contas internacionais da Islândia.
Mediante a todo esse conflito econômico o novo Governo Islandês inicio uma investigação para responsabilizar os culpados pela crise, iniciando assim várias detenções de banqueiros e executivos e consegue-se um mandato de prisão ao um ex-presidente (do partido conservador).
Hoje a Islândia é um país em reestruturação, é uma pequena ilha, sim é bem pequena, mas já vimos outra ilha bem pequena no Caribe nos dando lições de como podemos viver sobre outro paradigma. A União Europeia tentou cooptá-la, mas seu povo rejeitou a adesão ao bloco em outro referendo. Mais uma loucura democrática!
Bandeira da Islândia ao lado da de Che, nos protestos do Parlamento.
O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman deu a sua opinião, na sua coluna no NYT, sobre o acontecido:
"Enquanto os demais resgataram os banqueiros e fizeram o povo pagar o preço, a Islândia deixou que os bancos quebrassem e expandiu sua rede de proteção social. Enquanto os demais ficaram obcecados em tentar aplacar os investidores internacionais, a Islândia impôs controles aos movimentos de capital (...). A recuperação econômica da Islândia demonstra as vantagens de estar fora da zona do Euro."
Essas notícias não vemos nos noticiários. Parece que outra Revolução está a caminho no Egito e essa não tem a ver com a crise econômica, mas sim com a crise na estrutura social. Parece também que tanto na Islândia como no Egito o povo conseguiu adquirir algo fundamental, a CONSCIÊNCIA.
Fonte: http://inversocontraditorio.blogspot.com

Capitalismo abutre: O novo desastre bancário da Islândia - Um ensaio geral para a Grécia e a Itália?

Por Olafur Arnarson, Michael Hudson   e Gunnar Tomasson [*]
.

O problema dos empréstimos bancários vencidos, especialmente aqueles com garantias governamentais tais como empréstimos para estudantes e hipotecas Fannie Mae nos EUA, pôs em causa o que é que deveria ser considerado um "valor razoável" para estas obrigações de dívida. Deveria este "valor razoável" reflectir o que os devedores podem pagar – isto é, pagar sem irem à bancarrota? Ou será razoável bancos e mesmo fundos abutre obterem tudo o que puderem extorquir dos devedores?

A resposta dependerá em grande medida do grau em que os governos apoiam as exigências de credores. A definição legal de quanto pode ser extorquido está a tornar-se uma questão política que arrasta governos nacionais, o FMI, BCE e outras agências financeiras para um conflito que contrapõe uns contra os outros bancos, fundos abutre e populações afundadas em dívidas .

Esta questão polarizadora irrompeu agora com ênfase especial na Islândia. O país está agora a sofrer uma segunda de aflição económica e financeira decorrente do colapso do seu sistema bancário em Outubro de 2008. Aquela crise provocou uma enorme perda de poupanças não só para cidadãos locais como também para credores internacionais tais como o Deutsche Bank, Barclay's e seus clientes institucionais.

Presos a maus empréstimos e títulos de emissores em bancarrota, investidores estrangeiros nos antigos bancos venderam seus títulos e outros direitos por centavos de dólar a compradores cujos sítios web descreviam-se a si mesmos como "especializados em activos perturbados", habitualmente conhecidos como fundos abutre. (Rumores persistentes sugerem que alguns destes estão a trabalhar com os proprietários anteriores dos bancos islandeses falidos, a operarem a partir de bancos offshore e paraísos fiscais e actualmente sob investigação de um Promotor Especial).

No momento em que estes títulos foram vendidos no mercado, o governo da Islândia possuía 100% de três novos bancos. Representando o interesse nacional, ele pretendeu que os bancos transferissem aos devedores as amortizações parciais (write-downs) às quais descontaram os activos comprados dos antigos bancos. Isto era o que se supunha significar "valor razoável": a avaliação baixa do mercado naquele momento. Supunha-se levar em conta a capacidade razoável das famílias e negócios para reembolsar empréstimos que se haviam tornado impagáveis quando a divisa havia entrado em colapso e os preços de importações haviam subido correspondentemente.

O FMI entrou no quadro em Novembro de 2008, aconselhando o governo a reconstruir o sistema bancário de uma maneira que "incluísse medidas para assegurar avaliação razoável de activos [e] maximizar a recuperação de activos". O governo criou três "bons" novos bancos a partir das ruínas dos bancos falidos, transferindo empréstimos dos velhos para os novos com um desconto de até 70 por cento para reflectir seu valor razoável, com base em avaliação independente de uma terceira parte.

Os abutres tornaram-se proprietários de dois dos três novos bancos islandeses. A conselho do FMI o governo negociou um acordo tão frouxo a ponto de lhes dar uma licença de caça às famílias e negócios islandeses. Os novos bancos actuaram em grande parte como agências estado-unidenses de colectas de pagamentos quando compram dívidas podres de cartões de crédito, empréstimos bancários e contas não pagas de retalhistas a 30% do valor facial e a seguir perseguem os devedores para extorquir-lhes tanto quanto puderem, por quaisquer meios.

Estes necrófagos do sistema financeiro são a maldição de muitos estados. Mas agora há um perigo de ascenderem ao topo da pirâmide legal internacional, até a um ponto em que estejam em posição de oprimir todas as economias nacionais.

O caso da Islândia tem um viés especial. De acordo com a lei islandesa, hipotecas e muitos outros empréstimos ao consumidor estão ligados ao índice de preços no consumidor (IPC) em ascensão no país. Os possuidores desses empréstimos não só podem exigir 100% do seu valor facial como também podem acrescentar à dívida principal o aumento devido à indexação. Milhares de famílias enfrentam pobreza e perda de propriedade por causa de empréstimos que, em alguns casos, mais do que duplicaram devido ao crash da divisa e a subsequente inflação de preços. Mas o FMI, o governo da Islândia e o Tribunal Supremo reiteraram a indexação de preço do empréstimo principal e taxas de juro usurárias, por receio de que o sistema bancário reestruturado se deparasse com um desastre.

Não era isto que se esperava. Em 2009 o novo governo "de esquerda" negociou um acordo com credores no sentido de relacionar pagamentos de empréstimos com o valor de transferência descontado. Por conselho do FMI, o governo entregou o controle dos juros nos novos bancos aos credores de antigos bancos. O objectivo era minimizar o custo de refinanciamento do sistema bancário – mas não destruir a economia. Os empréstimos foram transferidos dos antigos bancos para os novos após o crash de 2008 com um desconte de até 70% a reflectir seu valor de mercado depreciado. Este desconto deveria ser passado aos tomadores dos empréstimos (famílias e pequenos negócios) confrontados com o inchaço do principal e com pagamentos devidos à indexação IPC dos empréstimos.

Mas a sobrevivência da economia não é do interesse supremo dos agressivos hedge funds que substituíram os bancos estabelecidos que originalmente emprestavam aos bancos islandeses. Ao invés de passar as dívidas reduzidas para famílias e outros devedores, os novos bancos estão a reavaliar para cima os principais destes empréstimos. As suas exigências estão a manter a economia numa colete de força. Ao invés de ter lugar a reestruturação da dívidas como se esperava originalmente, está a ser preparado o cenário de uma nova crise bancária.

Algo tem de ceder. Mas até então é a economia da Islândia, não os fundos abutre. Com o FMI a insistir em que o governo se abstenha de intervir, a taxa d aprovação do governo mergulhou para apenas 10% dos islandeses por se comportar tão mal enquanto os novos proprietários dão as ordens.

Os Novos Bancos reduziram cobranças sobre grandes devedores corporativos, cujas operações continuadas garantiram o seu papel como vacas leiteiras para os novos abutres possuidores dos bancos. Mas dívidas de famílias adquiridas a 30-50 por cento do seu valor facial foram reavaliadas a até 100 por cento. O valor de cada acção dos proprietários subiu. O governo não interveio, aceitando a afirmação dos bancos de que lhes faltavam os recursos para conceder alívio significativo às famílias. Assim altas dívidas impagáveis são mantidas na contabilidade, a preços de transferência que permitem uma fortuna inesperada a predadores financeiros, condenando devedores a uma década ou mais de situação líquida negativa.

Com o trabalho preparatório feito, chegou o momento de os Abutres lucrarem através da revenda das acções do Novo Banco no fim do ano. Os Novos Bancos mantiveram suas vacas leiteiras corporativas à tona enquanto manipulam (window-dressing) as acções dos proprietários com valorizações irrealistas de dívidas dos consumidores que não podem ser pagas, excepto ao custo da bancarrota da economia.

Há um sentimento de que o governo da Islândia foi incapacitado para actuar como um intermediário honesto, pois lobistas dos bancos trabalharam junto a iniciados do Althing (Parlamento) – agora apoiados pelo FMI – a fim de proporcionar uma fortuna inesperada para os credores.

O problema está a tornar-se global. Muitos países europeus e os Estados Unidos enfrentam bancos que entraram em colapso e descarrilaram sistemas bancários. Como o FMI e o BCE vão responder? Será que prescrevem o modelo de colaboração de tipo islandês entre governo e hedge funds? Ou deveriam aos governos ser dado poder para resistir aos fundos abutre de aproveitadores (profiteer) a uma escala internacional, apoiados por sanções internacionais contra as suas vítimas?

O perigo político agora enfrentado pela Europa

Uma crise económica é o equivalente financeiro da conquista militar. É uma oportunidade para elites financeiras fazerem sua captura de propriedade quando chega o Tempo dos Arrestos. Também se torna uma captura política para tornar reais direitos (claims) financeiros que se tornaram incobráveis e portanto em grande medida de contabilização fictícia do género " mark-to-model ". A retórica populista é moldada para mobilizar a aflição financeira generalizada e o descontentamento geral como uma oportunidade para virar perdedores uns contra os outros ao invés de contra os seus credores.

Este é o ponto em que todos os anos de propaganda financeira surtem efeito. Os neoliberais persuadiram o público na crença de que os bancos são necessários para "lubrificar as engrenagens do comércio" – isto, proporcionar o fluxo de sangue do crédito que traz alimentos às partes moventes da economia. Só sob tais condições de crise os bancos podem cobrar o que se tornou uma acumulação fictícia de direitos de dívida. O super crescimento de dívida hipotecária, dívida corporativa, empréstimos a estudantes, dívida de cartões de crédito e outras dívidas é fictício porque sob circunstâncias normais não há meio de elas serem pagas.

O Tempo dos Arrestos não é suficiente, porque grande parte da propriedade caiu em situação líquida negativa – cerca de um quarto do imobiliário dos EUA. E para a Irlanda, o valor de mercado do imobiliário cobre apenas cerca de 30% do valor facial das hipotecas. Assim, o Tempo do Salvamento tornou-se necessário. Os bancos entregam seus maus empréstimos ao governo em troca de dívida do governo. O Federal Reserve arranjou mais de US$2 milhões de milhões (trillion) de tais swaps amistosos para os bancos. Os bancos recebem títulos do governo ou depósitos do banco central em troca das suas dívidas podres, aceites pelos seus valor facial ao invés de o serem aos preços actuais do mercado (" mark-to-market "). Pelo menos nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, o banco central pode imprimir tanta divisa interna quanto for necessário para pagar juro e manter líquidos estes títulos do governo. Agências públicas então tomam a posição de credor em relação a devedores que não podem pagar.

Estas agências públicas têm então uma opção. Elas podem procurar cobrar a quantia plena (ou pelo menos tanto quanto puderem obter), como no caso da Fannie Mae e do Freddie Mac nos Estados Unidos. Ou o governo pode vender as dívidas podres a fundos abutres, por uma fracção do seu valor facial.

Após o crash de Setembro de 2008, o governo da Islândia tomou o comando dos velhos bancos em colapso e criou novos em seu lugar. Os possuidores originais de títulos dos velhos bancos despejaram no mercado os títulos de bancos islandeses em troca de tostões. Os compradores foram fundos abutre. Estes possuidores de títulos tornaram-se os proprietários dos velhos bancos, pois todos os accionistas foram liquidados. Em Outubro, a autoridade monetária do governo nomeou novas administrações para controlar os bancos. Três novos bancos foram estabelecidos e todos os depósitos, hipotecas e outros empréstimos bancários foram transferidos para estes novos bancos, mais saudáveis – com um desconto drástico. Estes novos bancos receberam 80 por cento dos activos, os velhos bancos 20 por cento.

Então, aos proprietários dos velhos bancos foi dado o controle sobre dois dos novos bancos (87% e 95% respectivamente). Os proprietários destes novos bancos foram chamados abutres não só por causa do desconto drástico com que os activos financeiros e direitos dos velhos bancos foram transferidos mas também e principalmente porque eles já haviam comprado o controle dos velhos bancos a centavos de dólar.

O resultado é que ao invés de o governo manter o bancos e simplesmente retirarem-nos da bancarrota, o governo pôs-se de lado e deixou que investidores abutres colhessem um gigantesco lucro inesperado – que agora ameaça mergulhar a economia da Islândia na austeridade financeira crónica. A pergunta é: o que pode fazer o governo para sanar a confusão que criou com a sua credulidade ao adoptar o mau conselho do FMI?

Nos Estados Unidos, bancos que receberam o dinheiro do salvamento do TARP eram supostos negociar com devedores hipotecários para reduzir (write down) as dívidas aos preços do mercado e/ou a capacidade para pagar. Isto não foi feito. Tal como na Islândia, supunha-se que os fundos abutre que compraram os maus empréstimos dos "velhos bancos" fossem transferir a dívida reduzida para os devedores. Isto não foi feito. De facto, os principais dos empréstimos continuaram a ser reavaliados para cima de acordo com a indexação única da Islândia destinada a impedir bancos de sofrerem perdas – isto, a garantir que a economia como um todo sofra, mesmo sofrendo um ataque fatal de austeridade, de modo a que banqueiros sejam salvos na totalidade. Isto significa dar uma fortuna inesperada para os abutres que compraram empréstimos podres baratos.

Será isto também o futuro da Europa? Em caso afirmativo, a presente crise financeira tornar-se-á a grande sorte inesperada bancos abutre e para bancos em geral. Considerando que os últimos poucos século viram crashes financeiros liquidarem poupanças e direitos de credores (títulos, empréstimos bancários, etc) que são a contrapartida de dívidas podres, hoje estamos a assistir dívidas podres serem mantidas nas contabilidades, mas os bancos e os possuidores de títulos que proporcionaram os empréstimos podres serem curados a expensas do contribuinte.

Não é assim que se esperava que funcionasse a democracia económica durante reforma parlamentar do século XIX. A no princípio do século XX, supunha-se que partidos sociais-democratas e trabalhistas estivessem à frente da mudança da banca e do crédito juntamente com outras infraestruturas básicas do domínio público. Mas hoje, desde a Grécia até a Islândia, governos estão a actuar como aplicadores ou mesmo agentes cobradores ao serviço do sector financeiro – como afirma o movimento Occupy Wall Strett, os "1%" do topo, não os 99% da base.

A Islândia posiciona-se como um ensaio geral para esta captura de poder. O FMI e o governo da Islândia efectuaram uma conferência em Reykjavik em 27 de Outubro para celebrar o êxito ostensivo na sua reconstrução da economia da Islândia e do sistema bancário.

Nos Estados Unidos, a crise que o chefe de staff de Obama, Rahm Emanuel, celebrou como "demasiado boa para ser desperdiçada" será coroada por cortes na Segurança Social e no Medicare tão logo o chegue o Outono e o Relógio Fatídico do Super Comité de 12 do Congresso (no qual o presidente Obama tem o 13º voto em caso de empate) concorde em fazer com que a população trabalhadora pague os empréstimos podres da Wall Street. O plano de austeridade grego serve portanto como um ensaio geral para os EUA – com o Partido Democrata a desempenhar o papel tal como o seu equivalente da Grécia, o Partido Socialista, que está a promover a austeridade e a expulsar líderes sindicais das suas fileiras caso objectem à grande fraude.
15/Novembro/2011
[*] Olafur Arnarson: escritor e colunista na Pressan.is.
Michael Hudson: professor de teoria económica na UMKC.
Gunnar Tomasson: conselheiro aposentado do FMI.

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=27673

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 26 de novembro de 2011

O “agrobanditismo” e as disputas territoriais em Mato Grosso do Sul

Por Márcia Yukari Mizusaki
Bem apropriado é o termo dado pelo geógrafo da USP, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, aos mecanismos utilizados por determinados agentes ligados ao campo para reafirmarem o seu poder de mando no país: agrobanditismo. Não há nome mais apropriado para qualificar os inúmeros assassinatos e violências a que têm sido acometidos os povos indígenas de Mato Grosso do Sul, em especial os Guarani-kaiowá, praticados por pistoleiros e contando com o silêncio e a conivência de muitos, na questão da demarcação das terras indígenas. Em 2010, segundo dados registrados pelo CIMI, das 1.015 lesões corporais sofridas pelos povos indígenas no Brasil, 1.004 aconteceram no Mato Grosso do Sul. Das 152 ameaças de morte, 150 aconteceram no Mato Grosso do Sul. Dos 60 assassinatos, 34 no Mato Grosso do Sul. Para o ano de 2011, farão parte dessa escandalosa estatística, Teodoro Ricardi (primo dos professores indígenas assassinados em 2009), o cacique Nísio Gomes, dentre tantos outros. Apesar desses números, não é demais lembrar que esse estado não é o que possui a maior população indígena do país. Mais do que simples números, esses dados revelam a face perversa da questão agrária em Mato Grosso do Sul, onde o negócio da terra é mais importante do que a vida de seres humanos.
O assassinato, a violência e a intimidação de indígenas que lutam pela recuperação de seus territórios é situação conivente para todos aqueles que são afetados pela questão da demarcação de terras indígenas. É justamente por isso que a questão agrária coloca as pessoas em lados opostos. Terra é meio de produção e de reprodução da vida. Apropriar-se dela, na sociedade capitalista, significa ter o controle sobre um meio de reprodução da vida. Estando nas mãos de poucos, como no caso brasileiro, significa que a maioria, dela está expropriada. Na sociedade capitalista, a terra virou mercadoria, fonte de lucro, renda e poder, o que vem motivando o assassinato e a violência contra aqueles que buscam (re)territorializar outros modos de vida, outras formas de se relacionar com a natureza. Por trás dos pistoleiros existem os mandantes (quase sempre impunes pelos crimes que cometeram), os coniventes e todos aqueles cujos interesses, são afetados com o movimento de luta dos indígenas pela recuperação de seus territórios. Não o fosse, a questão indígena não teria chegado nos níveis em que chegou. Ao confrontarem-se as diferentes formas de apropriação do território, elas se tensionam e acirram as disputas territoriais. Os Guarani acampam, para reivindicar suas terras tradicionais. Em reação, recebem “bala”, são barbaramente assassinados. Por trás dessas diferentes relações, encontram-se diferentes concepções de propriedade, de sociedade, de natureza. Terra para o índio é um bem sagrado e não um negócio. 
No contexto dessas diferentes formas de apropriação do território há que se acrescentar que parte das terras de Mato Grosso do Sul foram apropriadas historicamente por caminhos tortuosos e práticas ilegais, o que resulta, ainda na atualidade, na presença de 5,3 milhões de hectares de terra devoluta, segundo Ariovaldo, que o afirma com base em dados de 2003 do INCRA. Muito provavelmente existem terras tradicionais indígenas nessas áreas. E por que o Estado não desapropria essas terras? Algo precisa ser feito. Faço aqui uma provocação. O poder público, nas suas várias instâncias, todos os parlamentares e fazendeiros que se considerem honestos e do bem (e que não concordam com tais práticas), enfim, toda a sociedade, poderiam começar um movimento de luta para que as terras devolutas sejam desapropriadas e entregues para fins de demarcação de terras indígenas ou reforma agrária, pois a vida, não pode ser tratada como se fosse uma coisa apenas, uma mercadoria, que se compra, que se vende ou se descarta. A gravidade da situação pede uma atitude.
Ressalte-se ainda, que esse debate não pode ser feito sem estar atrelado a uma outra face desse processo: a questão da soberania alimentar (já que a terra está sendo tomada pelo monocultivo). Certamente, que 5,3 milhões de hectares destinados a produzir alimentos (diga-se, arroz, feijão, legumes e verduras, frutas etc.) e à demarcação de terras indígenas, seriam um bom começo para reduzirmos os problemas que envolvem os conflitos e a violência, não somente no campo, mas na cidade também.
 Enquanto isso vemos o setor sucroalcooleiro brigando na justiça para conseguir a liberação da queima da palha da cana (prática comprovadamente tida como prejudicial à saúde e que o setor insiste em legitimá-la no Estado); vemos a prefeitura de Dourados, liberando 30 mil reais para evento do setor sucroalcooleiro (CANASUL). É incrível como para o agro-negócio sempre tem dinheiro (sem entrar na questão dos bilhões liberados pelo BNDES). E a questão indígena? Sempre tratada como um problema menor, diante da lucratividade, produtividade, rentabilidade que o setor promete, apesar de não bebermos etanol e apesar de o preço do álcool estar nas alturas.
O assassinato do cacique Nísio Ramos é assim, parte constitutiva e inter-relacionada desse modelo de sociedade e de desenvolvimento que perpassa o país e o Estado de Mato Grosso do Sul, em particular. É esse modelo insustentável de desenvolvimento, que precisa de terras para o monocultivo, terras como reserva de valor, terras para apropriação da sua riqueza, água para aumentar produção de energia, que não quer terras para os índios, pois terra, como bem sagrado, atrapalha esse modelo de desenvolvimento.
Finalizo esse pequeno texto, às 00 horas e 45 minutos do dia 22 de novembro, cansada, mas movida pela necessidade de repudiar mais esse ato de violência contra esse povo. Precisamos cuidar do ambiente inteiro e não apenas de uma árvore. Também fazemos parte da natureza.
Márcia Yukari Mizusaki é professora  dos cursos de graduação e mestrado em Geografia da UFGD.
Fonte: http://www.campograndenews.com.br

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

El sabor a esclavitud del pepino español

La crisis provocada por las autoridades alemanas al señalar el pepino de Almería como origen de la epidemia de E. Coli, desató una ola de indignación y patriotismo en la sociedad española, y especialmente en algunos medios de comunicación. Un vegetal que, como la mayoría en esta provincia, es cultivado por inmigrantes que trabajan, en muchos casos, en condiciones de esclavitud moderna.
27.09.2011 · Patricia Simón · Fotos: Javier Bauluz

Chabola en medio de los invernaderos almerienses (Javier Bauluz / Piraván)

Chabolas en medio de los invernaderos almerienses (Javier Bauluz / Piraván) Fotografías realizadas con Hipstamatic for iPhone, Lens: John S Flash: Off Film: Claunch 72 Monochrome
Miles de kilómetros de caminos de tierra flanqueados por muros de plástico que dejan pasar la suficiente luz para cultivar un negocio de 2000 millones de euros anuales y que, a su vez, ocultan la explotación de las miles de personas que lo hacen posible. Cuarenta grados bajo un sol aplastante que pueden superar los 50 dentro de este mar de toldos que cubre buena parte de la provincia de Almería, más de 350 kilómetros cuadrados, y que ha convertido esta frontera sur de Europa en un laboratorio industrial, económico y social.


Captura de pantalla de parte de la provincia de Almería cubierta por invernaderos de Google Maps
El polvo levantado por el coche se suma a las capas que van opacando los plásticos y que, junto al efecto destructor del sol, obliga a cambiarlos anualmente por esos hombres que vemos encaramados a escaleras y vigas, y entre los que aún se emplea algún español. Los únicos letreros que salpican el camino son los que anuncian  “Berenjena Shakira. Eficaz, rendimiento elevado y homogéneo”  o “Pimiento california de maduración en rojo para transplantes tardíos”, algunas de las nuevas variedades de la temporada. En esta colmena las calles no tienen nombres ni señales descifrables para los ojos de un visitante, pero están plagadas de ellos para sus habitantes. Por ejemplo, a la vuelta de una esquina, un montículo de basura putrefacta atravesada por un reguero verdoso procedente de una casetilla de madera, anuncia que hemos llegado a uno de los más de 100 núcleos chabolistas de la provincia en los que viven los trabajadores en situación más mísera.
Hakim es uno de ellos. Sale a recibirnos junto a otros hombres marroquíes que durante los últimos tres años han ido construyendo sus refugios con palés y restos del omnipresente plástico de unos cultivos que producen dos millones y medio de toneladas de residuos al año. Desde este alto, la vista se pierde en un horizonte que en algún punto desemboca en el mar Mediterráneo, el que les separa unos 200 kilómetros de su país, mientras ellos bucean en ese otro océano bajo el que desfallecen para conseguir su sustento.
Fuente: Consejería de Agricultura y Pesca de la Junta de Andalucía

Saludan cordialmente, pero serios. Son las once de la mañana y no están trabajando. No es poco habitual. La crisis desatada a finales de mayo por la acusación de las autoridades alemanas que señalaba el origen de la epidemia sanitaria de la bacteria E. Coli en Almería, y que se cobró la vida de más de 30 personas y 3.000 afectados, según el Centro Europeo de Control de Enfermedades, hundió las exportaciones almerienses. A ello hay que sumar el fin de la temporada de cultivos como el tomate y la sandía, de los más importantes en esta época en la región.
Hakim viajó desde Tánger hasta Barcelona en los bajos de un camión cuando tenía 19 años. Más o menos dos días de viaje, resistiendo su propio peso, el terrible calor del motor y el temor a caer y morir atropellado. Eso sólo por apuntar algunos de los pensamientos que atravesaron la mente de éste y de los cientos de jóvenes que han llegado por esta vía a la Península. Algunos murieron en el viaje.

Hakim en la chabola que comparte con su primo y un amigo (Javier Bauluz / Piraván)

Hakim tiene ahora 22 años, una sonrisa que parapeta un discurso agrio y que rompe en forma de risa en los momentos de mayor gravedad. “Mi padre me decía que me quedara, pero yo había visto a muchos amigos que cuando volvían a Marruecos lo hacían con coche, dinero, casa… Y yo quería eso. Escuchas que la cosa está mal aquí, pero nosotros sólo queremos España”.
Estamos dentro del cuartucho que Hakim comparte con un primo y otro amigo. El suelo es la misma tierra que apenas rozan los cultivos de los invernaderos en Almería. Las paredes, los palés y plásticos sobrantes. El zumbido de unas moscas pegajosas que apenas se inmutan ante los manotazos electrifica el caluroso ambiente. “Cuando hacen falta trabajadores, el jefe viene y coge la gente que quiere. Cinco personas o seis. Vamos al invernadero y es trabajar, trabajar, y trabajar. Cogemos sandías, tomates, quitamos las hierbas… Todo el trabajo del invernadero durante ocho horas. Cuando termina el día pagan 20, 25 euros. No hay contrato, no hay nada”.


Al caer la tarde los caminos de Almería se llenan de bicicletas. Es el transporte más utilizado por los trabajadores. Lo que vemos al fondo es la cocina de la chabola de Hakim (Javier Bauluz /Piraván)
Y ahí comienza una de los callejones sin salida que mantiene a miles de personas en la clandestinidad y en la vulnerabilidad. Hakim no tiene un contrato y como consecuencia de ello, no puede solicitar el permiso de residencia pese a que ya podría acogerse al período de los tres años de arraigo que establece la ley. A su vez, al no tener permiso de residencia no puede aspirar más que a la clandestinidad y al temor paralizante y contínuo de ser deportado después de tantos años de sufrimiento, y a la explotación practicada por algunos empresarios agrícolas. El último convenio firmado entre éstos y los sindicatos establecía en 44 euros el salario mínimo por una jornada de ocho horas. Pero entre los trabajadores con los que hemos podido hablar, los mejores pagados son los rumanos, con un jornal medio de 35 euros. Y, según Hakim y otras fuentes, los peor pagados son los subsaharianos, y a los que en cierta medida perciben como competencia desleal: “Los negros trabajan por diez o quince euros. Pero cuando el tomate vale mucho dinero, se paga entre 70 u 80 céntimos el kilo. El jefe gana entre 5000 y 7000 euros por un camión  y nosotros cogemos un camión en dos o tres horas y nos paga unos nueve euros”. Cifras que se van encajando en un cuadrante en el que los márgenes de beneficio van aumentando exponencialmente hasta llegar a la mesa del consumidor, donde por un kilo de tomate se puede llegar a pagar en las grandes superficies más de 1,50 euros.



Mientras, las autoridades públicas y las organizaciones de empresarios agrícolas mantienen que en Almería hay tantos trabajadores no contratados como en cualquier otra región. Pero la crisis del pepino ha terminado de desvelar las contradicciones entre el discurso y las cifras oficiales. El cruce de datos es inmisericorde con las posturas oficiales. España es el segundo exportador de frutas, verduras y hortalizas del mundo, y Almería es la tercera provincia con mayor peso en este sector, después de Murcia y Valencia: el 18,3 % del total aportado por el país. En 2010 se exportaron 3,7 millones de toneladas según datos de las cooperativas, por un valor de 3.640 millones de euros. En el caso concreto de los pepinos y pepinillos, que proceden de esta provincia en un 87%, fueron 450.000 toneladas las que se dirigieron a la UE en 2010, mayoritariamente a Alemania, según datos de Aduanas en el mismo año.  Un sector estratégico de la economía española que según la Federación Española de Asociaciones de Productores Exportadores de Frutas y Hortalizas, sufrió unas pérdidas semanales de 200 millones de euros durante la crisis del pepino.
Producción agrícola Fuente: Consejería de Agricultura y Pesca de la Junta de Andalucía

Como consecuencia de todo ello, el sindicato mayoritario, UGT-Federación de Industria y Trabajadores Agrarios (FITG), lamentaba que 50.000 trabajadores españoles se hubieran visto afectados por la crisis. Pero los datos publicado por el Ministerio del Trabajo e Interior sobre el mes de junio de 2011 revelan que el paro agrícola en junio sólo aumentó en 390 personas respecto al mes anterior. Y si lo ampliamos al sector servicios, que abarca tareas como la manipulación o el transporte de los alimentos, el aumento fue de 1162 trabajadores desempleados.

Chabolas en una nave industrial abandonada (Javier Bauluz /Piraván)

Ambas cifras son menores que las de junio en 2010, un mes en el que han acabado temporadas importantes, por lo que suele aumentar el paro. Pero es más, este año había 1.000 afiliados más en la Seguridad Social en el Régimen especial agrario, pasando de 40.800 a 41.900 trabajadores en este sector. Unos datos que difícilmente pueden corresponderse con un revés económico que efectivamente supuso que dos toneladas de vegetales terminaran diariamente en los vertederos y que, sumado a las
constatación sobre el terreno y a las denuncias que durante años llevan haciendo ONG y sindicatos como el Obrero del Campo, inevitablemente nos llevan a calcular que miles de personas tienen que estar trabajando sin contrato en esta provincia.
Contratos obras y servicios y temporales por producción el grueso. 
Fuente: Consejería de Agricultura y Pesca de la Junta de Andalucía

 Unas conclusiones que terminan de apoyarse en los resultados del último padrón de 2010: el número de extranjeros registrados en la provincia almeriense se multiplicó por 9 en la última década. De los 15.000 empadronados en 1999 a los 170.000 nuevos habitantes empadronados en 2010 128.000 eran extranjeros. De ellos, 65.000 proceden de países de la Unión Europea (28.000 de ellos, de Rumanía), y la otra mitad de Marruecos (38.000), Latinoamérica (19.000), el África subsahariana (13.000) y países europeos no comunitarios (5.200), por este orden. Es decir, Almería ha aumentado su población con unos 90.000 extranjeros procedentes de países empobrecidos, en una proporción de entre 65 y 75 por ciento de ellos hombres. Pero el número de afiliados al régimen especial agrario sólo es de 41.000 personas, incluyendo a los españoles.
Para contrastar estas informaciones con las tres principales asociaciones de empresarios agrícolas almerienses, nos hemos puesto en contacto con la Asociación de Jóvenes Agricultores de Almería (ASAJA), la Unión de Pequeños Agricultores (UPA) y la Asociación de Empresas Cosecheras – Exportadoras de productos Hortofrutícolas de Almería (COEXPHAL). Sólo la primera ha contestado a nuestras preguntas a través de su gabinete de prensa. A la cuestión de cuántas personas calculan que trabajan sin contrato en la provincia de Almería la respuesta es contundente: “Mi respuesta tiene que ser que cero”. Sobre cuánto se está pagando por la jornada de trabajo, la portavocía de ASAJA mantiene que se está pagando por encima de los 44 euros estipulados por convenio “porque, en ocasiones, se da alojamiento, comida, bebida… servicios que no están contabilizados”.

Spitou Mendy en una sede del SOC (J. B. /Piraván)

Spitou Mendy, un senegalés licenciado en Filología hispánica y profesor de español en su país que emigró a Europa “como todos, porque somos refugiados económicos”, se ha convertido en un rostro conocido en los últimos años. Como portavoz del Sindicato de Obreros del Campo (SOC), ha puesto cara y voz a la organización más combativa contra la vulneración de los derechos básicos de estos trabajadores. Tras ver y oler la miseria tercermundista en la que viven estas personas como si de un submundo invisible o escandalosamente ignorado por la administración, pero también por el rostro rico y desarrollista que le rodea, su discurso combativo y sin remilgamientos parece ser uno de los pocos que se hace eco de la miseria que ahoga a estos trabajadores. “Que el delegado de agricultura de la Junta de Andalucía diga que aquí no hay más personas indocumentadas trabajando o sin contrato que en otros lugares de Europa es… Lo que ocurre es que esta mano de obra no tiene coste añadido. Y eso se llama estafa. La Administración está ayudando a que se hunda este país. Y que yo, un ciudadano extranjero sepa explicarlo y decirlo, les parece mentira. Les parece imposible que un inmigrante sea capaz de hacer un análisis de la situación social”.
Datos básicos de Andalucía 2010 Fuente: Consejería de Agricultura y Pesca de la Junta de Andalucía

Desde el lado de los empleadores, de los empresarios agrícolas, hay que contar con las peculiaridades de la agricultura intensiva. Juan Miralles, presidente de Almería Acoge, recoge las dificultades administrativas que encuentra este colectivo para hacer contratos: “El convenio para el sector establece que los contratos deben tener un año de duración. Y la agricultura aquí es estacional y con picos de trabajo puntuales muy importantes. Además puede haber imprevistos, como una epidemia o lo que ha pasado con el E. Coli, que no haya trabajo, y al empresario se le penaliza por tener contratado al trabajador sin cobrar. A los agricultores no les interesa no tener contratada a la gente y exponerse a multas de 60.000 euros, pero el marco legal no se adecua a la realidad de estos cultivos”.
Eso mismo nos cuenta un agricultor que espera a una cuadrilla de hombres y mujeres rumanos para recoger un camión de perfectas y casi idénticas berenjenas. Es joven y con una musculatura de gimnasio. Es hijo de agricultores, licenciado en Informática, que terminó haciéndose cargo del negocio familiar “porque esto al final tira”. La tierra, perfectamente trazada en hileras de plantas del mismo tamaño, compactada y de color plomizo, muestra cómo ya no se fertiliza con abono natural. La agricultura intensiva se ha complejizado significativamente en la última década y la provincia no ha sabido subirse al carro, según este agricultor: “Es increíble que no haya una sola empresa de capital local que comercialice semillas, fertilizantes, o una sola conservera para envasar los tomates magullados que se van a Murcia o Valencia para convertirse en tomate frito”. Miguel Ángel tiene claro que las pérdidas ocasionadas por la acusación de las autoridades alemanas no se van a recuperar, pero añade que no es el único problema. “Hay veces que los precios son tan bajos que no merece la pena venderlas. Por ejemplo, el kilo de berenjena se paga a 10, 15 o 20 céntimos. Entonces las dejo en el arcén del camino, no mucho tiempo porque multan, por si las quiere recoger alguien”.
En un artículo publicado por el miembro del Consejo Científico de ATTAC, Gustavo Duch, sobre la epidemia del E. Coli, apuntaba: “El sistema en cuestión ha sido diseñado para producir algo parecido a alimentos, a costes muy bajos, tanto económicos, sociales como ecológicos; pero que puedan producir altos beneficios a quienes se dedican a su comercialización. Los alimentos, lejos de considerarlos como una necesidad y un derecho, se entienden como una mercancía sin más”. Y para seguir esa máxima, el margen de beneficio debe ser el mayor posible. En el caso del pepino, Duch calcula que “los esfuerzos para cultivar, regar y cosechar un pepino, representarán para el agricultor o agricultora 0’17 euros por kilo vendido. La población consumidora pagará 1’63 euros por kilo. Es decir, un incremento superior al 800%“.

Una joven rumana recoge berenjenas en el invernadero de Miguel Ángel (Javier Bauluz / Piraván)

Hay tres fórmulas de comercializar las cosechas: venderlas a las distribuidoras como Carrefour o Aldi–que controlan el 60% del comercio de la UE–, directamente a los comercios o a cooperativas. Miguel Ángel lo hará a una distribuidora con la que ya tiene el precio apalabrado antes de sembrarlas. Es más bajo que el que por ejemplo obtendría si estuviera asociado a una cooperativa, pero más estable y asegurado con anterioridad: 30 céntimos el kilo. En los supermercados se venderá a una media de un euro el kilo. Tres mujeres y un hombre rumanos recogen junto al agricultor el camión de berenjenas. “Les pago 35 euros por la jornada de 8 horas. Aquí trabajas hoy, cobras hoy”.
De los 210 millones de euros de ayudas aprobados por la UE tras la crisis del brote de E. Coli, 37  irán destinados a a los empresarios españoles afectados -aunque el gobierno español pidió 71- y que no recibieran subvenciones previamente por de la Política Agraria Común (PAC), unos 6.500 agricultores que recibieron 7 millones de euros este año. Según el portavoz de ASAJA, los empresarios agrícolas ya han empezado a recibir las resoluciones de las cifras que recibirá cada uno. A la pregunta de si los trabajadores recibirán parte de esas ayudas, responde: “No, los trabajadores tienen otras vías para recibir indemnizaciones”. Sin embargo, los miles de trabajadores indocumentados y sin contrato que no pudieron trabajar esos días, que, por tanto, no recibieron jornal alguno y que en muchos casos tuvieron que ser atendidos y alimentados por la Cruz Roja y otras organizaciones humanitarias, no se beneficiarán de forma alguna de estas grandes cifras. Cantidades que en muchos casos serán recibidas por empresarios que utilizan “mano de obra esclava”, como ha sido catalogada por la reputada institución Internacional Anti-Esclavitud, y que si estos periodistas encontraron sin ninguna dificultad, resulta cuestionable que no lo haga el Ministerio de Trabajo, por ejemplo.

Tejado de las chabolas construidas en una desvencijada nave industrial (J. B. /Piraván)

Éste es el caso de un grupo de hombres subsaharianos que viven al lado del poblado chabolista de Hakim. Comparten una casa y mientras uno de ellos cocina, el resto espera sentado en unos sofás con el escay desgastado hasta casi la transparencia y otros sentados junto a la puerta. Seguimos rodeados de invernaderos, con una alberca cerca que el propietario de esta casa les deja utilizar para beber y bañarse, pero no es potable, por lo que tanto ellos como Hakim y sus vecinos tienen que gastar una importante parte de sus ingresos en comprar garrafas de agua embotellada.
No quieren hablar, llevan tiempo sin trabajar y no ven luz al final del túnel. No conocen a compañeros que estén pudiendo regularizar su situación, su comida suele estar compuesta de las verduras que encuentran en los arcenes o que algunos de sus empleadores les dan, como ahora, una gran fritada de pimientos con cebolla y tomate, y apenas pueden enviar dinero a sus familias. Hace mucho calor en este salón a oscuras, están cansados de no tener trabajo y del racismo. En la escala social, ellos son los últimos.
El sindicalista Spitou nos recibe en un bajo convertido en centro del SOC, en un barrio de la periferia de El Ejido, la localidad donde un brote de xenofobia en el año 2000 llamó la atención de los medios nacionales e internacionales cuando tras el asesinato de una joven a manos de un inmigrante marroquí con problemas psicológicos, como ya habían avisado conocidos suyos que habían pedido que recibiera tratamiento o un internamiento que nunca se produjo. El caso desató que parte de la población local española se lanzase a la caza del inmigrante: decenas de sus casas y comercios fueron incendiados y durante días, muchos de ellos no salieron a la calle por miedo a ser atacados.

Inmigrantes en una asamblea, escondidos entre los invernaderos de El Ejido en el año 2000 (J. B. / Piraván)

Su alcalde, del Partido Popular por entonces, Juan Enciso, jugó un papel fundamental no sólo a través de la omisión de su obligación de asegurar la seguridad ciudadana, sino también a través de sus contínuas declaraciones en las que justificaba la reacción racista por el ambiente de inseguridad supuestamente creado por la inmigración. El entonces presidente del gobierno José María Aznar le apoyó al declarar “que era muy fácil criticar cuando no se estaba allí”, pero el ministro de Trabajo y Asuntos Sociales, Manuel Pimentel, pidió que se trabajara por la integración y criticó que se atrajera a los inmigrantes como mano de obra y que después se les negase sus derechos como personas.
El resultado de esta desavenencia fue la dimisión de Pimentel y la continuación de Enciso como alcalde, incluso después de ser expulsado del PP y montar su propio partido, el PAL, y conservar su puesto como regidor de El Ejido durante los 8 meses que pasó en prisión por cinco graves causas que sigue teniendo pendiente, vinculadas con una importante trama de corrupción. El alcalde que soltaba a quien le preguntara, sin pudor, que “a las ocho de la mañana todos los inmigrantes son pocos, a las ocho de la tarde sobran todos” gobernó 20 años El Ejido, músculo y ejemplo de un desarrollismo insostenible que arrasa Almería.

La Policía detiene a un inmigrante por protestar contra los ataques xenófobos en El Ejido en el año 2000 (Javier Bauluz / Piraván)

Spitou ha vivido esta última década, histórica por un crecimiento económico sin parangón, como trabajador y sindicalista. Y no ha visto ninguna evolución. “Diez años llevo en Almería y siempre he cobrado lo mismo. Cuando llegué, el inmigrante tenía un valor, el empresario tenía que salir a buscar la mano de obra. Hoy la precarización es una gran bolsa de mano de obra indocumentada destinada a abaratar los costes de producción. Y de ahí hemos retrocedido a siglos atrás, en vez de avanzar. Estas personas que vienen a hacer posible el único sistema que puede salvarnos de la crisis, porque la gente sigue comiendo, la agricultura sigue y todo el mundo compra a Almería. Sin embargo, los que han conseguido el permiso de residencia o la nacionalidad se han ido a buscar una vida mejor a Suiza o a Francia, a hacer lo mismo pero cobrando el doble que aquí. Almería no integra, no forma, no educa. Almería explota“.



“Lo único que piensan de nosotros es que somos fuerza de trabajo, no tenemos historia, ni derecho a ser personas con dignidad. Pero yo vengo de un país con cultura, tengo formación y muchos inmigrantes, como yo, tenemos formación universitaria, pero somos refugiados económicos. Muchos compañeros han tirado la toalla. Después de tantos obstáculos han terminado por creerse que no valen nada. Pero hay que ayudarles a recuperar la autoestima. Si no, nos matan vivos. Lo están haciendo, la explotación a tope y el mensaje de ‘tú no tienes que saber nada, lo único, rendir’. Y los que tenemos voz para decirlo no somos amigos, hay que ir a por nosotros”.
Spitou parece cansado. Y lo está. Acaba de pasar dos días mostrando el subdesarrollo que habita en Almería a un equipo de periodistas del norte de Europa que han venido a hacer un documental. Pero no es cansancio físico el que debilita a Spitou, es con el que cargan los defensores de derechos humanos donde son pocos los que se atreven a alzar la voz y donde la respuesta inmediata es el acoso o el aislamiento. A éstos tuvo que enfrentarse cuando acompañó y figuró en un reportaje del prestigioso periódico británico The Guardian, titulado “Los cultivadores de las ensaladas de España son esclavos modernos, según las ONG”. La prensa y las autoridades locales se lanzaron a desmentir el contenido de la noticia, y a acusar a Spitou y al SOC de perjudicar la imagen de la provincia. “Es una vergüenza que una sociedad civilizada, moderna, se comporte hoy así. Si hay gente que está reclamando algo tan básico como que la gente que trabaja de ocho de la mañana a nueve de la noche no gane menos de 37 euros, y los convenios dicen que tienen que cobrar 44 como mínimo… Pero nadie quiere pagar eso a los inmigrantes. Claro que hay españoles que lo cobran, como hay españoles que cobran el subsidio del paro gracias al trabajo del inmigrante que no está contratado. Pensamos que somos esclavos porque nos obligan. Ésa es la base de la servidumbre y hay que aceptarlo para poder comer“.


ASAJA defiende que definir estas condiciones de trabajo como esclavitud “está sacado de lugar. Es un trabajo duro, tanto que ha habido etapas en las que los españoles no han querido hacerlo por sacrificado”.
Pero el entramado de “servidumbre”, como lo llama Spitou, de “explotación laboral”, como lo catalogan otras organizaciones y sindicatos, o de “esclavitud moderna”, como lo denomina la ONG Internacional Antiesclavitud, no se limita a los trabajadores de los invernaderos. El disparatado crecimiento económico almeriense se visibilizó no sólo en el número de coches matriculados anualmente –20.000 turismos entre 2004 y 2007, frente al descenso a sólo 12.000 en 2008, con la llegada de la crisis–, o en los ‘brotes verdes’ en forma de llamativos jardines en las numerosas nuevas rotondas de El Ejido, sino que también los luminosos de los clubs de alterne se multiplicaron en la carreteras. Y en los ángulos muertos de carriles, invernaderos y chabolas, también las bicicletas descansan aparcadas ante cuartuchos desconchados. Es el hogar de las esclavas de los esclavos.
Continuará.